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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Venezuela: mercado negro de alimentos controlado pelo Exercito

Na escassez, tudo é motivo de superlucros. Já detendo boa parte do mercado de drogas, que costumava garantir grandes ganhos, o Exército bolivariano se dedica agora ao mercado negro de produtos básicos, que garante lucros ainda mais extraordinários.
Como, quando, onde isso vai parar, não sabemos. O que se sabe é que a Venezuela deixou de existir como nação organizada: virou um caos total, um país sem lei, sem ordem, sem moral, sem respeito, sem futuro...
Paulo Roberto de Almeida


Exército venezuelano controla venda clandestina de alimentos
O Estado de S. Paulo, 30/12/2016
De acordo com investigação da agência Associated Press, em meio à grave crise econômica o tráfico de alimentos tornou-se uma indústria no país caribenho; preços cobrados em mercados paralelos gerenciados pelos militares são até 100 vezes maiores que o tabelado pelo governo
PUERTO CABELLO,VENEZUELA - Encarregado pelo presidente Nicolás Maduro de controlar a distribuição de comida após uma série de protestos no meio do ano contra a escassez de alimentos, o Exército venezuelano tem usado essa prerrogativa para vender mantimentos no mercado negro, revela uma investigação publicada nesta quarta-feira, 28, pela agência Associated Press.
Em meio à grave crise econômica provocada pela queda de reservas em moeda estrangeira, inflação e redução drástica no preço do petróleo, o tráfico de alimentos tornou-se uma indústria na Venezuela. Documentos e entrevistas feitos com mais de 60 membros do governo, empresários, trabalhadores do setor e ex-militares, mostram que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) estão no coração desse processo.
Os generais de Maduro controlam desde a venda de arroz e manteiga até a farinha de milho, ingrediente principal para a arepa - o prato nacional dos venezuelanos -, com preços até 100 vezes maiores que o tabelado pelo governo. Dono de um mercado em Caracas, José Campos tentou reabastecer sua venda em um mercado ilegal comandado por militares. "Os militares acompanhavam tudo e ganhavam sacos de dinheiro", disse. "Eles sempre tinham o que eu precisava."
Como resultado do tráfico de alimentos, a comida importada pelo governo com os escassos dólares provenientes do petróleo não chega a quem precisa. "Ultimamente a comida tem se tornado um negócio melhor que as drogas", disse o general da reserva Cliver Alcalá, que costumava vigiar as fronteiras.
O Ministério da Alimentação foi criado em 2004 pelo então presidente Hugo Chávez. Desde então, nacionalizou fazendas e fábricas de produtos alimentícios. Com isso, a produção privada de alimentos no país diminuiu drasticamente. Hoje, quase tudo que é consumido vem de fora da Venezuela.
"Se a Venezuela pagasse valores de mercado, poderíamos dobrar nossas importações. Em vez disso as pessoas estão passando fome", disse o professor de agronomia da Universidade de Zulia, Werner Gutierrez.
Preocupados com a alta incidência da cobrança de propinas, as três principais empresas que importam alimentos no mundo, todas sediadas nos Estados Unidos, deixaram de vender diretamente para o governo da Venezuela.
Um empresário sul-americano do ramo disse à AP ter pago milhões de dólares em propina a autoridades venezuelanas depois que a escassez de alimentos se agravou. Só o Ministro de Alimentação, o general Rodolfo Marco Torres, teria recebido US$ 8 milhões. O empresário falou sem se identificar porque não queria admitir publicamente seu envolvimento em corrupção.
Ainda de acordo com ele, as propinas são volumosas porque os empresários conseguem construir margens de lucro igualmente altas em negociações com o governo. Um desses contratos obtidos pela AP mostra que o governo venezuelano pagou US$ 52 milhões na compra de milho. Por esse contrato, foi pago um suborno de US$ 20 milhões.
O ministro não quis se pronunciar sobre as denúncias. No passado, ele declarou que não iria se envolver em brigas com a "oposição apátrida", que o governo acusa de travar uma "guerra econômica" contra o chavismo.
Alguns dos contratos envolvem empresas sem experiência com a produção de alimentos e outras que existem apenas no papel. Documentos mostram que Marco Torres fechou um negócio com a panamenha Atlas Systems International, uma empresa de fachada, assim como a J.A. Comércio de Gêneros Alimentícios, registrada na Grande São Paulo num endereço fantasma.
Foto: AP Photo/Ricardo Nunes
Soldado venezuelano vigia o tráfego de caminhões em Puerto Cabello, que recebe a maior parte dos mantimentos importados pelo país
As duas empresas enviaram US$ 5,5 milhões em 2012 para uma conta em Genebra, na Suíça, controlada pelos cunhados do então Ministro da Alimentação, o general Carlos Osório. O general, hoje responsável pela corregedoria da FANB, não respondeu às acusações, mas costuma vinculá-las também à oposição.
"O Estado tem a obrigação de combater a corrupção em todos os níveis do governo", disse o ministro da Defesa Vladimir Padrino. Ainda assim, o tráfico de alimentos transcorre entre os portos e mercados do país. Em Puerto Cabello, que recebe a maior parte dos mantimentos importados, é comum oficiais da alfândega segurarem navios até o pagamento de propinas, segundo estivadores locais.
Depois que a carga é entregue, funcionários da alfândega cobram a sua parte da propina e às vezes se recusam a dar prosseguimento aos trâmites sem pagamento.
Se os importadores se negam a participar, é normal ver a comida apodrecer.  "No ano passado enterramos contêineres com frango, carne e feijão estragado", disse o operador de guindaste Daniel Arteaga.
Depois que sai dos portos, os militares cobram propinas em postos de controle nas estradas, principalmente de caminhões de carga. No fim da cadeia de corrupção, alguns oficiais tomam conta eles mesmos de mercados clandestinos.
José Ferreira, dono de uma padaria, disse que tem que fazer sempre dois pagamentos para comprar seus produtos, como o açúcar, por exemplo: enquanto o primeiro paga o preço oficial do produto, o segundo cobre a propinas cobrada pelo militares, neste caso, 30 vezes maior que o preço oficial. "Não temos outra opção", disse. / AP


