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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1759) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (3)

Bem, volto ao tema já exposto em dois post precedentes, 1750 e 1751, que caberia recuperar para ler também os comentários:

sábado, 23 de janeiro de 2010
1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)
[a propósito da matéria: "A obsessão totalitária" - Fábio Portela, Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010]

domingo, 24 de janeiro de 2010
1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)
[na qual eu transcrevia e fazia minhas observações de caráter metodológico a um comentário do leitor que figura abaixo]

O comentarista em questão, um jovem acadêmico baiano -- que eu não chamaria de historiador, pois lhe faltam importantes requisitos metodológicos para tanto; ele é apenas formado em história, com 'h' minúsculo... -- retorna à carga para retrucar ou responder ao que eu disse.
Ele se esquiva, porém, de fazer a única coisa que eu havia pedido a ele, que era comentar o teor da matéria da Veja, em lugar de lançar invectivas contra a revista.
Não contente em continuar a vituperar contra a revista, ele assume a defensiva de suas posições, mas como sempre cheio de adjetivos e colocações impressionistas, sem jamais entrar no coração da matéria, que era, relembro, tecer considerações inteligentes, ou pelo menos interessantes, sobre a liberdade de expressão e a tentativa canhestra -- eu até diria liberticida -- de cercear essa liberdade por uma tribo de órfãos do leninismo encastelados no poder.
Eu havia solicitado tão somente que ele se pronunciasse sobre as frases respectivas de Jefferson e de Lênin, transcritas nessa matéria.
Em lugar de fazê-lo (o que é seu direito), ele prefere continuar atacando o veículo, e silenciar sobre o cerne da matéria.
Ele diz, por exemplo:
"O ataque a revista Veja é justo."
PRA: Acho que isso é uma opinião pessoal, mas como eu disse, isso é o que menos interessa. A matéria poderia ter sido publicada pela Caros Amigos, pela Carta Capital, pela revista do Comitê Central do PSOL (se ele existir e tiver uma), pelo Gramna, o único jornal existente em Cuba (e que serve mais de papel higiênico do que propriamente para informação, uma palavra que passa por piada na ilha), não importa. A única coisa relevante seria comentar se a liberdade de imprensa estaria melhor defendida com a realidade que temos, que se aproxima (mas não muito) da situação descrita por Jefferson, ou se ela estaria melhor com as posições de Lênin, que combinam bastante com o que pretendem os inimigos da liberdade encastelados no poder.

Nosso jovem aprendiz de historiador também diz que "A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica." Mas ele tergiversa sobre o leninismo enrustido no governo Lula, quando o meu pedido a ele era outro. Não pretendo uma discussão ideológica sobre essas viúvas do socialismo, que existem e ficam muito desconfortáveis com um governo que aplica uma política econômica neoliberal. Eu apenas queria os comentários do rapaz sobre a liberdade de expressão.

Não tive nada disso, mas apenas diatribes, adjetivos, impressionismos.
Era minha escolha (e meu direito) não publicar esse tipo de material, para não cansar o leitor, mas como eu abri a discussão, permito-me conceder-lhe uma vez mais espaço para suas manifestações, inclusive por uma questão de justiça: no meio de tantos afazeres, de tantos estudos, ele se deu ao trabalho de interromper suas atividades para me responder, o que é um sinal de consideração.
Vai, portanto, transcrito abaixo, o que ele tem a dizer. Depois eu volto com duas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)


Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileir...":

" Caro PRA,
Permita-me chamá-lo de professor, pois devo ao senhor o meu amor pelas discussões sobre política externa e relações internacionais, além de considerar seus escritos parte da minha permanente formação. Permita-me também uma tréplica, pois minhas poucas palavras e seu desconhecimento a meu respeito acabou sendo objeto de confusão. Isto é perfeitamente normal e me dá grande vantagem sobre o senhor, pois conheço mais de ti do que ao contrário.
Certamente esta tréplica demorou um pouco. Os estudos voltados ao concurso para carreira diplomática, a prática docente e as atividades de pesquisa tomam uma imensa parte do meu tempo. Isso explica a paralisia do meu blog e me deixa bastante impressionado com tamanha versatilidade que o senhor possui.
Vejamos...

Poderia iniciar esta tréplica de variadas formas... Melhor, no entanto, iniciar identificando o seu discurso. Podemos caracterizá-lo como uma conhecida forma de Argumentum ad Hominen, do qual se exclui uma proposição pelo fato da mesma ser objeto de defesa de indivíduos, no mínimo, contestáveis (pelo menos ao seu ver). Se pretende rejeitar minha opinião “batendo em cachorro morto”, tentando me colocar no rol dos saudosistas do socialismo real, houve um erro na pontaria. Lembro-te que o movimento pelo qual tradicionalmente chamamos de esquerda corresponde a um amplo leque de correntes onde, desde os tempos das primeiras manifestações operárias no velho continente, foi caracterizado por seu amplo pluralismo. Esse pluralismo marcou também o próprio marxismo, fazendo de Lênin tão diferente de um Bernstein (não estou aqui para discutir sobre revisionismo, pois todos são revisionistas, vez que não existe uma ortodoxia marxista). Enfim, no que diz respeito ao socialismo real, à apologia a Lenin, Stálin, Fidel e outros personagens que fizeram da revolução um caminho para transformação, sinto o mesmo arrepio que o senhor. Digo mais, na minha prateleira de livros, as “Obras Escolhidas” de Lênin são permanentemente vigiadas pelo “Arquipélago Gulag”, de Soljenítsin. Dito isto, o que falar sobre meu comentário que desencadeou nosso debate?

