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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Política energética no Brasil: debate e apresentação de livro organizado por Alexandre Hage - colaboração Paulo Roberto de Almeida

A convite do professor Alexandre Hage, participei do livro que ele organizou sobre políticas energéticas no Brasil e no mundo, segundo este registro que efetuei: 

1343. “O quadro global das questões energéticas: o Brasil e o mundo”, Brasília, 16 janeiro 2018, 25 p. Contribuição a livro organizado por Alexandre Hage. Publicado in: José Alexandre Altahyde Hage (org.): Política energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento e no relacionamento internacional (Curitiba: Editora Appris, 2020, 370 p.; ISBN: 978-85-473-4201-2; ISBN digital: 978-85-473-4202-9), pp. 13-40; disponível no site da Editora (link: https://www.editoraappris.com.br/produto/3756-poltica-energtica-no-brasil-sua-participao-no-desenvolvimento-e-no-relacionamento-internacional). Apresentação no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/trabalho-mais-recente-publicado-energia.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42781220/O_quadro_global_das_questoes_energeticas_o_Brasil_e_o_mundo_2020_). Relação de Originais n. 3229.

 Posteriormente, fizemos um debate online, segundo este registro que fiz: 

3771. “Política energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento econômico e no relacionamento internacional”, Brasília, 16 outubro 2020, 1 p. Lançamento de livro homônimo em formato virtual, no dia 19/10/2020, 14hs, em evento organizado pelo Nupri/Caeni da USP; notas sintéticas para desenvolvimento oral. Debate realizado em 19/10/2020, via online (link: https://www.youtube.com/watch?v=7SRf-ohN2PU).

 O debate foi realizado e eis sua ementa no Canal YouTube: 

Seminário - Debate sobre a Política Energética no Brasil (19.10.2020)

O livro Política energética no Brasil: sua participação do desenvolvimento econômico e no relacionamento internacional (Editora Appris, 2020) foi organizado por José Alexandre Altahyde Hage (UNIFESP) e é uma excelente oportunidade para se aprofundar em diversos momentos em que o Brasil explorou o seu potencial energético no século XX. Políticas voltadas para o melhor aproveitamento do petróleo, gás natural, biocombustíveis, etanol e energia nuclear são alguns dos temas que o livro aborda. A gravação é resultado de mais uma das atividades promovidas pela parceria CAENI e NUPRI da Universidade de São Paulo e contou com a colaboração de alguns dos autores do livro: Paulo Roberto de Almeida (MRE), José Alexandre Altahyde Hage (UNIFESP), Alencar Chaves Braga (Petrobrás) e Vanessa Braga Matijascic (USP). Veja o debate e, principalmente, acompanhe o que o livro pode oferecer para você no endereço eletrônico da editora.

Neste link: 

https://www.youtube.com/watch?v=7SRf-ohN2PU


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Debate: Política energética no Brasil e no mundo - livro organizado por Alexandre Hage, 19/10. 14hs.

 Convidamos o público interessado para o lançamento de livro:


Política Energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento econômico e no relacionamento internacional. (Editora Appris, 2020)

O livro foi organizado pelo professor José Alexandre Altahyde Hage da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Teremos como expositores deste debate alguns autores de capítulos:

Alexandre Hage (UNIFESP)
Paulo Roberto de Almeida (MRE)
Alencar Chaves (Petrobrás)
Vanessa Matijascic (USP)

O evento acontecerá virtualmente: 19/10/2020, segunda-feira, 14h.


A partir dos e-mails informados, enviaremos as informações de acesso a sala para o evento.

