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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Jose Serra sobre o governo e a politica externa - entrevistra a Eliane Cantanhede (OESP)

‘Governo não tem a opção de fracassar’, diz José Serra

O Estado de S.Paulo,

Com promessa de ‘turbinar’ o Itamaraty, Serra prepara viagem à Argentina para começar ‘atualização’ do Mercosul

BRASÍLIA - O novo chanceler, José Serra, enumera os erros da política externa dos 13 anos de governo do PT, anuncia que vai discutir uma “atualização” do Mercosul em sua primeira viagem internacional, hoje, à Argentina, e assume um compromisso com a opinião pública e os diplomatas: “Vamos turbinar o Itamaraty”.

Serra disse estar acertando com o ministro do Planejamento, Romero Jucá, como cobrir a carência de R$ 800 milhões do Itamaraty, que tem até atrasado salários e aluguéis e imóveis no exterior. Fora isso, há dívidas de R$ 6,7 bilhões do Brasil a organismos e bancos internacionais, tema também em discussão.
Ele também prometeu abrir o País ao mundo e uma relação melhor com os Estados Unidos. “Nossa relação comercial com os EUA deve com certeza se tornar mais próxima e o grande investimento aí é a remoção de barreiras não tarifárias”, disse na noite de sexta-feira, em entrevista ao Estado na qual resumiu os desafios do governo Michel Temer: “Não temos a opção de fracassar. Tem que dar certo”.

