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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Demagogia e incompetencia do governo criam a falsa crise do Bolsa Familia

Poucos jornalistas e pouquíssimos acadêmicos -- já nem me refiro aos políticos, pois eles costumam ser demagogos consumados, sejam da situação ou da oposição -- têm a coragem de falar mal do Bolsa Família.
Não é o meu caso.
Desde o início do programa, quando ele ainda envolvia "poucos" cinco ou seis milhões de famílias (herdadas, como se sabe, da "herança maldita" do neoliberalismo tucanês), eu já me posicionei contra, e foquei explicitamente no que me parecia ser o seu alvo principal: não reduzir ou eliminar a miséria, longe disso, mas ser um poderoso curral eleitoral a serviço dos companheiros.
Digo e repito: o objetivo oficial é o menos importante nessa história toda, pois ele sempre foi concebido para ser exatamente o que é: uma máquina corruptora das vontades individuais, fazendo com que brasileiros de modesta extração social se convertam em servos do Estado, em assistidos permanentes, e tudo isso com objetivos eleitoreiros, e corruptores, muito bem montados.
A oposição sempre foi medíocre, cega e impotente, aliás incapaz, incompetente, e covarde, por não denunciar um programa eleitoreiro que ela talvez também quisesse ter.
Essa é mais uma desgraça brasileira, que vai prejudicar profundamente o Brasil e os brasileiros durante muitos anos à frente. Infelizmente.
Mas não com a minha omissão e a minha conivência.
Sempre vou denunciar a demagogia, a mentira e a fraude.
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 27/05/2013

