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quinta-feira, 14 de abril de 2011

O mito do valor agregado (as nossas custas, claro)...

Governos ativistas, burocratas intervencionistas, espíritos dirigistas sempre querem, pretendem, e geralmente o fazem, melhorar as nossas vidas contra a nossa própria vontade.
Determinados líderes políticos, eu até diria a maioria, acham que sabem melhor do que os empresários, do que os agentes econômicos em geral, o que é melhor para o país e para a sociedade como um todo.
Claro, esses preclaros líderes da nacionalidade -- que certamente não merecem o nome de estadistas -- jamais fazem cálculos de custo-benefício, ou de custo-oportunidade, de cada uma das medidas que "tiram" -- literalmente -- de suas "cacholas", pela simples razão de que eles costumam ser rústicos, economicamente falando.
Como eu digo sempre: todo economista sensato é a favor do livre comércio; todo político sensato diz que é favor do livre comércio, mas não faz nada para efetivá-lo, pois costuma dizer que na prática a teoria é outra, que é muito bonito no papel, mas não funciona na vida real, que como os "outros" (agora são os chineses) praticam "comércio desleal", estaríamos colocando em risco o emprego dos nossos trabalhadores, etc. e tal...
Esses políticos, esses burocratas conseguem fazer isso por uma razão muito simples: eles são pagos para gastar o dinheiro dos outros -- isto é, o seu, o meu, o nosso dinheiro -- pois se tivessem de arriscar seus próprios tostões (enfim, milhões), eles provavelmente contratariam uma consultoria antes, para saber se o retorno é realmente garantido, se eles vão ficar mais ricos, etc. Podem até perder dinheiro em algum empreendimento, mas aposto como cuidam direitinho do que é seu.
Então, por que essa vontade de dirigir a vida alheia, por que essa ânsia de dizer aos empresários, que arriscam o seu próprio dinheiro e o de seus associados na empreitada, construindo um negócio que visa, única e simplesmente, ao melhor e maior lucro possível. Essa coisa de achar que as pessoas estão patrioticamente trabalhando pelo bem do país é uma bobagem imensa: cada um pensa, primordial e essencialmente, em sua própria situação. E com isso se constrói, segundo a ideia da mão invisível de Adam Smith, o melhor resultado possível para todos e cada um.
Como sempre, a alegoria smithniana da mão invisível, assim como a teoria ricardiana do livre comércio não costumam ser aceitas nesses meios dirigistas, que continuam a pressionar os empresários em geral para fazer aquilo que eles acham que deve ser bom para a sociedade, não o que os próprios empresários pensam ser o ideal do seu próprio ponto de vista. Como nenhum empresário -- salvo algum maluco -- está no negócio para perder dinheiro, eles querem mesmo é realizar o máximo de lucro possível (descontando o do "leão" do fisco), com o que acabam fazendo o melhor benefício possível para a sociedade, via pagamento de salários, juros, aluguéis, distribuição de lucros e dividendos, recolhimento de impostos, enfim, criando empregos, renda e riqueza para a sociedade como um todo.
Quem não acredita nisso? Os dirigistas de sempre...
Fiquem com um artigo ilustrativo a este respeito...
Paulo Roberto de Almeida

Smith, Ricardo e o lobo
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
*FOLHA DE SÃO PAULO, 13/04/11