José Serra durante posse como Ministro das Relações Exteriores no Itamaraty, em Brasília.
José Serra durante posse como Ministro das Relações Exteriores no Itamaraty, em Brasília.
O que é uma política externa “regida pelos valores do Estado e da Nação”?
A política externa lida com os interesses nacionais num contexto mundial e vamos ter uma política de Estado, numa nova modalidade de política externa independente. Além de não se alinhar às potências, será independente de partidos e de aliados desses partidos no exterior, diferentemente do que havia nos governos do PT.
O sr. não vê diferenças entre a política externa de Lula e a de Dilma? O sr. chegou a ficar bem próximo do chanceler de Lula, Celso Amorim, quando o sr. era ministro da Saúde e ele embaixador em Genebra e atuaram juntos para a quebra de patentes de medicamentos contra a Aids.
Trabalhamos muito bem e de forma produtiva. Aliás, o Celso deixou de fumar cachimbo por minha causa. Eu disse que ele não podia fumar cachimbo e ir a reuniões antitabagismo e ele jurou que tinha deixado de fumar. Minha relação com o Celso foi muito boa. Depois, no Itamaraty, prefiro não analisar.
Uma crítica a Amorim era que ele era antiamericanista, mas o sr., pelo passado de UNE e de esquerda, também é visto assim.
Não é bem assim, mas, de todo modo, não tenho condições agora de revisar a minha biografia e o que eu pensava a respeito. Só que tive uma experiência pessoal que foi muito importante, quando passei parte do meu exílio nos Estados Unidos, nas Universidades de Princeton e Cornell, e comecei a conhecer a sociedade e a democracia americanas muito de perto. Daria uma outra entrevista eu contar o impacto que eu tive ao viver o cotidiano e junto à base da sociedade a democracia americana.
O sr. assume num momento em que o Brasil precisa revigorar as relações com Washington, depois que elas ficaram esgarçadas pela contaminação ideológica no Brasil e pela espionagem da NSA até da presidente...
NSA, o que é isso? Os EUA são uma peça essencial do mundo contemporâneo, embora já não tão dominante como no passado, pois você tem novos centros de poder e de economia, caso típico da China. Nossa relação com os EUA é secular e fundamental e deve com certeza se tornar mais próxima no comércio. O grande investimento aí é a remoção de barreiras não tarifárias. Eles têm uma rede de proteção não tarifária, na área fitossanitária, por exemplo, que exige negociação. Vamos trabalhar incessantemente nessa direção.
Uma eventual eleição do republicano Donald Trump pode atrapalhar esse processo?
Prefiro não acreditar nisso...
No seu discurso de posse o sr. defendeu a reaproximação com parceiros tradicionais, como EUA, Europa e Japão. É o fim da política Sul-Sul?
Veja, se o Brasil é um país continental, tem de ter relações com o mundo inteiro. Nós vamos levar adiante nossa relação com a África, mas não com base em culpas do passado ou em compaixão, mas sabendo como podemos cooperar também beneficiando o Brasil. Aliás, minha ideia é fazer um grande congresso no ano que vem entre Brasil e África, para discutir comércio, cooperação e trocas, inclusive na área cultural, onde temos grande afinidade.
Quando fala em compaixão, o sr. quer dizer que o Brasil não vai mais perdoar dívidas de países africanos, como fez Lula?
Pedi um levantamento para definir o que será feito daqui em diante. O Brasil não é um país que tem dinheiro sobrando, não somos um país desenvolvido. Não implica estabelecer relações predatórias com nenhuma parte do mundo, mas temos que gerar empregos e combate à pobreza aqui dentro também.
Dilma disse em entrevista ser ignorância uma política externa sem os vizinhos e sem os Brics.
A impressão que eu tenho é de que ela não sabe o que está dizendo. Entendo as dificuldades e até esse certo desnorteamento e me sinto constrangido e pouco à vontade para debater com ela nessas condições.
Muitos elogiaram, mas muitos consideraram acima do tom diplomático suas notas contra o diretor da Unasul e os países “bolivarianos” que criticaram o processo político brasileiro. Foram acima do tom?
Foi um tom abaixo das agressões feitas. Na minha primeira reunião no ministério eu disse que não iríamos nem calar nem escalar. Essa é a linha. O que fizemos foi apontar o que não era verdadeiro. Dizer que a democracia está atropelada no Brasil? Que não há garantias democráticas? Basta qualquer um de fora passar uns dias aqui para ver que a democracia está funcionando normalmente. Foi um processo traumático? Foi. Mas todo dentro da democracia e do previsto pela Constituição.
Como fica a relação com Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e El Salvador, que se manifestaram sobre o Brasil? E com o diretor da Unasul?
A tendência é ir tendo relativizações. Aliás, eu sou amigo do Ernesto Samper (da Unasul). Depois da nota, nós já nos falamos.
Por que a primeira viagem é para a Argentina?
A Argentina é considerada por nós para lá de prioritária. Entre os propósitos da viagem está o debate sobre a atualização do Mercosul, criação do mecanismo de ação conjunta Brasil-Argentina e acertar uma conferência regional sobre ilícitos nas fronteiras, uma questão vital para o Brasil e para a Argentina.
Quando se fala nisso, pensa-se no Paraguai, que, aliás, atuou para evitar notas oficiais contra o Brasil.
Uma ação dessa natureza é inviável sem a colaboração dos países, porque não se resolve na linha das fronteiras, mas no interior dos países. Estou convencido de que teremos a cooperação da Argentina, do Paraguai, da Bolívia, da Colômbia... O Paraguai é um país que está se modernizando e o chanceler deve vir aqui em breve.
O sr. falou em atualização do Mercosul. O que significa isso, já que o sr. é considerado inimigo do Mercosul?
Não, não sou, mas o Mercosul é uma união alfandegária que terminou sendo um obstáculo a acordos bilaterais de comércio. Houve uns 500 acordos bilaterais nos últimos anos, mas o Brasil só fez três: com Israel, Palestina e Egito. É preciso aprofundar as condições da zona de livre comércio, porque ainda há barreiras, e encontrar formas de flexibilizar as regras para permitir acordos bilaterais mundo afora.
Uma das críticas à política externa do PT é que foi toda centrada no multilateralismo na OMC, que não deu certo, vetando o bilateralismo, que todos os demais fizeram. Isso vai mudar?
O multilateralismo poderia ter sido bom para o Brasil, mas, na medida em que Doha, da OMC, não avançou, ficou preso nisso, sem multilateralismo e sem acordos bilaterais. Mas, veja, não estou dizendo que vamos abandonar a OMC, apenas que vamos ter os pés no chão.
O Brasil vai reforçar relações com a Aliança para o Pacífico?
É uma grande prioridade. Relação Brasil-Chile sempre foi próxima e temos boa relação com Colômbia e Peru. Queremos estreitar relações com o México, que é da Aliança para o Pacífico e, assim como a Argentina, é prioridade número 1.
Aproximar dos pragmáticos e neutralizar os bolivarianos?
Posso ser sincero? Não tem nada a ver com conjunturas políticas. Tem a ver com estratégias mais permanentes.
Na era Lula-Amorim, o Brasil participava de negociações para a crise do Irã, para a crise do Oriente Médio... O sr. vai priorizar o comércio em detrimento da diplomacia, ou isso vai voltar?
Sem megalomania. Vamos participar pela paz, pelo entendimento, usando as vantagens comparativas que o Brasil possa ter, mas, repito, sem megalomania.
Com suas críticas à política externa do PT, vem aí uma dança de cadeiras em cargos-chave da chancelaria e das embaixadas?
Vamos manter uma política gradualista de preenchimento de cargo e o mais importante é que nós vamos turbinar o Itamaraty. Nesses anos todos, seja pelo jeito de fazer política externa, seja pelas dificuldades orçamentárias mais recentes, houve certo desânimo e ceticismo que comprometeram a autoestima do Itamaraty. Mas isso, eu prometo, será revertido.
Como, se o governo prevê um rombo de R$ 170,5 bilhões?
A carência imprescindível do Itamaraty é da ordem de R$ 800 milhões e não precisa ser tudo de uma vez. Então, o peso do Itamaraty nas finanças públicas é insignificante e eu não posso atribuir senão ao descaso tudo isso que vinha acontecendo.
E as dívidas com organismos e bancos internacionais?
Quem paga é o Planejamento e hoje (sexta-feira) passei um bom tempo com o ministro Romero Jucá discutindo isso. Ao todo, são R$ 3 bilhões de dívida com os organismos, mais R$ 3,7 bilhões para os bancos (BID, Bird, FMI...)
Vai ter corte de embaixadas e consulados?
Eles criaram uns 60 postos e agora são 227. Será que tudo isso é necessário? Estamos vendo custo-benefício.
A concessão de passaporte diplomático para o tal bispo evangélico foi uma derrapada?
Eu não assino passaportes, seria exótico se assinasse. O problema é que a Igreja Católica sempre teve dois passaportes diplomáticos, as evangélicas reivindicaram a mesma coisa, e algum governo, acho que do Lula, concedeu. Não cabe ao governo definir que uma igreja é mais ou menos importante que a outra.
O Itamaraty é um trampolim para sua candidatura em 2018?
Claro que não, não tem trampolim nenhum. Tudo o que eu quero é fazer uma boa administração aqui. Pode parecer uma declaração de político tradicional, mas é verdadeira.
Seus filhos acreditam nisso?
Meus dois filhos, sim, principalmente o homem. As mulheres são mais desconfiadas.
E se o governo Michel Temer naufragar?
Os desafios são imensos, mas não temos a opção de dar certo ou fracassar. Tem de dar certo, pelo País. O impeachment é doloroso e traumático, mas é uma questão de salvação do Brasil.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mais Brics: nem mortos, nem performantes, sobrevivendo -- Marcos Troyjo (FSP)

