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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1756) O que define um heroi?

O Brasil vem prestando homenagem aos militares brasileiros do contingente destacado para servir no Haiti, que faleceram vítimas do terremoto que abalou aquele país duas semanas atrás.
Todos, o governo naturalmente, e os meios de comunicação com grande ênfase, vem classificando esses militares mortos como "herois", e como tais eles foram tratados nas homenagens póstumas (medalha de bravura, promoção post mortem, indenização à família, bolsas oferecidas aos dependentes, etc.).
Confesso que, mesmo sob risco de parecer insensível ou destoante da unanimidade, eu fico me perguntando por que, em que medida e com qual legitimidade eles seriam herois de verdade.
Se vou aos dicionários, as definições que me são dadas do termo são estas:

HEROI: substantivo masculino
1 Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus.
2 Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus.
3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
5 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações; Ex.: os h. das ciências.
6 Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período; Ex.: os h. da Revolução Francesa.
7 Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções. Ex.: .
8 Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9 Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo.
(Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; versão eletrônica)

Eu me pergunto, sinceramente, em quais das categorias poderíamos encaixar os militares brasileiros mortos, geralmente esmagados em decorrência do forte tremor que abalou o Haiti.
Se alguém tiver uma sugestão, agradeço comunicar-me...
(25.01.2010)

10 comentários:

Anônimo disse...

Será por falta de herois verdadeiros que a imprensa busca sempre esse tipo de sensacionalismos e o povo fica sempre doido para ver e ouvir mais sobre esse tipo de coisas!

C@rlos Andr£ disse...

3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.


Certamente, se fóssemos enquadrar os militares mortos seria nessa definição, pois aqueles bravos guerreiros que, com coragem e tenacidade, passaram massantes períodos longe da família e amigos, e nem poderam, ao menos, se despedirem de seus entes queridos. Se fosse para definir em uma palavra todos esses que morreram a serviço do nosso país, não pensaria em outra palavra a não ser "heróis".

Paulo Roberto de Almeida disse...

Carlos André,
Veja você que os militares que estavam no Haiti não estavam precisamente engajados em feitos guerreiros, mas em missões de caráter policial, de manutenção da ordem em favelas do Haiti, lutando contra gangues criminosas, coisas que eles se recusam a fazer aqui (o Exército eu quero dizer).
Todos eles foram voluntariamente ao Haiti, alguns oficiais para cumprir uma missão, mas muitos soldados voluntariamente, para ganhar um dinheiro extra, certamente bem vindo numa perspectiva puramente pecuniária.
Não creio, sinceramente, que a definição se encaixe na natureza da missão que eles faziam lá.

Vinícius Portella disse...

Paulo,

Certamente, de uma maneira objetiva, os militares mortos se equiparam a qualquer outro tipo de funcionário morto no exercício de suas funções. É claro que um dos fatores que os levaram àquelas terras foram as vantagens pecuniárias que poderiam auferir de tal missão. No entanto, isso não exclui a possibilidade da atribuição, por parte dos militares, de outros significados à missão, de maneira a elevá-la, a fornecer um estado mental que dê suporte ao seu cumprimento e minore qualquer possibilidade de vacilo, que forneçam a "fé na missão". Não esqueçamos que há um discurso, um mantra, martelado diuturnamente na cabeça desses militares dentro dos quartéis. Assim, para eles os mortos foram herois, abnegados no cumprimento de seu dever. Até porque dinheiro nunca garantiu a disciplina de nenhuma tropa, nem a manutenção de seu moral elevado...
Já fora dos círculos militares, há os impressionáveis que logo passam a repetir as palavras do momento de maneira a-crítica, os que se aproveitam da situação para logo incorporarem o que está na moda a seus discursos um tanto rebuscados e vagos e assim ter certa publicidade, os que apenas querem ser politicamente corretos, etc.
Portanto, escolha sua perspectiva e "leve de graça" sua "gaveta categórica".

