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sábado, 20 de janeiro de 2018

Fragmentos de memória - Paulo Roberto de Almeida

Sob o título acima eu publiquei, neste espaço, um artigo de Bolívar Lamounier, de 1 de setembro de 2016, sobre episódios de perseguição no passado do Brasil, no caso dele durante o governo militar. A postagem está aqui: 

http://diplomatizzando.blogspot.com/2016/09/de-memorias-e-lembrancas-bolivar.html

A esse artigo, eu agreguei comentários pessoais sobre o meu caso, que transcrevo mais abaixo novamente.
Mas gostaria agora de agregar um outro fragmento de memória que me foi reportado por um colega, mas cujo teor eu já pressentia e cuja realidade eu já desconfiava existir.
Todos sabem que, durante todo o reinado lulopetista, eu passei 13 longos anos numa longa travessia do deserto, sem qualquer cargo na Secretaria de Estado, fazendo da Biblioteca o meu escritório de trabalho, o meu perímetro de estudos, em substituição ao famoso DEC, o "Departamento de Escadas e Corredores", agora rebatizado com outro nome.
Permaneci no ostracismo, ou no limbo, como já referi diversas vezes, porque eu dizia e escrevia coisas que os companheiros, inclusive diplomatas, não gostavam de ouvir ou ler.
Eu, que durante o governo militar, passei sete anos num exílio voluntário, e tive de escrever e publicar artigos sob um "nom de plume", voltei a essa prática durante o reinado companheiro. Mas agora tomei conhecimento, indireto, obviamente, de outra realidade.  Esta é a realidade que me foi reportada recentemente:
A situação chegou a tal ponto que , mesmo tendo votos para Quadro de Acesso e promoção, o SG chegou a dizer claramente aos demais embaixadores, que meu nome estava proibido de ser sequer mencionado nessas reuniões.
Ou seja, o veto ao meu nome, a barreira ao meu desempenho funcional foi total.
O que dizer, agora, desses gestos que apenas rebaixam seus responsáveis, ou seja, os responsáveis pela diplomacia lulopetista na Casa de Rio Branco?
Não preciso me pronunciar: cada leitor que tire suas próprias conclusões.
Eu posso, talvez, agradecer aos meus verdugos pelo tempo extra que me foi concedido, sem qualquer função na Secretaria de Estado, para ler, refletir, escrever e publicar algumas outras coisas, que devem ter deixado meus "inimigos" ainda mais raivosos, e confirmados em sua missão de me manter afastado do trabalho corrente em minha carreira, aliás uma irregularidade administrativa, que poderia ser sancionada pelos órgãos de controle.
Transcrevo abaixo o que escrevi em setembro de 2016, com apenas um novo acréscimo: espero que a Secretaria de Estado, o Itamaraty em seu conjunto, não volte mais a esses tempos de perseguição ideológica, que nos remetem aos tempos infelizes dos dois totalismos mais conhecidos no mundo: o comunista e o nazifascista. Os companheiros se esforçam para retomar o seu reinado de "pensamento único".
Paulo Roberto de Almeida  
Brasília, 20 de janeiro de 2018



Da arte de suportar o arbítrio reservadamente
Paulo Roberto de Almeida 
Gramado, RS, 2/09/2016

