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sábado, 23 de novembro de 2013

Os comunistas trapalhoes do Brasil (1935): um pouco da historia passada - Euler de França Belém

Já foram muito trapalhões: os patifes atuais são apenas um pouco trapalhões, mas foram mais bem sucedidos na sua revolução "socialista": eles não querem mais construir o comunismo no Brasil, eles já se contentam em expropriar burgueses idiotas, e capitalistas em geral, mesmo contra a vontade destes, simplesmente instalando um governo que está mais próximo do fascismo do que do comunismo. Eles apenas querem eternizar suas expropriações, monopolizando o poder e garantindo para si riquezas e poder infinito...
Paulo Roberto de Almeida

O espião alemão que detonou a revolução de Prestes

POR  
Revista Bula, EM 16/11/2010 ÀS 06:05 PM (publicado em )
Johnny — A Vida do Espião Que Delatou a Rebelião Comunista de 1935”
Apoiados pela União Soviética de Josif Stálin, os comunistas brasileiros tentaram derrubar o presidente Getúlio Vargas em 1935 mas foram fragorosamente derrotados. Entretanto, ao contrário do que podem depreender alguns leitores, a Intentona Comunista fracassou não porque foi delatada, e sim porque era de um irrealismo abissal. Era uma formiguinha maluca brigando contra um astuto exército de elefantes. A traição serviu apenas, quem sabe, para antecipar e, assim, debelar a rebelião mais cedo. A história está devidamente anotada em livros de qualidade, como “A Rebelião Vermelha” (Record, 217 páginas, 1986), do brasilianista Stanley Hilton, “Camaradas — Nos Arquivos de Moscou: A História Secreta da Revolução Brasileira de 1935” (Companhia das Letras, 416 páginas, 1993), de William Waack, “Olga” (Companhia das Letras, 259 páginas, 1984), de Fernando Morais, “Revolucionários de 1935: Sonhos e Realidade” (Companhia das Letras, 432 páginas, 1992), de Marly de Almeida Gomes Vianna, e “Uma das Coisas Esquecidas — Getúlio Vargas e Controle Social no Brasil/1930-1945” (Companhia das Letras, 341 páginas, 2001), do brasilianista R. S. Rose. Agora, 75 anos depois, sai um livro excepcional sobre um personagem misterioso, comentado apenas episodicamente nos livros citados. “Johnny — A Vida do Espião Que Delatou a Rebelião Comunista de 1935” (Record, 600 páginas), de R. S. Rose e Gordon D. Scott, é uma obra do balacobaco sobre o alemão Johann Heinrich Amadeus de Graaf, mais conhecido como Johnny. Rigorosamente documentada, a obra é vazada no estilo de romance policial. Johnny começou a espionar para os soviéticos, chegou a se encontrar com Stálin e Molotov, para citar duas eminências soviéticas, mas depois se tornou espião dos ingleses. Uma das revelações, embora não devidamente explorada, é que Urbano “Bercuó” espionou para Johnny, em 1940, no Rio de Janeiro. Espionava navios de origem alemã e, aparentemente, estava na folha de pagamento dos ingleses. O promotor de justiça e pesquisador Jales Guedes Mendonça diz que se trata do advogado e jornalista goiano Urbano Berquó. “Foi advogado de Pedro Ludovico e jornalista do ‘Correio da Manhã’.”

Ao leitor mais interessado em assuntos brasileiros, recomendo a leitura de cinco capítulos, “Brasil um”, “Argentina”, “O retorno a Moscou”, “Brasil dois” e “Primeiros anos da guerra”. Se quiser entender como os espiões eram formados, e por quais motivos Johnny desencantou-se com o comunismo soviético — o paraíso social só existia na teoria e a repressão aos dissidentes era brutal —, é preciso ler todo o livro do americano R. S. Rose e do canadense Gordon D. Scott (que conheceu Johnny). A história de Johnny, de tão impressionante, às vezes parece inventada. Não há, porém, nada de ficcional. Os estudiosos são criteriosos e parcimoniosos no uso da documentação. Muitos documentos a respeito de Johnny, sobretudo na Inglaterra, ainda não estão disponíveis.

