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terça-feira, 26 de julho de 2011

Idiotices brasileiras (maiores ainda na educacao)... - E UM DEBATE SUBSEQUENTE

[Complemento ulterior ao final]

Leio num jornal de Brasília que alunos com menos de 18 anos aprovados em vestibulares de universidades públicas (e suponho que em privadas também) não estão conseguindo inscrição em algum curso universitário pois não conseguem apresentar o certificado de conclusão do curso médio.

O Conselho de Educação do Distrito Federal, que deve ser formado por cavalgaduras (e ultrapassando poderes que não lhe são conferidos pela Constituição nem por legislação federal), determinou que o aluno pode entrar na Faculdade desde que conclua o ensino médio.
Mas o certificado -- sob forma de exame supletivo, por exemplo -- só pode ser obtido se o estudante tiver mais de 18 anos ou completado 75% do ano letivo.
Ou seja, o DF não permite a existência de geniozinhos, ou superdotados. Eles têm de esperar até os 18 anos, ou quase, para obter o certificado do médio.
Nos EUA, qualquer estudante que provar que tem habilidades, pode ir para uma universidade, com 12, 14 ou 15 anos, basta ter condições intelectuais para seguir o curso.
Aqui no DF, as cavalgaduras do Conselho de Educação querem que todos sejam idiotas como eles...

Paulo Roberto de Almeida

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Elevo um comentário ao nível da postagem, depois respondo: [em 28/07/2011]

RAFA disse...
Querido Professor,
Me permito discordar do Sr., acho que pela primeira vez na vida. E isso não há de ser pouco...

A capacidade intelectual é, e deve ser, o principal parâmetro para ingresso numa Universidade e acesso a conhecimento. Mas a construção do conhecimento não é um mero processamento de informações, é o desenvolvimento de faculdades de análise e de crítica, de teste de hipóteses, de debate franco. Em um curso de graduação se faz, antes de tudo, formação. E para isso, é necessário um mínimo de MATURIDADE - algo que não se pode testar em um vestibular.

Acho um erro permitir a menores de dezoito anos o acesso à Universidade, e dou meu próprio exemplo como amostra de um problema bem maior. Fui aprovado em 4o. lugar no vestibular de Direito da UFRJ com 16 anos, com segundo grau completo, e isso foi péssimo para minha formação. Em que pese toda a orientação vocacional, eu não tinha a menor maturidade para julgar o que era melhor para mim e meu futuro, acabei entrando em um curso muito por influência da família e do que era considerado "bom-senso". Eles diziam "você é inteligente, vai tirar de letra, e como sairá novo da faculdade, terá uma vantagem importante sobre os outros". Que ilusão...

Larguei o curso no terceiro ano, para me dedicar ao que eu realmente gostava, Relações Internacionais. Hoje, sou diplomata, em primeira remoção, e por acaso, adoro Direito. Mas não era a minha.

Se ainda não é viável julgar maturidade sob parâmetros objetivos, temos a Lei, que diz que uma pessoa atinge a maioridade para a maior parte da vida civil aos 18 anos - 16 para voto, o que também acho um erro, mas é a lei. Esse deve ser nosso parâmetro. E devo isso à minha dúvida de que uma pessoa de 13 anos de idade, por mais capacidade intelectual que tenha demonstrado para ingressar em um curso universitário, esteja em um estágio de vida que ela possa realmente compreender o contexto, e o que ele fará com esse conhecimento. Considero que seria muito mais importante para a formação de um jovem que conclui cedo o Ensino Médio - ou que é aprovado mesmo sem completá-lo - uma boa viagem pelo seu país ou pelo mundo, um bom trabalho voluntário, ou mesmo um ano sabático.

Pra que ter um geniozinho de 13 anos em uma universidade? Melhor que ele saiba o que fazer com tanta capacidade antes. E, principalmente, que ele possa ser feliz com isso, em uma área que ele realmente goste, e não que sua família ou seus orientadores o digam que é a melhor.

Aproveito pra reiterar minha admiração pelo Sr. e pelo blog. Que o Sr. siga sendo um farol para todos nós, por muitos e muitos anos!

