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sábado, 29 de março de 2014

Petepatia: uma terminologia que veio para ficar, como petralha - Lucas Daniel (via Orlando Tambosi)

Eu e o Orlando Tambosi estamos sempre numa corrida para publicar o que há de melhor (e de pior, também) sobre este país surrealista situado a centro-leste da América do Sul. Ele me ganha, sempre, por isso eu vou ter de acabar pagando direitos autorais, neste caso não exatamente a ele, mas ao criativo (sem contabilidade, por favor) Lucas Daniel, que vai para a história dos dicionários políticos, junto com o inventor do termo petralha, pelo seu novo termo de Petepatia e, seu nominativo, petepata, ambos totalmente merecidos e que passo a usar a partir de agora.
Paulo Roberto de Almeida 
Petepatia, uma doença incurável
Recebi do leitor Lucas Daniel o texto que publico abaixo, sob o título: "Petepatia, uma doença incurável. Ou: os fins justificam os meios".

Petepatia é um termo que cunhei para designar partidos políticos (quaisquer partidos) ou membros e militantes de partidos políticos que possam ser identificados por uma característica fundamental: a de que os fins justificam os meios. Esses partidos ou seus integrantes são marcadamente egoístas, falsos, cínicos, calculistas, trapaceiros, chantagistas, mentirosos e manipuladores, e colocam seus interesses pessoais ou político-partidários sempre em primeiro lugar, para serem atingidos custe o que custar, doa a quem doer. Como são notavelmente intolerantes à frustração, tendem a adotar, quando contrariados, medidas extremas para conseguir o que querem, não hesitando em apelar para a violência como instrumento de luta política. Não é à toa que estão sempre ligados a bate-paus e baderneiros, sempre prontos a promover arruaças, ou, mesmo, a bandos armados. E se inclinam, nos casos mais graves, em que assumem o poder, para regimes de exceção, quando os seus adversários são, via de regra, perseguidos, encarcerados, torturados e, mesmo, mortos.

Não é por outra razão, aliás, que se identificam, habitualmente, com ideologias, líderes e regimes que patrocinam tais aberrações. Na oposição, adotam, com frequência, a praxis do “quanto pior, melhor”. No poder, aparelham o Estado e suas instituições, a fim de estabelecer um regime hegemônico, de partido único. E isso não lhes é difícil, pois são hábeis dissimuladores, ocultando-se sob manto de ideais humanitários, como justiça e igualdade social, combate á fome e à pobreza, e defesa das minorias e dos direitos humanos, enquanto vão estendendo seus tentáculos sobre a sociedade e o Estado. Afetam possuir o monopólio da virtude, mas, na verdade, não passam de predadores dos cofres públicos e das instituições. Não raro, enriquecem no poder. Usam e abusam da propaganda enganosa, a ponto de mascarar índices econômicos e sociais para ludibriar as massas. As medidas populistas, sempre paliativas, de dar pão e circo à população, são largamente usadas, com o mesmo objetivo. Emoldurando esse quadro, adotam a postura de vítimas de um suposto poder dominante, elitista, explorador, que estaria tentando impedi-los de cumprir a sua elevada missão redentora. É o jogo do “nós” contra “eles”, em que dividem para melhor dominar. Na verdade, dentro da hipótese que estamos formulando, são eles que estão no poder, dando as cartas, acumpliciando-se com as elites, tomando de assalto os cofres públicos e as instituições, repartindo o butim com os seus sequazes. Mas fingem que não, para melhor iludir o povo.

Tal como ocorre com os seus parentes próximos, os psicopatas, que não aprendem com os próprios erros e nem se arrependem deles, os petepatas estão sempre reincidindo nos erros, malfeitos ou crimes que cometem. Quando denunciados, julgados ou, mesmo, condenados, tentam se justificar de todas as formas possíveis e imagináveis, jamais admitindo a sua responsabilidade. Se necessário, recorrem à negação absoluta do “não vi, não ouvi e não sei”, mesmo quando todas as evidências apontam em sentido contrário. Ou seja, não contabilizam os seus crimes. Na melhor das hipóteses, quando já não podem negar mais, tentam se justificar dizendo que em algum lugar, no presente, no passado ou, mesmo, no futuro, outros cometeram ou ainda vão cometer os mesmos erros, malfeitos e crimes. E se, excepcionalmente, chegarem a admiti-los, dirão que foram praticados para o bem de todos e a felicidade geral da nação. 

Desse modo, são sempre indulgentes com os seus próprios crimes e os crimes dos seus correligionários - a quem apontam, não raro, como heróis da “causa” que defendem, justamente pelos crimes que cometeram - tanto quanto são implacáveis com os dos seus adversários. É como se dissessem, descaradamente, “nós podemos, eles não”. Isso deve ser confrontado com o que eles dizem sempre que são pilhados em flagrante delito: “nós fizemos, mas eles também fizeram”. 

É importante destacar que as características que descrevemos devem ser notas dominantes - e não traços, apenas -, do comportamento, e devem estar presentes de forma maciça num partido político ou nos seus integrantes para que fique bem configurada a Petepatia. Se essa ressalva não for respeitada, corremos o risco de classificar todos os partidos políticos como petepatas, o que não seria verdadeiro. Petepatia é uma doença política, ideológica e social grave, criminosa, incurável e extremamente destrutiva para um país. Assim sendo, todo o cuidado será sempre pouco ao diagnostícá-la.

A palavra “petepatia” foi composta de “pet” e ”patia”. “Patia”, como se sabe, diz respeito à doença. Quanto a “pet” (politereftalato de etileno), é a designação de um polímero bastante moldável, utilizado, comumente, na fabricação de garrafas e recipientes diversos. O termo foi adotado por mim justamente por causa da plasticidade desse material que, uma vez submetido a temperaturas adequadas, amolece, funde e pode assumir as mais variadas formas para atender aos seus fins. Tal como ocorre com os petepatas que, para a consecução dos seus fins, assumem os mais variados disfarces e formas de expressão, enganando os incautos. Assim como recorrem a todos os meios possíveis e imagináveis, sem qualquer consideração pela sua natureza boa ou má, justa ou injusta, pois tudo o que lhes interessa são os fins, pelos quais os meios, quaisquer que sejam, estariam sempre justificados. É por isso mesmo que consideram válido aparelhar o Estado, fazer o diabo para ganhar eleições, fabricar dossiês para assassinar reputações de adversários políticos, assinar documentos de estado sem ler, comprar congressistas, cercear a liberdade de expressão, cooptar juízes para reformar sentenças, chamar bandido de “meu louro”, transformar programas sociais em esquemas de compra de votos, financiar ditadores e ditaduras, fraudar eleições, deixar presos políticos morrerem de fome na prisão, fuzilar dissidentes num “paredón” qualquer, matar mais de cem milhões de pessoas em nome da justiça e da igualdade social, e uma infinidade de coisas do mesmo jaez.

Portanto, meu caro leitor, se você conhece, em seu país, algum partido político que preencha tais características, não vote nele. Mas, se ele já estiver no poder, trate de tirá-lo imediatamente de lá, antes que seja tarde demais. E se isso não for mais possível, só lhe resta uma opção: fuja do seu país! Já!

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