A "FALÁCIA do valor adicionado" é uma das manifestações mais comuns do analfabetismo econômico. Geralmente se expressa como indignação pelo fato de o país exportar alguma matéria-prima (minério, petróleo, algodão) em vez de seu correspondente manufaturado (aço, gasolina, têxteis), clamando a seguir pela atuação do governo para: a) desvalorizar o câmbio; ou b) taxar as importações de manufaturas; ou c) taxar as exportações de matérias-primas; ou e) dar crédito subsidiado à produção local; ou f) subsidiar diretamente a produção local; ou g) todas as alternativas anteriores.
Embora as políticas acima tenham como efeito inequívoco o benefício de poucos em detrimento de muitos, são comumente apresentadas como de "interesse nacional", mas não é esse o caso. Para entender isso, vamos usar um exemplo obviamente irreal, que, todavia, ajuda revelar a estrutura básica do problema. Imagine que haja cem trabalhadores disponíveis e cada um possa produzir duas toneladas de minério de ferro, ou meia tonelada de aço. Por outro lado, cada tonelada de aço, produto de maior valor agregado, vale duas toneladas de minério. Como deveriam então ser distribuídos os trabalhadores entre a produção de aço e minério, considerando que o país precisa de 25 toneladas de aço?
À primeira vista, bastaria empregar metade dos recursos para a produção de minério e metade para a produção de aço, obtendo, assim, cem toneladas de minério e as requeridas 25 toneladas de aço.
Há, contudo, uma alternativa melhor: todos os trabalhadores poderiam ser empregados na produção de minério, gerando 200 toneladas, das quais 50 poderiam ser trocadas por 25 toneladas de aço. Mesmo concentrando a produção no bem de menor valor adicionado, obtém-se o aço necessário, mas com um saldo maior de minério de ferro (150 toneladas ante 100) do que na primeira
opção.
O exemplo é confessadamente imaginário e os números foram escolhidos para mostrar um caso em que o foco na produção do bem de menor valor adicionado gera resultados superiores. Ainda assim, ele revela verdades importantes. Vale mais produzir minério do que aço em nosso exemplo porque a
produtividade relativa (duas toneladas/trabalhador no primeiro setor versus 0,5 tonelada/trabalhador no segundo) supera o preço do aço em termos de minério (duas toneladas de minério por uma de aço). Não é difícil concluir que seria mais vantajoso empregar todos os recursos na produção siderúrgica apenas se o preço do aço ultrapassar quatro toneladas de minério por uma de aço.
Como, porém, podemos saber se a produtividade relativa entre os setores supera, ou não, o preço relativo desses dois bens? Basta observar o comportamento das empresas: ante a alternativa de produzir minério ou aço, qual é a atividade escolhida? Dado que empresas privadas, em geral, não
estão no negócio de rasgar dinheiro, a escolha mais lucrativa revela a relação entre preços e produtividade.
No entanto, seria esse comportamento míope, dado que a empresa estaria preocupada apenas consigo mesma, e não com "os interesses do país"? Não. No primeiro caso, temos a produção de 100 toneladas de minério e 25 de aço, que, ao preço de 2:1, equivale a um PIB de 150 toneladas de minério (ou 75 de aço).
No segundo caso, o PIB equivale a 200 toneladas de minério (ou 100 de aço), mostrando que a otimização individual também implica otimização para a sociedade como um todo.
Assim, a menos que se consiga mostrar que há custos (ou benefícios) envolvidos na produção dos diferentes bens não plenamente refletidos nos preços (por exemplo, se uma atividade é mais poluidora que a outra), a solução de mercado revela a forma mais eficiente de produção. Os "interesses do país" serão mais bem servidos se aprendermos a respeitar os resultados da
busca pelo interesse individual, coordenados pelo sistema de preços, não pelo intervencionismo governamental.

6 comentários:

Paulino disse...

Concordo em parte com o que foi escrito. Quando o senhor falou sobre o liberalismo clássico (Smith e Ricardo) e a mão invisível, encontro um argumento frágil pois já está suficientemente comprovado que esse suposto agente regulador do mercado só existe (na forma perfeita) em teoria. O que experimentamos na realidade são os oligopólios, monopólios e afins. Mesmo em uma hipotética situação de competição ideal há ainda chances relevantes de ocorrerem as falhas de mercado (recorro a Pareto para sustentar esse argumento). Concluindo, esse liberalismo defendido aqui não vai muito além da teoria, o que não significa dizer que não tenha dado suas contribuições para situações reais mas seguir seus postulados sem uma visão crítica é perigoso.
Discordâncias à parte, admiro muito seu trabalho acadêmico e a iniciativa do blog. Nitimur in Vetitum.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Paulino,
Ao recusar -- como nao funcionando na pratica -- a suposta "teoria" (nao é uma teoria, mas uma imagem, claro) da "mao invisivel", voce parece aderir, tambem acriticamente, à "teoria das falhas de mercado".
Quem lhe disse que as falhas são do mercado, e não do Estado, que SEMPRE regula tudo, preventivamente, simultaneamente, ex-post e ad hoc.
As falhas são geralmente do governo, pois quando são falhas de mercado, o proprio mercado se encarrega de corrigi-las, precificando devidamente o elemento em desequilibrio, Sao as normas de governo que congelam contratos, tornam os precos rigidos, distribuem subsidios, deformam a concorrencia.
Monpolios podem até existir, mas num mercado aberto ganhos monopolicos despertam cobica de outros agentes, que passam a erodir o monopolio. So governos permitem que monopolios se mantenham.
PRA

Anônimo disse...

Excelente texto, Paulo!
Sou um defensor do livre mercado, mas, lendo um livro sobre a vida de Mauá, parece-me que ele não teria conseguido se tornar um industrial sem a ajuda de barreiras à importação e um financiamento generoso dado pelo governo. Será que uma indústria nascente pode se desenvolver sem proteção governamental?

Paulo Roberto de Almeida disse...

Caro Anônimo,
Sim, de fato, Mauá não teria sido o "grande" empresário que foi sem essas reservas de mercado. Se isso é um fato, é também um fato que ele foi único, numa terra sem empresários. O surpreendente não é o que ele fez com a ajuda do Estado, é que ele tenha sido único...
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Sim, realmente, Paulo. O que o torna um homem excepcional é ele ter se desenvolvido APESAR do governo, pois, se não me engano, essas vantagens só existiram para o estaleiro.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Não, foram para vários setores, entre eles linhas de navegação e diversos outros empreendimentos.
Mas Mauá era uma espécie de agente informal para a política externa brasileira no Prata, quando o governo não podia fazer nada diretamente.
Mauá era uma FIESP sozinho...
Paulo Roberto de Almeida