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sábado, 26 de abril de 2014

Nunca antes no Brasil: a politica e a economia de tempos nao convencionais (1) - Paulo Roberto de Almeida

A economia e a política do Brasil em tempos não convencionais
(nunca antes mesmo...), 1

Paulo Roberto de Almeida
Palestra na UnB: 24/04/2014, 19hs
Em voo, de Bradley a Atlanta, e a Brasília, 17-18/04/2014

Na economia, a herança bendita da agricultura
Meio século atrás, quando se falava que o Brasil era um país essencialmente agrícola, essa era quase que uma expressão de culpa, um pedido de desculpas, era com certo sentimento de vergonha que reconhecíamos essa condição, pois nossa agricultura era extremamente atrasada. Aliás, toda a nossa economia se encontrava numa situação precária, com mais de 60% da população espalhada em zonas rurais dispersas, milhões de Jecas Tatus mal sobrevivendo às endemias, ao paludismo, ao bicho do pé. Na indústria, a crer num panfleto muito popular nessa época, Um Dia na Vida de Brasilino, que ainda pode ser encontrado no site do PCdoB, parece que devíamos tudo o que consumíamos às companhias estrangeiras: da manhã até a noite, Brasilino pagava royalties aos imperialistas, acordando e dormindo com a Light, escovando os dentes com Kolynos, tomando banho com Palmolive ou Lever, fazendo a barba com Williams e Gillette, comendo cereais americanos, comida feita com óleo americano, circulando em carros americanos, consumindo filmes de Hollywood e assim por diante.
Meio século depois, isto é, agora, o único setor verdadeiramente moderno da economia brasileira parece ser a agricultura, exportando milhões de toneladas de todos os tipos de produtos, garantindo o equilíbrio das transações correntes, com seus saldos anuais de dezenas de bilhões de dólares, compensando assim, pelo menos em parte, os crescentes déficits do setor manufatureiro. De fato, os agricultores no Brasil são modernos, conectados permanentemente aos mercados de futuros de Chicago e a outras bolsas de mercadores, para decidir, quase um ano antes o que plantar, quando plantar e, sobretudo, quando vender, no melhor momento dos picos de preços.
Parece que os únicos atrasados no campo, atualmente, são os militantes ignaros do MST, na verdade, quase totalmente urbanos, ou suburbanos, enganados criminosamente, usados como massa de manobra por reacionários de um partido neobolchevique que não tem nenhuma intenção de fazer reforma agrária, pois o que lhe interessa, de verdade, é viver das verbas do governo ou extrair dinheiro dos ONGs estrangeiras ingênuas, que pensam estar financiado um movimento que se preocupa com a justiça social. Não, a última coisa que interessa o MST é a reforma agrária, já que ele é um dos muitos movimentos autoproclamados sociais, que sobrevivem graças às riquezas produzidas pelo capitalismo, e que neste caso se dedica apenas a dificultar a vida do agronegócio, que é, cabe repetir, o único setor verdadeiramente avançado do Brasil atual.
Enfim, em pouco mais de meio século, demos a volta completa, e hoje podemos proclamar com orgulho que o Brasil é um país essencialmente agrícola.


(continua)

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