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segunda-feira, 23 de outubro de 2006

632) Capitalistas, pelo amor de Deus, apliquem o seu dinheiro no Banco do Brasil...

Não, não é de agora...
A suplica é do principe regente D. João que, em 1812, implorava aos governadores-gerais das provincias que encontrassem capitalistas bondosos, dotados de "pecunia" (ou cabedaes, como se dizia na época), e que estivessem dispostos a investir o seu dinheiro numa instituição pública tão...?, prometedora?, tão cheia de futuro quanto o Banco do Brasil.
Não sabemos o quanto se conseguiu na época, provavalmente recursos significativos, pois o futuro parecia otimista, o Banco do Brasil parecia sólido, com as garantias estatais que se anunciavam concretas.
Ele veio a quebrar, esse primeiro banco, em 1828 e provavelmente deixou os capitalistas sem os seus cabedaes...
Mais de vinte anos depois, Irineu Evangelista de Souza, que talvez ainda não fosse o Barão de Mauá, fundou um segundo Banco do do Brasil, expropriado dois anos depois pelo ministro da Fazenda, seu inimigo (deve ter sido por ciume).
Tivemos um terceiro, entre o final do império e o início da República e não tenho certeza se estamos no quarto ou no quinto.
Talvez no sexto, pois ainda em meados dos anos 1990, o governo teve de capitalizar o Banco do Brasil à altura de 5 ou 8 bilhões de reais (não sei quanto seria a valores correntes).
Enfim, sempre é bom rever como tudo começou...

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(do site histórico do Ministério da Fazenda, aliás horrivel e pouco prático):

Leis Históricas
Carta Régia - de 22 de Agosto de 1812
Recommenda aos Governadores das Capitanias que obtenham accionistas para o Banco do Brazil.
Conde dos Arcos, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia.
Amigo.
Eu o Principe Regente vos envio muito saudar, como aquelle que amo.
Sendo conveniente ao Commercio, aos particulares e ao Estado que o Banco do Brazil estabelecido por Alvará de 12 de Outubro de 1808 tenha um consideravel fundo capital, com que possa vantajosamente fazer as operações que lhe são proprias: constando na minha real presença que um dos motivos de haverem concorrido tão poucos cabedaes ao seu cofre, tem sido a idéa do pequeno lucro, que os accionistas esperam de suas entradas no cofre de um tão util como necessario estabelecimento publico, esquecendo-se talvez das vantagens, que poderiam colher, bem que indirectamente, desse seu pequeno e insignificante sacrificio de interesses, pela maior facilidade de giro mercantil, pela viva circulação de cabedaes estagnados e pelo conveniente e moderado limite dos descontos das letras de cambio:
querendo auxiliar e promover efficazmente um tão importante estabelecimento, não sómente para bem commum dos meus vassallos, mas para que possa prestar ao Estado os meios e recursos de que as rendas reaes necessitam, afim de se occorrer com promptidão ás despezas publicas, cessando por intervenção do mesmo Banco os embaraços e difficuldades, que se encontram em ter disponiveis no Real Erario nas épocas competentes os fundos públicos existentes nos diversos cofres das Capitanias deste Estado do Brazil, como muito convém á manutenção da Monarchia;
tenho resolvido fazer entrar nos cofres do Banco o producto de algumas novas imposições, orçado por anno em mais de cem contos de réis, e isto por espaço de dez annos consecutivos, confiando a administração e arrecadação destes impostos á Junta do Banco do Brazil, e cedendo em beneficio dos seus accionistas particulares o lucro do capital que for arrecadado nos primeiros cinco annos proveniente das ditas novas imposições, e isto por todo o tempo da duração dos privilegios outorgados a este Estabelecimento, afim de que por um tal meio possam os accionistas particulares contar com avultado lucro dos cabedaes que tiverem no cofre do Banco, e se possa mais facilmente conseguir o elevar-se o fundo capital do mesmo Banco muito além dos dous mil contos de réis, como convém ao credito, e ao explendor de um tão util Estabelecimento publico, e que tanto merece a minha real contemplação.
E porque concorrendo todos os meus fieis vassallos tanto os capitalistas, proprietarios e negociantes, como os empregados publicos que estiverem em circumstancias de entrar para o sobredito cofre, sem estorvo de suas especulações commerciaes, que pelo contrario muito desejo facilitar e promover, e sem diminuição de suas communidades pessoaes e disposições particulares, mas antes com a vantagem dos lucros resultantes das operações do Banco, com perfeita segurança de seus cabedaes confiados á administração dos Directores e Deputados do Banco, igualmente interessados com todos os accionistas na sua conservação e prosperidade, sem duvida pode o Banco do Brazil elevar-se muito facil e suavemente em breve tempo a um consideravel gráo de força, e de opulencia pelo concurso das entradas dos accionistas particulares e das provenientes dos novos impostos, com que sou servido auxiliar o cofre deste tão importante Estabelecimento.
Confiando no zelo, intelligencia e actividade, com que tanto vos tendes distinguido no meu real serviço, sou servido encarregar-vos de solicitar a effectiva cooperação de todos os capitalistas, proprietarios, negociantes e empregados publicos dessa Capitania, que estiverem nas circumstancias de concorrer ao cofre do Banco, segurando-lhes no meu real nome que serão por mim attendidos com honras e mercês os que vantajosamente se distinguirem, e se fizerem por isso dignos da minha real contemplação.
Cumpri-o assim, dando-me logo parte pela Secretaria de Estado dos Negocios do Brazil do resultado desta tão importante commissão, cujo desempenho haverei como um muito particular serviço por vós feito á minha Real Corôa e ao Estado.
Escripta no Palacio do Rio de Janeiro aos 22 de Agosto de 1812.
REI.
Para o Conde dos Arcos.

Identicas Cartas Régias foram dirigidas ás outras Capitanias.


Pela transcrição e comentários: Paulo Roberto de Almeida (sem cobrar tarifa extra)

2 comentários:

Anônimo disse...

INCRÍVEL!
Posso dizer que, para mim, foi simplesmente um achado uma página com conteúdo tão rico e alguém tão disposto a expô-lo.
PARABÉNS!
Se me permites, ganhaste uma leitora assídua (e muito interessada).

Até!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Carina Senna,
Muito obrigado pelo seu comentario simpatico, mas nao pelo post sobre os começos dificeis do Banco do Brasil. Este blog (e muitos outros que o precedera) tem coisas muito mais interessantes. Ultimamente nao tenho tido tempo de alimenta-lo, pois fiquei cuidando primeiro da finalizacao, depois do lancamento de meu mais recente livro: "O Estudo das Relações internacionais do Brasil". Voce não deixou e-mail, o que me impede de agradecer-lhe pessoalmente, mas sabedor agora que voce se esconde no Rio, aproveito para informar que estarei lancando meu livro no Rio, no CEBRI, dia 8/11 as 17hs. O Cebri fica na Rua do Russell, 270, segundo andar.
Veja em www.cebri.org.br, eventos.
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida