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sábado, 18 de junho de 2011

A economia deles triunfou...

Recebi, agora, um video do Instituto Von Mises (ou seja, da escola austríaca), contestando argumentos do economista americano Robert Reich, da esquerda liberal, como se diz nos EUA, ou seja, defendendo posições anticapitalista, anunciando, como seria de se esperar, as catástrofes habituais a partir da presente crise nos EUA.
Enfim, parece que seu último livro foi traduzido e publicado no Brasil, e os professores keynesianos, como também existem por aqui, andam recomendando para que os alunos o leiam.
Nada de muito diferente do que se faz há muitos anos com Celso Furtado, os cepalianos em geral e os anticapitalistas em particular...
Este é o video:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=mXm4j2ORYcg#at=12

Não creio que ele contribua em alguma medida para diminuir o quantum de irrealismo (ou de irrealidade) que existe nas aulas de economia do Brasil.
Esse é apenas o resultado de um longo desenvolvimento intelectual (para pior, quero dizer).

Terminei de ler, há dois dias, este livro sobre a famosa controvérsia entre planejamento e liberalismo na economia brasileira:

Instituto Roberto Simonsen, Cadernos 1
As raízes do Pensamento Industrial Brasileiro: 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
(São Paulo: Conselhos Superiores da FIESP, 2010)

O livro retraça todos os documentos relevantes do famoso debate, entre 1944 e 1945, que opôs o economista Eugenio Gudin ao industrialista Roberto Simonsen.
A despeito do fato de Gudin ter vencido intelectualmente -- e suas teses sobre a produtividade, as vantagens comparativas e o papel do Estado --, quem ganhou, na prática, foi Simonsen.

Todas as teses de Gudin foram recusadas não apenas pela academia brasileira (com poucas exceções) e sobretudo pelas lideranças políticas, e todas as "teses" de Simonsen foram não só acolhidas na academia como, em especial, postas em prática pelo Estado brasileiro, ao longo desses últimos 60 anos. Nesse sentido, Simonsen foi um vencedor.

Talvez seja por isso que o Brasil cresceu, à base de injeções estatais e com muitos subsídios públicos e proteção estatal às indústrias nacionais (e estrangeiras aqui instaladas), mas não se desenvolveu o suficiente para ingressar no clube dos países avançados, como a Coréia do Sul, por exemplo.
Tem gente que acha que fizemos tudo certo, e que fomos vítimas da exploração estrangeira, ou das perversidades naturais do capitalismo, felizmente refreado pela ação estatal, sábia como sempre.
Não partilho, obviamente, dessa visão, mas procuro ler todos os argumentos, a favor ou contra as políticas públicas que determinam se vamos crescer muito ou pouco, certo ou por vias deformadas.
Por isso li esse livro.
Recomendo que leiam também.
Transcrevo abaixo o sumário, retirando as notas um pouco desconexas que fiz pelo meio...


Livro I (17)
As raízes do pensamento industrial brasileiro: seminário comemorativo aos 60 anos do Instituto Roberto Simonsen
Exposições (19), Sérgio Amaral (20); Carlos Henrique Cardim (26); Antonio Delfim Netto (52); Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida (67); José Ricardo Roriz Coelho (70), Comentários de Ant. Delfim Netto (75)

Livro II (89)
A controvérsia do planejamento na economia brasileira: coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo
90, Introdução, Carlos von Doellinger
92, Ambiente Histórico
106 O debate
110 Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948)
112 Eugenio Gudin (1886-1986)

114 A planificação da Economia brasileira
Roberto Simonsen: Parecer apresentado ao Conselho de Política Industrial e Comercial, em 16 de agosto de 1944
116 Enriquecimento ilusório
118 A situação brasileira vista pelos técnicos americanos
122 Ainda a situação brasileira
125 Problemas do pós-guerra
126 Padrões de vida
127 A renda nacional
129 A planificação econômica
131 Duas questões básicas
133 Conclusões

