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terça-feira, 2 de junho de 2009

1135) O Fim do Desenvolvimento: um texto provocador

O Fim do Desenvolvimento
(agora só falta melhorar socialmente o Brasil)

Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)

Pretendo, neste texto deliberadamente provocador e voluntariamente desprovido do aparato referencial constante dos ensaios “científicos”, formular uma série de argumentos sobre o que eu entendo ser o caráter basicamente desenvolvido da formação econômica e política do Brasil. A ausência de citações e remissões a obras acadêmicas não quer dizer que meus argumentos tomem como base apenas opiniões pessoais ou que eles refletem tão somente uma interpretação subjetiva da realidade que pretendo descrever. Ao contrário, meus argumentos tendem a expressar o resultado de vários anos – talvez décadas – de estudo dos problemas de desenvolvimento econômico, político e social do Brasil, em perspectiva histórica e numa visão comparada com outras experiências internacionais.
As seções seguintes estão, justamente, organizadas em função desses argumentos, que constituem uma série de afirmações um tanto quanto provocadoras, consoante meu desejo de confrontar a opinião corrente, que reputo como de “senso comum”, sobre o processo evolutivo e o estágio atual do que chamei de “desenvolvimento brasileiro”. Isto é, ao considerar que o processo de desenvolvimento está “acabado” no Brasil, parto da idéia de que o Brasil conseguiu realizar o essencial de uma trajetória relativamente bem sucedida de desenvolvimento, ainda que isto não se reflita inteiramente nos indicadores sociais mais eloqüentes a este respeito. Sei que meus argumentos são controversos, mas estou disposto a sustentar o “fogo adverso”, com base em argumentos bem informados sobre os problemas aqui levantados.
Todo exercício de “contrarianismo acadêmico” tende a provocar reações que se dirigem, muitas vezes, mais ao formulador dos argumentos expostos do que à substância da matéria em si, o que espero não ocorra no presente caso. Convido, em todo caso, o leitor destas linhas a tentar abstrair o invólucro “desenvolvimentista” que costuma enquadrar as análises econômicas e sociais sobre a situação brasileira, para ver a condição do país do ponto da ciência social “normal”, isto é, aquela que se dirige à própria essência da questão, não diferenciando entre países em função de categorias políticas, criadas artificialmente.

Sumário:
1. O Brasil é um país desenvolvido
(mas ele ainda não sabe disso e parece não querer ser informado a respeito)
2. Como o Brasil se tornou desenvolvido
(pequeno manual de desigualdades sociais)
3. O desenvolvimento é uma “fatalidade”, humana e civilizacional
(mas muitos insistem em velhas atitudes mentais)
4. Quais problemas impedem o Brasil de se considerar realmente desenvolvido?
(um outro manual sobre tarefas aparentemente simples)
5. O fim do desenvolvimento
(só falta trabalhar mais um pouco)

Para ler este texto completo, clicar aqui.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de novembro de 2004

2 comentários:

Glaucia disse...

Professor,

De acordo, no atacado. A questão é que hoje interessa ao Brasil se apresentar como o lider dos paises em desenvolvimento - e é isso o que o Itamaraty faz, não é mesmo? -, em vez de o mais desigual, o menos educado, o mais precario dos paises desenvolvidos. Que é a situação do México, de certa forma, que optou por aderir ao NAFTA e à OCDE.

Interessante como essa adesão, apresentada como o caminho e o modelo até ha alguns anos em varios circulos, se mostrou de utilidade duvidosa quando a China conseguiu derrubar no preço até mesmo as preferências tarifarias mexicanas (é, de resto, o que faz com o Mercosul, hoje).

Ou, traduzido, para uma linguagem popular publicavel: melhor ser cabeça de rato do que rabo de elefante.

Ou temos alguma chance de protagonismo se jogarmos no mesmo time que EUA, Alemanha, França, Inglaterra e Japão?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Em primeiro lugar, devemos distinguir entre políticas econômicas e resultados econômicos.
Não é porque o México aderiu ao Nafta (que, aliás, só existe por demanda expressa do México, ao pretender fazer um acordo de livre-comércio com os EUA, ao qual o Canadá se juntou porque já tinha um semelhante com o seu grande parceiro do sul) que esse país vai se tornar desenvolvido como os EUA ou o Canadá.
Desenvolvimento não se encomenda, ou se obtém, via acordo comercial. Seria pretender que o rabo comercial sacudisse o cachorro do desenvolvimento, o que, convenhamos, é um pouco difícil.
O cachorro do desenvolvimento é um pouco mais pesado, talvez bem mais pesado, do que o rabo dos acordos comerciais.
Não é porque o México aderiu à OCDE que ele vai se tornar desenvolvido da noite para o dia. Afinal de contas, a Turquia e Portugal pertencem à OECE e à OCDE desde a origem e ficaram atrasadinhos durante todo esse tempo, talvez até hoje no caso da Turquia, e Portugal um pouco menos não tanto pela OCDE e sim por sua integração à Europa e daí à economia internacional.
Políticas de desenvolvimento podem, ou devem, ser adotadas por seu mérito próprio, não porque elas consigam fazer milagres em pouco tempo.
Não me importa nada -- estou me lixando, como diria um deputado -- se o Brasil vai ser cabeça de rato ou rabo de elefante, inclusive porque essas classificações -- de país desenvolvido e de país em desenvolvimento -- são totalmente artificiais, estabelecidas politicamente e não resolvem, justamente o problema do desenvolvimento.
Não existe um único país, repito UM ÚNICO, que se tenha desenvolvido com base em ajuda externa, a que teoricamente estão habilitados os assim classificados na política mundial. Todos, repito TODOS, os países hoje desenvolvidos se tornaram assim porque educaram suas populações, adotaram políticas econômicas compatíveis com os requerimentos do desenvolvimento, e este veio naturalmente como resultado, ou consequência.
Sem entrar nos detalhes das políticas econômicas corretas, eu resumo aqui o que me parecem ser as condições indispensáveis ou essenciais para se alcançar o desenvolvimento:
1) Estabilidade macroeconômica
2) Competição microeconômica
3) Boa governança
4) Alta qualidade dos recursos humanos.
5) Abertura a comércio e a investimentos, sem precisar ser liberal.

O que quer que se diga da China e da India, elas se aproximaram desse modelo, ou seja, se distanciaram de um passado socialista ou excessivamente estatizante, e não estão preservando suas políticas do passado, como pretendem alguns.