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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Petite randonnée en Europe: de Évora a Girona, em tempos alternados...


Petite randonnée en Europe: de Évora a Girona, em tempos alternados...

Paulo Roberto de Almeida

O avião com Carmen Lícia chegou pouco depois da hora fixada, na sexta-feira dia 20, mas, assim como ocorreu comigo ao desembarcar em Paris, os passageiros tiveram de descer escadas sozinhos, sem qualquer ligação com o tradicional finger. Não sei se é greve de funcionários, economia da empresa, ou bagunça mesmo, mas isso está ocorrendo com cada vez maior frequência: os serviços aeroportuários estão se tornando mais precários, em lugar de melhorar.
Meu carro já estava à espera, assim que foi fácil sair do aeroporto, tomar a autoestrada e logo em seguida atravessar a nova ponte Vasco da Gama, que ainda não conhecia: imponente, mesmo sob o lusco-fusco da manha de inverno. Saímos de Lisboa pouco antes das 7hs, com o odômetro marcando 23.130 kms. As 8h30 já estávamos adentrando em Évora. 
Biblioteca Pública de Évora (cartaz simpático)
Depois de rápida circulada pela cidade murada, e de ver que a Hostaria de Loyos não era lá essas coisas, resolvemos ficar num hotel moderno fora de uma das portas da cidade, o Ibis, da rede hoteleira Accor. Dormimos, ambos, até quase as 15hs, quando saímos para passear novamente na cidade, desta vez a pé, por várias partes. De noite fizemos lanche, em lugar de jantar, pois já tínhamos comido no meio da tarde. E ficamos planejando as próximas etapas do passeio. Na manhã seguinte, sábado 21, saímos do Hotel para visitar a Universidade, em férias até o início de fevereiro: prédio imponente, salas antigas, com azulejos azuis retratando os diversos temas das aulas, catedráticas (já que todas elas tinham um púlpito, suponho que não mais usado). Fiz-me fotografar no púlpito da sala de filosofia grega, e tirei fotos de Platão, Aristóteles e alguns outros companheiros filósofos. Todos eles “falando” em latim, curiosamente...

 Aristóteles ensinando em latim na Universidade de Évora
Na mesma universidade, uma "aluna" não convencional, anda faltando às aulas involuntariamente...
Uma gata universitária desaparecida, infelizmente para boa sua formação...