142 Rumos de politica econômica
Eugenio Gudin: Relatório apresentado à Comissão de Planejamento Economico sobre o documento “A Planificação da Economia Brasileira”
Parte I
161 1 – Renda nacional
166 2 Donde surgiu a mística do plano
191 3 As esferas de ação do Estado e da economia privada
200 4 O sentido de nosso planejamento
Parte II
204 1 O problema monetário
209 2 O equilíbrio econômico
222 3 Comércio exterior
242 4 Industrialização e produtividade
267 Conclusões

278 O planejamento da economia brasileira
Roberto Simonsen – réplica ao Sr. Eugenio Gudin, na Comissão de Planejamento Econômico
279 A evolução econômica
(...) [23 seções]
356 As conclusões do Sr. Gudin

363 A Comissao de Planejamento Economico
363 Anexos
Cópia da correspondência trocada entre o Sr. Oswaldo Gomes da Costa Miranda, diretor do Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho, e o Sr. Eugenio Gudin

374 Carta à Comissão de Planejamento
Eugenio Gudin: Carta sobre a réplica do Dr. Roberto Simonsen
377 I Renda nacional
386 II Planejamento e intervencionismo do Estado
389 III Guerra à Industria Nacional
392 Quanto ao Mais
398 Anexo

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Esse debate foi reeditado também pelo Ipea, mas sendo o Ipea atual o que é, eles fizeram "estudos" amplamente favoráveis às posições de Simonsen, em favor do planejamento e da intervenção estatal, obviamente.

AUTORIA: Simonsen, Roberto Cochrane, 1889-1948
TÍTULO: A Controvérsia do planejamento na economia brasileira / Roberto C. Simonsen, Eugênio Gudin ; [introdução de Carlos Von Doellinger ; apresentação da terceira edição por João Paulo dos Reis Velloso].
EDIÇÃO: 3. ed.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 196 p.
ISBN: 9788578110444
Resumo: Parecer, relatório e réplicas redigidos por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin em debate sobre o tema planejamento na primeira metade do século XX. A controvérsia entre desenvolvimentismo, representado por Simonsen, e liberalismo, Gudin, é explicitada em posicionamentos divergentes sobre planificação da economia brasileira e industrialização.
Alcance temporal: 1932-1944
NOTAS: No verso da folha-de-rosto : "Coletânea da polêmica Simonsen x Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo."
Incl. ref.

TÍTULO: Desenvolvimento : o debate pioneiro de 1944-1945 / ensaios e comentários de Aloísio Teixeira, Gilberto Maringoni, Denise Lobato Gentil.
IMPRENTA: Brasília : IPEA, 2010.
DESCRIÇÃO FÍSICA: 130 p.
ISBN: 9788578110412
Resumo: Ensaios e comentários sobre o debate econômico entre duas correntes do pensamento, desenvolvimentismo e liberalismo, protagonizadas por Roberto Simonsen e Eugênio Gudin no governo Getúlio Vargas, 1944-1945. A primeira parte da obra confronta Simonsen e Gudin e evidencia o reflexo do posicionamento destes dois pensadores nas décadas posteriores ao debate. A segunda parte apresenta os personagens a partir de suas influências teóricas, idéias e realizações.
Alcance temporal: 1944-1945

2 comentários:

Anônimo disse...

Tenho um livro de Macroeconomia para pós-grad. de Simonsen, aparentemente bem estruturado, mas ainda não o li. Recomenda algum mais básico, Paulo? Eu li Princípios de Economia, de Mankiw. Excelente, mas gostaria de outros.

Paulo Roberto de Almeida disse...

O Mnakiw está muito bem para o que se chama de Economics. Mas voce pode complementar, se desejar, pelo Manual de Economia dos professores da USP (publicado pela Saraiva).
Para economia brasileira recomendo dois, ambos chamados Economia Brasileira Contemporanea, mas o segundo: ", 1945-2004".
O primeiro da Atlas, por Gremaud-Vasconcellos-Tonetto, o segundo da Campus, por Fabio Giambiagi e mais três.
Divirta-se...
Paulo Roberto de Almeida