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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Republica Mafiosa do Brasil (26): l'embarras du choix

Os franceses usam essa expressão para designar a hesitação de alguém em face de muitas opções disponíveis, ou seja, uma profusão de escolhas frente às quais não se sabe bem qual a mais interessante, qual o prato mais apetitoso, qual garota convidar para ir ao cinema, enfim, dúvidas sempre de natureza positiva...
No meu caso, as opções são simplesmente horrorosas, para dar continuidade -- o que eu sinceramente não gostaria -- a esta minha série que pensei iria terminar muito rapidamente.
Passei o dia lendo coisas terríveis, cada uma mais cabeluda que a outra, informações (de caráter mafioso, claro), desmentidos, agitações, análises, crônicas de costumes, colunas de jornalistas famosos e outras matérias de repórteres menos famosos. Todo esse material horripilante, não apenas relacionado ao caso do momento, mas a ele conectado por uma série de razões, eleitorais ou não.
De minha parte, confesso meu desalento com essa situação e a continuidade da minha série: constato que uma quadrilha de mafiosos se incrustou nas mais altas esferas dessa republiqueta a que o país foi conduzido por vias diversas, mas todas elas coincidentes.
Decidi não publicar nenhuma das matérias coletadas durante o dia, pois seria uma massa enorme e, presumivelmente, desanimadora para qualquer leitor.
Em contrapartida, publico simplesmente um fato, nada mais que um fato, uma ilustração concreta, aparentemente indesmentível, de mais um caso, a vírgula que faltava para concluir o caso de certa mafiosa ainda negacionista...
Seria um prego no caixão, mas permito-me desconfiar que isso não venha a ocorrer, any time soon, conhecendo todos os demais mafiosos em torno do caso...
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA RUBNEI QUÍCOLI
"Fiquei horrorizado de ter de pagar", diz negociador
Letícia Moreira - DE BRASÍLIA
Folhapress, 16.09.2010

CONSULTOR CONFIRMA ENCONTRO COM ERENICE, DIZ QUE EMPRESA SE RECUSOU A PAGAR PROPINA E DESCREVE REUNIÃO COM ISRAEL
(foto) Rubnei Quícoli, consultor da EDRB, empresa de Campinas

O empresário Rubnei Quícoli disse que ficou "horrorizado" e se sentiu "lesado" ao receber a proposta de contrato da Capital Consultoria, empresa que pertence a um filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. A seguir, trechos de uma das entrevistas que o consultor deu à Folha.

Folha - Quando e como você foi apresentado à empresa Capital?
Rubnei Quícoli - Me foi apresentado o Marco Antonio [ex-diretor dos Correios]. Ele ficou durante um tempo como diretor dos Correios e me trouxe o [sobrinho dele, que trabalhava na Casa Civil] Vinícius, onde foram viabilizados esses e-mails para poder ir para a Casa Civil para demonstrar esse projeto.
É lógico que o pessoal viu o tamanho do investimento e todo mundo criou uma situação favorável para ele, em termos de participação e intermediação. Acho que todo mundo que trabalha tem direito a alguma coisa, mas dentro de uma coisa normal.
Estive na Casa Civil junto com a Erenice, que era a secretária-executiva da Casa Civil. A Dilma não pôde me receber, estava com outros afazeres. Ela sabe do projeto, recebeu em 2005, se não me engano. O documento foi encaminhado para o MME [Ministério de Minas e Energia].
Houve essa reunião com a Erenice, que encaminhou isso para a Chesf. A Chesf teve reunião conosco, me parece que um deles teve problema de saúde, isso acarretou todo esse tempo em que aconteceu esse contrato de participação, de intermediação.
Eu fiquei horrorizado de ter que pagar R$ 40 mil por mês para eles terem um favorecimento de acesso. Para que eu vou pagar se não vai sair [o crédito]? Eles diziam que iria sair, para dar sustentação e eu pagar os R$ 40 mil. E eu decidi com [os sócios] o Aldo e o Marcelo não pagar nada e esperar ver.

Quando você conversou com o Vinícius, ele se apresentou como da empresa Capital?
Não, ele disse que iria me levar para o escritório que daria a sequência do trabalho, que precisaria do escritório para dar manutenção, assessoria e consultoria para a gente não ficar desprotegido.

Erenice prometeu fazer algo?
Ela se colocou num patamar assim: "Vou ver onde eu coloco isso". Ela colocou que a Chesf seria a empresa recomendada porque está no Nordeste. Nessa condição ela agiu corretamente. [...] Até então eu nem sabia da existência da Capital, para mim o negócio estava sendo direcionado ao governo. Eu não sabia que existia propina no meio, contrato, que eu teria que pagar. Não dá para entender a pessoa deixar um filho [Israel Guerra] tomar conta de um ministério. É um projeto que foi investido muito dinheiro para parar por conta de propina.

O senhor recebeu e-mail com cobrança. O que queriam?
A ideia principal era amarrar o aporte e a manutenção de R$ 40 mil para eles porque era final de ano. A gente sabe como funciona Brasília. Eles [a Capital] queriam receber antecipadamente uma mensalidade para poder se manter. Quem está fazendo uma intermediação de R$ 9 bilhões e vai se preocupar com R$ 40 mil por mês? Não dá para entender.