Segundo consta, essa é cara da miséria profunda do Brasil; de famílias que precisam de R$ 32 a R$ 360 para não ficar na inanição…
É ridículo!
É patético!
O governo decidiu empreender uma investigação severa (!!!) para saber quem estava por trás dos tumultos provocados pela boataria envolvendo o pagamento do Bolsa Família. Antes que pudesse encontrar um bode expiatório (ainda está para aparecer um…), a verdade veio à tona: a culpada era a própria Caixa Econômica Federal, que efetua os pagamentos. O banco antecipou a disponibilidade de rendimentos sem prévio aviso, alguém descobriu, a coisa começou a correr de boca em boca, de celular em celular e nas redes sociais — afinal, os pobres e a “pobras” do Brasil já são digitalmente incluídos, certo? —, e aí foi aquilo que se viu.
Tão forte quanto o boato de que o programa poderia acabar era o de que havia um pagamento extra. Ora, como a CEF fizera, de fato, a antecipação, quem foi verificar seu saldo no caixa eletrônico viu que havia mesmo um dinheiro inesperado lá. O pobrezinho, coitado!, sacou do bolso o celular e ligou para o outro pobrezinho. “Ó, tem dinheiro mesmo…” E aí foi aquela correria de gente gorda e feliz — que bom! — buscar a graninha sem a qual, entendo, não é possível sobreviver, né? Foi um espetáculo melancólico, sob vários aspectos.
Em primeiro lugar, destaque-se a irresponsabilidade da Caixa e de figurões do governo. É evidente que a antecipação de um benefício que chega a milhões de pessoas deveria ter sido previamente comunicada aos interessados. Bastava emitir uma nota oficial, e ela chegaria às TV e as rádios. E fim de conversa. O banco deu de ombros, e aconteceu o quiproquó. Maria do Rosário, José Eduardo Cardozo e Dilma Rousseff aproveitaram o episódio para imaginar conspirações. A ministra dos Direitos Humanos, que tem o hábito de pôr as palavras adiante do pensamento, acusou a oposição — como se houvesse alguma maneira de os adversários de Dilma se beneficiarem de um boato que seria de pronto desmentido. Cardozo e Dilma preferiram ver coisas estranhas, sem acusar ninguém. Como a ministra já havia feito o servicinho sujo, as palavras ambíguas do ministro da Justiça e da presidente só deram curso à suspeição infundada e estúpida.
Os bolsistas
Em segundo lugar, mas ainda mais importante porque a questão remete ao futuro, exclamo: “Que bom que não sou tucano!”. Não sendo, dispenso-me de entrar no campeonato de generosidades e posso, então, relatar o que vejo e me conceder o direito ao estranhamento. Vocês deram uma olhadinha nas fotos dos nossos “miseráveis”, que supostamente dependem do Bolsa Família para sobreviver? Uma foto, sei bem, não é estatística, estudo técnico, prancheta contábil, nada disso. E também não chamo, obviamente, a minha percepção de ciência. Estou apenas exercitando o primeiro passo de uma eventual descoberta, que é estranhar o que vejo, fazendo algumas indagações.
Então é essa a cara dos muito pobres? Cada família pode receber do governo, a depender do seu perfil, um mínimo de R$ 32 e um máximo de R$ 306. O Bolsa Família, que reuniu várias bolsas já existentes no governo FHC, foi criado, originalmente, para atender à pobreza extrema.
Quando Lula assumiu o poder, os programas chegavam a 5 milhões de famílias. Hoje, são mais de 13 milhões, atingindo um universo de mais ou menos 40 milhões de… eleitores! Voltem à foto (e procurem outras na rede). Obviamente, esses que correram para a Caixa porque se espalhou a informação de que havia lá um dinheiro inesperado — e não por causa do boato do suposto fim do programa — não constituem a cara da miséria brasileira coisa nenhuma.
É claro que existe pobreza extrema no país e que programas de renda são necessários. Mas será mesmo que deveria atender a tanta gente? A renda oficial, aquela que pode ser controlada pelo Fisco, não costuma ser a renda real das pessoas e das famílias, que encontram caminhos informais para ganhar dinheiro e sobreviver. O que o Bolsa Família faz, isto sim, e vai durar muito tempo, é cevar milhões com o assistencialismo — com evidente desdobramento eleitoral.
Virtuoso ou vicioso?
Aquele espetáculo patético certamente enche os olhos dos populistas: “Ah, finalmente, temos um país mobilizado em defesa de uma causa!”. É nada! Temos uma fatia do país organizada para pegar uns trocos oferecidos pelo Estado. Não! Eu não os chamo de aproveitadores ou coisa do gênero. Nada disso! Se o dinheiro está ali, disponível, dentro da mais estrita legalidade, por que não pegar? A questão é saber que país se está construindo assim e para onde isso nos leva. Não me parece que seja para um bom caminho.
Mas como falar contra? Como apontar que há algo de estupidamente errado nisso? Precisaríamos ter partidos que falassem em nome de outros valores, que dialogassem também com quem efetivamente paga a conta. Mas não há! Ao contrário. A oposição acaba empurrada para a defensiva.
Também não estou dizendo que o Bolsa Família deixa o povo vagabundo. Quem afirmava isso era Lula, em 2003. Dizia que as bolsas deixavam os pobres preguiçosos, e eles paravam de plantar macaxeira!!!
“Olhem o Reinaldo… Critica o Bolsa Família, mas não o Bolsa BNDES!!!” Quem disse que não? E duramente! De novo, os arquivos estão aí. Temos um governo que vai navegando numa fórmula que parece mágica que ensina os pobres do Bolsa Família a ser pobres e os ricos do Bolsa BNDES e a ser ricos — e os dois extremos são, obviamente, muito gratos.
Caminhando para o encerramento
A trapalhada feita pela Caixa, cuja direção mentiu ao informar que não havia operado mudança nenhuma nos pagamentos, serviu para trazer à tona um coquetel de mistificações. E demonstrou também a que ponto pode chegar a fala irresponsável de algumas “otoridades”.

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Addendum informativo (e ilustrativo, e demonstrativo, e dignificante)...


“Meu dinheiro nunca aumentou. Só ganho 134 reais e não está dando nem para comprar uma calça para a minha filha que tem dezesseis anos. Porque uma calça para uma jovem de dezesseis anos é mais de 300 reais”.
Francisca Flores, residente em São Luís do Maranhão, beneficiária do Bolsa Família há oito anos, em entrevista ao Jornal da Cidade, revelando o que faz com o dinheiro do maior programa de compra de votos do mundo.

