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sábado, 12 de agosto de 2006

609) Uma agenda para o crescimento do Brasil, pelo menos em intencao...

Da revista Exame desta quinzena (10.08.2006):


Uma agenda para crescer 9% ao ano

Se derrubar quatro barreiras econômicas, o pais pode entrar para o primeiro mundo
Por Roberta Paduan
EXAME

Quais são as causas do atraso econômico brasileiro? Por que o país não consegue andar no ritmo de Índia e China, os novos líderes do mundo emergente? Quais são, afinal, as principais barreiras ao crescimento do Brasil -- e o que pode ser feito para suplantá-las? As respostas a tais questões farão parte da série de reportagens especiais Caminhos para o Crescimento, que EXAME publica nesta e nas próximas três edições. Baseadas em um estudo exclusivo da consultoria McKinsey, uma das mais prestigiadas do mundo, as quatro reportagens irão muito além de apontar problemas e mostrar como eles minam a capacidade do país de se desenvolver. Elas apresentarão soluções que -- se estudadas, melhoradas e executadas com obstinação -- podem levar o Brasil a uma posição de destaque na economia mundial.

O estudo realizado pela McKinsey aponta a baixa produtividade da economia como a principal causa das diferenças de riqueza entre o Brasil e o mundo desenvolvido. Os técnicos da consultoria foram a campo para medir o desempenho de diversos setores e constataram que a produtividade média do trabalhador brasileiro equivale a apenas 18% da produtividade americana, tomada como parâmetro no estudo. Isso significa que, para produzir a mesma coisa, um trabalhador brasileiro leva cinco vezes mais tempo que um americano. "A produtividade é exatamente a capacidade de gerar riquezas", diz Diana Farrell, diretora do McKinsey Global Institute e uma das coordenadoras do estudo. "É natural que uma economia mais produtiva gere uma sociedade mais rica." Os consultores da McKinsey chegaram aos resultados depois de visitar obras de construção civil, fábricas, hipermercados, bancos e fazendas tanto no Brasil como nos Estados Unidos (veja quadro na pág. 102). Na agropecuária, por exemplo, área em que o Brasil é reconhecidamente líder mundial em diversas categorias, o resultado é péssimo. A produtividade média do trabalhador brasileiro no campo representa apenas 5% da obtida pelo americano -- isso apesar da excelência do país no agronegócio. O aparente paradoxo explica-se pelo enorme contingente de brasileiros -- cerca de 14 milhões -- ainda presos a uma agricultura de subsistência. Podem-se imaginar os lucros do Brasil caso esse setor ganhasse em produtividade. No extremo oposto, os bancos surgem como o setor em que a distância em relação aos americanos é menor. Na verdade, se consideradas apenas as instituições privadas, os bancos brasileiros -- com seus altos investimentos em tecnologia e baixíssima exposição à informalidade -- têm desempenho superior aos dos Estados Unidos.

Constatado o enorme diferencial de produtividade -- e, portanto, de renda --, a pesquisa avançou sobre as causas dessa disparidade. Apenas quatro barreiras respondem por dois terços da diferença de renda entre os dois países. São elas, pela ordem de importância: informalidade, deficiências macroeconômicas, precariedade dos serviços públicos, com destaque para a insegurança jurídica, e carências na infra-estrutura (veja quadro na pág. 100). A boa notícia é que essas barreiras são passíveis de ser demolidas no curto e médio prazos. Há uma quinta barreira, que responde pelos outros 35% da distância em relação aos Estados Unidos, cuja solução levará mais tempo e dependerá, em larga medida, do sucesso no combate às outras quatro. Trata-se do obstáculo imposto pelo próprio atraso no desenvolvimento do país. A pobreza do brasileiro representa um custo enorme em termos de produtividade das empresas -- o baixo valor médio das compras no varejo e das transações bancárias é um exemplo de como essa barreira prejudica os negócios. "O estudo mostra que o país pode dar um salto no curto prazo, desde que se disponha a atacar os problemas", diz Heinz-Peter Elstrodt, sócio-diretor da McKinsey no Brasil. "Ao quantificar os efeitos de cada barreira, o trabalho permite também hierarquizar as políticas -- o ataque à informalidade é absolutamente prioritário, já que se trata da barreira mais importante."

Um plano para o Brasil em 2020
Se o Brasil iniciasse em 2007 um plano de longo prazo para aumentar a produtividade, a renda per capita(1) do país dobraria até 2020
Renda per capita(1) brasileira projetada para 2020 16 400 dólares
Para chegar lá, seria necessário atingir várias metas, entre elas:
- Reduzir a informalidade de 40% para 20% do PIB
- Reduzir a instabilidade macroeconômica, cortando gastos correntes do governo de 30% para 25% do PIB
- Cortar pela metade o tempo de solução e o número de novos processos judiciais
- Melhorar a infra-estrutura, aumentando o percentual de investimentos de 2,4% para 6% do PIB
(1) Renda per capita anual em paridade de poder de compra (ppp): converte em dólares a capacidade de consumo com a moeda local

COM BASE NAS CONCLUSÕES, o estudo adianta algumas medidas para enfrentar cada uma das barreiras. Trata-se, portanto, de uma verdadeira agenda para a promoção do desenvolvimento -- algo que deveria ser analisado com especial interesse pelo próximo governo, seja ele qual for. Caso as recomendações sugeridas pelo estudo fossem adotadas, em pouco tempo o PIB em paridade de poder de compra -- que traduz a capacidade de consumo da população, independentemente das diferenças cambiais -- ganharia fôlego para crescer a taxas chinesas. Segundo a McKinsey, em três anos o país passaria a crescer a um ritmo de 9% ao ano. "O Brasil teria condições de dobrar sua renda per capita em uma década", afirma Bruno Pietracci, coordenador do estudo no Brasil. "Para isso, no entanto, os próximos governos teriam de se manter firmes nas reformas durante os próximos 12 anos." Para garantir que uma agenda de longo prazo não se perca pelo caminho, é vital que as metas sejam claramente definidas nos vários anos à frente -- ou seja, que ela passe a ser um plano de país, e não um plano de governo. A coordenação é importante também porque avanços em algumas áreas dependem do sucesso em outras. A solução para o problema da informalidade, por exemplo, depende da redução da carga tributária -- que só é possível com avanços no front macroeconômico, com a redução da dívida pública.

Também é recomendável criar uma estrutura pública específica para comandar as reformas, uma espécie de grupo de notáveis, com poder para interferir nas ações dos ministérios. "No dia-a-dia da operação do governo, é inevitável que o urgente tome o lugar do importante, e é aí que reformas se perdem", diz Pietracci. "Governos são complicados em qualquer lugar, mas é, sim, possível estabelecer prioridades, traçar metas, monitorá-las e alcançá-las, como se faz na iniciativa privada", afirmou a EXAME Michael Barber, ex-diretor da Delivery Unit, equipe criada em 2001 a pedido do premiê britânico Tony Blair para reformar setores da administração pública. Blair criou uma estrutura diretamente ligada a ele -- com poder, portanto -- para ganhar agilidade e legitimidade nas propostas. O modelo da Delivery Unit do governo inglês foi replicado em Toronto, no Canadá, e na Austrália. Está dando certo lá fora. Tem tudo para dar certo no Brasil.

A produtividade é muito baixa
Compare os níveis de produtividade de trabalho em alguns setores no Brasil com os dos americanos, usados como referência no estudo
(referência: EUA = 100%)
Setor Brasil
Bancos 67%
Automotivo 29%
Construção 28%
Varejo 25%
Agricultura 5%
Fonte: Análise McKinsey

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