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sábado, 29 de setembro de 2018

E se os companheiros voltassem ao poder? - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre um eventual retorno ao poder

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: especulação; finalidade: levantar dúvidas]

A pergunta deveria ser: o que esperar de um retorno do PT ao poder?
Respondo especulativamente sobre o caso. Certamente não ocorrerá novamente a quase completa destruição da Petrobras, como aconteceu da primeira vez, quando os companheiros extorquiram a vaca petrolífera até a última gota de petróleo, ou melhor, até a última conta em banco, em todas as vertentes onde eles colocaram as mãos sujas. Acionistas e dirigentes já ficaram alertas para a quadrilha que assaltou o Brasil e os brasileiros nos seus três governos e meio.
Provavelmente, tampouco ocorrerá uma roubalheira tão desenfreada quanto a que pontuou a primeira experiência das ratazanas no poder, inclusive porque juízes, procuradores, instituições em geral, já estão alertas e atentas para a cobiça desmedida dos ladravazes, e não mais permitirão o festival de bandalheiras e falcatruas que horrorizaram o país naqueles anos.
Queremos também acreditar que não mais se assistirá à sucessão de tremendos equívocos econômicos e de incomensurável inépcia administrativa, que, juntos a um gigantesco espetáculo de corrupção inédita nos anais do país (e do continente, do hemisfério, do planeta, da galáxia), levaram à Grande Destruição, à maior recessão da história econômica do Brasil, causando milhões e milhões de desempregados e um déficit fiscal monstruoso.
Na política externa, certo pudor – se ele existe – talvez evite a repetição indecorosa do apoio indecente – desculpem a redundância – a ditaduras execráveis, da região e alhures, ou novas modalidades daquele estúpido determinismo geográfico da diplomacia Sul-Sul, essa miopia sem sentido. Deve também diminuir o protagonismo histriônico que se caracterizava mais pela transpiração do que pela inspiração.
Em síntese: mesmo que retornem ao poder, os companheiros, especialmente os mafiosos, serão estreitamente e estritamente vigiados, por outros companheiros, os paladinos da justiça. Mas, será que os instintos vão superar os comportamentos, ou que a contenção se manifestará ante as intenções?

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28 de setembro de 2018

domingo, 1 de outubro de 2017

O totalitarismo brasileiro em construcao - Carlos Pozzobon (2010)

No terço final de uma longa resenha do livro de Hannah Arendt, "Origens do Totalitarismo", Carlos Pozzobon oferece sua visão do totalitarismo brasileiro em construção.
Vale transcrever a partir desta postagem em seu blog de resenhas de livros:
http://carlosupozzobon.blogspot.com.br/2011/12/as-origens-do-totalitarismo.html

