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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Concepcao alucinada da historia: "mensalao" como "golpe da imprensa"

Poderia ser alucinação, mas pode ser simplesmente cinismo, ou tentativa desesperada de, mais uma vez fraudar não só a história, real, objetiva, do país, mas as próprias instituições do Estado, que denunciaram uma trama sórdida de compra de partidos e políticos.
Nunca antes na história deste país, alguém que exerceu cargos de tão alta responsabilidade desceu tão baixo na mentira e na fraude para defender comportamentos mafiosos que marcaram indelevelmente seu partido e seus dirigentes.
O Editorial do Estadão, reproduzido mais abaixo, caracteriza Lula como "prisioneiro do ressentimento". Acho que o jornal se engana: não se trata de ressentimento. Lula tem ódio dos que não aderem incondicionalmente a seu estilo  bizarro de governar (e o bizarro só figura aqui para não colocar um conceito mais forte, próximo das famiglias conhecidas no submundo de certos países). Ele tem despeito, inveja, ódio, e uma tremenda necessidade de que os outros o reconheçam como o primus inter pares, o melhor de todos, o único, o semi-deus da história brasileira.
Além da megalomania, e da obsessão narcissista, certos traços beiram o totalitarismo dos tiranos, aqueles que só podem convive com quem os bajula.
Paulo Roberto de Almeida


Mensalão foi tentativa de golpe da imprensa, diz Lula

Portal Comunique-se, 22/05/2012
Em discurso após receber o título de cidadão paulistano e a medalha Anchieta, em solenidade na noite dessa segunda-feira, 21, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o mensalão. Para o petista, o escândalo não passou de uma tentativa de golpe contra o seu governo.
Sem citar nomes, Lula disse que tal atitude contou com a participação de veículos de comunicação. "O PT era atacado por grande parte dos políticos da oposição e por uma parte da imprensa brasileira. Na verdade, era um momento em que tentaram dar um golpe neste país", disse.


A declaração do ex-presidente foi publicada nesta terça-feira, 22, pela Folha. O texto, assinado por Diógenes Campanha e Bernardo Mello Franco, foi reproduzido em blogs e outros sites, como as páginas dos jornalistas Ricardo Noblat, colunista de O Globo, e de Fábio Pannunzio, repórter da TV Bandeirantes.
O ex-presidente disse que a oposição recuou diante do apoio dos movimentos sociais e populares que recebeu. Lula declarou que não seria o novo Getúlio Vargas, que cometeu suicídio, e nem a versão do século XXI de João Goulart, deposto do cargo de presidente em 1964 pelo Golpe Militar.
“Só tem um jeito de eles me pegarem aqui. É eles enfrentarem o povo nas ruas deste país. Aquilo foi a coisa que mais deixou eles com medo de continuar na luta pelo impeachment", afirmou”, discursou Lula durante a homenagem que recebeu da Câmara da capital paulista.
Leia mais:
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Prisioneiro do Ressentimento
Editorial O Estado de S.Paulo, 23/05/2012
Mais velho, mais sofrido - e nem por isso mais sábio -, o ex-presidente Lula levou para a Câmara Municipal de São Paulo, onde receberia na segunda-feira o título de Cidadão Paulistano, as suas obsessões e os seus fantasmas: as elites e o mensalão. Ao elogiar no seu discurso a gestão da prefeita Marta Suplicy, ele se pôs a desancar a "parte da elite" de cujo preconceito ela teria sido vítima "porque ousou governar para os pobres". Marta fez os CEUs (centros educacionais unificados), exemplificou, para acolher crianças de favelas, algo inaceitável para aqueles que não querem que os outros sejam "pelo menos iguais" a eles.
O ressentimento de que Lula é prisioneiro o impede de aceitar que, numa megalópole como esta, há de tudo para todos os gostos e desgostos - e não apenas no topo da pirâmide social. Os que nele se situam, uma população que o tempo e as oportunidades de ascensão de há muito tornaram heterogênea, não detêm o monopólio do preconceito de classe. Durante anos, até eleitores mais pobres, portadores, quem sabe, do proverbial complexo de vira-lata, refugaram a ideia de votar em um candidato presidencial que, vindo de onde veio e com pouco estudo, teria as mesmas limitações que viam em si para governar o Brasil.
Lula tampouco admite, ao menos em público, que dificilmente teria chegado lá se o destino não o tivesse levado a viver na mais aberta sociedade do País - que também abriga, repita-se, cabeças egoístas e retrógradas, mas onde o talento, o trabalho e a perseverança são os mecanismos por excelência de equalização social. Em 1952, quando a sua mãe o trouxe com alguns de seus irmãos para cá, estava em pleno andamento, aliás, a substituição das tradicionais elites políticas paulistas por nomes que expressavam as mutações por que vinha passando desde a 2.ª Guerra Mundial o perfil demográfico da capital.
Pelo voto popular, chegaram ao poder descendentes de imigrantes e outros tantos cujas famílias, vindas de baixo, prosperaram com a industrialização, educaram os filhos e os integraram, à americana, na renovada estrutura política. O curso natural das coisas, pode-se dizer, consumou a metamorfose na pessoa do carismático torneiro mecânico pau de arara ungido presidente da República. No Planalto, é bom que não se esqueça, ele vergastava as elites nos palanques e se acertava na política com o que elas têm de pior. Lula se amancebou com expoentes do coronelato do atraso, do patrimonialismo e da iniquidade - o mesmo estamento oligárquico que contribuiu para confinar à miséria incontáveis milhões de nordestinos.
Elas não lhe faltaram no transe do mensalão - "um momento", repetiu pela enésima vez o mais novo cidadão paulistano, "em que tentaram dar um golpe neste país". Na sua versão da história, as elites, a oposição e a mídia só desistiram de destituí-lo de medo de "enfrentarem o povo nas ruas". Falso. Lula ainda não havia completado o trajeto da contrição - "eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas" - à ameaça de apelar ao povo, quando a oposição preferiu não pedir o seu impeachment para não traumatizar o País pela segunda vez em 13 anos. Pelo menos um dos homens do presidente, ministro de Estado, procurou os líderes oposicionistas para dissuadi-los da iniciativa.
O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido. Afinal, parcela da bolada já estava no exterior e outra sairia do caixa 2 da agremiação - os famosos "recursos não contabilizados" que Lula admitiria existir na reunião ministerial que convocou para o dia seguinte da oitiva de Duda. Tecnicamente, o PT poderia ter o seu registro cassado, e o presidente poderia ser afastado, se as elites quisessem levar a ferro e fogo o combate político. Se conspiração houve, em suma, foi para "deixar pra lá".

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