Não concordo com a premissa do artigo, pois não concordo em que a ideia do grupo diplomático tenha sido uma boa coisa, seja para os países, em si, seja para o mundo.
Que os países sejam grandes, tenham perspectivas de crescimento -- desde que apliquem as boas políticas -- que eles tenham certo peso na política e na economia mundial, tudo isso fala por si.
Mas eles o são individualmente, por mérito (ou demérito) próprio, não em virtude do amálgama, da assemblagem política, que só foi feita por ambição e narcisismo dos seus dirigentes, que estão buscando oportunidades de marketing, para darem uma impressão de que juntos podem mais do que sozinhos.
Pode até ser, mas aí vira um denominador comum pelo mínimo, e geralmente por causas negativas. Eles podem, atuando conjuntuamente, impedir que certas coisas propostas pelo G7, por exemplo, sejam feitas, mas não creio que tenham força para produzir "bondades" para o mundo.
Concordo totalmente em que a chave para os Brics, COMO para qualquer OUTRO PAÍS, seja colocar a casa em ordem. Para isso não precisa de Brics nenhum, aliás até atrapalha...
Em que, por exemplo, o NDB, o novo banco de desenvolvimento, vai modificar a oferta de capital no mundo? Vai aumentar? Apenas marginalmente. Vai melhorar a qualidade dos empréstimos? Dificilmente. Pode ser que seja uma boa coisa, pois competição -- entre bancos financiadores -- sempre é uma boa coisa para qualquer setor. Mas não creio que isso altera as condições de funcionamento dos mercados financeiros ou o acesso a fontes de recursos por países pobres.
O Brics era um exercício intelectual para investidores que virou um grupo de pressão. Foi uma boa coisa para cada um deles e para o mundo. Muitos responderão que sim. Eu respondo que não.
Paulo Roberto de Almeida

A suposta ascensão e queda dos Brics
Sócios querem mais Brics; mercados financeiros, menos
MARCOS TROYJO
Folha de S.Paulo, 11/11/2015

