O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O desenvolvimento do capitalismo em Cuba - P.R.Almeida

O desenvolvimento do capitalismo em Cuba
Paulo Almeida

O mesmo título, substituindo Cuba por Rússia, foi usado no único livro de Lênin que foi resultado de pesquisa semi-acadêmica. Ele lidou com estatísticas agrárias, industriais e alguns outros indicadores econômicos, e foi tudo. As teses estavam pré-determinadas, e o resultado final, antecipadamente, era anunciado como sendo o socialismo, como a única via de "salvação" da Rússia, para fora do "purgatório capitalista", construindo o "paraíso socialista".
Depois de outro livro pretensamente teórico -- Imperialismo, etapa superior do capitalismo -- no qual ele copiou desavergonhadamente Hobson e Rosa Luxemburgo, Lênin se entregou a tarefas mais práticas, passando a construir o seu socialismo, depois de seu putsch de novembro de 1917.
Enfim, deu no que deu: miséria humana, escravidão da classe trabalhadora, e o maior desastre social, econômico e humano já vivido pela nação russa. Demorou setenta anos para acabar, mas acabou.
Pois bem, agora é Cuba que ensaia o caminho de volta do socialismo, em direção ao capitalismo. Já deveriam ter aprendido bem antes: se não cinquenta anos atrás, pelo menos 20 anos atrás, quando a URSS se desfazia.
Vou seguir o edificante exemplo cubano, que se prepara para jogar no olho da rua um milhão (eu disse UM MILHÃO) de trabalhadores estatais, que são redundantes. Para que vocês tenham um ideia do que isso significa, basta dizer que a população total da ilha é de 11,2 milhões de pessoas, com menos de 5 milhões de PEA (ativos), ou seja, uma proporção enorme de desempregados potenciais, mais de 20% jogados na fila de desemprego. Bem, em Cuba eles tem muita experiência de fila, assim que este não é o problema.
O problema é que antes se fazia fila para receber a magra ração do governo, e dorenavante não haverá mais fila pois cada um terá de se virar por si mesmo.
Antevejo um lampejo de capitalismo em Cuba, e com isso a plutocracia gerontocrática será colocada no olho da rua, por sua vez.
Já não era sem tempo...

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 20.09.2010

3 comentários:

Leon disse...

Não sei se a chegada do capitalismo a Cuba será algo tão maravilhoso assim. Num país onde reina o desemprego, os trabalhadores não são organizados em sindicatos para cobrar melhorias trabalhistas e o povo está acostumado a apanhar pelas lutas por causas sociais, o capitalismo se dará da forma mais selvagem: empresas de capital externo explorarão a força de trabalho e, sem dúvida, ignorarão os direitos humanos. Se essa é uma boa perspectiva de capitalismo, então acho que a luta socialista nunca teve lugar.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Leon. Fate Ø,
Grato pelo comentário. Não me consta ter escrito que a transformação de Cuba, novamente, em economia capitalista, tornaria a ilha um modelo de igualdade e de justiça. O capitalismo não tem nada a ver com esses atributos, que são construções sociais maiores do que o capitalismo. O capitalismo é apenas, e tão simplesmente, um modo de produção, como diriam os marxistas, ou seja, um sistema de organização social da produção voltado para a transformação produtiva de insumos, usando fatores de produção (entre eles o trabalho assalariado) para a fabricação e a distribuição de mercadorias de massa. Apenas isso e nada mais do que isso. Todo o resto, ou seja, justiça, igualdade, boa repartição da riqueza assim criada, provimento de serviços coletivos com externalidades não mensuráveis pelo mercado, tudo isso, cabe à sociedade decidir como fazer, por vezes via mercados -- isto é, competição entre provedores -- por vezes via Estado, ou seja, concentração e monopólios, eventualmente sob regimes mistos ou de concessão.
Apenas ocorre que ninguém ainda descobriu, inventou, propos um sistema produtivo mais eficiente do que o capitalismo para fazer aquilo que ele sabe fazer: produzir e entregar mercadorias e serviços mercantis. Ponto, apenas isto.
O capitalismo pode até ser "selvagem", como você diz, concentrador, desigual, injusto, pode até ignorar os direitos humanos.
Não creio, porém, que conseguiria ser mais selvagem do que as ditaduras comunistas conhecidas, que converteram a mão-de-obra em escravos assalariados pelo Estado, sem condições de barganhar (pois que sem dispor de sindicatos livres) e totalmente desumano no que toca as liberdades essenciais.
Você certamente não ignora que os socialismos reais existentes foram responsáveis por milhões de mortos. Se precisar eu lhe indico as fontes.
Cuba é apenas uma ilha-prisão. Os cubanos estão prontos para o capitalismo, ou seja, para a desigualdade, a concentração de renda, a exploração, tudo isso, menos a miséria socialista, que antes de ser uma penúria material é uma miséria moral, um regime de mentira, de delações, enfim, simplesmente um Estado policialesco.
Tem muita gente no Brasil que admira Cuba: pergunte por que, exatamente. E nao caia no conto do embargo imperialista para "explicar" as misérias de Cuba: essa não cola mais...
Paulo Roberto de Almeida

Leon disse...

Obrigado pelo esclarecimento sobre sua posição. INfelizmente, tenho que concordar com você: nada mais funcional que o capitalismo foi posto em prática até hoje. Entretanto, ainda nos cabe desejar algo melhor e lutar por isso.
Obrigado pela resposta! Sigo seu trabalho há um bom tempo e me agradou saber que interaje com seus leitores.