Atenciosamente,

Vanessa Matijascic
Professora Colaboradora e Pós-doutoranda do Departamento de Ciência Política da USP
Pesquisadora do NUPRI

sábado, 18 de abril de 2020

Trabalho mais recente publicado: Energia no Brasil e no mundo - Paulo Roberto de Almeida

O quadro global das questões energéticas: o Brasil e o mundo

Paulo Roberto de Almeida
Contribuição a livro coletivo. Publicado in: 
José Alexandre Altahyde Hage (org.): Política energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento e no relacionamento internacional (Curitiba: Editora Appris, 2020, 370 p.; ISBN: 978-85-473-4201-2; ISBN digital978-85-473-4202-9), pp. 13-40; disponível no site da Editora (link: https://www.editoraappris.com.br/produto/3756-poltica-energtica-no-brasil-sua-participao-no-desenvolvimento-e-no-relacionamento-internacional).
Relação de Publicados n. 1343.




Apresentação da Editora: 
A energia é uma promissora forma de o Brasil obter ganhos na economia internacional. Petróleo, gás natural e etanol podem trazer ao país recursos tão necessários ao necessário desenvolvimento, à criação de empregos de qualidade, pesquisa e industrialização em base avançada tecnológica. Além disso, a dimensão da energia não é apenas nacional, que interessa apenas ao Brasil; é também questão internacional, pois depende de acordos diplomáticos que o país integra.


Sumário 

PREFÁCIO, 7
Paulo Cesar Manduca, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, Unicamp

INTRODUÇÃO, 11
José Alexandre Altahyde Hage

1. O QUADRO GLOBAL DAS QUESTÕES ENERGÉTICAS: O BRASIL E O MUNDO, 13
Paulo Roberto de Almeida
2. BALANÇO SUL-AMERICANO: O GÁS NATURAL COMO VETOR DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA DO CONE SUL, 41
Edmilson Moutinho dos Santos
Bruna Eloy de Amorim
Drielli Peyerl
Hirdan Katarina de Medeiros Costa
3. A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA ENERGÉTICA NO BRASIL: AVANÇOS E IMPASSES EM UM ESTADO EM DESENVOLVIMENTO, 77
José Alexandre Altahyde Hage
Paulo Cesar Manduca
Ronaldo Montesano Canesin
4. SEGURANÇA ENERGÉTICA E REGIMES JURÍDICOS REGULATÓRIOS NO SEGMENTO DE E&P DO SETOR DE HIDROCARBONETOS, 99
Carolina Leister
José Raymundo N. Chiappin
5. CONTROVÉRSIAS ACERCA DOS SIGNIFICADOS E DAS PRÁTICAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA ENERGÉTICA, 145
Iure Paiva

6. CONTEÚDO LOCAL NO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS: DEBATE E PRÁTICA NO BRASIL DE 2000 A 2017, 173
Giorgio Romano Schutte
7. POLÍTICA DE DUTOS NO BRASIL, 209
Alencar Chaves Braga
Carolina Leister
8. POLÍTICAS PARA BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL, 235
Glória Pinho
Arnaldo Cesar da Silva Walter
9. O ETANOL NO MUNDO: POTENCIAIS DESAFIOS, 263
Eduardo L. Leão de Sousa
Geraldine Kutas
Leticia Phillips
10. A CONSTRUÇÃO DO BRASIL ATÔMICO: DE 1950 ATÉ 1971, 285
Helen Miranda Nunes
11. O PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO A PARTIR DE 1975: CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA E DESTINO ENERGÉTICO, 307
Vanessa Braga Matijascic

SOBRE OS AUTORES, 331
(...)

Paulo Roberto de Almeida, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica, e diplomata de carreira. 
Email: pralmeida@me.com 
Orcid: 0000-0003-4324-6863

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Disponível nos seguintes sites: 



































domingo, 1 de novembro de 2015

Sobre os metodos de trabalho dos pareceristas de revistas cientificas - Alexandre Hage

Considerações interessantes, uma espécie de mini-manual dos pareceristas anônimos, esses seres temidos e quase nunca conhecidos...
Paulo Roberto de Almeida

OBSERVAÇÕES SOBRE A FUNÇÃO DE PARECERISTA
Alexandre Hage
30 de Outubro de 2015

Talvez por ser rede social o Facebook se presta a ser via de desabafo de alguns professores e pesquisidores sobre a atual política editorial que abrange as revista de classificação A1, A2 e B1.