Abraços!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Não acredito que os militares mortos no Haiti, em circunstâncias certamente trágicas, sejam herois, ou preencham quaisquer dos requisitos constantes da definição do dicionário.
Mas acredito, sim, que o governo atual precisa de herois, para construir uma fantasia enorme, dentro e fora do país, que lhe traga mais dividendos políticos, explorando a boa-fé e o sentimentalismo do povo brasileiro, sobretudo em momentos como este, de real tristeza por perdas lastimáveis.
A exploração política de perdas humanas me parece algo detestável, um oportunismo abjeto, um eleitoralismo inaceitável...
Paulo Roberto de Almeida
(27.01.2010)

Vinícius Portella disse...

Paulo,

Há uma última consideração: há uma série de impeditivos legais, obstáculos, bem como questões internas à tropa que afastam os militares de atuarem nas favelas brasileiras. Pode-se dizer que os militares tem como mui caro o princípio de "unidade de comando", não sendo muito afeitos a possíveis interferências de autoridades civis em suas ações caso aqui fossem realizadas. Também uma ação em favelas nacionais exporia, principalmente os mais baixos escalões, ao assédio do crime organizado, abrindo-se uma brecha para a infiltração de um determinado e perigoso tipo de corrupção para a Força. Ademais, a imagem "braço forte, mão amiga", de instituição nacional de maior credibilidade, que o Centro de Comunicação do Exército (CeComSEx) tem com tanto afinco se empenhado em construir, poderia sair duramente arranhada com uma ação continuada da tropa nos morros (uma coisa é namoro, outro é casamento, morar junto... dessa o Lula iria gostar...). Entre outros motivos.
Mas não esgoto aqui os possíveis motivos, evidentemente. Acredito que também as autoridades estaduais e municipais não gostariam de atestar sua incompetência recorrendo às FFAA, bem como os traficantes - como todos sabemos, possuidores de representação política ou em conluio com políticos - também envidariam esforços para dificultar ao máximo uma ação militar nos morros... Também não podemos esquecer que os militares também não possuem um orçamento que os possibilitem esbanjar recursos...
Mas isso não vem tanto ao caso. É secundário em relação ao tratado neste post.
Voltemos a moral da história:
agir em casa é um vespeiro; já fora dá para posar de blue jeans, digo, de blue helmet e todo mundo fica feliz(o militar com seu adestramento e sua graninha extra, o Lula, o Amorim, o Top-Top Garcia, o gerente, o fogueteiro...)

Abraços!

Vinícius Portella disse...

"Nunca antes nesse país" tivemos uma exploração política de perdas humanas tão grande. Concordo contigo e creio que, ao menos nisso, o chavão lulista serve razoavelmente bem.

Abraços.

Anônimo disse...

Paulo,

Considerando que todos os brasileiros foram vítimados exclusivamente pelo terremoto, concordo contigo sobre a falta de uma categoria.

Entretanto, se algum deles faleceu em decorrência de uma ação benéfica para outrem, a homenagem é mais que justa.

Obrigado.

Glauciane Carvalho disse...

Não considero nenhum profissional no exercício de suas atividades comuns, seja no Brasil ou no exterior, como heróis. Apenas os vejo como servos do poder e nada mais. Justamente, por que não foram ali para serem heróis, diferente talvez, dos que estão lá agora, nesta situação terrível que assola o Haiti.
Se o intuito é financeiro, a morte é apenas um acontecimento; uma fatalidade. Infelizmente, o Brasil transforma pessoas que nada fizeram ou fizeram suas simplórias obrigações em heróis. Enquanto que,os que fazem são considerados apenas mais um na multidão.
Qual a diferença entre um militar que morreu no Haiti e um policial militar que morreu crivado de balas no exercício de sua profissão, aqui no Rio de Janeiro ?
Ele é apenas mais um na estatística, portanto, o mesmo deve ser atribuído aos que morreram no Haiti (ainda que nesta situação fortuita).
Esta é a realidade e pronto!
Não há que se falar em romantismo heróico na Administração Pública. Apenas condolências e até homenagens aos familiares e nada mais...
A exploração política, deste fato, pelo hipócrita do Lula e do Amorim já está ultrapassando a barreira da pieguice. E induzindo ao romantismo heróico retumbante pela própria natureza...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glauciane,
Concordo com o que você disse e volto a repetir: o governo está fazendo exploração política dessas mortes infelizes.
Eles devem ser, sim, homenageados. Daí a transformá-los em heróis, é o típico overshooting...