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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

964) Domingo Cavallo impedido de falar na Sorbonne

Recebido do amigo e economista do BNDES, Mauricio David, em 10.12.2008:

Caros amigos :
Estudantes e professores/pesquisadores franceses nos fizeram chegar uma informação detalhada do que aconteceu nesta segunda-feira 8 de dezembro de 2008 na Universidade de Paris I, quando o ex-Ministro de Economia da Argentina Domingo Cavallo foi convidado a pronunciar uma conferencia sobre o tema da sua especialidade : as receitas monetaristas que arruinaram as economias dos países emergentes. Recebido com um concerto de panelas que durou exatamente 60 minutos, Cavallo não conseguiu falar e terminou expulso do recinto universitário. " Não se pode ignorar impunemente as consequencias dos atos intelectuais e das tomadas de posição em favor das políticas econômicas genocidas", conclui o relato efetuado pelos estudantes e professores dos acontecimentos na Sorbonne ocorridos ma segunda-feira passada.

Na medida em que estes acontecimentos tem relação com a vida universitária francesa mas também com a América Latina - em especial a Argentina - professores da Universidade de Paris nos pediram para circular a informação que segue em anexo.

Ao mesmo tempo, quem quiser construir uma opinião própria destes acontecimentos e desta crônica pode acessar as imagens em vídeo que se encontram no site You Tube.

Meus comentários (PRA):

Independentemente dos resultados desastrosos das políticas econômicas argentinas, a atitude acadêmica correta, em qualquer lugar e circunstância, seria ouvir, ler, pesquisar, discutir, argumentar, provar com argumentos lógicos e dados empíricos o nefasto dessas experiências e fazer uma avaliação ponderada.
O não-diálogo, o silêncio, a claque ou a vociferação sempre são empobrecedores de um conhecimento superior e necessário.
Pode-se, sim, manifestar a sua opinião, mas a atitude tomada foi totalitãria: "Não gosto, nao deixo voce falar!"
Isso ocorre nas ditaduras, não em democracias consolidadas, em que há o direito à opiniâo divergente ou minoritária e, sobretudo, há tolerância com a discordância.

Alias, é empobrecedor atribuir apenas a Domingo Cavallo todo o desastre argentino. Ele era ministro das Relações Exteriores, ou da Defesa (já não me lembro ao certo), no início do governo Menem, e teve de assumir em toda pressa a economia a partir de novo surto de hiperinflação deixado pelo seu antecessor. O Plano Cavallo era inadequado, mas naquele momento permitiu escapar da armadilha da hiperinflação. Deveria ter sido corrigido depois, mas já não havia mais condições, um pouco como na rigidez do Gustavo Franco com a âncora cambial. No meio, Cavallo propos uma Lei de Responsabilidade Fiscal, que foi aprovada, em torno de 1996, justamente para acabar com o déficit público criado pelas províncias argentinas. O Menem, mais interessado no seu segundo mandato do que em equilíbrio fiscal, deixou as províncias soltas, e Cavallo saiu do governo, no início do segundo mandato. Não foi o responsável direto pela degringolada.
Ele só foi chamado pelo De La Rua no desespero, também como segundo ministro da economia, para tentar consertar os problemas acumulados. Fez o que pode, mas o sistema já não tinha mais sustentação por excesso de endividamento do governo e baixa competitividade das empresas argentinas.
Achar que ele fez tudo aquilo por perversidade com as velhinhas aposentadas e com os trabalhadores, que ele contribuiu deliberadamente para quebrar a economia argentina e arruinar as suas empresas, apenas por submissão a Wall Street e comprometimento com o capital estrangeiro, é de um simplismo atroz, que só os esquerdistas mais estúpidos podem cometer...

Paulo Roberto de Almeida


Agora, o documento francês, cuja autoria desconheço:

LA CONFERENCE DE LA HONTE N’A PAS EU LIEU
LA CONFERENCE DE DOMINGO CAVALLO A L’UNIVERSITE DE PARIS I SUSCITA UNE VIVE CONTESTATION
8 décembre 2008

Invité par la Chaire des Amériques de l’Université de Paris I – La Sorbonne, l’ex-Ministre de l’Economie de l’Argentine, Domingo Cavallo, devait prononcer une conférence sur un thème de sa spécialité : les recettes monétaristes qui ont ruiné les économies des pays émergents.