Há algumas semanas um professor da UnB comentou sobre os critérios que um indexador tem para albergar revistas, exigindo mudanças que às vezes tornam difícil sua admissão nesse mesmo indexador, como a obrigatoriedade ser os artigos escritos em inglês.

Há uma razão que força o indexador querer isso de uma revista, razão controvertida, por causa da "cultura editorial e científica" que está em vigência, segundo a qual o debate científico no Brasil não acompanha em importância aos existentes nos Estados Unidos ou sudeste asiático. E um dos motivos para isso seria a abundância de artigos em português, língua não franca para a ciência mundial.

Mas também vi desabafo de ex-editor de uma revista A que deve ter submetido artigo em outra publicação de mesmo nível e recebido negativa para publicação. Não é lícito aqui entrar no mérito do parecerista, uma vez que não conheço o texto nem a revista em questão.

O ex-editor fez um desabafo indicando que há um comportamento que deve comum em um grupo de pareceristas "A": a pouca sensibilidade e a visão desconsiderada que eles tem do autor, como alguém desprovido de personalidade e usando o anonimato para agressões ou algo que tenha tom de agressão. Deve saber isso por experiência de ter lido muitos pareceres assim.

É claro que a atividade de parecerista não é pessoal e não deve ser feita a partir de comiserações. Por isso mesmo que o parecerista não tem nome, da mesmo forma que o artigo também não informa o autor, para evitar constrangimentos.

Talvez não há ainda meio mais adequado para se aprovar um artigo que não o do método atual, em que há o emprego de pareceristas anônimos, como se diz às cegas. Por isso mesmo penso que seria interessante haver um tipo de manual de etiqueta e recomendação para quem aceitar ser pareceristas, justamente para não aumentar ainda mais a angústia de quem passou mais de um ano pesquisando e escrevendo assunto que fora negado. Evidentemente que não é pelo tempo gasto que o artigo tem mérito, é apenas um indicativo do problema.

A possível publicação de um artigo em revista A pode levar até três anos na atualidade. Isto porque as normas de submissão exigem que o artigo seja apenas submetido em uma revista apenas. O tempo de avaliação pode ser superior a mais de um ano. Já aconteceu do próprio editor de uma revista A sugerir ao autor para que retirasse o artigo porque não se concluía a avaliação depois de um ano e meio. Caso o artigo seja aprovado pode levar mais um ano ou mais para sua publicação. E isso tudo angustia mais ainda porque praticamente todos os departamento universitários fazem "amigável pressão" para que seus professores publiquem em grupo A ou B1 por causa da cultura que viceja no governo brasileiro, a de ser o professor um ser produtivo.

Assim, considerando a importância de ser parecerista acredito que normas de conduta podem ser uteis para aqueles que às vezes se entusiasmam com a prestigiosa tarefa. É fato que há um bom grupo de pareceristas que prestam com qualidade e respeito sua função. Para mim algumas recomendações são:

1 - Não avalie um texto se você não tiver condições emocionais em virtude de problemas pessoais ou mesmo acadêmicos.

2 - Não tenha vergonha de dizer ao editor que você não conhece o assunto para avaliá-lo. Não é porque sou cientista político que estou apto para ler tudo dessa área. Nem mesmo da minha própria área de pesquisa consigo ler tudo que se publica.

3 - Não se irrite com o texto submetido porque ideologicamente ele não combina com você. O que está em jogo não é a ideologia do autor, mas sim a qualidade do texto e a forma como ele é posto. No meu campo de estudo há pesquisadores liberais e marxistas que escrevem com qualidade seus assuntos. É básico, mas tem de ser dito: o autor tem o direito de seguir a ideologia que lhe é mais apropriada. Não é a ideologia que está em avaliação.