Como você reagiu quando pediram dinheiro?
Eu mandei, desculpe a expressão, para a puta que o pariu. Falei: "Vocês estão de brincadeira?" [Disse] que não assinava nada.

Em que momento o Israel apareceu?
O que aconteceu depois? Isso foi informação do Marco Antônio. Ele falou que precisava de R$ 5 milhões para poder pagar a dívida lá que a mulher de ferro tinha. Que tinha que ser uma coisa por fora para apagar um incêndio.

Quem era a mulher de ferro?
A mulher de ferro é a Dilma e a Erenice, as duas. Não sei quanto é a dívida de uma e de outra. Eu sei que a Erenice precisava de dinheiro para cobrir essa dívida. O Marco Antônio é que pediu. Eu falei: "Eu não vou dar dinheiro nenhum. Eu estou fazendo um negócio que é por dentro e estou me sentindo lesado".
Aí o Marco Antônio falou: "O Israel, filho da Erenice, bloqueou a operação porque você não deu o dinheiro". Isso é a palavra do Marco Antônio. Eu respondi: "Não tenho conversa com bandido". Isso aconteceu há três meses. Foi o último contato com eles.

Você esteve com o Israel?
O encontro foi no escritório do Brasília Shopping. O Israel nunca pediu nada porque eu não dei chance. Eu não sabia que ele era filho da Erenice. Soube pelo Marco Antônio. Quanto à atitude dele, barrar um negócio desse por conta do dinheiro me deixou totalmente nervoso, com atitude até agressiva.

2 comentários:

waldir ferreira disse...

Leia no Carta Maior

O CONSULTOR DE HONESTIDADE DA FOLHA

Ladrão de carga e passador de dinheiro falso que cumpriu pena de 10 meses de prisão 'sustenta' manchete garrafal contra o governo

Depois de estampar manchete de seis colunas na primeira página e gastar cinco ou seis páginas para recriar um clima de ‘mar de lama’ lacerdista contra o governo Lula, o jornal Folha de SP usou exatamente 170 palavras, uma parcimoniosa coluna de canto, para informar aos leitores o perfil de sua referência de honestidade e indignação: o consultor Rubnei Quícoli, cujo prontuário, generoso, inclui 'negócios' no ramo de roubo de carga, falsificação de dinheiro e coação, interrompidos, momentaneamente, por 10 meses de prisão.

A INSUSPEITA FONTE DE UM INSUSPEITO JORNALISMO
O consultor Rubnei Quícoli, representante da empresa que tentava obter o financiamento no BNDES por meio da empresa de lobby Capital, foi condenado em processos movidos pela Justiça de São Paulo sob duas acusações: receptação e coação....Quícoli foi denunciado, em maio de 2003, por ocultar "em proveito próprio e alheio" uma carga de 10 toneladas de condimentos, que "sabia ser produto de crime de roubo". Em 2000, após denúncia anônima, o consultor foi acusado de receptação de moeda falsa num posto de gasolina em Campinas. A polícia apreendeu no posto sete notas de R$ 50,00. Quícoli afirmou não saber a procedência... Em 2007, Quícoli foi preso e passou cerca de dez meses na prisão...

INFORMAÇÃO, MANIPULAÇÃO E INTERESSE PÚBLICO>
Carta Maior defende a investigação transparente, rigorosa e corajosa de qualquer denúncia que envolva o interesse público. A tônica do denuncismo udenista perde legitimidade quando se revala um mero dispositivo eleitoral da coalizão demotucana. Aspas para a coluna de Inês Nassif, no Valor desta 5º feira:

(...) O PSDB, que catalisou a oposição a Lula, e o DEM, com o qual é mais identificado, terceirizaram a ação partidária para uma mídia excessivamente simpática a um projeto que, mais do que de classes, é antipetista. Todo trabalho de organização partidária, de formulação ideológica e de articulação orgânica foi substituído por uma única estratégia de cooptação, a propaganda política assumida pelos meios de comunicação tradicionais. A vanguarda oposicionista tem sido a mídia. Esta, espelhando-se na velha estrutura social do país, tem praticado uma conversa exclusiva com os seus: assumiu um discurso para agradar a elite, que por sua vez perdeu quase totalmente seu poder de influência sobre os menos ricos e escolarizados. Os partidos de oposição e a mídia falam um para o outro. Pouco têm agregado em apoio popular, que significaria voto na urna e, portanto, vitória eleitoral. A ideia de propaganda política via mídia (...)tornou-se a única ação efetiva da oposição brasileira, exercida, porém, de fora dos partidos. Teoricamente, a mídia tradicional brasileira não é partidária. Na prática, exerce essa função no hiato deixado pela deficiente organização dos partidos que hoje estão na oposição ao presidente Lula...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Pois é Waldir,
Parece que o bandido já tinha avisado desde fevereiro que a empresa que ele representava estava sendo achacada na Casa Civil.
Você ainda pretende defender a república mafiosa, ou arrumar mais alguma desculpa para o caso?
Pode começar explicando, por exemplo, por que a ministra teve de se demitir sob pressão...
Paulo Roberto de Almeida