Totalitarismo brasileiro em construção

Carlos Pozzobon

 19/9/2010

Tudo começou na ditadura militar moribunda de 1964, onde um marxismo perseguido e multifacetado passa a trabalhar socialmente como proselitismo de uma causa que precisa de vínculos com organizações sociais. Encontra nos sindicatos obrigatórios uma dádiva dos céus para aprofundar raízes.
O peleguismo tradicional precisa ser substituído com o método de se dizer o contrário do que se vai fazer. Inicialmente, criticando a obrigatoriedade do imposto sindical – atitude importante para provocar simpatia na sociedade. A imprensa saúda o movimento como renovador da velha tradição fascista. O prestígio começa a fluir para líderes que não são mais do que apedeutas e marionetes. Em seguida, formados os sindicatos mais importantes, uma nova lei sindical vai dar organicidade às confederações, federações e entidades coligadas com, naturalmente, imposto sindical obrigatório, o contrário do que se dizia. Nos sindicatos, a fachada de modernidade se desmancha na prática do atraso. Agora o que se pretendia combater foi invertido.
Na intimidade da mente totalitária, ocorrem as inversões praticadas por Stalin: “sempre tomar o cuidado em dizer o contrário do que fez e fazer o contrário do que disse”. É a sociopatia juntando má-fé e compulsão para mentir, mas que rende extraordinários resultados eleitorais ao sistema. No poder, o partido precisa construir a todo custo uma maioria eleitoral para impedir a alternância. Essa maioria não virá de partidos políticos, mas de organizações sociais. O partido passa a controlar diretamente os sindicatos, impedindo por decreto a auditoria das contas sindicais pelos órgãos do Estado (TCU). Nos comícios, o partido convoca os sindicatos para uma demonstração de força, que assim demonstram sua subserviência ao poder. Comandando a turba, juntamente com as organizações sociais, estão os movimentos liderados por funcionários de entidades e empresas estatais.
Organizações sociais, do tipo MST e Via Campesina, já demonstraram o novo modelo de fascismo no campo: ao arbítrio de seus líderes, propriedades invadidas são acobertadas pelos vínculos partidários nas estatais, que fornecem a legalidade instrumental para declarar terras improdutivas, independentemente de sua real situação, e a liberdade para os saques. Um exército de mercenários sustentado por verbas da reforma agrária se mobiliza contra o trabalho agrícola de larga escala, retalhando a propriedade invadida em casas de campo para seus dirigentes, ou repassando a propriedade a terceiros, que, por sua vez, terminam gerando quase nenhuma produtividade. Verbas generosas salvam o movimento que aumenta seu contingente em todos os Estados da federação. Com pretexto para mobilizações, repetem que querem a reforma agrária, mas não querem coisa nenhuma.
Tudo isso é apenas fachadismo, um mito imaginário de justiça agrária para boi dormir. Esperamos pela alternância do Poder para algum dia virem à tona os cálculos do que se gastou com a reforma agrária desde a época FHC, e do quanto se produz nas propriedades desapropriadas. Aí então vamos calcular o quanto custou ao povo brasileiro o feijão da reforma agrária, e vamos desmascarar o mito dividindo a produção pelo dinheiro gasto historicamente. Vai ser uma comédia de erros ou mais uma conta para o desperdício espetacular dos recursos públicos do nosso sistema político.
Na genealogia do totalitarismo, uma crise econômica rompe a indiferença dos indivíduos para com a gestão governamental. Ao mesmo tempo, a delinquência política aumenta, os bodes expiatórios se sucedem, reconhecidos picaretas assumem o comando de instituições públicas. Um misto de besteirol com corrupção deslavada, de negociatas com agitação trabalhista, de cinismo com estupidez acomete a Nação.
Aparecem soluções salvacionistas. A levedura fascista borbulha com o esbravejar espumante de aventureiros, falidos, oportunistas, matusquelas, celerados ideológicos e o diabo-a-quatro. Às vezes, parece que a insanidade toma conta da Nação, e vai abrindo espaço para o rasgar sucessivo de leis, de procedimentos e atos legais. Uma onda de calúnia vai manchando reputações, denegrindo a inteligência, acuando a intelectualidade do país. A chusma aplaude entusiástica aquilo que em uma sociedade organizada é vigarice intelectual.
Em certo momento, vem o golpe: fecha-se o parlamento e surge o governo por decreto. Aparelha-se a polícia para limpar a sociedade dos elementos indesejáveis. O totalitarismo, assim como o nazismo, o stalinismo e tampouco o getulismo, não se baseia no poder ditatorial do exército. O governo ditatorial domina o aparato policial que, subordinado ao mandatário, age estritamente sob suas ordens. A neutralização militar é facilmente conquistada nas empresas e agências estatais, ou no lobby privado – o getulismo subornou os militares entregando cargos públicos aos tenentes.
Mesmo assim, o descontentamento entre os setores profissionais das forças armadas torna-se visível em manifestos e circulares. A tensão conspiratória aumenta. Algumas vozes aparecem pedindo intervenção militar, argumentando um totalitarismo irreversível. Outras vozes clamam mais alto pedindo prudência, temerosas de que a intervenção militar possa gerar uma sucessão de eventos incontroláveis. O passado é relembrado como um exemplo a ser evitado. Mas, a cada dia, o presente demonstra que as coisas avançam na direção de tudo piorar, mais do que no passado. No meio do relativismo, quem vai dar a palavra final é o povo que espera ser convocado às ruas.
Enquanto isso, a crise avança. No estado policial aparecem as grandes inversões. Mede-se o mérito pelas denúncias de cidadãos contra os inimigos do povo ou da nova ordem. Oferecem-se recompensas pela captura dos dissidentes. Slogans nacionalistas, refrões musicais, gingles do governo e propagandas acintosas produzem a lavagem cerebral necessária à legitimidade do regime.
A imprensa livre é atacada consecutivamente — jamais ao mesmo tempo. Primeiro, um grupo jornalístico é atingido por uma lei criada contra uma particularidade das empresas de comunicação. Depois, são forjadas fraudes contra outros, intervenções garantem o silenciamento, enquanto novos decretos dão legitimidade ao regime para garantir o avanço de grupos empasteladores que exultam com os novos tempos.
Neste momento, é preciso fechar as vias de informação internacionais. A Internet é constantemente manipulada para bloquear os sites que criticam o novo regime. Para não provocar a reação de toda a sociedade, o fechamento vai se sucedendo em intervalos, enquanto o governo vai ampliando seu poder de penetração no financiamento de novos portais de comunicação, de rádios e jornais, que passam a legitimar o avanço fascista e aumentar o tom de apoio ao governo.
Prisões na calada da noite, espancamentos, confissões forjadas e irradiadas para todo o país envergonham a serenidade do povo e avacalham a sobriedade indispensável à ordem republicana. Quando uma pessoa é invadida em sua intimidade, com propósitos de calúnias e dossiês, logo um exército de mercenários ocupa o maior número possível de espaços de discussão para destruir a respeitabilidade de inocentes. Baseando-se na estratégia de culpar a vítima para jogar na mesma lama violadores constitucionais e inocentes difamados, uma poderosa máquina de jornais e revistas paga com dinheiro público põe-se em ação para enxovalhar pessoas. Desavergonhados riem-se cinicamente do constrangimento de quem tem uma reputação a defender.
O país vive uma constante mudança: currículos escolares, cursos de patavina para valdevinos são prestigiados, concursos literários, poemas exaltando o grande chefe ou o sacrifício dos espoliados pelo antigo regime são consagrados como peças literárias imortais. Uma simbologia estabelece o novo status social para a oligarquia emergente: o regime começa a acumular vaidades.
Entretanto, as coisas começam a dar errado na ordem econômica. Por razões óbvias, o regime não foi capaz de se manter dentro dos limites da sanidade fiscal. E então o plano inclinado da ordem moral revela-se com o mesmo declive na ordem econômica. Os bodes expiatórios começam a dar explicação para o fracasso. Os delinquentes intelectuais voltam-se para o passado, com o pretexto de aliviar a crise com motivações remotas. A história é reescrita para glorificar os dirigentes, o presente e a verdade universal da linha do partido. Mobilizações de massa, comícios gigantescos colocam em ação o aparelho estatal e assumem o espetáculo expiatório da própria decadência do regime em um tom pomposo e solene.
Para salvar as aparências, delegações de economistas saem à cata de empréstimos externos. Uma engenharia financeira é colocada a serviço da empulhação dos déficits e da desconfiança na moeda. A inflação começa a devorar seus filhos mais fracos. Por algum tempo, o regime oscila entre a estabilidade da ordem e o terror patológico da insurreição. Em ritmo não de todo controlado, começam a aparecer os primeiros sinais de descontentamento.
A ordem balança, e a estabilidade fica condicionada à sua capacidade de dar resposta repressiva aos inimigos pontuais. Em todos os locais, a despersonalização aumenta e a expressão espontânea do povo some como por encanto. Todos fazem de conta que não se conhecem, que nunca se viram, que não são uma sociedade interativa, a menos do espírito conspiratório e da insurgência latente.
A sorte do regime está selada com as vagas incertas das circunstâncias internacionais. Ninguém sabe ao certo até quando o festival de arbitrariedades vai durar. Ninguém sabe ao certo se algum dia o país será capaz de se curar da insensatez. Mas a verdade é que, no fundo, no mais recôndito de todos os seres, a esperança não passa de uma vela acesa ao relento.
De repente, uma oposição fragilizada é cooptada na rede da oligarquia perene. O regime, sempre obsequioso em criar vínculos e benesses para arregimentar novos seguidores, sabe que precisa de ‘reformas’ para se revitalizar. E aquilo que era a oposição multifacetada passa a ser situação integrada, maldizendo o passado, cortando gastos, atingindo órgãos perdulários há muito tempo para serem extintos. Refaz-se a moeda, cortam-se os zeros inflacionários para se manter tudo como está em nome de uma constituição que, examinada a fundo, não passa de arranjos vexaminosos.
É o suborno intelectual obtido com recompensas políticas. A perenidade do regime está em sua capacidade de subornar. Subornam-se com viagens, com horas-extras, com cargos de comissão, com um segundo emprego, com vantagens, com retroações de benefícios no tempo, com toda uma maquinaria inexistente no capitalismo, e que faz do regime de iniquidades algo muito melhor do que qualquer coisa jamais descoberta na face da terra para os que participam do reservado círculo do poder.
Cria-se uma linguagem para lastimar a pobreza que o regime solenemente criou: nela, palavras-chave como elite, aristocracia, capitalismo, forças ocultas, exploradores, imperialismo ou qualquer outra, formam o glossário mais frequente no vocabulário político expiatório.
Na folha de pagamento dos governos estaduais, 30% do funcionalismo não trabalha, dedica-se ao absenteísmo alternado. Os demais, ao burocratismo feroz. O impedimento é sua marca mais nítida. Departamentos inteiros dedicados a aplicar regras de proibições, discriminações, exceções, de senões e mais senões com certidões, atestados e quetais.
Como casas da mãe-joana, as Assembleias Legislativas desfilam famílias inteiras na folha de pagamento de assessores. Nas prefeituras, em paralelo com os abnegados de sempre, o burocratismo e os maus tratos com o patrimônio público chegam às raias de sabotagem de guerra não declarada. Congresso e Senado são gerenciados por atos secretos. Nas prefeituras e universidades, são comuns salários duplos, triplos, quádruplos. Funcionários fantasmas se acumulam do Oiapoque ao Chuí.
A entropia produzida pela delinquência partidária chega a um ponto tal que as poucas vozes discordantes ficam reduzidas a uma minoria inexpressiva eleitoralmente — é a inteligência do país relegada a uns gatos pingados, o fascismo perene, a sociedade do vale-tudo, o regime que fornece recompensa àqueles a quem a astúcia está associada com as piores qualidade morais.
O dinheiro dos impostos de quase 130 milhões de brasileiros e de milhares de empresas é gasto com 5-10 milhões de funcionários públicos e dependentes, dos quais 1 milhão de privilegiados, e dentre esses, uns 100 mil formam uma oligarquia intocável, inamovível e inimputável. Assim é o regime fascista. Ele se baseia na lógica do consórcio: para se ter uma oligarquia, é fundamental que um não se imiscua no butim do outro, e que haja divisão entre todos. Assim, todos se absolvem e se protegem, igualando-se na mesma promiscuidade libertina.
Doenças intelectuais invadem a consciência da Nação com o empreguismo, o coitadismo, o concessionismo, o assistencialismo, o niilismo, e um sistema político que não se renova, que não se extirpa, sustentado por um judiciário que negocia sua tabela de preços aos cochichos, e que avacalha o bem pensar e a própria lógica com certas absolvições.
A contradição entre a lei e a moral provoca o espírito de depredação do patrimônio público. É o carimbo do brasileiro revoltado. A qualquer momento, e sob qualquer pretexto, aquilo que foi conseguido a duras penas para a população vem abaixo com o vandalismo explodindo pela prática corriqueira da exclusão social e dos privilégios legais. Comportamento anárquico forjado no dia-a-dia do ressentimento.
Estelionatários, fraudadores, peculatários, corruptos, todos se apresentam para o coquetel licitatório de onde sairão os contratos mercantis para a transferência de bens e serviços com descontos por fora, com dinheiro na cueca, com contas offshore, com maletas de mão em mão.
Parece que o princípio marxista de ‘a cada um segundo suas necessidades’ toma conta dos propinistas. Todos cobram uma parte, a corrupção se espalha como uma praga. As eleições são o sintoma evidente. Cabos eleitorais se licenciam dos empregos no magistério com remuneração garantida, migram para os gabinetes de assessorias e cargos comissionados, e se apresentam como organizadores de comícios, de panfletagens, de visitas de candidatos.
A máquina pública é posta em ação para a disputa. Vence o mais forte, o Partido que acumulou mais dinheiro do butim, e mais infraestrutura no aparelhamento estatal. O povo trabalhador contempla estupefato entre a sandice dos discursos e a cara-de-pau dos pretendentes. Às vezes, parece que certos candidatos não têm superego, pois, tomados pela pusilanimidade e desfaçatez do momento, lhes falta o recato inerente à vida social. Seus discursos são torpezas pronunciadas no maior descaramento.
Quando afinal os desmandos atingem o ápice, a Nação está empobrecida, décadas foram perdidas, a produtividade em baixa, os serviços públicos aviltados, e parte do povo moralmente depravada. Nova liderança assume o poder para acabar com os desmandos. E o que se consegue auditar do vendaval de destruição do patrimônio da Nação é muito pouco, tímidas reformas ficaram no meio do caminho.
Mesmo assim, uma nova época é celebrada, novas esperanças ressurgem, um novo otimismo toma conta do espírito da Nação, que já traz embutido o germe de sua destruição pela fraqueza intelectual de seus epígonos ou pela manutenção do ancien régime, sob as cinzas do novo tempo.
O espírito de conciliação faz o estrago previsto ao manter, sob o manto da legalidade, a proteção dos estelionatários. Em nome da paz social, estende-se uma anistia aos velhos prevaricadores, em geral, com aposentadorias integrais — forma de suborno preferida no século XX.
Sob as mudanças introduzidas, tudo melhora desde que se conservem as raízes do atraso, que brotam novamente com o mesmo romantismo da igualdade, da moralidade, da virtude, agora com novos protagonistas, com uma nova geração. Com a tomada do poder, termina o novo ciclo, tudo se dissolve, e se chega à infeliz contabilidade de que o engodo é o mesmo, só mudaram as moscas. Do ponto de vista moral, não cruzamos o século XVIII.
Lampedusamente, tudo muda, tudo se transforma, mas não a ponto de se derrubar a oligarquia perene e se descobrir o virtuoso caminho da grande Nação que nos foi reservada pela natureza.

FIM — 19/9/2010

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A tropa de choque do Alvorada: a corte se desloca (Estadao)

Equipe de ‘resistência’ deverá ter cerca de 40 pessoas no Alvorada

O Estado de S. Paulo,7/05/2016


Plano é que staff da presidente Dilma Rousseff durante afastamento reúna ministros e assessores
A falta de uma regulamentação específica sobre quais direitos tem um chefe de Poder afastado provoca expectativa no Palácio do Planalto. A intenção do governo é que, caso o processo de impeachment seja instalado no Senado e se confirme o afastamento deDilma Rousseff, a presidente possa contar com até 40 pessoas em seu staff da "resistência", no Palácio da Alvorada.
Aí estariam incluídas até mesmo as quatro ajudantes de ordem, assessores diretos e pessoal do serviço médico, além de ministros. Essa equipe seria coordenada pelo assessor especial Giles Azevedo.
Dilma pretende fazer pelo menos mais cinco cerimônias para reiterar o discurso de que está sendo "vítima de golpe".
Auxiliares da presidente já organizam para ela uma despedida. Confirmado o afastamento, o plano é que ela desça a rampa do Planalto ladeada por ministros e representantes de movimentos sociais.
A ideia é que ela caminhe até o Alvorada, uma distância de sete quilômetros do Planalto, acompanhada por seus apoiadores. A presidente resiste, pois o gesto pode ser encarado como se fosse uma comemoração, com a Praça dos Três Poderes tomada por militantes. A participação de Lula ainda é uma incógnita.
No Alvorada, a presidente continuará tendo direito, nas avaliações preliminares, à estrutura que a atende hoje. Ali trabalham na manutenção e funcionamento do palácio mais de cem pessoas - de telefonistas, seguranças, chef de cozinha e assistentes a costureira, além de Marly, sua fiel governanta.
Como não existe legislação tratando dos direitos de um presidente afastado, o assunto está sendo tratado informalmente. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, já conversou sobre o tema com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. O Senado é que deverá definir as regras de uso de meios no afastamento.
Além de Giles, o assessor internacional Marco Aurélio Garcia acompanhará Dilma. Ele vai ajudar nas agendas que ela quer cumprir fora do País. Álvaro Baggio, que hoje cuida da agenda presidencial, também foi destacado para acompanhá-la.
Os nomes ainda estão em fase de definição. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, já se colocou à disposição para ficar ao lado de Dilma, assim como a presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, e Carlos Gabas, que assumiu recentemente a Secretaria da Aviação Civil.
A definição no caso dos que estão nos ministérios e cargos de alto escalão dependerá de quem terá direito ou não à quarentena, que é o recebimento de salário por seis meses após deixar o cargo. Em relação a salário, o Planalto entende que a presidente tem direito a recebê-lo integralmente porque se encontra apenas afastada das suas funções.

sábado, 12 de março de 2016

Banco de "desenvolvimento" do BRICS: um grande negocio para a China - James T. Areddy (WSJ)

Uau! Um banco MULTILATERAL que depende de UM SÓ país? Nem os EUA, nos tempos gloriosos e exorbitantes do dólar-rei dispuseram de tamanho poder exclusivo nas instituições de Bretton Woods, FMI e Banco Mundial, pois sempre tiveram de dividir as responsabilidades pelas decisões com seus principais parceiros (notadamente os europeus e japoneses). Agora, os quatro outros membros do BRICS dependem da China, e só da China, para todas as operações que desejarem empreender, seja financiamento de infraestrutura em países em desenvolvimento (para maior benefício de construtoras chinesas, com a legitimidade de um selo "multilateral"), seja para emissão de seus próprios títulos a partir do NDB. Que o governo companheiro tenha concordado em colocar algumas centenas de milhões de dólares nesse empreendimento, a pretexto de "alavancar" suas próprias iniciativas nas duas vertentes (ou seja, retirar mais do que colocaram), não impede que toda a iniciativa é uma grande vitória para a China, e o Brasil dos companheiros, mais uma vez, coloca a azeitona na empada dos outros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de março de 2016