O ataque a revista Veja é justo. A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica, ao fazer uso de termos sem nenhuma correspondência com o presente. Que soviets, que leninismo? Aponte-me Lênin no programa do PT, no que diz respeito à tática e a estratégia do partido que me calo. Aponte-me alguma apologia de Lula e do governo ao socialismo real que me calo. Aponte-me alguma relação entre o leninismo e o governo Lula que me calo! Não há leninismo, bolcheviques tão pouco. Tudo que se tem são correntes pouco expressivas que, ou são minorias dentro do partido ou que, como minorias, representam a base aliada. Ou o senhor acha que um ministério do esporte representa uma bolchevização do governo? Inclusive, nem nos tempos iniciais, em que o partido era marcado pelo radicalismo, houve um programa que visasse uma revolução.
É dentro deste contexto que caracterizei e ainda caracterizo Veja de saudosista, pois suas análises são caducas e ainda enxergam o mundo de maneira bipolar, comunistas onde não existem. São indivíduos que sonham com as bombas da guerra fria e que passam horas se deliciando com Rambo. Por isso chamei de revista panfletária... E ela é! Panfletária e preguiçosa, pois ao invés de apostar em argumentos inteligentes, apostar em investigações e análises fundamentadas, preferem ocultar e “abrir a boca” com chavões militantes...

Lula governa tendo uma base heterogênea que vai desde os movimentos populares a setores do empresariado brasileiro, escreveu a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” se comprometendo com uma agenda econômica do qual não poderia ser modificada e assim o fez. Não estou aqui para defender o governo, apenas para que parem com essa paranóia de que “os comunistas estão chegando” ou de que por trás da bandeira do PT há uma foice e um martelo. O debate é outro...

É necessário dizer ainda, que meu posicionamento perante essa revista não deve ser confundido com a postura de um historiador perante as fontes. Como fonte, as revistas representam um importante meio de informação e todas elas devem ser utilizadas para que, a partir de uma análise apurada, possa construir o conhecimento histórico. Mas lembro ao senhor que existem muitas perguntas que um historiador faz às fontes, entre elas estão “quem escreveu isso?”, “qual sua intencionalidade?”. Ainda não li o seu “Formação da diplomacia econômica no Brasil: Império” . Comprei mas ainda não o li, entretanto tenho certeza que durante suas pesquisas fez estas perguntas às fontes consultadas (Ficarei honrado de ter uma dedicatória do senhor no meu livro se algum dia desses passar por Salvador). Não sou ainda um bom historiador, mas, no projeto de mestrado que estou construindo, procuro analisar as fontes da melhor maneira possível.

Bem, professor...não vou entrar no tema do Programa Nacional de Direitos Humanos, pois minha crítica, como o senhor pôde constatar, foi direcionada a outra questão. Além disso, ainda estou formando uma opinião a respeito e conto com a ajuda do senhor e do seu blog para sempre me fornecer o “outro lado da moeda”.
Obrigado pela atenção... Estaria faltando com a verdade se dissesse que não estou ansioso por uma resposta. Diferente da primeira, porém, esta não haverá um retorno. Voltarei ao posto de leitor do seu blog, posição que, frente ao senhor, confesso, sinto-me muito mais a vontade do que a de um debatedor.
"

(Fim de transcriçao)

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Permito-me um único comentário final:
PRA: O Equiano, como tantos jovens brasileiros, é vítima do festival de idiotices que uma manada inteira de energúnemos -- alguns idiotas completos, outros apenas ignorantes, outros ainda atuando de má-fé -- dissemina impunemente nas universidades brasileiras. Digo impunemente não porque eles devessem ser cerceados, mas porque eles se aproveitam da total irresponsabilidade das universidades públicas para falar bobagens sem jamais se responsabilizar pelo total surrealismo de seus argumentos, que não guardam a mínima conexão com a realidade.
Se eu pudesse fazer apenas duas recomendações a esses jovens, seriam estas aqui:

1) Esqueçam os seus professores, desliguem dessas aulas ridículas, coloquem seus iPods nos ouvidos e abram um bom livro em sala de aula; se puderem faltar, melhor, se não puderem, leiam, apenas, sejam autodidatas intensivos; vocês aprenderão mais, com gente mais inteligente do que os quadrupedes que costumam dar aulas nas faculdades de humanidades;

2) Viajem, muito: mas, tendo em vista o estado mental da maioria de vocês, não viajem ao capitalismo, a Paris, Miami, essas coisas. Tudo isso é déjà vu, já sabemos como funciona o capitalismo e o que se pode comprar nele: iPods, iPhones, computadores Apple (três vezes mais baratos do que neste país protecionista), enfim, tudo aquilo que um jovem cubano gostaria de comprar e não consegue, ou que o brasileiro precisa pagar pelo menos o dobro para obter. Viajem a países magníficos, que combinam com as idéias desses professores aloprados que fingem dar aulas a vocês: visitem Cuba, Coréia do Norte (não creio que consigam, mas cabe tentar), a Venezuela do coronel fascistão, as maravilhas bolivarianas, enfim, tudo aquilo que passa por progressista e libertador. Seria tão mais interessante do que percorrer esses lugares cheios de multinacionais, de especuladores financeiros, de exploração do homem...

Enfim, são apenas sugestões...

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