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sábado, 4 de janeiro de 2014

Anunciando o novo salario minimo: um discurso alternativo ao oficial - Paulo Roberto de Almeida

Um pronunciamento alternativo sobre o novo salário mínimo

Sugestão: Paulo Roberto de Almeida

Se eu fosse o responsável supremo da Nação, eu teria feito o seguinte discurso depois do anúncio do novo mínimo:

Brasileiras e brasileiros,
O governo acaba de anunciar os novos valores do salário mínimo e do salário-família. Não pude, ainda desta vez, conceder os aumentos que considero justos e necessários e que tinha, sinceramente, a intenção de dar a todos aqueles que dependem, de uma forma ou de outra, do valor do salário mínimo.
E não pude fazê-lo, meus caros concidadãos e concidadãs, por uma razão muito simples: o Estado brasileiro está quebrado. Pode parecer estranho eu dizer um coisa dessas, sendo eu o responsável por pelo menos uma parte desse Estado, mas esta é a verdade mais pura e cristalina que eu poderia trazer a vocês neste começo de ano: o Estado brasileiro, apesar de coletar quase dois quintos de tudo o que se produz neste país durante um ano, não tem condições de enfrentar novos gastos, dado o nível de comprometimento já alcançado pelas contas públicas, sobretudo no que se refere à previdência social.
Vocês sabem que os três níveis da federação brasileira arrecadam os mais diversos tributos, taxas e contribuições das empresas e dos cidadãos em geral. Todos reclamam, aliás, que o nível global de arrecadação está longe de corresponder à qualidade dos serviços prestados pelos estados e municípios, assim como pela própria União. Pois, bem, apesar disso tudo, os recursos auferidos ainda não são suficientes para cobrirmos todas as despesas previstas e, além disso, fazermos os investimentos que seriam necessários para melhorar a vida dos brasileiros e brasileiras, de todas as idades e condições sociais, especialmente os mais pobres.
Há uma imensa gama de serviços que não são prestados na devida forma ou que simplesmente não são prestados em absoluto a muitos cidadãos, em especial em cidades menores ou nas favelas, como segurança e justiça, por exemplo, ou ainda vagas em número suficiente nas escolas e hospitais. Já não me refiro aos investimentos ainda mais necessários, na simples manutenção de estradas ou construção de novas obras de infraestrutura, necessárias ao desenvolvimento sustentado do Brasil. Este é um fato meus caros brasileiros: o Estado deixou de corresponder ao que dele se espera, deixou de atender às aspirações dos brasileiros e converteu-se, ele mesmo, em fonte de problemas.
Como foi isso possível? A verdade, meus caros brasileiros, é que nós, líderes políticos, fomos, durante muito tempo, irresponsáveis com o nosso patrimônio. Não apenas gastamos mais do que seria recomendável, mas sobretudo gastamos onde não é o mais adequado, nos meios do Estado, em lugar de gastar com os fins do Estado, que são o bem-estar e a segurança das pessoas, o seguro à velhice e os investimentos.
O fato é que o Estado tornou-se hoje um peso para a economia e para a vida dos cidadãos. Esta é uma situação que compromete o nosso futuro e o bem-estar dos nossos filhos e netos.
Por que isso ocorre? As razões são múltiplas, mas elas podem ser resumidas em duas fórmulas: nós deixamos de fazer investimentos no plano interno e estamos perdendo, contra nós mesmos, a corrida por maiores níveis de produtividade humana, o que nos deixa para trás na competição internacional. Isto não se deve a nenhuma conspiração do mundo contra o Brasil, a imposições de firmas estrangeiras ou a problemas trazidos de fora, como o pagamento de juros ou da dívida externa.
A verdade, meus caros concidadãos, é que nós, todos nós, mas em especial nós líderes políticos, fomos irresponsáveis e permitimos que a inflação e o protecionismo comercial fossem roubando todas as oportunidades que nos foram dadas de construir um caminho de produtividade e de incorporação tecnológica. Daí esses extremos de riqueza e de pobreza e os muitos bolsões de miséria ainda remanescentes numa sociedade que, de outra forma, poderia ser muito rica e desenvolvida.
O fato é que todos os nossos problemas foram e continuam a ser provocados por nossos próprios atos e fatos: somos fabricantes da nossa própria miséria.
 Consciente dessa realidade, comprometo-me com vocês a trilhar, doravante, um caminho de trabalho e de reordenamento das finanças públicas. Vamos dar início a um processo gradual de redução da enorme carga fiscal representada pelo Estado: terá de ser feito ao longo de vários anos, mas comprometo-me a começar a trabalhar em prol desta meta desde já.

Comprometo-me também a parar de tentar encontrar lá fora a culpa ou a solução de problemas que foram criados aqui dentro e que têm aqui dentro sua única e exclusiva solução. Em uma palavra, vou parar de fazer discurso e tratar da realidade. Esta é uma promessa. Podem me cobrar...

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