Crise venezuelana faz Cuba entrar em recessão pela 1ª vez em 20 anos
O Estado de S. Paulo, 30/12/2016
Em meio ao caos econômico, governo de Caracas teve de reduzir fornecimento de petróleo para ilha
Abalada pela crise da Venezuela, Cuba entrou em recessão pela primeira vez em mais de duas décadas, ao registrar uma queda de 0,9% do PIB em 2016, após um crescimento de 4,4% no ano passado. “As limitações no fornecimento de combustíveis e as tensões financeiras se agravaram no segundo semestre, levando à queda do PIB de 0,9%”, afirmou ontem o presidente Raúl Castro.
“Em 2017, persistirão as tensões e os desafios que podem até mesmo recrudescer em determinadas circunstâncias.” Esta é a primeira vez desde 1995 que o governo socialista prevê um resultado negativo do PIB, de acordo com a série estatística. No início dos anos 90, a ilha enfrentou sua pior crise com o colapso do comunismo na Europa e a dissolução da União Soviética, com contrações da economia que chegaram a 15% em apenas um ano.
Em meio ao recuo global no preço das matérias-primas, Cuba experimenta queda em suas exportações de níquel, produtos refinados de petróleo e de açúcar, além de uma redução nos ingressos de recursos pela venda de serviços médicos a países aliados exportadores de petróleo como Venezuela e Angola.
De acordo com analistas, a economia cubana foi prejudicada especialmente pela redução nas vendas de petróleo para a Venezuela, que está mergulhada em uma grande crise econômica. Caracas reduziu este ano em 40% o fornecimento de petróleo a Cuba. Por ouro lado, a retomada nas relações entre Cuba e Estados Unidos impulsionou o turismo e deve sustentar no curto prazo um crescimento maior do setor privado em razão de um aumento de remessas financeiras de expatriados.
Especialistas, contudo, temem que esse crescimento vá se reduzindo em razão das políticas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que prometeu “terminar” com a reaproximação entre os dois países caso Havana não ofereça a Washington o que ele chama de “um melhor acordo”.
Avanço. Na terça-feira, o ministro da Economia e Planejamento de Cuba, Ricardo Cabrisas, reconheceu, em um encontro com jornalistas a portas fechadas, que a principal razão para a contração deste ano foi uma redução das exportações para nações aliadas produtoras de petróleo afetadas pela queda no preço da commodity.
O porcentual sugere que a economia centralizada pelo Estado caiu com força no segundo semestre do ano, após uma drástica redução das importações, dos investimentos e do uso de combustível em razão de uma crise de liquidez. Para o primeiro semestre, o governo cubano anunciou uma previsão de crescimento tímido de apenas 1%.
Recentemente, Cabrisas garantiu, em pronunciamento feito na Assembleia Nacional de Cuba, que o panorama econômico havia melhorado, estimando crescimento sólido em 2017 para o turismo e a indústria açucareira, de acordo com artigos publicados por meios de comunicação oficiais. “Para o ano de 2017, prevemos um crescimento do PIB de 2%”, afirmou Cabrisas.

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