Novo banco do Brics depende do mercado chinês

Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. 
Homem passa diante de propaganda promovendo o yuan. A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. Photo: Reuters
Quando os líderes de cinco das economias de crescimento mais rápido do mundo se reuniram numa conferência, há quatro anos, concluíram que um banco de desenvolvimento daria a eles mais voz nas questões financeiras internacionais. Agora, muitas dessas economias estão em apuros, e os planos imediatos do banco dependem da China.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a instituição recém-criada pelos países que formam o grupo chamado Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — está esperando a aprovação de reguladores chineses para emitir cerca de US$ 1 bilhão de títulos de longo prazo em yuan, disse ontem o presidente do banco, K.V. Kamath, ao The Wall Street Journal.
A decisão chinesa ajudará a determinar quando o banco poderá começar a emprestar. O conselho da instituição vai começar a analisar propostas a partir de abril.
Um projeto possível é uma usina hidrelétrica no oeste da Rússia, parte dos planos do banco de se concentrar em projetos de energia renovável.
Ele pretende emprestar para a África do Sul em rand, a moeda local, para limitar a exposição do país a possíveis oscilações do dólar. Dirigentes do banco dizem que os desembolsos podem chegar a US$ 2 bilhões neste ano e mais do que triplicar em 2017.
O mercado chinês de títulos de dívida é maior que os dos demais países e, teoricamente, mais favorável ao banco porque ele já obteve uma nota de crédito AAA no país, o que reduziria o custo de suas captações.
Mas os empréstimos no mercado de dívida interbancária do país são altamente regulados.
“Certamente, captar recursos na China é uma oportunidade”, diz Kamath. “Esperamos, nas próximas seis a oito semanas, conseguir realizar nossa primeira emissão de títulos na China.” Ele acrescentou que nenhum outro mercado de dívida parece viável no momento.
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O Novo Banco de Desenvolvimento, que vai funcionar como um mini-Banco Mundial para os países do Brics, ilustra os esforços dos países emergentes, principalmente a China, para conceber novas instituições financeiras internacionais que atendam a seus interesses. O banco nasceu numa conferência realizada na Índia em 2012.
Num comunicado, os líderes do Brics expressaram frustração com sua limitada “voz e representação” nos fóruns globais, dado o tamanho de suas economias, que na época cresciam a uma média de mais de 5% ao ano.
Desde então, a queda dos preços das commodities levou o Brasil e a Rússia à recessão e enfraqueceu a África do Sul, enquanto a China atravessa uma desaceleração dolorosa. Do grupo, apenas a Índia deve registrar um crescimento mais rápido neste ano do que quando o banco foi concebido.
O FMI prevê um crescimento médio de 2% neste ano para os países do Brics.
O NBD deve começar a operar em um momento delicado. O rebaixamento da dívida soberana de alguns de seus países-membros, inclusive o Brasil, pode elevar o custo dos empréstimos para o banco nos mercados internacionais. E a desaceleração do crescimento torna ainda mais arriscados os projetos de infraestrutura de baixo retorno que os bancos de desenvolvimento costumam financiar.
Kamath disse que as economias permanecem dinâmicas e ainda precisam de financiamento para se desenvolver. “Elas podem estar desacelerando, mas, juntas, contribuem mais para o crescimento que o resto do sistema”, disse ele.
A China é essencial para as tentativas dos mercados emergentes de criar novas estratégias financeiras globais. O país também é patrocinador de outro banco de desenvolvimento recém-lançado: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.



sábado, 23 de janeiro de 2016

Manual pratico de decadencia: a qual pais se aplica? - Paulo Roberto de Almeida

Em 31 de janeiro de 2007, ou seja, nove anos atrás, eu fiz uma lista das situações nas quais um país pode estar sendo conduzido para, ou já estar em plena decadência.
Será que se aplicam a um país conhecido?
Vejam um excerto:

"... pode-se saber que um país, ou uma sociedade, está em decadência quando:

1. O sentimento de mal-estar se torna generalizado na sociedade, ainda que possa ser difuso.
2. Os avanços econômicos são lentos, ou menores, em relação a outros povos e sociedades.
3. Os progressos sociais são igualmente lentos ou repartidos de maneira desigual.
4. A lei passa a não ser mais respeitada pelos cidadãos ou pelos próprios agentes públicos.
5. As elites se tornam autocentradas, focadas exclusivamente no seu benefício próprio.
6. A corrupção é disseminada nos diversos canais de intermediação dos intercâmbios sociais.
7. Há uma desafeição pelas causas nacionais, com ascensão de corporatismos e particularismos.
8. A cultura da integração na corrente nacional é substituída por reivindicações exclusivistas.
9. A geração corrente não se preocupa com a seguinte, nos planos fiscal, ambiental ou outros.
10. Ocorre a degradação moral ou ética nos costumes, a despeito mesmo de “avanços” materiais."

Para ler este trabalho, em sua integralidade,


Pequeno manual prático da decadência
(recomendável em caráter preventivo...)

Paulo Roberto de Almeida
Colaboração a número especial da revista Digesto Econômico
Revista da Associação Comercial de São Paulo.
 (ano 62, nr. 441, jan-fev 2007, p. 38-47; ISSN: 0101-4218)

veja este link de uma postagem anterior:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2013/04/pequeno-manual-de-decadencia-para-uso.html

Não se assuste: ainda não piorou tudo o que pode, e tudo o que vai ainda piorar. Com certeza.
Se nos guiarmos pela experiência argentina pode demorar mais ou menos 80 anos para reverter...
80 anos???!!! Mas são mais de três gerações!
Será que estamos condenados a isso?
Agradeça aos companheiros.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de janeiro de 2016

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Numero de estatais: acha pouco as existentes? Vem ai mais uma, e das grandes... - Carlos Brickmann

COMPUTATUDO
Carlos Brickmann
Edição dos jornais de quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Quando as estatais não dão certo, a saída oficial é sempre a mesma: gastar ainda mais dinheiro para ampliar suas atividades. Tem suas vantagens: se já não funcionava com menos atividades, com mais é que não anda mesmo. E abre-se caminho para investir mais uns trocados. Não vai funcionar, claro; e investimento novo será necessário. A festa só termina quando acaba o nosso dinheiro.

A novidade é a Grande Empresa Estatal de Informática, Comunicação e Tecnologia, juntando DataPrev, Serpro e Telebras (a Telebras nega, mas a decisão final será tomada em nível superior, e à Telebras só caberá concordar ou concordar).

Não deixa de ser interessante: se a Apple nasceu numa garagem, se a Microsoft foi criada por dois estudantes, se o Google foi criado quase sem capital, imagine uma empresa que nasce com sete mil funcionários e perto de US$ 1,5 bilhão de capital! Só que não: se o Governo se mete, até dinheiro demais atrapalha.

Há alguns anos, quando tentaram criar na marra uma indústria brasileira de computadores (com investimento do Banco do Brasil), o sistema operacional Sisne não deslanchou, e o computador, descobriu-se pouco depois, era um Ferranti inglês, projetado para ajustar a mira de canhões de navios. Não era inteiramente importado, claro: em cima da marca Ferranti havia uma placa com o nome Cobra. E o Cobra reconhecia acentos e cedilha melhor que o Ferranti. Em resumo, nada deu certo, apesar do esforço do Governo e do investimento maciço.

Que nome terá a nova empresa? Computabras? Brascomputa? ComPutaTudo?

Lalau Tower
Uma empresa-gigante, uma campeã nacional, precisa de um prédio condigno para funcionar. Simples: fundos de pensão ligados ao setor contratam uma empreiteira habituada ao trato com investimentos públicos, recém-saída de um acordo de leniência, para construir um belo prédio.