Um fraterno abraço,
Rafael Paulino

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Rafael,
Compreendo e até admito seus argumentos, mas ainda assim discordo de você.
Não estou dizendo que todo geniozinho deva ir para a Universidade aos 13 anos, e sobretudo discordo frontalmente da pressão familiar -- estilo James Stuart Mill -- para fazer uma criança aprender latim e grego aos cinco anos, ou seja, enfiar o coitadinho na Universidade aos 13 anos, apenas para satisfazer o ego paterno ou materno.
O que estou dizendo é que NINGUÉM deveria ser impedido de ingressar numa universidade apenas porque não tem 18 anos. Geralmente se trata de jovens de 16 ou 17, que por um outro motivo, tiveram os estudos acelerados no primário e secundário.
Não estou dizendo que se deve "empurrar" adolescentes para a universidade.
Estou dizendo que não se deve IMPEDIR alguns de fazerem isso.
Acho toda proibição que não é motivada por um desejo real de segurança física, BURRA, ESTÚPIDA.
Todos devem ser totalmente livres para realizarem seu potencial.
Não acredito que a tal de "falta de maturidade" para seguir um curso universitário seja a justificativa para a frustração de alguém que poderia fazê-lo e é apenas impedido por uma regulamentação estúpida, cerceadora, burocrática, castradora.
TUDO é experiência, inclusive algumas más experiências (não diferentes de outras, menos más).
Como você vê, continuo sendo um anarquista no plano das liberdades individuais.
Jovens, avançai...
Paulo Roberto de Almeida

5 comentários:

RAFA disse...

Querido Professor,
Me permito discordar do Sr., acho que pela primeira vez na vida. E isso não há de ser pouco...

A capacidade intelectual é, e deve ser, o principal parâmetro para ingresso numa Universidade e acesso a conhecimento. Mas a construção do conhecimento não é um mero processamento de informações, é o desenvolvimento de faculdades de análise e de crítica, de teste de hipóteses, de debate franco. Em um curso de graduação se faz, antes de tudo, formação. E para isso, é necessário um mínimo de MATURIDADE - algo que não se pode testar em um vestibular.

Acho um erro permitir a menores de dezoito anos o acesso à Universidade, e dou meu próprio exemplo como amostra de um problema bem maior. Fui aprovado em 4o. lugar no vestibular de Direito da UFRJ com 16 anos, com segundo grau completo, e isso foi péssimo para minha formação. Em que pese toda a orientação vocacional, eu não tinha a menor maturidade para julgar o que era melhor para mim e meu futuro, acabei entrando em um curso muito por influência da família e do que era considerado "bom-senso". Eles diziam "você é inteligente, vai tirar de letra, e como sairá novo da faculdade, terá uma vantagem importante sobre os outros". Que ilusão...

Larguei o curso no terceiro ano, para me dedicar ao que eu realmente gostava, Relações Internacionais. Hoje, sou diplomata, em primeira remoção, e por acaso, adoro Direito. Mas não era a minha.

Se ainda não é viável julgar maturidade sob parâmetros objetivos, temos a Lei, que diz que uma pessoa atinge a maioridade para a maior parte da vida civil aos 18 anos - 16 para voto, o que também acho um erro, mas é a lei. Esse deve ser nosso parâmetro. E devo isso à minha dúvida de que uma pessoa de 13 anos de idade, por mais capacidade intelectual que tenha demonstrado para ingressar em um curso universitário, esteja em um estágio de vida que ela possa realmente compreender o contexto, e o que ele fará com esse conhecimento. Considero que seria muito mais importante para a formação de um jovem que conclui cedo o Ensino Médio - ou que é aprovado mesmo sem completá-lo - uma boa viagem pelo seu país ou pelo mundo, um bom trabalho voluntário, ou mesmo um ano sabático.

Pra que ter um geniozinho de 13 anos em uma universidade? Melhor que ele saiba o que fazer com tanta capacidade antes. E, principalmente, que ele possa ser feliz com isso, em uma área que ele realmente goste, e não que sua família ou seus orientadores o digam que é a melhor.

Aproveito pra reiterar minha admiração pelo Sr. e pelo blog. Que o Sr. siga sendo um farol para todos nós, por muitos e muitos anos!

Um fraterno abraço,
Rafael Paulino

Guto Domingues disse...

Dr.Paulo,
a situação de uma pessoa de 12 anos que entra no MIT nos EUA é bastante diferente, permita-me também discordar, com todo o respeito.
Aqui no Brasil também é permitido a alunos com talentos especiais a cursar a Universidade sem concluir o ensino médio.
Porém, esse pessoal que entrou na UNB, em sua imensa maioria, são alunos que estão cursando o terceiro ano e foram aprovados em cursos com argumento mínimo negativo, o que não justifica a condição de talento diferenciado.Eu fiz o vestibular , apesar de já ter duas faculdades e posso garantir que as notas foram bastante baixas devido a complexidade da prova.O primeiro colocado geral da prova tem 17 anos e é um aspirante ao ITA.Fez o maior argumento 500 pts e se tivesse gabaritado a prova tiraria 1000(mil pontos de argumento final).Muitos desses alunos aprovados ficaram com -170 pts( negativando a prova) e por causa de alguns meses estão fazendo essa algazarra toda.Muitas dessas questões são passadas pela mídia de uma forma bastante hipócrita e displicente, como acontece hoje com o nosso governo.Discordo parcialmente do senhor, mas o considero um grande intelectual e respeito sua opinião.
Abraços,
Guthemberg.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Guto,
Agradeço seus comentários muito ponderados, e certamente corretos quanto ao mérito da questão.
Você provavelmente tem razão, mas se permite um comentário de ordem mais geral, seria este.
Por orientação, caráter, preferências filosóficas, eu sou um libertário, e portanto partidário dos sistemas abertos e totalmente livres.
Essas coisas regulamentadas, proibições, restrições, condicionalidades, me dão calafrios.
Acho que todo mundo deveria ser livre para montar sua formação educacional em sistemas abertos, com regras, mas abertos aos talentos, não com restrições idiotas como essas de impedir um jovem de 16 ou 17 anos de ingressar na universidade.
Concordo em que -- como muitas outras coisas no Brasil -- pode haver desvio, fraude, lesão ao verdadeiro espírito da coisa, mas prefiro errar pela liberdade do que pela proibição...
Paulo Roberto de Almeida

