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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (25): Back home, where there is work waiting...


Across the Empire, 2014 (25): Back home, where there is work waiting...

Paulo Roberto de Almeida

A despeito meu anúncio, na postagem 24, de que voltaríamos para casa via nova passagem em Corning, NY, onde se encontra o maior museu do mundo de objetos de vidro, resolvemos, na partida, seguir direto de Toronto a Hartford, e isto por duas razões muito simples: na segunda-feira 22, o tempo começou a se deteriorar rapidamente, e na manhã da segunda tinha começado a ficar frio e nublado, ameaçando possíveis chuvas na jornada, em todo caso o final do verão (e de fato, já entramos no outono, que nestas paragens do norte costuma ser invernal, estrito e lato senso). 

A outra razão foi um simples equívoco de distância, feito quando eu estava montando o esquema de viagem, entre km e milhas, o que pode dar diferenças consideráveis. Eu tinha anotado uma distância total de quase 800 milhas entre Toronto e Hartford, o que recomendaria, sem dúvida, quebrar em duas etapas, pelo menos, daí a sugestão de visitar novamente o museu do vidro de Corning, onde já tínhamos estado no ano passado. Mas, distraído, apressado, ou sonolento, fui vítima da precisão milimétrica (se ouso dizer) do Google maps: como fui estabelecendo o roteiro de viagem e de distâncias respectivas com a ajuda dessa ferramenta a partir dos EUA, todas as distâncias mostradas estavam em milhas. Já ao traçar a etapa final, colocando Toronto, o Google maps usou obviamente o sistema métrico universal, que a Inglaterra adotou creio que quando ingressou na então Comunidade Europeia, no início dos anos 1970; só os EUA ficaram no seu velho sistema de unidades bizarras: milhas, pés, galões, jardas, bushels, barris, etc. O fato é que eu registrei uma distância de 799 milhas de Toronto a Hartford, quando isso era em quilômetros. Em milhas daria apenas 499 milhas, um trajeto facilmente coberto por nômades como nós. Quando descobrimos isso, decidimos deixar Corning para uma outra ocasião, menos cansativa.
A propósito, lembrei-me agora de uma história real, na verdade uma perda imensa, de vários milhões de dólares, e de muitos meses de trabalho desperdiçados, por um erro banal desse tipo. Eu havia acabado de chegar aos EUA, em 1999, e ouvi falar de um satélite lançado em um projeto conjunto de exploração espacial – mais provavelmente de espionagem – entre os EUA e o Reino Unido. Depois de lançado, por um foguete americano, a partir de Cabo Canaveral, o foguete simplesmente desapareceu dos sistemas de monitoramento, quando estava sendo colocado em órbita, em operação efetuada pelas duas agências nacionais. Por um momento se teve uma enorme dúvida do que tinha acontecido, e onde tinha ido parar o tal satélite. Finalmente, depois de alguns dias veio a explicação oficial – e depois nunca mais se falou nisso – e ela era tão prosaica quanto o meu erro: os americanos estavam dirigindo o satélite usando o seu sistema de orbitagem, todo efetuado em milhas, e os britânicos estavam usando o seu, todo ele calculado em quilômetros. Pronto, foi o que bastou para o satélite se perder no espaço, para nunca mais ser localizado. Perderam, envergonhados, vários milhões nessa brincadeira, e ainda assim os americanos ainda não se decidiram pelo sistema métrico, praticamente universal. Este é um problema que persiste desde Thomas Jefferson, que por ter sido embaixador em Paris, preconizou a mudança, nunca realizada. O Brasil também teve a sua revolta de quebra-quilos, quando finalmente se decidiu a passagem para o sistema métrico, adotado desde a independência, mas nunca efetivado até bem mais tarde no segundo império: os comerciantes, obviamente, aproveitaram a oportunidade para roubar alguns tostões dos consumidores, incertos sobre as novas medidas, e daí se passou ao “quebra-quilos”. Bem, conosco não aconteceu nenhuma revolta popular, nem imensas perdas econômicas, ao contrário, economizamos alguns dias de hotel e viagem. 
Enveredamos, portanto, pelo mesmo caminho até as quedas do Niágara, onde comemos no mesmo Hotel Sheraton que já tínhamos estado em maio último, com um restaurante na altura das cataratas e plena visão sobre o conjunto, sem precisar enfrentar o tempo chuvoso, ventoso, “urlante”, lá fora. Depois, na altura de Buffalo, em lugar de seguir para o Sul, tomamos a I-90 em direção a leste, direto a Massachusetts e depois Connecticut, onde chegamos de noite.
Decidimos, portanto, concluir a viagem cinco dias antes do prazo, mas isso também porque eu tenho muito trabalho pelo frente: estou editando um livro sobre a política brasileira com meu amigo Ted Goertzel, e ele decidiu que tínhamos de tirá-lo, se possível, antes das eleições, o que é sempre uma aposta sobre o desconhecido. Em todo caso, passei metade da viagem revisando textos, organizando algumas tabelas, e preparando esta edição que precisa ser em Kindle, do contrário não ficaria pronta. Foi uma razão poderosa para voltar, pois ainda temos de ver capa e outros detalhes técnicos dessa edição. Vai se chamar The Drama of Brazilian Politics, mas ainda estamos acertando o subtítulo. Nada de muito dramatique, ou dramatik, mas uma coleção de estudos sobre a política brasileira no século 20 e 21, com ênfase no período contemporâneo. Meu capítulo é sobre mudanças de regime econômico em função das conjunturas políticas. Depois informo melhor.
Mas lá viemos nós, em desabalada carreira pela I-90, tão desabalada que acabei pegando uma multa no estado de NY, a única de toda a viagem, por estar a 87 milhas por hora, quando o limite era de 65. Justo: ninguém mandou afrontar a lei. Ainda não sei quanto vai custar, mas deve ser salgada...
Chegamos não muito tarde em Hartford, mas ainda trabalhei intensamente no livro, até a madrugada, e acabei dormindo toda a manhã desta terça-feira, para dar por encerrada, apenas agora, este último relato de viagem.
Ainda vou fazer um balanço geral da viagem, provavelmente a última desse tipo de aventura, pelo menos nos EUA. Ainda falta cruzar todo o Canadá, a Rússia, a China e vários outros continentes, mas por enquanto nos damos por satisfeitos. Agora, viagens por lugares mais costumeiros, da costa leste.
No total do trajeto, fizemos exatamente 7.842 milhas, ou 12.547 km, o que dá uma média de aproximadamente 500 kms por dia. Não está mau para quem pretende atravessar um país continente. Na verdade, a média das etapas é bem maior, pois estivemos por dois ou três dias em cada uma das grandes cidades que visitamos. Fizemos um pouco mais do que o planejado, aliás, como sempre acontece, mas isso eu deixo para comentar depois.
 Agora vou terminar de revisar o livro e depois volto para um balanço final.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 23 de setembro de 2014

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