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sábado, 31 de julho de 2010

Copa do Mundo 2014: o Brasil vai sair pior...

O artigo abaixo poderia entrar numa série chamada: "Depois não digam que eu não avisei".
Gostaria de expressamente cumprimentar sua autora, a quem não conheço, mas suponho ser uma egressa de algum curso de RI de São Paulo, pela sua clarividência, sensatez, objetividade, e sobretudo sentido de antecipação, pelo que efetivamente vai ocorrer em relação aos trabalhos, aos custos e às consequências da Copa de 2014 para nós, brasileiros.
Concordo inteiramente com ela, e iria mesmo mais além. Eu diria que tudo isso vai resultar em mais corrupção ANTES, DURANTE E DEPOIS da Copa de 2014, corrupção, aliás, que já começa agora, ao decretar o governo diversas medidas "facilitatórias" da construção de estádios ou obras de infra-estrutura sem critérios adequados de controle contra o (super)faturamento (que ocorrerá, disso estamos certos), de seleção dos melhores operadores, de redução de impostos de maneira seletiva, sem um estudo técnico abalizado sobre seus efeitos na cadeia produtiva, de "permissão" para "compras nacionais" mesmo quando a fatura for até 25% superior ao do concorrente importado, enfim, uma infinidade de medidas, públicas e menos públicas que certamente representam a riqueza de alguns e a dívida pública para todos. Que alguns lucrem com os negócios da Copa, isso é normal, mas que isso seja uma oportunidade, mais uma, para que alguns espertos se enriqueçam brutalmente, isso é um golpe planejado que combina inteiramente com certas máfias encasteladas em certas instituições e que conhecemos bem (ou deveríamos conhecer).
Concordo inteiramente com a consultora: esse trem-bala, antes de ser piada, vai ser um enorme desvio de verbas públicas, uma "desnecessidade", se ouso dizer, em face de tantas outras obras, urbanas, mais necessárias.
Ao fim e ao cabo, vamos sair dessa Copa com mais dívida pública, mais corrupção, menos organização adequada do Estado. Uma grande ilusão, eis o que é.
Paulo Roberto de Almeida

Cortina de Fumaça
Martha Ferreira - Economista e consultora de negócios
Prisma - Informativo Eletrônico
Edição 24 - Julho de 2010

Os gastos previstos para sediar a Copa do Mundo, na Alemanha, eram de R$ 2,2 bilhões. Até 2006, as obras subiram 50%, chegando a R$ 3,3 bilhões.

O que se viu por lá foi um povo alegre, orgulhoso por seu país moderno, eficiente e unido, além da já esperada organização e ótima estrutura dos estádios e transportes. A sociedade começou seu planejamento 10 anos antes do evento e essa foi a sua fórmula de sucesso. O total arrecadado pela Alemanha, durante a Copa, chegou a R$ 7,5 bilhões e os hotéis tiveram um faturamento de R$ 750 milhões.

Na África do Sul foram feitos investimentos em infra-estrutura, transportes, telecomunicações, construção e adequação dos seus estádios, que atingiram a cifra de R$ 7,5 bilhões. Essa quantia ultrapassou dez vezes o valor previsto, inicialmente, pelo governo.

Sua infra-estrutura evoluiu, substancialmente, em decorrência desses investimentos, houve benefício social à população e um sentimento de maior unidade nacional, graças à realização do torneio, no país.

Entretanto, uma visão analítica mais acurada, mostra o superfaturamento dos estádios; falta de controle mais severo sobre as obras, pelo maior financiador dos investimentos, o governo sul-africano; atraso nas obras, que precisaram ser apressadas e acabaram custando mais; e a ociosidade das novas arenas.

Além disso, o governo esperava receber 450 mil visitantes estrangeiros, mas a estimativa foi reduzida pela metade, por causa da crise econômica global e da imagem de violência associada ao país. Após a Copa do Mundo, a África do Sul mergulha no esquecimento e afunda, de novo, em suas profundas mazelas.

O Brasil, a 04 anos da Copa, prevê uma gastança de R$ 17,5 bilhões, ou seja, 120% a mais do que o montante investido no torneio sul-africano. Tudo isto, somente para adaptar nossos modestos estádios às recomendações técnicas internacionais, visto que nenhum deles cumpre os requisitos básicos.

Os projetos já deveriam estar prontos há dois anos, mas há cidades que nem sabem, ainda, onde vão ocorrer os jogos, lembrando o exemplo de São Paulo. Quando as obras começarem, já estarão atrasadas e as empreiteiras, com certeza, cobrarão mais caro para cumprir o prazo exigido.