4 - Se você não aprovar o artigo não o faça porque o autor leu autores de mais ou de menos. Não diga a ele que ele devia ler fulano, sicrano ou beltrano porque cada um tem sua experiência e visão de mundo. Isso seria aquilo que chamam "engenharia de obra feita" depois de tudo feito chega alguém e fala que devia ter feito isso ou aquilo. Só faça recomendações se o texto for aprovado com restrição.

5 - Por ser ação anônima não destrate o autor, não despeje nele sua raiva e irritação. Não o chame de louco, de limitado, de doente. Não fale que sua redação não vale nada, que por você o autor desapareceria da terra. Às vezes pode se tratar de um autor com acúmulo de cultura maior que a sua e pode ser que sua escrita seja fruto de uma época em que era outra a percepção de correção e estilo.

6 - Ao negar um texto não seja pedante, aponte apenas as razões de sua negativa, não queria dar aula sobre o terma do autor.

7 - Cumpra o prazo correto.

Acredito que estas sejam recomendações que podem melhorar a vida de quem recebe a honra de ser parecerista e de quem produz para melhorar sua vida profissional.

Obrigado!!
Alexandre Hage

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Jose Guilherme Merquior: uma entrevista de 1981 sobre cultura, academia e coisas afins

Agradeço ao colega de academia e de lista no Facebook Alexandre Hage, a transcrição desta entrevista, que não tenho certeza de ter lido na época (provavelmente não, pois eu me encontrava no exterior, intensamente ocupado com bebê recente, e uma tese renascida, e não tinha acesso a muito material do Brasil, numa época em que internet ainda não existia).
Como foi ele quem a postou, na lista "Comunidade de Internacionalistas", e reincide no "crime" dois anos depois de uma postagem inicial, cabe começar pela sua introdução necessária, como abaixo.
 Paulo Roberto de Almeida

Alexandre Hage
October 12 at 12:14am

Esta postagem não é de RI, conforme sugere as regras da comunidade. Mas se trata de uma entrevista em que o autor versa a respeito daquilo que na qual se produz os estudos de relações internacionais, a universidade e a esfera da cultura. Por isso, a conveniência de exibi-la aqui.

JOSE GUILHERME MERQUIOR: MAIS UMA VEZ

Mais uma vez porque eu havia posto aqui esta providencial entrevista do diplomata, feita em 1981, há uns dois anos. Muitas pessoas solicitaram minha amizade virtual (algumas devem ter me excluído, não as culpo). Por isso, a conveniência de reapresenta-la aos interessados.

Em tempo de grande dificuldade com as instituições que deveriam chamar para si a responsabilidade sobre uma ideia de país acredito que é crível botar aqui mais uma vez o que pensava Merquior sobre uma série de coisas: o papel da universidade que já estava em situação complicada em 1981, como ele fez questão de comentar; certo desprezo pela cultura que hoje se denomina elitista; por outro lado o apego às vezes demagógico e incauto a posturas desqualificadas de cultura que boa parte dos intelectuais endossa. Tudo isso que estava em gestação há trinta anos hoje já é o pantagruel de nossos tempos.

http://perspectivaonline.com.br/2015/06/03/merquior/
    Entrevista com José Guilherme Merquior em 1981
perspectivaonline.com.br
Entrevista de José Guilherme Merquior, concedida à revista VEJA em 1981. Original aqui. Quarta-feira...