RAFA disse...

Querido Professor,

Sempre me considerei um liberal. Sistemas fechados e proibições também me dão calafrios, e uma das ideias mais preciosas para mim é a de que todo homem deve buscar sua felicidade e a plena realização de seu potencial da maneira em que ele próprio julgue mais adequada.

Dito isso, considere esse aparente paradoxo: falamos aqui de escolhas. Que ninguém deve impedir um adolescente aprovado em vestibular de entrar numa universidade, se ele assim julgar que é o melhor para seu desenvolvimento, para a plena realização de suas capacidades - bem como o mestre John Rawls nos explicava.

Mas nossa sociedade não admite que uma pessoa está plenamente capaz de escolher antes dos dezoito anos. O Código Civil fala em "relativamente incapaz" - pode escolher algumas coisas, outras não. Até os dezoito, os pais exercem poderes legais sob os filhos, e mesmo que não os exercessem, a opinião deles certamente conta bastante para alguém que não alcançou a maioridade - e aí, é tanto para segui-la, quanto para negá-la pelo simples ato de negar!

Então, como sustentar que alguém possa "escolher", se ela ainda não está com suas faculdades completas?

Que fique claro, é uma pergunta honesta, e não retórica.

Um grande abraço
Paulino

Anônimo disse...

Só agora vejo esse post já antigo, mas me permito comentá-lo para deixas um depoimento pessoal no sentido contrário do de "Rafa". Eu sou o caso contrário: passei no vestibular em duas universidades públicas, para cursos diferentes (um em humanas, outro em exatas), aos 11-12 anos, e não cursei nenhum dos dois.

Mas não cheguei ao estágio de ser barrado por conta da idade/formação e ter que ir à Justiça para poder fazer o curso. Meus pais eram pessoas simples, sem educação superior, e nunca souberam bem o que fazer comigo - que Deus os tenha, fizeram o que puderam e devo tudo a eles. Mas nesse episódio, quando apresentei o "fait accompli" de ter passado nos vestibulares, foram consultar um pedagogo para decidir se permitiriam ou não que eu fizesse algum dos cursos. O pedagogo, claro, veio com essa da "maturidade", que era preciso que eu mantivesse um grupo social da minha idade, etc. Como era um "especialista" falando, a decisão estava tomada: não. Detalhe: apesar da minha insistência, o tal pedagogo não quis falar comigo pessoalmente - falou apenas com meus pais. Sequer me avaliou como indivíduo: aplicou a regra geral e fim de papo!

O resultado, além de ter gerado um ódio imorredouro a pedagogos da minha parte, foi apenas me fazer passar mais cinco anos dormindo em todas as aulas, afinal o conteúdo eu já sabia, e socialmente isolado. Aliás, a justificativa do "grupo social" foi a melhor parte, eu me pergunto se ninguém percebe que uma "criança" intelectualmente capaz e com vontade pessoal de entrar em uma universidade no começo da adolescência não tem muito em comum com o "grupo social de sua idade".

Terminei entrando na universidade com 17 anos. Fiz duas faculdades ao mesmo tempo, uma pública e uma privada, um em humanas e outra em exatas, uma de manhã e a outra de noite. E também tinha, ao mesmo tempo, um emprego de meio turno, à tarde - cujo salário pagava as mensalidades da faculdade privada. Certamente eu mudei entre os 11/12 anos e os 17 anos, mas não creio que tenha sido nos quesitos de conhecimentos específicos ou força de vontade, por isso acho que teria podido terminar uma faculdade se a tivesse iniciado antes. E só pra constar: isso tudo ocorreu já faz algum tempo, há mais de década que me formei.

Não posso reclamar da minha trajetória, mesmo não tendo cursado a faculdade mais cedo. Mas ninguém pode me devolver os cinco anos extras de sofrimento inútil que eu tive que aguentar.