Plus de 50 personnes attendaient dans la salle l’arrivée de Cavallo. La conférence était publique et avait été diffusée par mail et annoncée dans le site internet de la Chaire des Amériques :
http://chairedesameriques.univ-paris1.fr

Dans la salle des conférences du 6ème étage de la Maison des Sciences Economiques de l’Université de Paris I (102, boulevard de l’Hôpital, Paris, 13ème arrondissement), se trouvaient les étudiants du Master en Economie et Relations Internationales ainsi que des étudiants, enseignants et chercheurs d’autres universités françaises concernés par les thèmes argentins.

Avant l’arrivée du conférencier, une association de droit français, le Collectif Argentin pour la Mémoire, commence à distribuer des articles de presse et des résumés sur le parcours intellectuel et politique de celui que la société argentine avait démissionné de son poste de Ministre avec des célèbres concerts des casseroles, le 19 et 20 décembre 2001. Pendant le temps d’attente, le public s’appliquait à lire attentivement cette documentation. Le conférencier, arrivé en retard, fut présenté par le responsable de la Chaire. Avant de commencer sa conférence Cavallo demande au public s’il doit s’exprimer en Espagnol ou en Anglais. La réponse du fond de la salle fut nette, d’une acoustique que l’ex-Ministre de l’Economie n’arrivera pas à effacer de sa mémoire : un concert des casseroles.

Des casseroles pour exprimer l’indignation et la honte. Un concert des casseroles pour dire « ça suffit » et demander qu’il s’en aille de l’Université publique. Pour clamer la honte de voir un homme recherché par la justice argentine vouloir enseigner en France la doctrine qui a amené l’Argentine à la débâcle.

Domingo Cavallo ne peut supporter l’humiliation. Il se met alors à hurler, à agiter les bras et à crier de toutes ses forces contre ces « gauchistes » ; puis il rectifie, mélangeant les étiquettes, il hurle contre ces « fascistes » qui ne le laissent pas parler et qui exigent que la conférence soit annulée.

Les casseroles laissent la place à un échange musclé entre l’ex-ministre et un nombre important des personnes du public. Les arguments des uns et des autres sont de plus en plus audibles, l’expérience de la faillite argentine ne laisse personne dans l’indifférence. L’ex-Ministre devient rouge de colère. Cela dure exactement 60 minutes. Les responsables de la Chaire demandent alors le secours du personnel de sécurité de l’Université. C’est une femme qui arrive et qui fait irruption dans la salle agitant un grand trousseau de clés. Un concert de clés en soutien au concert des casseroles ? Non, la dame est une gardienne de l’Université. Très fâchée elle exige d’abord que dans l’Université française l’on s’exprime en Français. Des étudiants de l’Université commencent à lui expliquer la situation. D’autres ajoutent que l’Université vient d’inviter un délinquant recherché par la justice argentine. Elle conclut alors, avec tout le poids de son autorité, que les professeurs-organisateurs ont mal conçue la conférence et qu’il faut alors l’annuler. En criant « dehors tout le monde », elle fait évacuer la salle, éteint la lumière et ferme la porte à clé. L’expression pathétique des organisateurs de la conférence, trois économistes, professeurs à la Sorbonne de surcroît, indique qu’ils n’ont toujours pas compris les enjeux de la crise argentine. Il faudra pourtant que ces professeurs comprennent l’ampleur de la catastrophe économique dont Cavallo est responsable. Il faudra aussi qu’ils puissent tirer les conclusions de la gravité de leur geste : avoir invité à l’Université de Paris l’artisan d’un modèle économique désastreux. On ne peut pas impunément ignorer les conséquences des actes intellectuels et des partis pris en faveur de politiques économiques meurtrières.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paulo Roberto,

Fui aluno da Paris I e, evidentemente, nem todos compartilhamos da estupidez de alguns alunos (ainda mais que, no modelo público francês, há muitos alunos e, portanto, muito, digamos, material humano pra esse tipo de atitude). Como você sabe, é muito fácil jornalisticamente culpar uma organização pela atitude de uma vintena de pessoas ou até de um único indivíduo.

Só achei de uma tristeza sem tamanho a intervenção da gardienne; e o pior, não duvido nada que haja uma regra como essa, ordenando as exposiçõeses em francês, e que ainda haja quixotes a aplicá-la.

No meu Master, contudo (Droit international et organisations internationales), tivemos meia dúzia de palestras, com americanos, ingleses e mesmo um maltês, que foram dadas em inglês.

Um abraço,

Geraldo