É radicalmente díspare a maneira com que diferentes atores e grupos de interesse abordam o papel dos Brics no cenário global.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem mais Brics. Os mercados financeiros, aparentemente, menos.
Tais diferenças de perspectiva revelam uma curiosa combinação de, por um lado, fantasias irrealizáveis com, por outro, análises "binárias". Na maioria dos casos, tais abordagens são bastante superficiais.
Num extremo, a noção de que o grupo está revolucionando a ordem econômica internacional por meio do estabelecimento de novas instituições, como o NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, ou o Arranjo Contingente de Reservas, de igual montante, que permite aos países assistência mútua no advento de crises de liquidez.
A partir dessa plataforma, outras obras conjuntas seriam erguidas –ou ações táticas empreendidas– em palcos como as Nações Unidas.
A abstenção por parte dos Brics em votação na ONU que visava à condenação da Rússia por haver aproveitado o tumulto na Ucrânia para anexar a Crimeia seria exemplo de tal força de coordenação dos Brics.
Os cinco países-membros partiriam para coordenação macroeconômica mais sofisticada, e até mesmo a conclusão de transações comerciais entre si em outra moeda que não o dólar norte-americano. Ou seja, os Brics como polo, se não antiocidental, ao menos "alternativo" ao Ocidente.
Noutro, a decretação do "fim" dos Brics. O mau desempenho econômico de Brasil, Rússia e África do Sul –e a redução dos percentuais de crescimento da China– apontariam que a validade do conceito "expirou".
O último lance nessa tese declinista vem da interpretação, por parte do mercado financeiro, de uma recente decisão do banco de investimento Goldman Sachs.
A instituição há pouco anunciou que estava encerrando seu fundo específico sobre Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados sob o conceito mais amplo de "mercados emergentes" (de que os Brics também fazem parte).
Tal decisão parece ainda mais simbólica, pois foi a partir de um estudo conduzido por Jim O' Neill no próprio banco que o termo "Brics" ganhou grande notoriedade.
Quando, há cinco anos, Christian Déséglise e eu fundamos o BRICLab (um centro para o estudo dos Brics) na Universidade Columbia, em Nova York, nosso intuito não era alardear um futuro da economia global dominado pelos Brics.
Tampouco tratava-se de sugerir, pelas muitas diferenças internas que marcam o grupo, que suas iniciativas conjuntas e mesmo seu potencial econômico rumavam inexoravelmente para o fracasso.
Achamos que a ideia de Brics era (e continuará) válida como fórmula para comparar as estratégias (ou a falta delas) em projetos de poder, prosperidade e prestígio de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das sete maiores economias do mundo (medidas pelo poder de paridade de compra) tanto pelos cálculos do FMI como do Banco Mundial em 2014.
Além de seu papel relativo na economia global, esses países são superlativos em território, população e influência regional, além de acomodar importante estoque do fluxo globaI de investimento estrangeiro direto (IED).
Obviamente, o desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam –porque estão errando muito.
A China superestimou a velocidade com que a mudança de seu modelo econômico migraria da ênfase em poupança, investimento e exportações para o foco no consumo interno.
A Rússia pagou para ver na disposição do Ocidente em aceitar passivamente a irradiação de seu vulto de poder sobre a vizinhança na Europa Oriental. Além do que, economicamente fez pouco para diminuir sua dependência na exportação de commodities. E as agruras brasileiras são bem conhecidas.
Ainda assim, os Brics continuarão. Nos vários níveis de governo, academia e empresariado a cooperação no âmbito dos Brics aumenta.
A construção institucional vai se expandir e com isso aumentar o peso específico dos Brics em áreas como o financiamento do desenvolvimento ou o comércio e investimento intragrupo.
Não vale, contudo, acreditar ingenuamente que esses movimentos redesenharão em definitivo a ordem internacional.
Bem como a notícia da morte de Mark Twain, rumores sobre o fim prematuro dos Brics são "amplamente exagerados". Não há nada de automático ou definitivo em torno da potencial queda ou ascensão do grupo ou de seus membros.
Neste momento, a melhor coisa que os Brics poderiam fazer para melhorar sua projeção global seria colocar a casa econômica em ordem. E, claro, tal tarefa se impõe na presente conjuntura menos a Índia e China –e muito mais a Rússia e Brasil.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Brics: mais uma ideia que fez chabu? Provavelmente nao, mas as perspectivas sao pessimistas

Agora que o banco do investimento Goldman Sachs acaba de se desfazer de sua carteira Brics, que só apresentou prejuizos nos últimos anos, caberia rever o conceito e a própria utilidade do grupo.
Trata-se, como já afirmei diversas vezes, de uma construção totalmente artificial, provavelmente o primeiro grupo de natureza diplomática formado por indução externa, não por uma análise serena e ponderada de suas possibilidades intrínsecas, mas decidido a partir das sugestões de investimento financeiro de um banco privado.
Em outros termos, os dirigentes políticos do Bric -- seu acrônimo original -- atuaram de forma narcisística, e por impulsos totalmente de marketing político, não a partir de uma decisão ponderada de natureza técnica.
Desde 2008, ainda antes de sua constituição formal como grupo diplomático, eu já me manifestava a esse respeito.
Apesar de que algumas realidades mudaram desde então, creio que minha análise permanece válida em seus contornos essenciais.
Paulo Roberto de Almeida 
Anápolis, 10/11/2015


1884. “Questionário sobre BRIC”, Brasília, 5 maio 2008, 4 p. Respostas a questionário colocado por estudante de RI de Curitiba, sobre os BRICs no contexto internacional. Postado no blog Diplomatizzando (13.07.2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/questionario-sobre-o-bric-paulo-r.html).
Questionário sobre o BRIC
Nome do entrevistado: Paulo Roberto de Almeida
Data da entrevista: 5 de maio de 2008
Ocupação do entrevistado: Diplomata e professor universitário

1)     O conceito BRIC foi criado pelo Goldman Sachs para designar as potências, que segundo o relatório que eles elaboraram, serão as maiores em 2050. Você concorda que os quatro países que compõe o BRIC serão superpotências?
R: Não! Para ser mais preciso, apenas um dos BRICs, segundo esse estudo, se alçará à condição de primeira economia planetária, enquanto as outras três estarão em patamares diversos: será a China, supostamente à frente dos EUA a partir de 2040 se, por acaso, sua taxa de crescimento se mantiver num patamar razoável e a dos EUA continuar num ritmo moderado. As outras três ficarão atrás do Japão ou até da Alemanha. Supostamente, os quatro BRICs, conjuntamente, terão ultrapassado o G-6 do estudo – G-7 menos Canadá – em torno daquela data, mas isto não quer dizer que todas serão superpotências, uma vez que essa condição supõe uma capacidade de projetar poder externo que nem todas exibirão. Pode-se dizer que a Rússia e a China já são superpotências, detentoras de mísseis nucleares e alguma capacidade naval e aérea, mas não parecem dispor das mesmas condições de empreender grandes operações navais ou aerotransportadas como os EUA e a OTAN. Por outro lado, uma superpotência também dispõe de uma clara liderança tecnológica e certa dominação financeira, o que não parece o caso de nenhum dos BRICs.

