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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

1437) A construcao do Apartheid no Brasil -- O pré-sal e as cotas raciais...

Também achei estranho vincular o pré-sal, a discriminacão racial e as políticas (ainda bem) reparadoras. Todos ficamos aliviados ao constatar que uma pequena parte das fabulosas riquezas do pré-sal pode e deve ir para as minorias oprimidas no país.
Ops, espere um pouco, alto lá, vamos com calma.
Também li na imprensa que, na última PNAD cerca de 54 por cento dos brasileiros se (auto)definiram como negros ou pardos. Ou seja, para todos os efeitos, afro-descendentes são maioria neztepaiz.
Sendo assim, nós brancos caucasianos é que somos minoria, e devemos, assim receber todas as proteções e benesses da lei: cotas, reservas, dinheiro do pré-sal, e tudo o que mais for.
Somos minoria (quase oprimida), em todo caso assistindo a um poderoso movimento de construção do Apartheid neztepaiz.
Não acredita? Leia abaixo...
PRA


O pré-sal e a equidade de gênero e raça
Adilton de Paula
Jornal do Brasil, 21/10/2009

RIO - No dia 5 de outubro, em Curitiba, um grupo de técnicos e especialistas nas questões de energia, raça e gênero, convidados pelo Instituto Adolpho Bauer (IAB) e pela Associação Nacional dos Coletivos de Afro-Empreendedores Brasileiros (Anceabra), discutiram O marco regulatório do pré-sal e a promoção da igualdade de gênero e raça.

Partimos do pressuposto de que o petróleo é de propriedade de todo o povo brasileiro, e que qualquer novo processo do país advindo da exploração e uso deste combustível (como no caso do pré-sal) deve reverter em benefício e riqueza para o conjunto da população brasileira.

Partimos também da premissa de que a sociedade brasileira tem uma dívida histórica com grande parcela de nossa população (negros e mulheres), a qual vem sendo excluída e precarizada ao longo da história de desenvolvimento de nosso país e sociedade. E, por isso, neste sentido, qualquer enriquecimento do país deverá levar em conta, de forma substancial, a presença desta população na distribuição e partilha destas riquezas.

Verificamos, também, que ao longo da história da sociedade brasileira, tivemos diversas benesses naturais, que geraram imensas margens de enriquecimento do país, mas que, no entanto, excluíram e impediram a participação dos negros e das mulheres deste processo. Assim foi com o ciclo da madeira, com a cana de açúcar, com o ciclo do ouro, da borracha, do café e mesmo com o amplo processo de industrialização por que passamos a partir das primeiras décadas do século passado.

Com o advento do pré-sal, economistas e especialistas mostram que o Brasil passará a ser a quinta economia mais rica do planeta. Vemos isto como altamente positivo, mas não podemos aceitar que este enriquecimento mais uma vez sirva à apropriação individual ou esteja a serviço de grupos fechados e tradicionais (homens, brancos, jovens).

Nós nos posicionamos conjuntamente com as lutas e mobilizações propostas pela FUP (Federação Unificada dos Petroleiros) e com o posicionamento da UNE (União Nacional dos Estudantes), de que a maior parcela dos recursos que serão gerados nesta nova onda de riquezas do pré-sal deverá ser direcionada ao setor educacional brasileiro.

Hoje, mais que nunca, investir em educação é investir no futuro da sociedade brasileira.

Ressaltamos, entretanto, que para não manter o criminoso fosso de separação social de classe, gênero e raça no país, é fundamental que estes recursos reforcem as políticas afirmativas como o Prouni, levando em consideração que este é um real espaço e mecanismo de promoção da justiça social e da equidade de gênero e raça.

O grupo levantou dado e informações e está produzindo um documento, mais denso de justificativa sócio-histórico, sobre o porquê e a importância de o pré-sal ser uma peça fundamental na promoção do combate ao machismo e ao racismo e na promoção da igualdade de gênero e raça.

Partimos da seguinte pergunta geradora: é possível com o pré-sal gerar riquezas e promover a igualdade de gênero e raça?

Julgamos que sim, é possível, mais que possível, é necessário e devido, já que ao longo de nossa história jogamos estas parcelas da sociedade à marginalização e as deixamos nos piores processos de pobreza e miserabilidade. Julgamos que não há desenvolvimento sustentável, sem a promoção da igualdade de gênero e raça. E entendemos que o Brasil não chegará a ser uma grande economia e uma grande nação, se não houver solidariedade e justiça social.

Acreditamos também que este é um debate muito promissor, e por isso convocamos todos a dialogar conosco.

Não queremos ficar no reducionismo do debate do pré-sal pelo pré-sal, queremos discutir crescimento e desenvolvimento, queremos discutir como fortalecer e desenvolver todo o povo brasileiro e principalmente como podemos romper com as amarras e dores da exclusão, principalmente com a exclusão de classe, gênero e raça.