Estudos apontam que a realização de Copas do Mundo contribui com um aumento de, no máximo, 0,2% no PIB dos países-sede. E, na grande maioria daqueles que não se planeja para tirar o melhor proveito do que o evento pode oferecer, os governos assumem todas as responsabilidades para sediá-lo, mas o lucro vai para a FIFA. Foi o caso da África do Sul e pode ser o que presenciaremos, aqui, se observarmos os nossos exemplos sistemáticos.

O principal desafio para todas as cidades-sede, desses eventos, é a capacidade de planejar, elaborar e executar um projeto para dotá-las de transportes urbanos, aeroportos, rodovias, segurança pública, hotéis e opções de entretenimento para o turista. No Brasil, está exatamente aí o nosso maior entrave para dar um eficiente suporte ao certame.

Como estamos sem investimentos, há décadas, temos uma demanda de R$ 180 bilhões em obras de infra-estrutura e a iniciativa privada só se interessa por 15% desse montante, porque o resto é inviável. Além disso, nossa mobilidade urbana é um caos e a solução proposta pelo governo, o trem de alta velocidade, não vai resolver o problema crítico de transporte público, apenas dar um golpe de misericórdia, no contribuinte, no valor de R$ 34 bilhões!

Em minha opinião, a Copa do Mundo é uma cortina de fumaça para desviar a atenção, do brasileiro crédulo e do resto do mundo, dos nossos gravíssimos problemas. Estamos num país assolado pela má gestão, dívida pública estratosférica, corrupção endêmica, violência desenfreada, impunidade crônica e carência de investimentos sociais, especialmente em saúde, educação e segurança.

A Copa do Mundo será boa enquanto os brasileiros estiverem curtindo uma atmosfera festiva. Mas o seu efeito vai passar, os problemas vão continuar e o déficit orçamentário será um legado devastador.

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Addendum: Não bastasse a Copa do Mundo, logo em seguida vem as Olimpíadas. Leiam a nota no boletim eletrônico da revista Foreign Policy (30.07.2010):

Preparing for Olympics, Rio plans to raze favelas

Rio de Janeiro is undertaking a significant rebuilding and reconstruction effort before the 2016 Summer Olympics. The city will raze over 100 of the most "at risk" favelas and rebuild hundreds of others. According to the mayor of Rio, Eduardo Paes, about 13,000 families will be forced from their homes - and it's unclear where the people will be relocated and if they will be compensated.

For the local population, the Olympics are rarely about fun and games. In the last twenty years, the Olympics have displaced over 20 million people, despite the fact that international law stipulates protection from forcible eviction. People are either removed from their homes by the government or priced out: 720,000 at the Seoul Olympics; hundreds of families in Barcelona; 30,000 Atlantans; hundreds of Roma settlers in Athens; and 1.5 million people in Beijing.

Time to "think again"?

2 comentários:

Fabrício disse...

Essa é também a minha opinião sobre o assunto, tanto é que inseri nos meus estudos do CACD como tema de redação para Língua Portuguesa e Inglesa.

Só não enxerga o "abacaxi" quem não quer. E tem muita gente (inclusive próximas a mim) sonhando com um "boom" no trade turístico e hoteleiro, visualizando enriquecimento e prosperidade sem fim. Não percebem que após a Copa tudo volta ao normal. Ademais, o aumento no fluxo de turistas só atingirá os destinos já conhecidos e amplamente divulgados internacionalmente.

Isso citando apenas um tópico dentre tantos que povoam a imaginação criativa do povo brasileiro.

Um abraço.

Anônimo disse...

Felipe Xavier

Acho importante lembrar também que, por ocasião dos jogos Pan-Americanos, o Maracanã passou por uma ampla reforma, na qual foram gastos muitos milhões de reais. Mesmo após essa gastança toda há tão pouco tempo, o estádio não está pronto para receber jogos do mundial? Como assim?
Outro disparate ao qual não se dá tanta atenção é o fato de que a CBF, aquela instituição idônea e honesta, basicamente definiu as cidades que sediarão os jogos da copa. Ou seja, os investimentos de toda ordem que serão feitos no Brasil em razão da copa serão destinados àquelas cidades definidas pela CBF. O nosso dinheiro será gasto naqueles lugares em que o senhor Ricardo Teixeira, com base em seu extenso conhecimento sobre economia, ganhos de produtividade, economias de escala e economias de aglomeração, acha melhor. Por que não instituir um grupo técnico de trabalho para analisar quais os locais mais apropriados para esses investimentos, com base na integração de cadeias produtivas e outros critérios similares. O que ocorreu de fato foi, mais uma vez, o fator político pesando mais do que qualquer outro para a definição do destino final do dinheiro. Aposto que muitos elefantes brancos serão construídos nesse país
Por fim, os números apresentados pelo governo como necessários para a realização do mundial são uma piada de mau gosto, para dizer o mínimo.