A Gigante da Computação irá então alugá-lo por um período de pelo menos vinte anos, mobiliá-lo em concorrências públicas rigorosamente legais, contratar os serviços terceirizados de segurança, limpeza, alimentação, talvez - sejamos modernos! - computação. E, já instalada, poderá se dedicar à implantação de subsedes em todo o país. Exagero?

domingo, 6 de dezembro de 2015

Psicanalise dos Contos de Fadas: versao companheira - Paulo Roberto de Almeida e Carlos Brickman

O pequeno texto abaixo é do conhecido jornalista político Carlos Brickmann, mas ele me aparece, nesta manhã de domingo, 6/12/2015, quando eu tinha recém concebido mais uma nota em torno da psicanálise da gestão companheira no contexto da Grande Destruição por eles provocada.
Por isso me permito fazer anteceder a transcrição do texto de Brickmann, por esta pequena nota que preparei para tentar explicar como as coisas aconteceram no reino do Nunca Antes.

PSICANÁLISE DOS COMPANHEIROS
Paulo Roberto de Almeida
Anápolis, 6 de dezembro de 2015

Sessão de psicologia das massas populares, paga com pixulecos calibrados

Os velhos apparatchiks sempre olharam para aquela critatura de olhos arrevesados:
"Então uma arrivista, uma oportunista, uma transfuga do velho populismo trabalhista, vem agora roubar o nosso lugar, a posição política que nos cabe de direito como fundadores da nossa organização?"

A própria deve pensar:
"Esses neobolcheviques, esses guerrilheiros reciclados, quem eles pensam que são? Se meteram em tantos malfeitos que acabaram nas mãos na polícia, e agora vêm reclamar? Pois foi bem feito, ninguém mandou ser tão amadores, tão irresponsáveis nessas operações especiais..."

O chefão de todos eles:
"Eu fui colocar essa bichinha como um favor, passando na frente de velhos companheiros, e agora ela me apronta tudo isso? Faz uma bagunça inacreditável na minha base de apoio, se recusa a aceitar recomendações para administrar esta birosca, pensa que sabe de tudo, só porque frequentou umas merdas de cursos dos nossos aloprados, e acha que pode sobreviver sem nenhum apoio, só com aquelas frases que ninguém entende..."

A própria indo longe no pensamento:
"Esse cara deve achar que é um deus: fica no meu rabo o tempo todo, não me dá descanso. Ele não se dá conta que eu só estou nesta merda por causa da sua ambição desmedida, de sua sede por dinheiro, de sua vontade de roubar tudo de uma vez só? Que tudo isso está nesse pandemônio por causa da herança maldita que ele me deixou, ainda com aqueles guerrilheiros reciclados querendo continuar a roubar, inclusive na minha horta?"

Os velhos apparatchiks:
"Agora já deu, agora vamos prá cima dela, é ou vai ou racha. Vamos fazer um último esforço para salvar o mandato daquela desmiolada, mas depois não queremos mais saber. Ela destruiu tudo o que a gente tinha construído ao longo dos anos, tudo perdido, por causa da incompetência daquela oportunista, que o chefão colocou lá só para continuar mandando."

O chefão, desconsolado:
"Agora não tem mais jeito. Mas eu não vou para a cadeia por causa desses babacas irresponsáveis, desse imbecis que nem sabem fazer um serviço direito. Tudo o que aconteceu nos últimos anos foi por culpa exclusivamente do poste, e é isso que eu vou dizer pros home quando me perguntarem."

Terminou a sessão: tem um japonês batendo na porta...
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UM SONHO IMPOSSÍVEL
Carlos Brickmann
Edição de Domingo, 6 de dezembro de 2015

Um sonho. Ou pesadelo. Num país imaginário, em que quadrilhas vorazes disputavam o poder, o Grande Mestre Fazedor de Rainhas decidiu enviar ao Frigorífico de Formol a Rainha dos Maus Bofes, que ousara, com palavras incoerentas e gestão incompetenta, colocar em risco os projetos futuros do bando.
Um sábio, o Grande Mestre. Primeiro, declarou-se favorável à Rainha dos Maus Bofes, para que ninguém dele suspeitasse. Seu grupo, religiosamente obediente, duramente controlado, até com expulsão de quem votasse contra a linha justa, passou a mostrar sinais de divisão. A Guerra das Quadrilhas envolvia chantagens mútuas, que mantinham paralisados a Rainha dos Maus Bofes e seu principal adversário, o Coisa Ruim. Pois não é que o grupo do Grande Mestre anunciou que destruiria o Coisa Ruim? Com isso, livrou-o da chantagem – já que não lhe faria diferença ficar quieto ou reagir – e permitiu que ele contra-atacasse em grande estilo, mobilizando sua quadrilha para destruir a Rainha.
Nesse país imaginário, os seguidores do Grande Mestre jamais o desobedeceriam. Se desobedeceram, foi porque ele mandou. E até seu gavião amestrado, o Pequeno Rapinão, capaz de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, para agradar o chefe, agiu contra suas ordens oficiais. Só o faria se recebesse ordens secretas em contrário. E a Rainha dos Maus Bofes tinha certeza de que mandava!
O título Um Sonho Impossível vem do musical O Homem de la Mancha. Aqui, pela fama do pessoal, melhor seria Os Homens e Mulheres de Las Manchas.

domingo, 25 de outubro de 2015

Estado brasileiro: um ogro famelico hiper-obeso, comendo nossa renda - Fernão Lara Mesquita

Cada vez mais. Impressionante a soma dos abusos companheiros, o assalto petralha aos cofres da nação, que na verdade é um assalto direto aos nossos bolsos.
A sociedade brasileira começa a se dar conta do tamanho da espoliação estatal, que representa um atentado contra a poupança individual, aliás contra qualquer possibilidade de investimento produtivo.
O Estado brasileiro é o maior assaltante das riquezas produzidas pelas empresas e pelos trabalhadores, um bandido de terno e gravata (e também com chinelos de dedo, para muitos militantes da causa celerada).
Isso precisa acabar, se queremos um país normal.
Paulo Roberto de Almeida

A libertação está nos fatos
Fernão Lara Mesquita
O Estado de S.Paulo, 24/10/2015
vespeiro.com

Poucas vezes terá havido situação semelhante à deste nosso banquete de horrores no qual 90% dos comensais declaram-se com nojo da comida que lhes tem sido servida, mas são obrigados a continuar a tragá-la simplesmente porque não sabem pedir outro prato.

Na segunda-feira, 19, O Globo publicou nova reportagem da série Cofres Abertos, sobre a realidade do Estado petista. O título era Remuneração em ministério vai até R$ 152 mil. Eis alguns dados: Lula acrescentou 18,3 mil funcionários à folha da União em oito anos. Em apenas quatro Dilma enfiou mais 16,3 mil. Agora são 618 mil, só na ativa; 103.313 têm “cargos de chefia”. Os títulos são qualquer coisa de fascinante. Há um que inclui 38 palavras: “chefe de Divisão de Avaliação e Controle de Programas, da Coordenação dos Programas de Geração de Emprego e Renda...” e vai por aí enfileirando outras 30, com o escárnio de referir um acinte desses à “geração de emprego e renda”...

“teto” dos salários é o da presidente, de R$ 24,3 mil. Mas a grande tribo só de caciques constituída não pelos funcionários concursados ou de carreira, mas pelos “de confiança”, com estrela vermelha no peito, ganha R$ 77 mil, somadas as “gratificações”, que podem chegar a 37 diferentes. No fim do ano tem bônus “por desempenho”. A Petrobrás distribuiu mais de R$ 1 bilhão aos funcionários em pleno “petrolão”, depois de negar dividendos a acionistas. A Eletronorte distribuiu R$ 2,2 bilhões em “participação nos lucros”, proporcionados pelo aumento médio de 29% nas contas de luz dos pobres do Brasil, entre os seus 3.400 funcionários. Houve um que embolsou R$ 152 mil.