2)     Qual o caminho que o Brasil deve trilhar para que o Brasil possa acompanhar o crescimento dos outros países do BRIC?
R: Basicamente crescer a uma taxa sustentável e sustentada, o que significa manter uma taxa de investimento compatível com um nível razoável de crescimento. A atual taxa de investimento parece insuficiente para garantir isso. Por outro lado, a economia precisa ser capaz de desenvolver fontes próprias de inovação tecnológica, o que não depende unicamente da FBKF (formação bruta de capital fixo) e sim de uma cultura da inovação que ainda não está devidamente assentada nas instituições pertinentes, ou seja, empresas e universidades. Em outros termos, o governo precisa ser menos “extrator” de recursos do setor privado e participar dos investimentos produtivos – geralmente em infra-estrutura, educação e C&T --, assim como precisa reverter o processo de crescimento da carga fiscal, nitidamente em contradição com os requerimentos do crescimento. Isso significa uma profunda reforma fiscal – e não apenas tributária – com redução dos gastos correntes e aumento das alocações voltadas para a capacitação da mão-de-obra e educação da população em geral. Nenhum desses problemas tem a ver com o ambiente internacional – que ao contrário tem sido extremamente positivo com o Brasil – e sim com o ambiente interno.

3)     Quais os empecilhos para o crescimento brasileiro?
R: Numa palavra: o Estado, ou seja, seu caráter predatório, extrator, obstrutor do direcionamento da poupança privada para o setor produtivo. Em detalhe, temos obstáculos sistêmicos ao crescimento – que são a elevada carga fiscal e o baixo volume de investimentos para as necessidades de crescimento – e elementos estruturais – que são o baixo nível de educação da população e a péssima infra-estrutura disponível. Temos ainda a visão introvertida das elites, que fazem com que o Brasil seja um país especialmente renitente a maior abertura externa, condição importante para modernizar a sua indústria e serviços e assim oferecer novas oportunidades de crescimento no contexto da economia global, onde estão hoje as maiores possibilidades de captação de recursos – capitais, know-how – para fins de desenvolvimento produtivo.

4)     Por que é tão difícil para uma empresa brasileira se colocar como grande multinacional? O que deve ser feito para que isso mude?
R: Baixo grau de vinculação da economia brasileira à economia mundial e mentalidade introvertida dos próprios empresários. Ausência de mecanismos financeiros para a projeção externa dessas empresas, o que é válido no plano interno também, a despeito do apoio de uma agência pública como o BNDES. Poucos executivos possuem realmente os requisitos da internacionalização, sobretudo porque as universidades e outras escolas estão pouco conectadas com congêneres nos países desenvolvidos. Essas empresas foram, durante muito tempo, protegidas “contra” a competição externa, em vista de políticas públicas protecionistas e nacionalistas, ou basicamente introvertidas.

5)     A Rússia tem realmente capacidade de se tornar tão grande quanto as projeções do Goldman Sachs mostram? O que a Rússia tem atualmente de superpotência e o que falta para ela?
R: Trata-se de uma potência nuclear, ou militar, e a esse título incorporada ao G-7, mas que carece de outras condições econômicas e tecnológicas para realmente liderar o mundo no sentido da interdependência ativa, em conformidade com a globalização. Ela tem muitos recursos naturais, alguns deles estratégicos, como petróleo e gás, mas tem uma população em declínio e condições de governança ainda deficientes.

6)     A Índia tem uma população gigantesca e é a casa de grandes milionários, o que mais esse país tem a favor e o que ele tem contra seu crescimento?
R: A favor, uma inserção quase natural na globalização, graças à herança inglesa deixada pela antiga metrópole colonial, o que se manifesta no regime político democrático, no sistema jurídico “inglês” e em certas instituições universitárias. Uma diáspora indiana nos EUA permitiu fazer um link de negócios e de serviços com as empresas inovadoras desse país e associar mais estreitamente os indianos à economia global. De negativo, uma infra-estrutura pavorosa, uma população miserável, taxas de analfabetismo ainda enormes – o que a rigor não impede sua inserção na globalização – e um ambiente regulatório ainda negativo para os negócios de forma geral.

7)     A China é hoje a fábrica mundial devido aos seus baixos custos? Essa posição é favorável para o país? E para o cenário mundial?
R: Certamente, para ambos. A principal vantagem comparativa, absoluta e relativa, da China, é sua grande população, daí a condição imbatível na produção de manufaturas de massa, especialmente eletrônicos, mas produtos industriais em geral. Isso é excelente para a China, elevando a qualificação profissional de sua população, trazendo renda e prosperidade para o país, e ainda melhor para o mundo, pois isso tem um efeito deflacionário, do contrário o custo de vida teria se elevado no plano mundial. Por outro lado, ela está fazendo um “favor” aos países avançados, ao obrigá-los a constantemente se elevar na escala tecnológica, ao dominar de modo quase absoluto as tecnologias disponíveis. Tudo isso é extremamente positivo para a economia mundial, ainda que possa “destruir” empregos nos países desenvolvidos (e em alguns intermediários, como o Brasil).

