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terça-feira, 24 de maio de 2011

Criando riqueza, a partir literalmente do nada...

Bill Gates é um homem que criou riqueza, a partir do nada, ou quase nada.
Explico-me: ele nunca possuiu terras ou explorou minérios. Jamais extraiu qualquer coisa de qualquer país periférico, nunca produziu qualquer coisa que exigisse milhares de toneladas de produtos primários ou que poluísse as terras e a atmosfera com processos produtivos invasivos.
Ele tirou toda a sua fortuna de cálculos binários, se ouso dizer, da pura inteligência.
Com isso pode multiplicar ganhos -- em parte monopólicos, mas num sistema aberto, em que outros poderiam concorrer com sistemas eventualmente mais inteligentes -- e tornar-se o homem mais rico deste nosso planetinha desigual e injusto, como querem os antiglobalizadores.

Pois bem, como já escrevi aqui mesmo, esse Bill Gates não está com nada, em face de outros "criadores de riqueza" ainda mais geniais do que ele. Duvido que ele tenha conseguido multiplicar sua fortuna, asi no más, como alguém que sabemos conseguiu descobrir o "pote de ouro" da multiplicação dos ganhos a partir literalmente de zero, ou quase (foi preciso algum esforço, reconheçamos, um esforço para a implementação das políticas corretas...).

Eu recebi, a propósito deste meu post:

Eu quero enriquecer com causa... (23/04/2011)

o comentário abaixo, que resolvi retirar de sua relativa obscuridade de uma "nota de rodapé" para este novo post, dedicado integralmente ao milagre da multiplicação dos pães.

Quero dizer, de imediato, que não concordo com o blogueiro em questão, e não atribuo o milagre acima referido à capacidade de previsão -- que ai sim seria milagrosa -- do personagem em causa, ou seja, que ele tenha conseguido alertar, antecipadamente, a empresas que faziam complexas operações com derivativos que envolviam a valorização contínua do real, essas empresas dos perigos desse jogo especulativo, evitando assim que elas perdessem muito dinheiro quando ocorreu a súbita desvalorização do real (lembremos que ele mergulhou, no final de 2008, de um patamar de 1,7 para mais de 2,4, em poucos dias). Pode ser que isso tenha ocorrido, mas seria improvável, e se isso tivesse ocorrido, o "consultor" em questão mereceria, não apenas os milhões que ganhou (mais de DEZ MILHÕES DE DÓLARES), mas sobretudo o Prêmio Nobel de Economia, o que não foi obtido por nenhum dos geniais economistas do centro, com Nobel ou sem.
Não, para mim isso é improvável.
O mais provável, na verdade, que ocorreu, foram movimentos misteriosos do Banco Central e do BNDES, nos dias e semanas que se seguiram à debâcle (momentânea) do real, no sentido de "ajudar" empresas e bancos amigos do rei a recomporem suas finanças, movimentos que foram ocasionalmente registrados pela imprensa -- sob a forma de "sustentações" pouco esclarecidas aqui e ali -- e que ajudaram, sim, essas empresas pegas de surpresa a minimizarem suas perdas.
Nada que bons jornalistas investigativos não possam descobrir, perguntando, por exemplo, quanto foi gasto por BC e BNDES em certas operações "estabilizadoras", no pânico que se seguiu à marolinha rapidamente convertida em tsunami financeiro.
Sem pretender posar de "entendido", eu me permito sugerir essa linha de investigação aos mais preocupados com o assunto.
Abaixo vai o comentário que recebi.
Paulo Roberto de Almeida

O blogueiro Ângelo da Cia escreveu um interessante post a respeito da reportagem sobre o caso Palocci na Revista Veja desta semana. O link para íntegra da reportagem da Veja está no post, que pode ser lido aqui:

VEJA e sua assessoria Palocciana
http://angelodacia.blogspot.com/2011/05/veja-e-sua-assessoria-palocciana.html

Esta notícia na reportagem da revista chamou minha atenção:

"A presidente Dilma pediu explicações. Palocci contou que ganhou dinheiro dando consultoria sobre riscos cambiais entre julho e setembro de 2008. Palocci disse que, por ter sido ministro da Fazenda e se tomado um competente economista sem diploma (o que ninguém discute), viu com maior clareza o tamanho do perigo cambial. Ele teria ajudado diversas empresas a desmontar suas arriscadas operações com os voláteis derivativos cambiais.”

Entre julho e setembro, ou seja no terceiro trimestre de 2008, o real sofreu a desvalorização que levou aos conhecidos prejuízos contabilizados pelos investidores no quarto trimestre de 2008.

Os jornais da época noticiaram fartamente as empresas que se ferraram nessas operações. Os valores reportados eram astronômicos. Mas não lembro de ter lido qualquer notícia a respeito de grandes empresas que escaparam da crise por orientação de consultores que teriam "ajudado diversas empresas a desmontar suas arriscadas operações com os voláteis derivativos cambiais" entre “julho e setembro de 2008”.

"Diversas" é sinônimo de muitas. A matéria seria mais crível se escolhesse a palavra "algumas", pois diversas foram as empresas que se ferraram.

Mas se escolhesse "algumas" ao invés de "diversas" talvez fosse mais difícil explicar o milagre da multiplicação dos pães operado pela empresa de Palocci. Ou seja, seria preciso que apenas "algumas" tivessem pagado muito.

Enfim, somente um economista enfronhado nesses meandros financeiros poderia emitir um parecer sensato a respeito da atuação do mercado de consultoria no mesmo período.

A pergunta é simples: o mercado reconheceu e a imprensa especializada noticiou na época da crise dos derivativos que a Projeto foi uma das poucas consultorias que previu a tempo o alto risco dessas operações e, na contramão do espírito de manada, aconselhou seus clientes a se desfazerem desses papeis?

O buslis, me parece, é o triênio julho/setembro de 2008. É possível apontar no mesmo período a existência de outras consultorias que mostraram a mesma agudeza analítica de Palocci? E, sobretudo, é verossímil que a "consultoria de homem só" fosse capaz de produzir tal proeza, isto é, de antecipar a débâcle e, assim, ajudar "diversas empresas a desmontar suas arriscadas operações com os voláteis derivativos cambiais"?

Com a palavra os economistas, isto considerando que meus comentários de leigo são relevantes.

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