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sábado, 4 de janeiro de 2014

Resolucoes de Ano Novo presidenciais, que nao serao cumpridas: ainda aguardando, desde 2003

No finalzinho de 2003, como é meu hábito todo final de ano, eu elaborei minhas "previsões imprevidentes" para 2004, neste caso adaptadas como resoluções presidenciais para o ano que se iniciava.
Como de hábito, também, eu não acreditava que elas fossem cumpridas e achava que a maioria permaneceria totalmente intocada.
Com exceção da questão dos transgênicos -- terreno no qual o agronegócio conseguiu reverter a posição absurda dos conselheiros ecochatos da presidência -- creio que todas as demais recomendações permanecem válidas, por serem pertinentes e por estarem ainda totalmente intocadas. No que se refere ao imposto único, a despeito de seus efeitos deletérios sobre a economia -- pelos efeitos cumulativos, em cascata -- ele poderia ser uma solução de transição, desde que fosse substituir todos os impostos federais e vários estaduais, como o absurdo do ICMS, mas creio que no computo global não seria uma solução. Proponho agora uma redução linear, escalonada e gradual, de TODOS os impostos, como preparação a uma discussão sobre a reforma fiscal. Tampouco creio que vai vir.
Não custa lembrar: o Brasil perdeu mais de dez anos nas NÃO reformas.
Quem sabe algum estadista resolve assumir as tarefas?
Neste início de 2014, dez anos depois de minhas recomendações, continuo NÃO acreditando que elas venham a ser cumpridas, sequer tocadas, any time soon...
Paulo Roberto de Almeida

Resoluções de Ano Novo
Sete tarefas presidenciais que não serão feitas
19 de dezembro de 2003

            Fim de ano: revisamos nossos erros e adotamos resoluções para o novo ano, com a ajuda do anjo da guarda. Presidentes também têm anjo da guarda, aliás vários: cortesãos, mordomos, seguranças e até mesmo algum conselheiro bem intencionado.
            O nosso presidente também deve estar pensando em sua lista de obras a cumprir neste ano do espetáculo do crescimento. Para ajudá-lo, resolvi imaginar sete resoluções que ele poderia cumprir nos próximos doze meses, com um único senão: tenho absoluta certeza de que nenhuma delas será cumprida e várias sequer tocadas.

1) Fazer um ministério manejável
            Esqueça: o que vai sair será um arremedo de reforma ministerial, com promoção dos incompetentes a algum outro cargo e uma abertura para o partido “saco de gatos”. O ideal seria uma super reforma, com redução à metade do número de ministérios, cartão vermelho para os titulares incapazes e incorporação de alguns técnicos competentes que hoje estão no banco de reservas.

2) Reforma tributária que diminua a carga fiscal
            Seria pedir muito? Afinal a reforma começou com grandes promessas de fim da guerra fiscal, desoneração do setor produtivo e racionalização do caos impositivo. Virou tragédia no final de 2003 e promete ser a comédia de 2004. Já que não há entendimento sobre uma estrutura ideal, porque não pensar naquele imposto único sobre transações?

3) Aprofundar a reforma previdenciária
            Podem reclamar os servidores públicos, mas ainda não se terminou de cortar privilégios. Uma nova reforma previdenciária é absolutamente indispensável para fazer o Brasil crescer em bases sustentáveis. O setor continua produzindo deficits que serão pagos por nossos filhos e netos. É essa a herança que o presidente pretende deixar?

4) Reforma laboral de flexibilização
            Quase a metade da força-de-trabalho está na informalidade, à margem de qualquer proteção ou regime previdenciário. Pequenas e médias empresas que poderiam contratar muito mais não o fazem por causa de uma legislação trabalhista decrépita e com alto viés de proteção formal e nenhuma garantia de empregabilidade. Presidente: enfrente os sindicatos e promova uma limpeza geral na legislação e deixe patrões e trabalhadores resolverem suas relações em bases contratuais. Estou sonhando mais uma vez?

5) Autonomia do Banco Central com Conselho Monetário ampliado
            Esses conselheiros que dizem que a independência do BC será o fim da soberania monetária devem entender tanto de câmbio e juros quanto eu de física nuclear. Promova a autonomia e pare de ouvir reclamações do vice-presidente, dos empresários da FIESP e dos economistas de oposição. Aí poderá dizer: “o assunto não é mais comigo, juros são resolvidos por um Conselho Monetário de dez membros, escolhidos de comum acordo com o Congresso dentre economistas acadêmicos e burocratas do governo, com mandato fixo mas revogável pelo Senado”.

6) Lei de biossegurança não esquizofrênica
            Sinceramente, que papelão esse projeto do governo sobre transgênicos. Paralisou todo o sistema de pesquisa em biotecnologia e pode fazer metade da agricultura deslizar para a ilegalidade. Liberte-se desse bando de ecochatos e coloque-se do lado da ciência e da tecnologia, como convém a um presidente moderno e esclarecido.

7) Aprofundar o superávit primário para rebaixar os juros
            O superávit de 4,25% está estrangulando os gastos sociais? Essa economia, na verdade, representa apenas uma parte do déficit real, que continua sendo criado, pelo fato de o governo gastar mais do que deveria ou porque acumulou dívidas que cabe remunerar ou amortizar. Um superávit menor significa que o governo renuncia a controlar os seus gastos, continuará sendo irresponsável e vai deixar um grande buraco para a sociedade. O correto seria aumentar o superávit (o governo precisa começar a produzir superávits nominais, para diminuir a pressão da dívida), única garantia de que os juros baixarão para níveis civilizados. Os que negam é porque vivem de juros ou recomendam um calote nos banqueiros. Crie coragem e diga ao Palocci para aumentar o superávit para perto de 5%. Pense que o Estado tem de deixar de ser um peso para empresários produtivos e uma mãe para os banqueiros e especuladores.


            Aí estão: sete pequenas resoluções que representam sete grandes revoluções na forma de fazer política e de praticar economia no novo Brasil inaugurado em 2003 (mas que ainda não deu a partida de verdade, segundo o presidente). Sei que é duro ter de descontentar políticos, banqueiros, funcionários públicos, juízes, políticos, ecologistas e economistas utópicos da universidade. Por isso mesmo já disse ao início que as sete tarefas não serão cumpridas, por mais que elas sejam benéficas para o povo e podem fazer a felicidade geral da nação. Em todo caso, não custa nada fazer nossa própria resolução de ano novo e esperar que o presidente a cumpra. A minha lista está aí. A conferir no final de 2004.

Brasília, 19 de dezembro de 2003
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Continuamos esperando...
PRA

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