Delírio de Prestes
Luís Carlos PrestesConquistado pelos comunistas alemães, o ex-marinheiro Johnny se tornou um tarefeiro do partido. Perseguido na Alemanha, escapou para a União Soviética, de onde, espião especialíssimo, foi enviado a vários países, com o objetivo de semear a revolução. Esteve na Romênia, na Hungria e na China. Ao voltar da Ásia, foi convidado pelo general soviético Manfred Stern para acompanhá-lo à Espanha, país onde, pelo menos no início, Stálin pretendia implantar uma espécie de república soviética. Diante da recusa, Alfred Langner deu-lhe a chance de voltar à China ou participar da revolução no Brasil. O célebre Dmitri Manuilski, do Comintern, participou da conversa.

O papel de Johnny, espião do M4, a Inteligência do Exército soviético, seria “cultivar, recrutar e desenvolver células dentro e fora das forças armadas” brasileiras. Langner garantiu que o capitão Luís Carlos Prestes, que seria o chefe da revolução patropi, era “um líder nato”. Foram escalados para comandar a derrubada de Vargas os comunistas Arthur Ernst Ewert (codinome Harry Berger), Johnny de Graaf (codinome Franz Paul Gruber), o americano Victor Allen Barron, o italiano Amleto Locatelli, o argentino Rodolfo José Ghioldi, os soviéticos Pavel Vladimirovich Stuchevski (com o codinome de Leon Jules Vallée, era da NKVD, a futura KGB) e Sofia Semionova Stuchevskaya (mulher de Pavel), a alemã Olga Benario (guarda-costas e amante de Prestes). Na primeira reunião, em Moscou, Prestes disse que a revolução estava madura no Brasil e que 90% do trabalho “já havia sido feito”. Realista absoluto, Johnny pensou: “Esse homem tem a cabeça nas nuvens. Às vezes a realidade e a lógica sensata lhe escapam”. Logo depois, Johnny informou seu contato no MI6 (serviço secreto de inteligência inglês), o britânico Frank Foley, que reportou-se ao major Valentine Patrick Terrel Vivian, “Vee-Vee”. O espião Alfred Hutt, superintendente-assistente-geral da Light no Rio de Janeiro, havia sido informado.

Na década de 1930, depois de, um pouco antes, ter acusado a social-democracia de “social-fascismo”, o Comintern (Internacional Comunista) mudou de tática e passou a incentivar a política de construção de frentes políticas com a participação de comunistas e democratas. “A intenção era radicalizar aos poucos cada Frente”, ressaltam Scott e Rose. No Brasil, o Partido Comunista do Brasil (erroneamente, apontado como Partido Comunista Brasileiro; esta nomenclatura só vai ser empregada décadas adiante) aderiu à Aliança Nacional Libertadora (ANL). Numa reunião, no Rio de Janeiro, Johnny ficou estupefato com o superficialismo político e tático de Prestes, que acreditava, era fé mesmo, que o Brasil estava “pronto” para a revolução. Quando Johnny duvidou, Prestes vociferou: “Sim, estamos!” Johnny contestou-o e ficou impressionado com o fato de que o PCB estava afastado do centro das decisões. Mas o líder personalista não desistiu. Avaliava que era possível construir uma revolução sem as mínimas condições objetivas, numa leitura simplista das ideias leninistas.

Afastado do centro das decisões, por ser cético quanto ao poder de fogo do grupo de Prestes, Johnny passou a ser informado dos assuntos da cúpula por sua mulher, Helena Krüger, que atuava como motorista do líder revolucionário. As informações eram repassadas aos ingleses, que as transmitiam ao governo de Vargas. Mesmo sabendo que a revolução estava fadada ao fracasso, porque era uma mera “revolta militar”, Johnny treinou alguns recrutas, totalmente despreparados, e deu orientações a Prestes, que as recusou.

Com ou sem preparação, a rebelião estourou em Natal, em novembro de 1935, e em Recife. Os rebeldes assumiram o controle da capital do Rio Grande do Norte, mas por pouco tempo. No Rio de Janeiro, a revolta também explodiu. O presidente Getúlio Vargas, no lugar de inquirir sua polícia, ligou para Hutt e perguntou se os comunistas tinham chance de vencer. Johnny disse a Hutt que deveria tranquilizar o presidente, pois “não havia a menor chance” de a revolta ser bem-sucedida. Era uma quartelada. “A Revolução Social, ou Intentona Comunista, estava encerrada em um fiasco de quatro dias.” Johnny a delatara, é verdade, mas o fracasso se deu muito mais por causa da orientação inconsistente de Prestes. Os militares de esquerda e os comunistas não estavam preparados para tomar o poder, mas confundiram desejo com realidade.