By Augusto Nunes

Um comentário:

Ataque Aberto. disse...

PREZADO PAULO, ABAIXO UMA EVENTUAL COLABORAÇÃO MINHA. O ARTIGO TEM O NOME DE "FIM DO BOLSA FAMÍLIA - A NECESSIDADE DO MEDO". Abraço aqui de Porto Alegre
Já escrevi antes sobre o medo. Volto agora ao tema em função desse episódio, patético, protagonizado pela Caixa Econômica Federal com relação ao Bolsa Família. Em texto anterior expliquei que todo Estado totalitário tem como fundamento três características – a burocracia, a violência, e a desinformação. Lembro desde logo que essa teoria não é minha. Está muito bem detalhada em As Origens do Totalitarismo de Hannha Arendt e serve, ao meu ver,como uma luva para o o Brasil petista. Faço aqui questão de salientar a expressão Brasil petista e não Brasil do PT. Sustento que, a exemplo de Alemanha Nazista, é esse o conceito a ser usado.
O episódio desencadeado pelo boato do fim do Bolsa Família pode ser compreendido nos termos da teoria de Arendt à medida que aceitarmos a indução de medo como uma forma de violência. Acho desnecessário falar aqui sobre a burocracia num país com quarenta ministérios e não vejo sentido em mencionar a desinformação numa sociedade que acredita mais nas redes sociais (até porque não existem muitas alternativas) do que nos seus jornalistas sérios.
Há muito, mas muito tempo mesmo, o medo tornou-se uma constante na vida do brasileiro. A coisa chegou a tal ponto que fazer uma lista dos motivos seria desperdício para o leitor. A novidade, se é que posso usar esse termo, é o sentido político que esse sentimento assumiu.
O medo da sociedade brasileira provocado por uma organização criminosa como o Partido dos Trabalhadores vai muito além da prisão, da tortura, ou dos desaparecimentos das décadas de 60 e 70. Sustento que o medo no Brasil petista tem “vida própria”. Passou a ser uma espécie de categoria do pensamento, uma proposição a priori que não necessita de demonstração e que passou, ela sim, a a dirigir a nossa racionalidade.
Vivemos com medo de absolutamente tudo – violência, doenças, pobreza, corrupção, injustiça..enfim, a lista é interminável mas talvez seja a primeira vez em toda história do Brasil que vivemos com medo sem acreditar que possa haver algo melhor. É a falta de esperança, acompanhada pelo medo, que nos leva a um nível de sofrimento..um sofrimento que nunca antes na história desse país havia acontecido. O medo provocado pela ralé do PT tem em comum com os medos de Hitler e Stalin a história de uma governo que não tem oposição alguma.
O sentido da violência e do medo na perspectiva tática do PT não pode ser explicado em termos tradicionais. O medo não serve para manter esse tipo de gente no governo;mas no poder. Há que se fazer aqui uma profunda distinção e lembrar sempre que o poder é capacidade de gerar consenso. Governo no Brasil pode significar qualquer outra coisa; menos poder. Já expliquei em artigo anterior como surgiu o poder do PT na sociedade brasileira. Aqui, e para terminar, sustento que o medo constante faz parte da sua forma de governar. Medo que, como demonstrado pelo caso do Bolsa Família,serviu para mostrar que na teoria petista as coisas poderiam ser “muito piores” se ele, PT, não estivesse no governo. Esqueçam portanto o mensalão, Rosemary Noronha, Celso Daniel, e tantos outros escândalos desses últimos dez anos e fiquem vocês, os pobres dependentes do Bolsa Família, convencidos de que “a vida pode ficar bem ruim se nós do PT não estivermos aqui para defendê-los”. Isso se chama mensagem subliminar. Em outra ocasião escrevo mais sobre ela falando das suas origens em Goebbels na década de 1930.
Lembrem-se todos os brasileiros que de agora em diante terão além das necessidades históricas de saúde, educação e segurança, mais uma necessidade terrível e que vai fazê-los esquecer de todas as outras – a necessidade do próprio medo..

Porto Alegre, 27 de maio de 2013