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domingo, 13 de maio de 2012

O "futuro" do Mercosul em debate (4) - comentarios Paulo Roberto de Almeida

Sempre chatos e longos, meus comentários...



SPG: Em 2012, a economia mundial se caracteriza pelo aumento da distância entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, pela expansão da globalização e das mega empresas multinacionais e, de outro lado, passa pela sua mais profunda crise desde 1929, a qual se originou em uma tendência à superprodução, à extensão excessiva do crédito e, finalmente, em um enorme movimento especulativo, desencadeado por bancos, fundos de investimento, auditoras e corretoras, permitido pela globalização e pela profunda desregulamentação nacional e internacional dos sistemas financeiros. A crise eclodiu nos Estados Unidos e se espraiou pelos sistemas financeiros dos demais países desenvolvidos, enquanto se atribuiu aos países emergentes, de forma indistinta, a capacidade de manter algum crescimento positivo da economia mundial. Enquanto os países ocidentais desenvolvidos se encontram mergulhados em suas crises, que já afetam a unidade europeia, a China surge como a segunda maior potência econômica do mundo.

PRA: A primeira afirmação não é um fato; ela é enfaticamente falsa, mas as duas seguintes são fatos. “Mais profunda” crise é um exagero, mas isso é uma interpretação à qual SPG tem direito. Agora, que essa crise tenha sido causada por uma “tendência à superprodução” constitui o mais equivocado chavão marxista desde os tempos de Marx, usado e abusado por gerações de bolcheviques, stalinistas e neobolcheviques, sem que qualquer um deles tenha provado a existência dessa tal de “superprodução”. Que a crise tenha se espalhado por outros países a partir dos EUA pode ser um fato, mas não consigo identificar quem, exatamente, atribuiu a “países emergentes” funções tão nobres como as indicadas acima; trata-se, portanto, de mera opinião. Que a China se “aproprie” do segundo PIB mundial, pode ser um fato, mas existiriam muitas qualificações a fazer nesse tipo de afirmação, pois é também um fato que grande parte dessa agregação de valor corresponde a tecnologias e investimentos das tais megaempresas multinacionais, o que já não parece ser bem acolhido por SPG: ele parece gostar da China, mas demonstra extrema reserva quanto às empresas. Quanta desinformação: são elas, justamente, que contribuem a fazer da China a potência econômica que ela parece ser.

SPG: Em 2012, o panorama político-militar internacional se caracteriza pelo desenrolar de guerras em países islâmicos, com a expansão dos poderes da OTAN para muito além de sua área de competência; pela luta contra um inimigo difuso, o terrorismo; pela eclosão, imprevista, de movimentos populares contra ditaduras árabes tradicionalmente apoiadas, e às vezes até financiadas, pelas potências ocidentais; pela intervenção das potências ocidentais, a pretexto humanitário, nos assuntos internos de Estados mais fracos; pelo ressurgimento da xenofobia e do racismo, em especial na Europa, com reflexos sobre imigrantes sul-americanos; pela crescente sofisticação e automação das forças militares das grandes potências e pelo seu esforço em desarmar, inclusive em termos convencionais, os Estados mais fracos e já desarmados.

PRA: Alguns fatos, que se misturam a opiniões de SPG, numa interpretação certamente maniqueísta, destinada a afirmar que as potências da OTAN são aquilo mesmo que pensam todos os que pensam como SPG: intervencionistas, hegemônicas, prepotentes, hipócritas, dominadoras, racistas, enfim, a mesma cantilena de sempre. Como se diz: contra opiniões, não há fatos que as infirmem. Passemos...

SPG: Este cenário político-militar estará sendo cada vez mais transformado pela expansão geográfica da presença política, e no futuro militar, da China, a partir de sua crescente influência econômica, em sua qualidade de maior economia,  maior potência exportadora e importadora, segundo maior destino de investimentos internacionais, de sua crescente capacidade científica e tecnológica, de sua situação de maior detentora de reservas internacionais e de maior investidora em títulos do Tesouro americano. Apesar de todas as dificuldades e desafios a trajetória econômica e política chinesa tende a não sofrer radicais alterações devido às características de seu sistema político colegiado e de ascensão gradual dos membros do Partido Comunista  às posições de alta responsabilidade no Bureau Político do Comitê Central.

PRA: As primeiras frases são apostas educadas no futuro da China, e têm algo de wishful thinking. A afirmação de que a trajetória da China não sofrerá alterações radicais é uma opinião, interessada, certamente, mas altamente arriscada. SPG parte do princípio de que o PCC vai dominar eternamente o processo de transformação capitalista da China, o que pode se revelar uma interpretação avant la lettre extremamente fantasiosa.

SPG: A emergência da China como a maior potência econômica do mundo, e possivelmente, em breve, como a segunda maior potência política e militar, tem extraordinárias consequências para a América do Sul, mas muito especialmente para os Estados do  Mercosul.

PRA: SPG é adepto de coisas extraordinárias. Sua opinião vem embasada em certos fatos: alguns países latino-americanos se tornaram hoje mais dependentes da China do que jamais o foram, no passado, dos EUA, inclusive quanto ao tipo de padrão neocolonial das relações de comércio: matérias primas para lá, manufaturados para cá. Pelo menos o imperialismo ianque permitia interfaces bem mais diversificadas, com intercâmbios de todos os tipos e também importação de manufaturados das “colônias”. Mas esse tipo de afirmação é provavelmente uma interpretação maldosa da minha parte: a China quer manter uma relação respeitosa e igualitária com os latino-americanos, muito diferente desses imperialistas perversos, que só buscam dominação e dependência. O Mercosul, em especial, tem tudo a ganhar com a emergência extraordinária da China.
 [CONTINUA...]

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. PRA.
Cometeu erro gravissimo ao afirmar serem seus comentarios longos e chatos.
gustavo Stein