8)     Como um país comunista chegou onde a China está hoje?
R: O comunismo foi um parênteses “passageiro” na história milenar da China, uma sociedade de grandes tradições culturais e científicas, uma grande economia, “temporariamente” diminuída por dois ou três séculos de decadência tecnológica e de dominação ocidental, atrasada ainda mais por um regime disfuncional como o socialismo centralizado, e agora operando uma volta em força para o centro da economia mundial, ainda que não totalmente de forma autônoma, na atual conjuntura. O comunismo foi um enorme atraso, embora um a mais, em dois ou três séculos de decadência contínua. A China está apenas recuperando o tempo perdido agora, da mesma forma que sempre fez nos períodos anteriores, isto é, de maneira autoritária, centralizada, imperial e despótica. O comunismo combina com a história secular da China, de governos centralizados e autoritários, sem respeito aos direitos humanos ou ao meio ambiente. Ou seja, a China continua fundamentalmente igual, mas agora incorporando tecnologia estrangeira, o que não era o caso anteriormente.

9)     Não existe um acordo envolvendo os quatro países, um acordo assim pode vir a existir? Pode-se criar um bloco econômico BRIC?
R: Existem tentativas de criação de um grupo “diplomático” dos BRIC, out of this intellectual exercise made by Goldman Sachs. Ocorreram contatos diplomáticos, reuniões informais e até uma reunião formal de vice-ministros, preparando uma reunião formal de ministros do que pode ser o “lançamento” formal de um novo G-4, ou “the BRIC”. Trata-se provavelmente mais de impulso “narcisista” do que propriamente um grupo unido em torno de uma agenda comum, não fosse, talvez, o desejo inconfessado de contestar o “velho” G-7, do qual a Rússia faz parte, no G-8, mas numa posição que sempre foi “bizarra”, para dizer o mínimo. Cada um deles pode ter suas motivações peculiares para “opor-se” ao G-7, que pode ser o motivo mais evidente da constituição desse grupo, uma vez que não está visível, de imediato, que agenda comum “a favor” possa uni-los. Seria, de todo modo, um bloco bem mais político, ou diplomático, do que econômico, ainda que fundamentado no fato de que os quatro foram os “designados” – pela divina providência do Goldman Sachs – para “superar” o atual G-6.

10)  Comparando-se os BRIC’s, qual a maior semelhança e qual a maior diferença entre os países?
R: São todos “emergentes”, ou seja, países de grande crescimento e de grandes possibilidades na economia mundial, mas como diferentes modos de inserção nessa economia. Dois grandes fornecedores de commodities, mas diferentes, como Brasil e Rússia – com commodities agrícolas e energéticos, respectivamente – e dois países voltados para as tecnologias inovadoras, como China e India, mas com diferentes capacitações nesses terrenos manufatureiros ou de serviços. De todos, o Brasil é inquestionavelmente o mais “capitalista” de todos, a despeito de suas deficiências regulatórias. Tambem, com a India, tem estruturas políticas formalmente democráticas, ainda que de baixa qualidade, tendo em vista o constante desrespeito à lei por parte das próprias autoridades. Sua taxa de corrupção pode não ser mais alta ou mais baixa do que os outros três, mas é certamente entranhada na máquina pública, como qualquer registro jornalístico poderia comprovar, mas essa característica parece ser igualmente partilhada pelos demais. Os outros três são potências nucleares reconhecidas, embora apenas Rússia e China sejam formalmente aceitas e “legitimadas” nessa categoria.

11)  O que você tem a dizer sobre o BRIC?
R: Existem enormes diferenças estruturais, de dotação de fatores, de políticas públicas – macroeconômicas e setoriais – entre cada um deles, assim como eles ostentam agendas internacionais bastante dessemelhantes entre si, não sendo possível visualizar, prima facie, interesses comuns, a não ser, talvez, o já alegado “interesse” – mais presumido do que real, talvez – em contestar o poder das velhas potências (do G-7) para melhor assentar o seu próprio poder.
                  Mas esse tipo de “disputa” é irrelevante do ponto de vista de uma agenda positiva para o resto do planeta, ocupado em problemas de insegurança, de desenvolvimento deficiente em vários continentes – com pobreza disseminada em várias regiões – e as ameaças ambientais e de epidemias globais ainda remanescentes ou até crescentes.
                  Os BRICs dariam uma enorme contribuição ao mundo se pudessem apresentar agendas minimamente coincidentes sobre como resolver, ou pelo menos encaminhar, alguns desses problemas mais urgentes.
 Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Brics, a grande desilusao? - Ana Palacio (Project Syndicate)


