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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Brasil brilhou na ONU - Editorial do Estadao

Um editorial positivo (contrastando com o que havia antes...)

A presidente impressionou

Editorial O Estado de S.Paulo, 23/09/2011
De volta ao hotel onde estava hospedada em Nova York, depois de pronunciar, como compete ao Brasil, o discurso de abertura de nova sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff fez uma breve pausa antes de se preparar para a etapa seguinte de sua agenda - encontros bilaterais com os chefes de governo do Chile, Colômbia, França e Grã-Bretanha - e compartilhou uma Veuve Clicquot com membros de sua comitiva. Havia, de fato, o que comemorar. Durante 25 minutos, diante de líderes e representantes diplomáticos de 194 países, ela fizera um pronunciamento que impressionou pela limpidez, correção e maturidade, para expor a posição do País em relação às questões centrais da atualidade mundial.
Poderia se ressaltar ainda o vigor de sua fala, mas esse atributo, por si só, não torna mais respeitáveis os argumentos desfiados. É o caso do ranço ideológico que permeava, ano após ano, a contundente oratória do então presidente Lula naquela mesma tribuna. Foi um alívio não ouvir de Dilma, por exemplo, a descrição maniqueísta do mundo dividido entre a cupidez do Norte e os padecimentos do Sul, marca registrada da visão simplória de seu antecessor sobre a natureza e a solução dos problemas internacionais. Já para Dilma, mais importante do que execrar os culpados pela presente crise econômica é promover "um novo tipo de cooperação" entre países emergentes e desenvolvidos. Porque a crise, indicou, é também de "governança e coordenação política".
Trata-se de "substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo". De mais a mais, se os Estados Unidos são em boa parte responsáveis pela situação, "que pode se transformar em uma grave ruptura política e social", entre outras coisas porque permitem que conflitos partidários sustem a aprovação de projetos para revitalizar a economia, a China adota uma política cambial (mantendo o yuan artificialmente baixo) que desequilibra as relações de troca entre os países e, por extensão, retarda a recuperação econômica global. Lula pensaria duas vezes antes de fazer críticas ao governo com o qual imaginava, bisonhamente, celebrar uma aliança contra o capitalismo loiro, de olhos azuis.
Dilma não fez o Brasil de vítima da recessão que avança no exterior. Mas observou que, embora o País ainda tenha sido pouco afetado, "nossa capacidade de resistência não é ilimitada", o que reforça o sentido de urgência de seu apelo para a redefinição dos compromissos que regem as relações internacionais. Não foi apenas ao discorrer sobre a economia que ela - a primeira mulher a abrir uma temporada de debates no plenário da ONU - se guardou de separar os países entre "bons" e "maus". Respeitando os fatos, apontou que violações de direitos humanos existem em toda parte, sem exceção. "Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas", exortou.
Como era de prever, reiterou a posição brasileira pela reforma do Conselho de Segurança, com a inclusão de representantes dos países em desenvolvimento entre os seus membros permanentes, defendendo explicitamente a aspiração do País a um lugar no colegiado. Também como se esperava, apoiou a reivindicação palestina ao reconhecimento do seu Estado e ao seu ingresso na ONU como membro de pleno direito - o tema principal desta 66.ª sessão do organismo. "Apenas uma Palestina livre e soberana", raciocinou, "poderá atender os legítimos anseios de Israel por paz com seu vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno." Foi uma paráfrase da clássica tese de que Israel não terá para si o que insiste em negar à Palestina.
Escaldada, talvez, pelo fracasso da pretensão de Lula de mediar o conflito, Dilma se absteve de entrar nos meandros de sua eventual solução, salvo para consignar que o Brasil já reconhece o Estado palestino nas fronteiras de 1967. Com o pouco que disse, foi mais coerente do que o americano Barack Obama. Ele nem sequer aludiu a esse ponto, como se já não o tivesse endossado, ao condenar a iniciativa palestina no seu discurso mais pró-Israel desde que chegou à Casa Branca - onde espera continuar depois de 2012.

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