A folha de salários da União, sem as estatais, que são 142, passará este ano de R$ 100 bilhões, 58% mais, fora inflação, do que o PT recebeu lá atrás.

Essa boa gente emite 520 novos “regulamentos” (média) todo santo dia. Existem 49.500 e tantas “áreas administrativas” divididas em 53 mil e não sei quantos “núcleos responsáveis por políticas públicas”! Qualquer decisão sobre água tem de passar pela aprovação de 134 órgãos diferentes. Uma sobre saúde pública pode envolver 1.385 “instâncias de decisão”. Na educação podem ser 1.036. Na segurança pública, 2.375!

E para trabalhar no inferno que isso cria? Quanto vale a venda de indulgências?

Essa conversa da CPMF como única alternativa para a salvação da pátria em face da “incompressibilidade” dos gastos públicos a favor dos pobres não duraria 10 segundos se fatos como esses fossem sistematicamente justapostos às declarações que 100 vezes por dia os jornais, do papel à telinha, põem no ar para afirmar o contrário. Se fossem editados e perseguidos pelas televisões com as mesmas minúcia, competência técnica e paixão com que seus departamentos de jornalismo fazem de temas desimportantes ou meramente deletérios verdadeiras guerras santas, então, a Bastilha já teria caído.

Passados 10 meses de paralisia da Nação diante da ferocidade do sítio aos dinheiros públicos e ao que ainda resta no bolso do brasileiro de 2.ª classe, com a tragédia pairando no ar depois de o governo mutilar até à paraplegia todos os investimentos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, a série do Globo é, no entanto, o único esforço concentrado do jornalismo brasileiro na linha de apontar com fatos e números que dispensam as opiniões de “especialistas”imediatamente contestáveis pelas opiniões de outros “especialistas” para expor a criminosa mentira de que este país está sendo vítima.

Nem por isso deixou de sofrer restrições mesmo “dentro de casa”, pois, apesar da contundência dos fatos, da oportunidade da denúncia e da exclusividade do que estava sendo apresentado, a 1.ª página do jornal daquele dia não trazia qualquer “chamada” para o seu próprio “furo” e nem as televisões da casa o repercutiram. O tipo de informação sem a disseminação da qual o Brasil jamais desatolará da condição medieval em que tem sido mantido tornou-se conhecido, portanto, apenas da ínfima parcela da ínfima minoria dos brasileiros alfabetizados que lê jornal que tenha folheado O Globo inteiro daquele dia até seus olhos esbarrarem nela por acaso e que se deixaram levar pela curiosidade página abaixo.

É por aí que se agarra insidiosamente ao chão essa cultivada perplexidade do brasileiro que, em plena “era da informação”, traga sem nem sequer argumentar aquilo que já não admitia que lhe impingissem 200 anos atrás mesmo que à custa de se fazer enforcar e esquartejar em praça pública.

Do palco à plateia, Brasília vive imersa no seu “infinito particular”. Enquanto o País real, com as veias abertas, segue amarrado ao poste à espera de que a Pátria Estupradora decida quem vai ou não participar da próxima rodada de abusos, os criminosos mandam prender a polícia e a plateia discute apaixonadamente quem deu em quem, entre os atores da farsa, a mais esperta rasteira do dia.

Deter o estupro não entra nas cogitações de ninguém. A pauta da imprensa – e com ela a do Brasil – foi terceirizada para as “fontes” que disputam o comando de um sistema de opressão cuja lógica opõe-se diametralmente à do trabalho. Os fatos, substância da crítica que pode demolir os “factoides”, esses todos querem ocultados.

Perdemos as referências do passado, terceirizamos a “busca da felicidade” no presente, somos avessos à fórmula asiática de sucesso quanto ao futuro. Condenamo-nos a reinventar a roda em matéria de construção de instituições democráticas porque a que foi inventada pela melhor geração da humanidade no seu mais “iluminado” momento e vem libertando povo após povo que dela se serve está banida das nossas escolas e da pauta terceirizada pela imprensa a quem nos quer para sempre amarrados a um rei e seus barões. Como o resto do mundo resolve os mesmos problemas que temos absolutamente não interessa aos“olheiros” dos nossos jornais e TVs no exterior, que, de lá, só nos mostram o que há de pior...

A imprensa nacional está devendo muito mais à democracia brasileira do que tem cobrado aos outros nas suas cada vez mais segregadas páginas de opinião.

* FERNÃO LARA MESQUITA É JORNALISTA, ESCREVE EM WWW.VESPEIRO.COM

domingo, 11 de outubro de 2015

Politica brasileira: ninguem mais ama os companheiros? (2) - Paulo Roberto de Almeida

Mais um exemplo, desta vez extremamente violento, que explica porque os companheiros se tornaram mal amados.
Leiam novamente as mensagens de ódio, as invectivas contra a oposição, a violência dos slogans que eles exibiam nas eleições de 2014.
Escrevi isto depois de acompanhar parte da campanha eleitoral de 2014, pelos meios de comunicação de que disponho, e me considero alguém bem informado.
Recordar é viver...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11/10/2015

A Venezuelização do Brasil?: uma campanha de ódio na eleições
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

Carmen Lícia Palazzo e eu estamos sempre ligados nas notícias, nas informações e nos contatos, ela mais pelo lado do FaceBook e dos intercâmbios com dezenas de pessoas, em diversos países, e em diversas regiões do Brasil, eu mais ligado na rádio (diversas, com destaque para a CBN e a France Info), na imprensa (ou seja, os jornalões do PIG, mas também da esquerda, mercenários ou não, via internet), e em diversas outras fontes de informações, e costumamos trocar matérias interessantes aqui e ali.
Pois bem, hoje, a três dias do segundo turno da eleição presidencial, uma coisa nos chocou particularmente, justamente nesse cruzamento de rádio, mensagens de amigos e postagens aqui e ali, não que fosse inédita, pois havia o mesmo nas últimas semanas.
O que nos chocou especialmente foi a campanha do ódio, seja transmitido por iniciativa individual, seja organizado pelo exército de mercenários, seja levado às ruas pelos caminhões de som e caravanas e passeatas, com muitas bandeiras e muitos slogans. Apenas uma amostra dessa campanha de ódio, que visa dividir o país, garantir os desinformados, conquistar os indecisos, assustar os potenciais preconceituosos e capturar votos de um modo odioso:

1) "Vamos acabar com essas elites", caminhão com bandeiras e megafones, na rodoviária da capital da república, onde passam todos os dias milhares de trabalhadores humildes, que vão e veem de ônibus e de metrô, para suas casas e para o trabalho; imaginamos que o mesmo se reproduz em várias outras capitais e grandes cidades, onde quer que haja aglomeração e trânsito de milhares de "pessoas do povo", ou seja, gente que não é das "elites"; este é o ódio social!

2) "Esses paulistas, esses sulistas, estão pensando o quê?", em diversas cidades do Nordeste, mensagem veiculada sob diversas formas, aliás até estimuladas pelo nordestino que se fez em São Paulo e também ascendeu às "elites", numa inacreditável demonstração que jogar uma região contra a outra pode ser um grande expediente tático-eleitoral; este é o ódio regional!

3) "As elites brancas, os ricos são contra as cotas, eles querem a volta da escravidão"; várias vezes escutado, lido, ouvido, em diversos meios, para assegurar que nenhum negro, ou pardo, ou afrodescendente, possa votar a favor de quem é supostamente representante das elites brancas, que são contra as cotas e portanto contra a inclusão racial (não importando aqui que as cotas sejam, no fundo, especificamente racistas); esse é o ódio racial, na verdade racista!