Ciências Humanas

Entrevista com José Guilherme Merquior em 1981


Entrevista de José Guilherme Merquior, concedida à revista VEJA em 1981.
Original aqui.
Quarta-feira passada, jantando com autoridades brasileiras na Granja do Ipê, residência oficial do chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, o ex-secretário do Estado americano Henry Kissinger foi saudado pelo ministro João Leitão de Abreu num discurso encastoado com finas citações de Platão e Aristóteles. Como Platão e Aristóteles não costumam freqüentar banquetes em Brasília, sua presença foi logo identificada como sinal da chegada ao governo de José Guilherme Merquior – diplomata de carreira, crítico literário e ensaísta com treze livros publicados que, em agosto, Leitão importou da embaixada brasileira em Montevidéu para compor sua equipe no Palácio do Planalto. Ali, uma das incumbências de Merquior é melhorar os discursos do governo.
O conselheiro Merquior, carioca de 40 anos, é um personagem um tanto exótico na paisagem cultural brasileira – e isso não só por ter passado boa parte de sua carreira em postos tranqüilos e refinados, ideais para buquineiros, na Europa. Sua maior singularidade é ter um temperamento polêmico numa terra em que a crítica literária só costuma ser implacável com best-sellers estrangeiros. Seu novo livro, “As Idéias e as Formas”, uma coleção dos artigos que escreveu para jornais nos últimos três anos, lançado este mês pela Editora Nova Fronteira, é um bom exemplo: lança farpas contra marxistas e liberais, a psicanálise, modismos culturais e os costumes da intelectualidade brasileira – que, a seu ver, está formando uma república das letras de vocação despótica.
Ainda ficaram fora do livro dois momentos extremos de sua contundência: a crítica em que acusa a professora paulista Marilena Chauí de plagiar o filósofo francês Claude Lefort e um ruidoso debate, pelos jornais, com o jornalista Paulo Francis, cujo romance “Cabeça de Papel” Merquior anunciou como treino para uma futura autobiografia intitulada “Cabeça de Vento”. Outro bom exemplo da desenvoltura com que Merquior fala de seus temas preferidos é esta entrevista concedida a VEJA na semana passada.