Seguimos para a Espanha, e almoçamos a cerca de 100kms de Córdoba, nosso primeiro destino no país: comi uma “dorada al horno”, num excelente parador de estrada, mas podia ter comido mais, sobretudo jamón ibérico que deixamos para outro dia.
Acabamos enfrentando mais estrada do que o esperado, e fomos dormir em Águilas, já na costa valenciana, depois de esquivar Granada, cujo Alhambra já vimos mais de uma vez. Até essa cidade espanhola da costa mediterrânea já tinha alcançado mais de 3.200kms de viagem de carro, o que dá mais ou menos 650kms por dia, nossa média em matéria de turismo, se ouso dizer. Só de Évora a Águila foram 850kms, em cerca de 11 hs de viagem, com duas boas paradas no caminho.
No dia 22, domingo, saímos tarde e acabamos parando em Santa Pola, antes de Valência, para almoçar, as 15hs, como fazem todos os espanhóis. Excelente restaurante “El Faro”, que nos reteve durante mais de uma hora: calamares fritos de entrada, dorada de principal, vinho branco da região “Primitivo Quiles”, de Alicante, de uma tradição familiar que remontava, segundo li no rótulo, a 1780 (parbleu!); água Vichy Catalona que também segundo o rótulo foi premiada em várias exposições universais e feiras internacionais, desde as de Nice e Nápoles, em 1884, a de Barcelona, e 1888, a exposição universal do centenário da revolução, em Paris, em 1889, Veneza em 1902 e Viena, em 1904; isso faz um bocado de prêmios para uma simples água mineral com gás: em todo caso matou a minha sede espanhola. Total, para dois, com sobremesas e café, 52 euros!
Seguimos boa parte do caminho de Alicante a Valência pela costa, pela estrada N322, serpenteando entre colinas e praias. De Santa Pola a Valência foi mais um passeio de barriga cheia, o que não me impediu de chegar as 19hs e de ainda circular bastante pela cidade, até encontrar um Holiday Inn Express, que nos pareceu conveniente, com garagem interna e outros serviços. Um descanso reparador, internet ampla e livre, café da  manhã espanhol, ou seja, razoável.
Em Valência, parece que o prefeito foi para a cadeia por sobrefaturar esta cidade das Ciências monumental (no Brasil, não se vai para a cadeia por obras bem mais medíocres...)
Como acordamos tarde, fomos pela autoestrada e depois coleando pela costa, parando em Port Salou, para almoçar: foi no limite de Cambrils, e tinha muita coisa fechada, por não ser estação de férias. Acabamos achando o restaurante Casa Solers, com menu completo a 27 euros cada. Entrada: aperitivos da casa (tapitas e pasteizinhos) e langostinos a la plancha, devidamente grelhados ao ponto, com limão e ervas, quase italiano; principal: bacalao catalana, com alho, tomates e pignoli; vinho L’Arnot Nègre, da Catalunha mesmo; sobremesa: fresas, ou seja, morangos, bem maduros, mas duros, o que estava perfeito; custo total: 54,57 euros. Valeu.
Não deu para esperar pela foto: estava louco para experimentar o meu Bacalao Catalana.
Na saída, no caminho para Tarragona, pudemos contemplar alguns exemplos da fantástica bolha imobiliária espanhola, que pode ter arrastado a economia do país para o buraco (já que a Espanha não ofendeu muito os critérios de Maastricht); alguns cartazes em russo fazem supor que os amigos de Putin, capitalistas mafiosos e mafiosos tout court fazem um pouco de lavagem de dinheiro ali mesmo, no imobiliário espanhol. Enfim, fica a sugestão para os brasileiros que se cansaram de encontram outros brasileiros em Miami: os imóveis por aqui devem estar ainda mais baratos, e eles podem falar portunhol. Enfim, isso na suposição de que os mafiosos russos não estejam executando gente por aqui, como fazem lá na terra deles... 
Chegamos no final da tarde em Barcelona, o suficiente, porém, para passear por várias partes da cidade, para um guarda da Generalitat me dar uma bronca por entrar com o carro em zona proibida, e para escapar depois, já noite entrada, para a estrada. Já conhecíamos suficientemente a melhor cidade da Europa (de longe, batendo Paris, pela abertura total a qualquer hora) para não precisar ficar mais uma vez em Barcelona. O objetivo sempre foi mais o sul da França, e assim pegamos a autoestrada outra vez.
Paramos pouco antes da fronteira, em Girona, num Novotel confortável (e caro) próximo à estrada: ali sim, comemos jamon ibérico de lanche-jantar, mais queijos e pão, acompanhados de uma taça de vinho tinto Duero e outro rosé Penedés; café excelente. Nem vi a conta, pois fomos direto para o quarto descansar. Nem tanto, pois Carmen Lícia fazia aniversário na virada da meia noite, e retirei os presentes que tinha comprado em Lisboa para lhe oferecer: duas roupas (lindas, acho) e um batom, dos seus preferidos. Creio que foi um bom final de noite, a despeito do cansaço e da quilometragem.
Na manha seguinte, entramos em Girona, para conhecer a imponente catedral. A cidade nos pareceu bastante desenvolvida, e moderna, a despeito do centro histórico sempre de ruas acanhadas, como ocorre tradicionalmente nas velhas cidades europeias.
Em Girona, completei 25.000kms no carro, o que significa mais de 4 mil kms percorridos em menos de dez dias.
De lá seguimos para a fronteira da França, mas sobre essa etapa falarei depois.

Paulo Roberto de Almeida 

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