Saímos desse diálogo fortalecidos e animados porque vamos fazer o debate reverberar em todas as nossas redes sociais e em todos os espaços políticos e institucionais.

Chamamos a atenção de todos e todas para a cegueira institucional e pobreza da grande mídia, que tenta nos taxar e evitar o diálogo. Solicitamos que se abra o diálogo, sem dogmas, racismos, machismos e outros preconceitos, pois temos certeza de que, com uma conversa franca e aberta, todos teremos muito mais a ganhar do que a perder.

O Congresso Nacional terá que votar o marco regulatório até o fim de outubro. Portanto, solicitamos a todos e a todas que monitorem seus políticos, enviem e-mail, telefonem, entrem em contato e perguntem sobre seus respectivos posicionamentos sobre o pré-sal e principalmente como pensam sobre este tema em conjunto com a promoção da igualdade de gênero e raça.

Defendemos o pré-sal em regime de partilha, acreditamos que esta riqueza é de todos e que por todos e todas precisa ser usufruída.

Espalhe este debate, mobilize sua família, amigos e comunidade, e vamos contribuir mais uma vez para a construção de um grande país e de uma grande nação com espaços, direitos e oportunidades iguais para todos e todas.

Adilton de Paula é presidente do Instituto Adolpho Bauer

5 comentários:

Jacopo Belbo disse...

Gramsci realmente fez escola no Brasil. Desconheço outro país no mundo (possivelmente os EUA) onde as suas teorias sejam tão exitosamente aplicadas.

O sofisma do afrodescendete é um exemplo do sucesso de sua técnica. A maioria dos Afrodescendentes no Brasil é tão afrodescendente quanto eurodescendente, apenas que por uma questão de genética, a cor da metade afro predomina.

Um grande sofisma no Brasil é colocar negros e mestiços num mesmo balaio, para inflar os números, que finalmente serão revertidos apenas em favor dos negros e ainda assim, dos que forem considerados suficientemente negros pelos novos tribunais raciais.

Mas os malandros racialistas podem cair no seu próprio golpe, pois de tanto inflarem os números, logo deixarão de ser minoria e passarão ser maioria. Neste dia eu gostaria ouvir quais serão os seus novos argumentos.

A verdadeira minoria, tanto no Brasil como no Ocidente é o Homem, Heterossexual, Branco e Cristão.

Que divertido é navegar neste cosmos Gramsciano!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Diabo de Garrafa,
(Suponho que voce tenha adotado esse pseudônimo depois de ter lido o romance de Alexandre Raposo, que eu também considero um primor)
Esse tema vai, infelizmente, contaminar, da pior forma possivel, o ambiente social, cultural, intelectual, no Brasil, nos anos à frente, criando barreiras raciais que jamais existiram em nosso país.
Escrevi algo a respeito dessa mistificação ideologica do afrobrasileirismo.
Veja no link para a Espaço Acadêmico, um dos primeiros artigos, ainda em 2004.
Os afrobrasileiros nunca existiram, mas estão sendo inventados atualmente.

Unknown disse...

........ E como deliram !!!!!!!!

Balbino

Glaucia disse...

Bem, professor, apenas pra evitar a formação do consenso, aceno com meu desacordo. O texto é obviamente do tipo que podemos esperar de um movimento cujos membros estão longe de ter estudado em colégio de padre e lido Aristóteles no original (ou mesmo naquelas versões grego-francês-português).

Mas lembro que o apartheid está mesmo é nas nossas diretorias de banco, nos nossos tribunais, nas nossas lojinhas exclusivas. Entranhado na medula da vovó, da mamãe e da filhinha. Pode ir pra balada, mas não vai me aparecer com um negro em casa...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Eu diria que o seu comentario é incompreensivel na primeira parte e portanto vou dispensar comentários adicionais. Procure, da proxima vez, ater-se ao conteudo, de forma clara e objetiva, nao à forma ou estilo.
Quanto a segunda parte, se voce quer dizer que temos poucos juizes e banqueiros negros eu até posso concordar com você, mas eu diria mais: temos poucos brancos pobres como banqueiros e juizes. Se voce dai quer tirar um argumento em favor de cotas, eu sou absolutamente contrário, até mesmo para brancos pobres. Cada um constroi a sua vida e as suas chances, cabendo ao Estado o dever e a obrigação moral de dar a todos as mesmas oportunidades de se prepararem. Mas atenção: por mesmas oportunidades eu entendo da pré-escola ao final do médio, ponto. Universidade é com cada um, posto que, a despeito do nome, ela não é universal.

Sua última frase, finalmente, revela apenas o racismo ordinário que existe, mas me dispenso de comentar, pois não se trata de um problema do Estado ou da sociedade...