VEJA – Há um ano, o crítico Eduardo Portella deixou o Ministério da Educação convencido de que este governo não é lugar para intelectuais. O senhor acha que é?
MERQUIOR – Eu acho é que esse assunto merece ser tratado de forma desmitificadora. Cada vez que é discutido de maneira extremista, unilateralizada, o resultado é que se cria um mito. Na França, por exemplo, Régis Debray escreveu há dois anos um livro dizendo que intelectual, quando serve ao poder, é sempre como áulico ou absolutista. Mas veio o governo socialista de François Mitterrand e Debray está no Palácio Eliseu. A meu ver, uma atitude intelectualmente séria é não tratar com categorias maniqueístas: não se pode sacralizar a pureza do intelectual nem demonizar o poder do Estado, que não é um mal em si.
VEJA – Não há no Brasil uma desconfiança recíproca entre o Estado e os intelectuais?
MERQUIOR – É impressionante o número de intelectuais brasileiros que está dentro do Estado e faz de conta que não vê. O que está dando pretexto a tanta retórica ideológica sobre essa questão é apenas uma concepção vulgar de Estado, que só vê seu ramo executivo. Ora, essa não é uma concepção correta, nem jurídica, nem historicamente, nem para o Direito, nem para as ciências sociais. O Estado não é só o governo. Fica muito engraçado ver tantos intelectuais encastelados em posições universitárias, comportando-se como vestais críticas do poder do Estado. Estão fazendo tudo isso dentro do Estado e não sabem.
VEJA – O senhor antipatiza com a sociedade civil?
MERQUIOR – Antipatizo com o mito da sociedade civil, que me parece ter duas origens. Uma, brota da esquerda. Até 1970, certamente durante todos os anos 60. O pensamento marxista ou marxistizante na América Latina, preso ao conceito leninista de imperialismo, que era uma espécie de projeção da luta de classes para a política internacional, fez o resgate ideológico do Estado.
VEJA – Resgate ideológico?
MERQUIOR – Isso mesmo. Pela tradição marxista, o Estado sempre foi sinônimo do mal, de instrumento de opressão. Mas, de repente, através da transposição de que eu falava, os marxistas, tomados de fervor nacionalista, passaram a ver o Estado como denominador comum das classes contra a opressão internacional. Isso foi na era leninista. Agora, os marxistas brasileiros estão em plena era de devoção ao pensador italiano Antonio Gramsci, o que num certo sentido implica a volta às matrizes marxistas que sempre viram no Estado um instrumento de opressão. Essa é a origem esquerdista do mito da sociedade civil.
VEJA – Existe a origem direitista?
MERQUIOR – Claro. Os neoliberais brasileiros – que, aliás, andam precisando de correção semântica, pois na verdade são paleoliberais – juntaram-se à esquerda nessa festa de rejeição do Estado. Porque num país como o nosso o Estado é, ou pelo menos deve ser, um promotor de progresso, do equilíbrio social. Mas os paleoliberais rejeitam essa função do Estado e por isso se juntaram aos gramscianos na criação do mito da sociedade civil, chamada a resolver os problemas brasileiros sem a interferência do Estado ou contra ela. Isso é uma bobagem.
VEJA – Mas rendeu muito debate.
MERQUIOR – Uma das características defeituosas do nosso debate intelectual – quando ele ocorre, pois a outra característica é que ele é muito subdesenvolvido e raramente ocorre – é a tendência à imediata ideologização. Os problemas são sempre apresentados de maneira abstrata, principista e apriorista. Portanto, o coeficiente de análise empírica, de exame concreto de realidades verificáveis, é muito pequeno. O inglês Oscar Wilde dizia que os patrões falam de coisas e os criados de pessoas. No debate político e intelectual brasileiro, há muito pouca gente falando de coisas ou pessoas. Fala-se de noções abstratas.
VEJA – Com que resultado?
MERQUIOR – O resultado, em outras palavras, é que se restaurou no Brasil o estilo escolástico de debate. Uma das melhores definições de escolástica como estilo retórico diz que ela era uma maneira precisa de falar de coisas vagas. Para ver como isso funciona na prática, basta acompanhar a discussão sobre democracia: quase ninguém discute os mecanismos reais de representação. E o resultado é que o debate, político e intelectual, ficou muito chato no Brasil, pois a discussão sobre coisas concretas é sempre muito mais remuneradora que a discussão sobre princípios.
VEJA – Qual seria o remédio?
MERQUIOR – Pessoalmente, há muitos anos eu me espanto com a irresponsabilidade de alguns intelectuais que tendem a minimizar, em nome de uma vesga modernice, o problema do ensino básico, da alfabetização, de dotar as pessoas com o instrumental mínimo do pensamento articulado, que é a capacidade de falar e escrever corretamente. Fala-se mal, escreve-se mal, pensa-se mal no Brasil.