4) "O candidato atacou a nossa candidata de forma agressiva; chamou-a de mentirosa, não faria isso se fosse um homem"; intensificado tremendamente depois do segundo debate televisivo, quando o candidato efetivamente disse que a candidata estava falando mentira, como se isso tivesse alguma coisa a ver com o gênero, o sexo, até a cor do seu oponente, a candidata continuista; os ataques se multiplicaram de várias formas, até os mais grotescos, com fotomontagens mentirosas e alegações fraudulentas; esse é o ódio por gênero, aliás ridículo!

5) "Eles vão acabar com o Bolsa Família, com o Minha Casa, Minha Vida, vão reduzir o salário mínimo, provocar desemprego"; são as mentiras mais comuns, disseminadas das mais diversas formas, inclusive fora da propaganda oficial, mas veiculadas oralmente, e até diretamente, em contato com as pessoas mais humildes e mais sensíveis a tais programas; esse é ódio mais virulento de todos, aquele que se baseia no coitadismo, e na exploração da ignorância dos mais humildes e desinformados (sim, desinformados); é um ódio político, partidário, de estilo nazista, já que repetindo mentiras que tendem a se manter.

Todos esses exemplos, e muitos outros mais, foram flagrados, identificados, ouvidos, lidos, recebidos em mensagens, às dezenas, às centenas, por mim e por Carmen Lícia nos últimos dias, hoje com uma intensidade tal que nos chocou.
É possível que, agindo assim, os partidários da candidatura oficial consigam atingir seus objetivos, que é o de assegurar, conquistar e manter um número suficiente de votos para obter a vitória nas urnas. É possível, portanto, que a tática do ódio, do ódio de classe, regional, de raça, de gênero, do ódio especificamente político, embora doentio e mentiroso renda seus frutos no domingo 26 de outubro.
Essa tática já assistimos durante muitos anos na Venezuela e todos podemos ver no que resultou: já nem falo da deterioração completa da vida política, das estruturas econômicas, do ambiente de negócios, mas contemplamos uma enorme emigração da classe média, os quadros mais qualificados do país, partindo viver nos EUA, no Canadá, na Espanha, em outros países, privando o país do melhor do seu capital humano. Essa foi a tática dos peronistas, na fase de ascensão, antes de se converter em uma força nacional dividida em diversas vertentes.
Essa foi e continua sendo a tática empregada pelo principal líder do partido hegemônico, a quem ouvimos desfigurado e apoplético, despejando xingamentos dos mais escabrosos contra o candidato oposicionista.

Essa campanha do ódio tem o poder de se inculcar na mente dos militantes mais fanáticos e das pessoas mais humildes, e ela nos remete a esses outros tristes exemplos de mistificação nazista e de massificação fascista.
O Brasil pode estar no limiar de conhecer uma grande fragmentação nessas diversas linhas de divisão, e, qualquer que seja o resultado eleitoral do dia 26, emergir no dia 27 como um país profundamente dividido, como numa guerra civil virtual, que geralmente divide famílias, irmãos, membros da mesma categoria profissional, pessoas de diferentes regiões e de diversos estratos sociais ou ascendências étnicas.
Esse ódio será, eventualmente, o legado mais terrível da atual campanha eleitoral.
Esse ódio, essa divisão forçada, entre classes, raças, regiões, gêneros e afiliações políticas pode estar nascendo aos nossos olhos.
O Brasil será o mesmo a partir do dia 27, diverso mas unido culturalmente, multicolorido mas sem Apartheid, regionalmente diverso mas unificado num mesmo projeto nacional, inclusivo do ponto do gênero e tendencialmente conciliador e consensual no plano político?
Tenho minhas dúvidas. Muitas dúvidas.


Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 23 de outubro de 2014, 22:08hs.

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Postado por Blogger no  Diplomatizzando em 10/23/2014 10:19:00 PM

domingo, 6 de setembro de 2015

Mais Medicos: embuste sem fim - Miguel Srougi (FSP)

O Programa Mais Médico é um expediente criminoso mediante o qual os companheiros transferem dinheiro arrancado de todo o povo brasileiro via impostos para uma ditadura miserável que condena o povo cubano a viver na miséria e na opressão política.
Isso está subentendido no artigo abaixo deste médico brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida

Mais Médicos: embuste sem fim
MIGUEL SROUGI
Folha de São Paulo, 6 de setembro de 2015


Em vez de insistir em programas ficcionais, Brasil deveria adotar medidas genuínas para atenuar o esfrangalho da saúde no país

O Ministério da Saúde e os médicos brasileiros têm percepções inconciliáveis quando se expressam sobre o programa Mais Médicos e a respeito da saúde da nação. Recentemente, as mais altas autoridades do governo divulgaram que o programa mudou a vida de 63 milhões de pessoas, que agora recebem atendimento acolhedor e competente.

Enfatizaram que o Mais Médicos aumentou o número de consultas e anunciaram a abertura de milhares de vagas em novos cursos de medicina para atenuar a carestia de profissionais. Arremataram afirmando que os médicos brasileiros resistiram ao Mais Médicos por interesses corporativos e ideológicos.

Protagonistas de um sistema de saúde pública arruinado pela inépcia, os médicos da nação não compreenderam o discurso oficial, desconectado da realidade e adornado por preconceito injusto.

Nenhum médico brasileiro ou de outra nacionalidade ignora a necessidade de se produzirem mais médicos, dada a carência e sua má distribuição. Um médico é sempre melhor do que nenhum, sobretudo nas comunidades carentes. Nem por isso a classe médica é obrigada a aceitar um programa implementado de forma ilegal, não resolutiva e divulgado de maneira falaciosa.

Segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), que auditou o Mais Médicos, o programa viola o artigo 5º da Constituição, pois brasileiros e estrangeiros residentes no país têm direitos iguais à vida, à liberdade e à igualdade.

O Mais Médicos acolheu 18.240 médicos, dos quais 11.429 cubanos. Estes, pessoas amistosas e resignadas, estão vivendo no Brasil confinados, sem liberdade de ir e vir, recebendo 30% do que auferem seus colegas estrangeiros e brasileiros.

Essa óbvia transgressão é agravada por outra ilegalidade intrigante. Pautados por um "contrato obscuro", o governo transfere para Cuba um adicional de R$ 1 bilhão ao ano, além dos salários. Esses recursos são entregues a uma "empresa anônima, cujos proprietários são desconhecidos". Confesso que o incômodo fica insuportável quando tento imaginar quem são eles.

O TCU revela também que existe "grande inconsistência na aferição dos resultados do programa", colocando em dúvida números majestosos apresentados oficialmente.

Como ressalva minha, se é verdade que 18.240 médicos atendem bem a 63 milhões de brasileiros, a felicidade poderá ser esparramada pela pátria, importando-se mais 25 mil médicos, inclusive cubanos.

Estaremos encerrando o padecimento interminável de 150 milhões de usuários do SUS, a um custo irrisório, cerca de R$ 4,5 bilhões por ano. Menos de 5% do Orçamento federal destinado à saúde e muito pouco, perto dos R$ 88 bilhões surrupiados somente da Petrobras. Preciso explicar porque ninguém se interessou por solução tão simples?

Ademais, segundo o Tribunal Contas da União, nas cidades inseridas no projeto, o número de consultas aumentou, em média, 19%.

Sem dúvida, mais brasileiros tiveram suas aflições abrandadas, mas, dado o nível de degradação da saúde, esse incremento é risível para se proclamar a nascença de um grande programa de assistência.

A experiência recente mostra que verdade e competência não representam virtudes marcantes dos nossos governantes. Por isso, em vez de insistir no discurso e em programas ficcionais, as autoridades da saúde deveriam adotar medidas genuínas para atenuar o esfrangalho.