Eu não diria que o Brics é uma falácia, uma vez que se trata de uma invenção de um economista interessado apenas em investimentos e que foi transformada em grupo diplomático -- totalmente artificial -- por decisão política de políticos oportunistas, apenas isso. Acho que se trata de um equívoco, mas não de uma falácia, pelo menos não no sentido clássico da expressão.
A construção é artificial, e os objetivos mais ainda...
Enfim, existe, como existem seres mais pesados que o ar que voam, com a ajuda de motores possantes. Quando esses motores não possuem mais potência, o animal estranho desaba. 
Pode ser que isto aconteça com o Brics, mas não seria por isso que ele seria equivocado. 
É que esse animal estranho aponta para diversos lados, cada um mais contraditório do que os outros.
Ou seja, não vai sair do lugar...
Paulo Roberto de Almeida

The BRICS Fallacy
Ana Palladio
Project Syndicate, September 30, 2015

MADRID – The recent downgrade of Brazil’s credit rating to junk status was followed by a raft of articles heralding the crumbling of the BRICS (Brazil, Russia, India, China, and South Africa). How predictable: schadenfreude almost always follows bad news about the BRICS, whose members were once hailed as the world’s up-and-coming economic powerhouses and next major political force.
There is something deeper going on here. The world’s seeming obsession with the BRICS’ perceived rise and fall reflects a desire to identify the country or group of countries that would take over from the United States as global leader. But, in searching for the “next big thing,” the world ignores the fact that the US remains the only power capable of providing global leadership and ensuring some semblance of international order.
The story of the BRICS is a familiar one. It began as a technical grouping in 2001, when the British economist Jim O’Neill lumped them together (without South Africa) and gave them their catchy name for the sole reason that they were all large, rapidly growing emerging economies. But, recognizing that economic power could translate into political influence, the BRICS held their first informal meeting in 2006, and their first leaders’ summit in 2009.
The bloc was going places – or so it seemed. But seven years, seven summits, and one new member (South Africa joined in 2010) later, the significance of the BRICS remains hotly debated.
The disparities among the BRICS are well known. China’s economic output is nearly twice that of the rest of the BRICS combined, and roughly 30 times that of South Africa. Their governance models are vastly different, from India’s robust democracy to Russia’s illiberal model to China’s one-party system. Russia and China, both permanent members of the UN Security Council, have offered, at best, lukewarm support for the other BRICS’ aspirations to join them. And then there are its members’ bilateral disagreements, including a heated territorial dispute between India and China.
Nonetheless, the BRICS have acted in concert on more than one occasion. Last March, amid near-universal condemnation of Russia’s annexation of Crimea, the country’s BRICS counterparts – even those that had long supported the inviolability of borders and non-intervention – abstained from a UN General Assembly resolution affirming Ukraine’s unity and territorial integrity.
Three months later, the BRICS released their “Leaders’ Summit Declaration” condemning the imposition of economic sanctions on Russia by the European Union and the US. Most concretely, the long-anticipated New Development Bank, run jointly and equally by the five BRICS countries, opened its doors in Shanghai in July.
Clearly, the BRICS are a thing. They are just not the thing.
The BRICS arose at a time when much of the world, especially the advanced economies, was mired in crisis. The “fall of the West” narrative ran alongside that of the “rise of the rest.” But the story has not played out quite as anticipated.
Economically, the BRICS are facing serious challenges. In addition to a well-documented growth slowdown, China has lately experienced considerable stock-market turmoil and currency devaluation. The Brazilian and Russian economies are contracting; South Africa’s growth has slowed; and India, though maintaining relatively strong growth, must undertake important reforms.
The BRICS have also failed to fulfill their promise of international leadership. At the beginning of the decade, Brazil showed a certain aspiration, along with Turkey, to press ahead with an alternative nuclear deal with Iran. But that proposal fell apart, and, amid pressure from corruption scandals and falling commodity prices, Brazil left the global stage.
South Africa and India also continue to punch below their apparent weight internationally (notwithstanding Indian Prime Minister Narendra Modi’s visibility). As for Russia, the only traditional world leader of the bunch, the Kremlin’s Ukraine policy has done severe damage to the country’s international profile – damage that not even its possible diplomatic coup in Syria can undo.
Only China has displayed an inclination to lead, as exemplified by President Xi Jinping’s visit to Washington, DC last week, which produced major announcements on climate action, cyber security, and international development. China has also been pursuing initiatives like the Asian Infrastructure Investment Bank and the revitalization of the Shanghai Cooperation Organization. But China’s growing assertiveness, particularly in the South China Sea, has fueled the perception that it is more of a threat than a leader. All in all, the BRICS no longer seem to be rising.
At the same time, the core of the West no longer seems to be declining. Although Europe remains mired in crisis and existential self-doubt, and Japan is still finding its feet after two decades of economic stagnation, the US is as relevant as ever. Indeed, no major global challenge – from conflict in the Middle East to climate change to global financial regulation – can be confronted without American engagement.
America’s enduring dominance will rile many, and with good reason. A quarter-century after the Cold War’s end, the world should have arrived at a more equitable and balanced way of getting things done. But it has not, and no other single power is in a position to take America’s place. Europe is too inward looking; China inspires too much suspicion; and India, despite showing signs that it is preparing for a greater global role, lacks enough international authority on its own. As a result, nearly 20 years after former US Secretary of State Madeleine Albright dubbed her country “indispensable,” it remains so.
The imperative now is for the US and the world to recognize this. Rather than focusing our attention on alternatives to US leadership, we should be emphasizing its importance – an approach that would help to spur the US to rededicate itself to its international responsibilities. There have been hints that this impulse still exists – notably, the Iranian nuclear deal – but they remain inadequate to the challenges confronting the world.
The international order is at a crossroads. It needs the US to guide it – with ingenuity, initiative, and stamina – in the direction of peace and prosperity. Obsessing about who might eventually replace America is bound to get us all lost.