Depoimento pessoal de Bolívar Lamounier sobre as graves consequências dos anos de chumbo da ditadura militar sobre sua carreira acadêmica, que ele relembra agora por motivo de mais um arbítrio cometido contra a democracia num momento em que todos acreditávamos ser justamente de início da correção dos muitos arbítrios cometidos contra essa mesma democracia já de muito baixa qualidade nos anos companheiros que agora se encerram (não por um bang, mas por um bimp, como se diz). 
Compreendo inteiramente este tipo de rememoração dolorosa de Bolivar Lamounier pois eu também teria meu depoimento pessoal a fazer no momento em que encerro, já no atual "governo golpista", um longo ostracismo, um segundo exílio com o dobro da duração do primeiro (sob o regime militar justamente), a que fui levado durante todos os 13 anos do reinado companheiro, sem qualquer cargo ou função na carreira diplomática, por ter, desde o início, ousado escrever o que eu pensava sobre o o governo que se iniciava em 2003, e que despertaram o meu ceticismo desde aquele primeiro momento. 
Só voltei a ter um cargo no Itamaraty agora, a partir de 3/08/2016, quando o último tinha sido no século passado, e ainda assim não exatamente no Itamaraty, pois se trata da função de Diretor do IPRI, um órgão subordinado à Fundação Alexandre de Gusmão, uma autarquia da administração indireta vinculada ao MRE.
 Durante todos estes longos 13 anos suportei quase silenciosamente (a não ser por meus muitos escritos de resistência ao regime que eu sempre considerei espúrio) minha travessia de um deserto funcional humilhante, durante  os quais fiz da biblioteca do Itamaraty o meu gabinete de trabalho, e do meu blog Diplomatizzando o meu "quilombo de resistência intelectual ".
Fiz um relatório parcial sobre a retomada de funções nesta postagem que fazia o balanço de um ano de atividades desde a minha volta do "exílio diplomático": 

3147. “Retomada do trabalho no Itamaraty, depois de 13 anos de regime companheiro: um relatório das atividades desde a volta do exterior”, Brasília, 6 agosto 2017, 21 p. Junção dos dois últimos trabalhos, 3145 e 3146, num único arquivo para fins de informação nas plataformas Academia.edu (https://www.academia.edu/34143789/Retomada_do_trabalho_no_Itamaraty_depois_de_13_anos_de_regime_companheiro_um_relatorio_das_atividades_desde_a_volta_do_exterior) e Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/318940308_Retomada_do_trabalho_no_Itamaraty_depois_de_13_anos_de_regime_companheiro_um_relatorio_das_atividades_desde_a_volta_do_exterior), com uma breve introdução sobre as razões dos dois textos. Postado parcialmente no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/retomada-do-trabalho-no-itamaraty.html).  
Não tenho certeza de que tudo terminou agora, pois obstáculos por ousar dizer o que se pensa sempre vão acontecer, mas não deixarei de oferecer, futuramente, o meu depoimento sincero sobre estes novos anos de chumbo, pelo menos no âmbito da diplomacia companheira, uma perversão completa do que possa ou deva ser uma política externa credível e legítima para uma nação democrática. 
Nunca me rendi aos totalitários de um partido que agora se revela ser uma vulgar organização criminosa.

Paulo Roberto de Almeida 
Gramado, RS, 2/09/2016
Addendum em 20/01/2018: 
Meus escritos mais conceituais sobre a diplomacia lulopetista foram publicados neste livro: 

Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8); disponível em formato impresso ou online, nas livrarias e sebos, ou junto à própria editora.

Outros escritos acumulados ao longo desses anos, foram compilados por mim neste arquivo depositado na plataforma Academia.edu: 
  Quinze anos de política externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017 (Brasília: Edição do Autor, 2017, 366 p. )Volume de ensaios compilados, disponibilizado na Academia.edu (link: https://www.academia.edu/33186849/QUINZE_ANOS_DE_POLITICA_EXTERNA_ENSAIOS_SOBRE_A_DIPLOMACIA_BRASILEIRA_2002-2017). Informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html).
 
Este outro arquivo é formado por artigos mais leves: 
Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009 (Brasília: Edição do Autor), Brasília, 26 dezembro 2017, 247 p. Compilação de três dezenas de escritos publicados em Via Política, dentro as oito dezenas constantes do registro. Feito em formato pdf, e divulgado através de Academia.edu (https://www.academia.edu/35509310/3219ViaPoliticaBook2006a2009.pdf), informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/um-contrarianista-no-limbo-artigos-em.html

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