Como fazer isso? Acho que não é difícil: destinando à saúde recursos decentes, valorizando o Programa de Saúde da Família, legítimo projeto de amparo aos desassistidos, restaurando a rede hospitalar do SUS e colocando-a sob gestão de organizações sociais sérias.

Também é preciso autorizar novas escolas médicas pautadas pela excelência, não por interesses de grupos predadores, remunerar de maneira justa os profissionais da saúde pública e importar médicos estrangeiros, desde que aprovados em exames de competência, para ajudar legitimamente os brasileiros.

Como explicava Geraldo Vandré: "Porque gado a gente marca;tange, ferra, engorda e mata; mas com gente é diferente".

MIGUEL SROUGI, 68, é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, pós-graduado em urologia pela Universidade Harvard (EUA) e presidente do Conselho do Instituto Criança é Vida.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Reflexoes sobre o Brasil feitas em viagem - Paulo Roberto de Almeida


Um legado de desunião
O que foi feito do Brasil e o que cabe fazer no Brasil

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil de 2014 se apresentava como um país profundamente dividido quando ele começou a sentir os primeiros efeitos da crise autoconstruída que se manifestaria com especial acuidade em 2015. Mas o Brasil de 2013 também já tinha sido dividido, assim como o mesmo Brasil dos anos anteriores, recuando no tempo até treze anos atrás aproximadamente. Foi naquele momento que o país começou a ser formalmente dividido em categorias sociais distintas – retoricamente separado entre “eles” de um lado, “nós” do outro – numa caracterização totalmente artificial, mas que valia de discurso político em diferentes circunstâncias, não apenas nas conjunturas eleitorais.
Esse tipo de discurso, na verdade, vigorava desde antes de 2003, mas passou a ser exercido em toda a sua exuberância a partir desse ano, quando chegou ao poder o partido salvacionista, maquiavelicamente envelopado na falsa retórica da “esperança que venceu o medo”. O discurso da separação era tradicional no partido segregacionista, na agremiação da luta de classes, no movimento maniqueísta que pretendia o resgate da profunda desigualdade social que sempre dividiu o país desde tempos imemoriais.
O discurso da separação exibia certa legitimidade, já que tinha fundamento nos dados da realidade brasileira, mas nas fileiras do partido segregacionista o argumento era defendido com ódio, com despeito, com desejos de vingança, mas sobretudo com a decisão de integrar um projeto de poder. Assim foi feito, e o Brasil mudou. Mudou para melhor? Talvez, pelo menos no plano da distribuição de alguns benefícios monetários a contingentes consideráveis de brasileiros desfavorecidos, não necessariamente porque eles constituíssem um exército de necessitados absolutos, mas porque eram uma parte assessória, mas importante, do mesmo projeto de poder.
O Brasil chegou a 2015 menos dividido do que se esperava, uma vez que parte considerável da cidadania decidiu romper com a mística fraudulenta da separação dos brasileiros entre “nós” e “eles”, ainda que para isso tenham contribuído duas crises simultâneas: a econômica, derivada dos equívocos acumulados por uma gestão particularmente inepta dos assuntos econômicos, e a política, que dela emergiu por que a sociedade que despertou do pesadelo da fraude separatista levou lideranças políticas a divergirem do partido hegemônico, convertido em partido das minorias. O legado de desunião semeado durante anos pelo partido segregacionista ainda produz efeitos no país, mas já não tem o poder de paralisar a cidadania e de determinar a agenda política. Ele sempre foi incapaz de unir, mas escondia esse fato sob a coberta do resgate social, que lhe serviu durante anos como retórica de legitimidade política. Isso agora acabou.
O Brasil de 2015 tem de recompor seu discurso político, seu tecido social, e as bases de funcionamento da governança, a começar pela restauração dos fundamentos econômicos que o coloquem novamente no caminho do crescimento, depois do imenso descalabro provocado pela inépcia dos segregacionistas. Não será uma tarefa fácil, nem pelo lado da eliminação dos desequilíbrios e desajustes econômicos, nem pela correção dos fundamentos morais da governança política, profundamente abalada pela gigantesca fraude causada por um partido composto por dirigentes eticamente delinquentes, e que ainda têm contas a ajustar com a justiça, mas sobretudo com a história.
O que falta fazer no Brasil é a recuperação do sentido moral da atividade política e a restauração da crença cidadã numa governança responsável. Para que isso seja feito, os anões morais precisam ser afastados do poder e banidos da política, abrindo espaço a que novas lideranças possam reconstruir o país segundo princípios que já figuram em sua carta maior, mas que foram vilmente ignorados e vilipendiados pelos delinquentes políticos que assaltaram o poder treze anos atrás. Os brasileiros estão prontos para banir a retórica da desunião, o discurso da separação, o apelo ao ódio de classes sociais e as falsas divisões regionais. A quase totalidade da cidadania disso já se convenceu: ela vai dar o empurrão final na classe política para que esta cumpra o seu dever.
A longa travessia do deserto dos homens e mulheres de bem, dos cidadãos simplesmente sensatos, está próxima do final. Um último esforço e o Brasil vai conseguir superar o legado da desunião.
Assim espero...

Em voo, Atlanta-Brasília, 2839: 7 de julho de 2015, 2 p.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Parabens companheiros: conseguiram criar a maior recessao em 25 anos - Epoca

Obra de Lula e Dilma: a maior recessão em 25 anos.
Segundo a revista Época, este é o resultado da inépcia de Lula e Dilma na condução da economia. De, fato, a conta chegou - e vai raspar os bolsos dos cidadãos para pagar a conta da roubalheira e da incompetência:

Os sinais de aprofundamento da crise econômica no país se multiplicam. Há duas semanas, o coquetel de más notícias foi especialmente indigesto para o governo, o PT e seus aliados. Depois de afetar as empresas e o governo, que gastou mais do que podia e agora tem de cortar gastos para equilibrar suas contas, a crise chegou ao emprego. Esse era o último pilar da gestão Dilma Roussef que resistia à desaceleração da economia. Segundo dados do IBGE, o desemprego voltou a subir em março, pelo quarto mês consecutivo, e atingiu o maior nível desde maio de 2011. Além do aumento do desemprego, a renda dos brasileiros teve em março a maior queda mensal desde 2003, quando Lula assumiu a Presidência. 

Na quarta-feira, dia 29, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou uma nova alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. Elevou-a para 13,25% ao ano, o maior nível desde 2008, no auge da crise global. Foi a quinta alta seguida nos juros desde setembro do ano passado. Diante da inflação de 8,2% ao ano, bem acima da meta, o Copom teve de recorrer mais uma vez ao remédio amargo dos juros, para tentar conter a escalada de preços. Ainda na quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá fechar 2015 com uma retração de 1%, a maior recessão em mais de duas décadas. A previsão do FMI reforça a percepção de que o Brasil está enfrentando uma estagflação, uma combinação perversa de estagnação econômica com inflação em alta.

Infelizmente, o atual quadro de desalento é o preço que os brasileiros terão de pagar pelos erros cometidos na política econômica por Dilma I e também por Lula, no final do segundo mandato. Ao contrário do que Dilma, Lula, o PT e seus aliados ainda insistem em dizer, a crise por que passa o país não se deve apenas a fatores externos. Suas raízes têm a ver essencialmente com  inépcia administrativa. A lista de equívocos, que só passaram a ser corrigidos depois da nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, é longa: a gastança irresponsável de recursos públicos, as pedaladas fiscais, destinadas a multiplicar os recursos à disposição do governo sem lastro no orçamento, a concessão de benefícios seletivos a certos setores e empresas, o aparelhamento do Estado. Que o custo a ser pago pelos brasileiros pelo menos sirva como uma lição para que esses erros não venham a se repetir.