VEJA – Quem escreve mal?
MERQUIOR – Os cientistas sociais, os críticos literários, os políticos e, enfim, mas não por último, os escritores.
VEJA – São problemas de estilo?
MERQUIOR – Há problemas de estilo, sim. No caso dos cientistas sociais, por exemplo, existe o problema do jargão, uma certa resistência a escrever em português. Mas, antes disso, na base disso, há uma coisa pior: a dificuldade sintática, a penúria vocabular, a insuficiência gramatical. Aqui estamos falando de escrever errado mesmo.
VEJA – Escrever mal é pecado grave para um cientista social?
MERQUIOR – Até o fim dos anos 40, os cientistas sociais que tinham importância e prestígio no Brasil escreviam admiravelmente bem – gente como Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre. Eles renovaram o estilo literário das ciências sociais brasileiras, que estava ainda muito preso ao modelo de Euclides da Cunha. Agora, o estilo oficial dos cientistas sociais é o das teses universitárias.
VEJA – O senhor tem má vontade para com teses?
MERQUIOR – Teses não são necessariamente feitas para ser publicadas. Na Inglaterra, que tem excelentes costumes acadêmicos, encontram-se intelectuais notáveis, reputadíssimos, que aos 60 anos, com uma carreira acadêmica plenamente realizada, têm dois ou três livros publicados. Mas são livros de verdade
VEJA – Cite livros malfeitos.
MERQUIOR – Eu lembro “A Ideologia da Cultura Brasileira”, do professor Carlos Guilherme Motta, como um livro bem ruim. Não por ser propriamente mal escrito. Ele não tem distinção literária, mas também não é especialmente mal escrito. Ele é mal pensado, com uma arbitrariedade muito grande. Por exemplo, ao analisar o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Naquela fase, começo dos anos 60, não se pode negar que o ISEB fosse um grupo de intelectuais de esquerda pensando o Brasil com um certo grau de sofisticação filosófica, com leituras existencialistas, orteguianas. Carlos Guilherme Motta tratou esse movimento considerando apenas um artigo para jornal de Hélio Jaguaribe. O livro é bairrista. Tudo gira em torno da Universidade de São Paulo.
VEJA – Outro exemplo.
MERQUIOR – Cito um livro muito rico em informações, único do gênero, de consulta obrigatória, que eu mesmo tenho usado freqüentemente: “A História da Inteligência Brasileira”, de Wilson Martins. É muito mal estruturado. O método de organizar autores por ordem cronológica é um equívoco. O importante é a tendência literária, não a cronologia.
VEJA – Na sua opinião, quem escreve bem no Brasil?
MERQUIOR – O memorialista Pedro Nava escreve magnificamente. Os poetas Armando Freitas Filho e Mauro Gama, também. Há uma recuperação dos padrões de elegância na ensaística mais recente, em cientistas sociais, como Bolívar Lamounier. Estou citando, é claro, as novidades.
VEJA – E entre os escritores de vanguarda, algum nome merece destaque?
MERQUIOR – A vanguarda brasileira anda muito quieta, tão quieta que não a estou notando, ou se dissolveu – e não sou eu quem vai botar luto por isso. A última vanguarda fecunda no Brasil foi a de 1922, a geração modernista.
VEJA – Não está acontecendo nada de novo na cultura brasileira?
MERQUIOR – Literariamente, o único fenômeno que noto é a febre do memorialismo, uma tendência tão forte que já chegou até aos jovens, como o best-seller Fernando Gabeira. Gabeira, aliás, escreve bem. Pelo menos, escreve com graça, que é uma virtude que se exilou da literatura brasileira. Só li dele o primeiro livro, “O Que É Isso, Companheiro?”, mas chego a me perguntar se uma parte do sucesso que vem fazendo não é simplesmente porque escreve com graça.
VEJA – Como é o intelectual brasileiro?
MERQUIOR – No Brasil, há uma intelectualidade, mas não uma intelligentsia. A diferença entre uma coisa e outra é a mesma que distingue o gênero da espécie. A intelligentsia é um tipo de intelectualidade, um tipo cujo modelo histórico foram os intelectuais da Europa oriental no século passado, sobretudo no império czarista. O que a caracteriza é a separação em que os intelectuais vivem em relação à sociedade. São párias, até pela situação de sua renda e seu status. Os intelectuais brasileiros mais radicais não são párias de nossa sociedade, nem pela renda nem pelo status. Se disserem que são, eu respondo com uma gargalhada. Eles se beneficiaram do progresso econômico, subiram socialmente nos últimos anos como o resto da classe média. Por isso, têm uma retórica muito radical. Fingem que são uma intelligentsia. Mas, na prática, se comportam como um setor do salariado, têm impulsos corporativistas.