O governo de Vargas reprimiu ferozmente a rebelião, prendeu (a estatística varia de 7 mil a 35 mil pessoas) e torturou centenas. Um alemão da Gestapo, da equipe do diretor da polícia Filinto Müller, torturou Arthur Ewert logo depois de sua prisão. Quebrou um dos polegares de Ewert com um quebra-nozes e ficou irritado porque o comunista não gemeu. Brutalmente espancado, Ewert enlouqueceu. Sua mulher, Elise (Sabo), foi enviada para um campo de concentração, onde morreu em 1941. Olga Benario morreu, “em uma câmara de gás em Bernburg, em março de 1942”. Delatado por Rodolfo Ghioldi, o americano Victor Allen Barron foi morto sob tortura.

Moscou desconfiou de Johnny, procedeu a uma grande investigação, mas, usando a velha dialética leninista, o espião conseguiu convencer os veteranos stalinistas — a feroz “inquisidora” búlgara Stella Blagoeva continuou duvidando de sua integridade — que o fracasso da revolução brasileira tinha a ver unicamente com o voluntarismo de Prestes.

Depois de um período na geladeira, Johnny voltou ao Brasil, agora com a missão de espionar os nazistas para os soviéticos e, claro, para os britânicos. Era eficientíssimo. Montou uma rede de espiões, pagos pelos ingleses, e começou a repassar informações confiáveis sobre negócios dos alemães com os brasileiros. Chegou a ser preso e torturado pela polícia de Filinto Müller, que era simpático aos nazistas, e só foi liberado por conta de pressões inglesas. Com o fim da guerra, foi dado como morto por seus chefes soviéticos e mudou-se para a Inglaterra, onde adotou outro nome e continuou a espionar, especialmente no Canadá. Quem era Johnny? “Não era um comunista de carreira, tentando agradar superiores na órbita stalinista, mas alguém que estava do lado de fora olhando para dentro”, sintetizam seus biógrafos. Johnny morreu em 1980, aos 86 anos, no Canadá, com o nome de John Henry de Graff (ligeira alteração de seu sobrenome).

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Recebido de um leitor: 
Bom dia,

A partir do seu post em 

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2013/11/os-comunistas-trapalhoes-do-brasil-1935.html

interessei-me pela lista de livros lá citada, em particular pelo  

“Uma das Coisas Esquecidas — Getúlio Vargas e Controle Social no Brasil/1930-1945” (Companhia das Letras, 341 páginas, 2001), 
do mesmo autor do livro comentado no post.

Em geral, antes de ler alguém que não conheço, gosto de pesquisar um pouco sobre o autor, saber qual é a dele e o que dizem dele. Para não perder tempo.

O que achei interessante é que esse sr. R.S.Rose parece "inachável" pela rede, apesar de ter escrito seus livros em plena era da Internet. É quase como se não existisse. Nenhum foto, nenhum vídeo ou entrevista no you tube, nenhum  página no facebook, nenhum  citação na wikipedia.

Ele tem três livros na Amazon: um é editado pela Ohio University Press, em 2006,  (The Unpast: Elite Violence and Social Control in Brazil, 1954-2000), outro pela Pennsylvania State University Press, em 2010, (Johnny: A Spy's Life), e o mais antigo, de 2000, pela  Praeger (One of the Forgotten Things: Getulio Vargas and Brazilian Social Control, 1930-1954). 
Essa última editora, Praeger, não tem website, é pouco citada via Google,e parece ter sede em Santa Barbara-CA. 
O nome dele aparece sempre na forma R.S. Rose, ou seja, um sobrenome comuníssimo e apenas as iniciais no prenome. 
No site da Penn State Presse diz apenas que "R. S. Rose, an American, took his doctorate from the University of Stockholm. He teaches criminology and criminal justice at Northern Arizona University, Yuma."
A pergunta inevitável: esse moço existe ??
Abs,
 Alexandre.
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Minha resposta (PRA):
Existe sim; depois que eu comprei o livro dele, na edição americana "Forgotten Things", interessei-me por um ele, e fui buscar.
O Stanley Hilton me falou um pouco dele e de sua carreira errática. Ou seja, competente, mas não conseguiu boas posições nas universidades americanas.
Mas eu não tenho contato com ele, embora possa buscar...
Paulo Roberto de Almeida 

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