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quinta-feira, 28 de julho de 2011

E por falar em juros... uma opiniao sensata - Alexandre Schwartsman

O debate, obviamente, é relevante, quer se goste dele ou não. Como escrevi em algum post abaixo, o Brasil não é um país normal. Longe disso.
Só de pensar que somos chamados de idiotas cada vez que vamos comprar algum durável ou semi-durável (por vezes até no supermercado, ou seja, para produtos absolutamente perecíveis), e que ouvimos como se fosse a coisas mais normal do mundo: "seis vezes sem juros"; ou então: "em quantas vezes você prefere?".
Inacreditável como as pessoas não se dão conta de que estão pagando, provavelmente, o dobro do que custa o bem em questão, e não se dão conta disso. Pagam dois e levam um para casa, e ainda acham que fizeram um grande negócio só porque entrou naquela mentira do "seis vezes sem juros".
O Brasil, decididamente, não é um país normal.
Como eu não gosto de ser chamado de idiota, recuso-me a entrar nessa conversa dos "seis vezes sem juros", mas o crime é que, quando você diz que quer pagar à vista, a vendedora diz que "é o mesmo preço!".
Aí você se recolhe à sua insignificância de mercado e à esquizofrenia econômica brasileira e aceita pagar 100% a mais, diluído nos "seis vezes sem juros". Juro que eu fico possesso, mas infelizmente não posso fazer nada, a não ser xingar as autoridades econômicas que não colocam um final nesse absurdo, ou pelo menos avisam a todos que estão sendo chamados de idiotas...
Enfim, isso para iniciar o debate abaixo transcrito, por motivos puramente intelectuais.
Paulo Roberto de Almeida

Os juros, a democracia e um e-mail de Alexandre Schwartsman
Reinaldo Azevedo, 28/07/2011

Escrevi ontem um post sobre a taxa de juros no Brasil, a valorização do real e as medidas sugeridas por especialistas, em reportagem da VEJA desta semana, para corrigir algumas distorções que estão em curso. Leiam lá. Fiz uma ironia: dadas as saídas apontadas, então precisamos de uma tirania virtuosa para aplicá-las porque os políticos não as adotarão — não, ao menos, se estiverem de olho nas urnas. É preciso um grande senso de dever para fazer a coisa certa, numa perspectiva de médio e longo prazos, mesmo correndo o risco da impopularidade no curto. Quem tem hoje esse senso de grandeza? Um dos economistas ouvidos é Alexandre Schwartsman, que tem um blog, como sabem, que recomendo: A Mão Visível. Ele me mandou o seguinte e-mail, que publico com a sua autorização. Trata-se, vocês lerão, de um pequeno artigo. Alexandre, concordem com ele ou não, tem uma virtude inegável entre muitas: é claro. Leiam.

Caro Reinaldo,

Como sempre gostei do seu artigo e aproveito para deixar claro que não acredito na incompatibilidade entre democracia e juros baixos. Só não acho que iremos convergir rapidamente para a taxa mundial de juros, como parecia ser a aposta de muitos dos meus colegas.

Para ser sincero, sou também simpático à tese da poupança; apenas não me parece razoável que esta explique toda a diferença entre o juro real brasileiro e o juro de países similares a nós.

Isso dito, no que tange à poupança, o principal entrave não aparenta vir do consumo das famílias (não muito distinto do consumo observado em outros países latino-americanos - embora esta ainda seja evidência insuficiente), mas sim do consumo público. No Brasil, o governo consome cerca de 20% do PIB. Este número, é bom dizer, não inclui as transferências feitas pelo governo às famílias (Previdência, Bolsa-Família, LOAS, RMV etc), mas apenas a parcela do produto apropriada pelo governo para seus próprios fins.

Em comparação, na média de Argentina, Chile, Colômbia e México, o consumo público roda em torno de 15% do PIB. A Colômbia, que apresentava consumo público próximo aos níveis brasileiros (até por conta de lutar uma guerra civil), conseguiu trazê-lo para valores mais em linha com os demais países da América Latina, o que sugere compatibilidade entre democracia e ajuste fiscal. Obviamente, compatibilidade não assegura o ajuste, mas, pelo menos, indica que não precisamos de um Pinochet para fazer nossa lição de casa.

De qualquer forma, minha opinião (que, diga-se, apenas tomei emprestado de economistas mais discretos) é que também a existência do crédito direcionado no volume que se observa no Brasil (praticamente um terço do total) pode explicar parcela grande da diferença entre nossa taxa de juros e a do resto do mundo. Aqui, eu diria que a democracia é obstáculo menor do que seria no caso do ajuste fiscal, até porque o crédito direcionado favorece apenas fração da população.

Mas não é por ser economista que sou ingênuo: minorias podem operar (e o fazem costumeiramente) para impor sua agenda como se fosse do interesse da população como um todo. Sempre digo que a estridência da Fiesp a cada reunião do Copom seria um choro bem-comportado perto do barulho que ouviremos quando (e se!) o CMN um dia ousar aumentar a TJLP. Ainda assim, creio que o balizamento do custo dos empréstimos do BNDES em torno da taxa de juros de (digamos) um título de 5 anos do Tesouro Nacional poderia fazer com que a Selic (e, portanto, a taxa de 5 anos) caísse. Não há como evitar um aumento nos custos do crédito direcionado, mas isso poderia ter efeitos benéficos sobre todo o resto.

Vai acontecer? Eu esperaria sentado, com um bom livro e uma pilha de DVDs, além de todas as amenidades possíveis, mas não acho que seja impossível (mesmo sendo difícil). Aliás, se acontecer, será antes do ajuste fiscal.

Abs,
Alex

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