VEJA – O senhor quer dizer que os intelectuais são muito ciosos de seus interesses de classe?
MERQUIOR – Basta ver a prática da excomunhão em meios universitários, como se cassam mandatos intelectuais no Brasil. O AI-5 intelectual nunca foi revogado. É a classe se organizando em corporação. É típica a maneira como se reage no país à polêmica. Quando um intelectual no Brasil se sente incomodado por um crítico, ele não contra-ataca as idéias do crítico, ataca o próprio crítico. Foi o que aconteceu comigo, na polêmica com a professora Marilena Lefort…
VEJA – Quem?
MERQUIOR – Aliás, Marilena Chauí, que em seu último livro psicografou trechos inteiros do francês Claude Lefort. Quando eu denunciei isso em artigo, as pessoas que vieram em defesa da Marilena procuraram desqualificar minha pessoa, a pretexto de que eu trabalho para o governo. Eu me refiro a Maria Sylvia Carvalho Franco, conhecida patrulheira ideológica paulista. Há exceções, felizmente. Eu também critiquei Carlos Nelson Coutinho, porque não me convenceu sua tentativa de provar que leninismo e democracia são compatíveis. Ele entendeu que se tratava de uma discussão de idéias. Respondeu com seus contra-argumentos marxistas. Quando isso acontece, há polêmica. Do contrário, o que se tem é um bom exemplo do clero intelectual agindo como seita. É uma das características de toda seita é o puritanismo, a intransigência no plano da conduta e o dogmatismo.
VEJA – Aonde esse comportamento pode levar?
MERQUIOR – Está levando a uma grafocracia. Criticam-se muito as várias cracias, mas não a grafocracia, termo cunhado pelo marxista austríaco Karl Renner, depois da II Guerra, para designar essa vocação moderna do intelectual para exercer o poder através do que ensina ou escreve. O mal da grafocracia é que, com ela, o humanismo deixa de ser um movimento intelectual para se transformar numa ideologia, no sentido marxista da palavra, isto é, um sistema que reflete os interesses de uma camada intelectual que se comporta como clero.
VEJA – O filósofo Claude Lévi-Strauss, depois de ensinar na USP, escreveu que no Brasil todos querem ser eruditos, mas não têm a vocação nem o mérito. O senhor se considera um erudito?
MERQUIOR – Como categoria neutra, sem dar à palavra conotações de bem ou mal, admito que em alguns trabalhos realizei um certo esforço de erudição. Mas a minha preocupação com a erudição é instrumental, quero equipar-me com ela para tratar de determinados problemas. Mas essa conversa do erudito que leu o último livro é uma bobagem. Ninguém leu o último livro. Essa época acabou na Renascença, quando as grandes bibliotecas tinham 500 volumes. A minha tem 7 000 volumes e não tem o último livro. Por outro lado, a erudição também vai ganhando um ar pejorativo serve para descartar certas idéias, um certo tipo de pensamento a pretexto de que “são coisas de erudito”. A insinuação é de que existe outro saber, por graça infusa, que dispensa seus iluminados do trabalho de serem eruditos. Basta estar na posição “correta”. Eu gostaria de saber quem dá esse atestado de dispensa.
VEJA – Entre a esquerda e a direita, onde é que o senhor fica?
MERQUIOR – Alguém definiu admiravelmente bem as pessoas de minha posição ideológica. Foi o polonês Leszek Kolakowski, num texto que é uma pérola – “Como ser conservador, liberal e socialista”. No fundo da visão conservadora, existe um elemento muito positivo, que consiste em acreditar que nem todos os males humanos têm causas sociais, sendo portanto elimináveis através de mudanças sociais. Do lado liberal, a idéia básica, também verdadeira, é que a finalidade do Estado é dar segurança, sem esclerosar a sociedade com um sistema demasiado refratário à iniciativa individual. Enfim, o socialismo tem de válida a idéia de que o pessimismo antropológico, por trás da posição conservadora, não deve ter o poder absolutista de evitar as reformas sociais citadas pelo reformismo esclarecido.
VEJA – Trocando em miúdos…
MERQUIOR – …Eu me sinto um pouco um iluminista. Tenho confiança no progresso, acredito no progresso pela racionalidade. Essa crença já foi característica dos socialistas, mas hoje os socialistas mais sofisticados abandonaram seu compromisso histórico com o evolucionismo, direita e esquerda ficaram muito parecidas nesse aspecto: o repúdio aos tempos modernos. Adorno, que se proclamava neomarxista, chamou nossa época de satânica. No século XVIII, quem acreditava no progresso eram os filósofos. Atualmente, intelectual que acredita no progresso é coisa rara. Hoje em dia, quem acredita no progresso, felizmente, são as massas.