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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Triste fim de Policarpo Fidel Castro: um modelito pret-a-rien...

Triste fim a desse gerontocrata totalitário: quando tem um repente de sinceridade, um vislumbre de realismo, no meio dos devaneios com que conduz o povo cubano há meio século, causa surpresa geral na galera e é obrigado a se desdizer.
Eu fico imaginando a cara, e as angústias, de meia dúzia de idiotas apoiadores aqui mesmo no Brasil, que estavam dispostos a apoiar Cuba hasta la muerte, siempre...
De repente, tendo dedicado toda uma carreira medíocre a defender o totalitarismo cubano, vem o líder supremo e "crau!", lhes retira o tapete sob os pés??!!
Isso não se faz.
Ainda bem que Fidel se desmentiu, para alívio dos stalinistas locais, para conforto dos boçais que apoiam um sistema prisional e absolutamente desumano.
Que o modelo não funciona, que ele seja disfuncional para fins de crescimento e criação de riqueza, que ele seja amoral, imoral, ilegítimo e absolutamente pornográfico do ponto de vista das liberdades democráticas, isso já se sabia há muito tempo.
Mas, se esperava que só depois da morte do patriarca ditatorial se fosse finalmente reconhecer essa verdade elementar.
Que o próprio ditador o tenha dito, isso representa uma traição à causa, sobretudo da nomenklatura que vive às expensas do povo cubano.
Pronto, voltamos à estaca zero, para conforto dos idiotas cubanófilos...
Paulo Roberto de Almeida

Cuba: Quem quer comprar?
Percival Puggina
Opinião e Notícia, 16/09/2010

E Fidel saiu-se com esta: 'O modelo cubano não funciona mais nem para nós'

Cuba é bem mais do que uma ilha em forma de lagarto, plantada no meio do Caribe. Cuba é um divisor de águas entre democratas e totalitários. Não tem erro. Saiu em defesa de Cuba, começou a falar em educação, saúde e “bloqueio” americano, deu. Não precisa dizer mais nada. O cara abriu a porta do armário e assumiu. O negócio dele é o comunismo da velha guarda. Na melhor das hipóteses, marxismo-leninismo; na pior e mais provável, stalinismo.

Pois eis que Fidel Castro decidiu conceder longa entrevista ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg. Embora a pauta fosse o ambiente político do Oriente Médio e o tom belicoso das posições de Ahmadinejad, Fidel gosta de falar e outros assuntos entraram na conversa. Não li toda a matéria. Poucas coisas serão tão infrutíferas quanto conhecer a opinião de Fidel a respeito de Ahmadinejad. Convenhamos. Horas tantas, o jornalista faz uma pergunta absolutamente sem sentido e obtém por resposta algo que arrancou manchetes mundo afora. É dessas coisas que acontecem uma vez na vida de cada jornalista sortudo. A pergunta foi sobre se valia a pena exportar o sistema cubano para outros países. Pondere, leitor, o absurdo da indagação: como poderia haver interesse em exportar algo sem qualquer cotação no mercado mundial há mais de três décadas? E Fidel saiu-se com esta: “O modelo cubano não funciona mais nem para nós”. Como se percebe, há na frase sinceridade e falsidade. Sincero o reconhecimento. Falsa a sugestão de que, durante certo tempo, o sistema teria funcionado.

De todo modo, até o dia 8 de setembro, quando foi divulgada a observação do líder da revolução cubana, supunha-se que só ele, o líder da revolução cubana ainda levasse fé na própria obra. Dois dias mais tarde, diante da repercussão internacional dessa sapientíssima frase, ele voltou atrás e disse ter sido mal-interpretado. Alegou que afirmara o oposto: o que não funcionaria é o capitalismo. E assim ficamos sabendo que os países capitalistas são um desastre e os socialistas um sucesso de público e renda.

Entenda-se o velho. Aos 84 anos ele já não pode mais voltar atrás. Vendeu a alma a Mefisto e os ponteiros de seu relógio quebraram. Quando fez uma primeira experiência com a sinceridade, deu-se mal. Coisa como para nunca mais. Era preciso retroceder e apelar para o “fui mal entendido”. Está bem, Fidel. Foste mal entendido. Mas ainda que tivesses sido bem entendido, andaste bem longe do problema de teu país. Neste último meio século, as dificuldades da antiga Pérola do Caribe, que transformaste num presídio, bem antes de serem econômicas, são políticas! Mais do que a ineficácia de uma economia estatizada, o que faz dó em Cuba é o totalitarismo. É a asfixia de todas as liberdades. São as prisões por delito de opinião. São os julgamentos políticos em rito sumaríssimo. É o paredón. É o aviltamento dos direitos humanos (quem disse que eles se restringem a educação e saúde?). É a perseguição aos homossexuais. São os linchamentos morais. É haver um espião do governo em cada quarteirão de cada cidade do país. É a dissimulação como forma de convívio social. É a falta de algo a que se possa chamar de vida privada. É terem os estrangeiros, em Cuba, direitos que são negados aos cubanos. É serem os cubanos cidadãos de segunda categoria em seu próprio país.

Há meio século – contam-se aí duas gerações – Cuba está submetida aos devaneios totalitários de um fanático que, para maior dos pesares, agrupou adeptos mundo afora. Esses adeptos atuaram na mais inverossímil e resistente montagem publicitária que o mundo já viu, em tudo superior à soviética, que desabou 21 anos atrás. Pois não bastasse a ressonância universal do fracasso, o mundo se encanta quando Fidel declara que o sistema econômico cubano não funciona mais. Mas o problema de Cuba é outro e ele está longe de reconhecer.

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