Ana Palacio, a former Spanish foreign minister and former Senior Vice President of the World Bank, is a member of the Spanish Council of State, a visiting lecturer at Georgetown University, and a member of the World Economic Forum's Global Agenda Council on the United States.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Brics: um relatorio do Ipea

Tenho por hábito só escrever coisas com as quais eu me sinto confortável, ou seja, quando exista alguma empatia entre o assunto e o seu analista, no caso, este escrevinhador.
A despeito de eu saber muita coisa sobre os Brics, e até de ter escrito um capítulo sobre o Brasil nos Brics, para um livro publicado em Portugal ainda recentemente, creio que eu não saberia escrever qualquer capítulo, ou seção para o relatório abaixo.
Não é que me faltasse capacidade, mas é que eu não saberia encontrar coisas muito positivas para dizer sobre cada uma dessas áreas no formato Brics.
Estou certo de ser entendido...
Paulo Roberto de Almeida

IPEA. Relatório sobre os BRICS foi entregue a chefes de Estado. Ipea coordenou a elaboração do documento do Conselho de Think Tanks apresentado na cúpula de Ufá.
24/07/2015.

Chefes de Estado dos cinco países que formam os BRICS receberam na recente cúpula em Ufá, na Rússia, o documento Towards a long-term strategy for BRICS (Rumo a uma estratégia de longo prazo para os BRICS, em tradução livre). Essa é a proposta do Conselho de Think Tanks dos BRICS para o futuro da parceria entre os cinco países – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A elaboração do texto foi coordenada pelo Ipea, think tank oficial do Brasil junto ao bloco.

O texto é dividido em cinco capítulos: Promovendo a Cooperação para o Desenvolvimento e Crescimento Econômico; Governança Política e Econômica; Justiça Social, Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida; Paz e Segurança; e Troca de Conhecimento e Inovação para o Progresso. A cúpula dos chefes de Estado ocorreu no dia 9 de julho, com a presença da presidenta Dilma Rousseff.

Entre as várias recomendações listadas, estão a necessidade de os países ampliarem posições nas cadeias globais de valor, reduzirem gradualmente as desigualdades sociais, desenvolverem novos produtos financeiros para segmentos específicos das populações, buscarem a reforma do Conselho de Segurança da ONU, trocarem experiências bem-sucedidas na área social e facilitarem a emissão de vistos para pesquisadores.

Também é sugerida a criação de um centro de pesquisas sobre políticas sociais dos BRICS, de um fórum de debates sobre controle de armas e não-proliferação e de um instituto para inovação e tecnologia. O documento entregue aos chefes de Estado é mencionado na declaração final da cúpula de Ufá como uma iniciativa bem-vinda. O texto começou a tomar forma durante a terceira reunião do Conselho de Think Tanks, em março de 2014, no Rio de Janeiro, organizada pelo Ipea.

Towards a long-term strategy for BRICS - A proposal by the BRICS Think Tanks Councilhttp://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/150724_brics_long_term_strategy.pdf

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Renato Baumann sobre os Brics: um processo em construcao (Russia Direct)

Eis as considerações, todas ponderadas e razoáveis, apresentadas pelo diretor do IPEA para as Relações Econômicas e Politicas internacionais, Renato Baumann, à pergunta sobre se os Brics deveriam ver o Ocidente como parceiro ou como rival:
Renato Baumann, Director of Studies on Economic and International Policy Relations at the Institute of Applied Economic Research (IPEA), Brazil.
To start with, it is difficult for Brazil  – and probably also South Africa  – to consider themselves as non-Western: geography matters. With this clarification, I understand that the question refers to how the main economies – the U.S. and Western Europe – see the BRICS initiative.
My guess is that the economic agents in those countries view the BRICS right now with a mix of curiosity and skepticism. Curiosity, because the group comprises some of the most important economies. But since it is very recent, it is still to be seen how the group will evolve and consolidate. Skepticism, because it is a set of five countries with different histories and objectives, with lower rates of growth now than when the group was formed.
The very reason for forming the BRICS has always been the joint perception by the five countries with regard to the needed changes in global governance. This has led to a demanding position, sometimes rather critical of the status quo. This has also led to a number of initiatives to try and increase mutual knowledge. More importantly, the group has initiated a substantive, unprecedented initiative, with the creation of a joint institution – the New Development Bank – that will allow for some degree of freedom in having an additional source of resources for investment projects in infrastructure. At the same time, it will be a big challenge to joint action by the five countries.
This means that the BRICS countries hardly see “the West” as rivals, with perhaps the exception of one or other members, involved in specific conflicts. As a group, the overall sentiment is that this is a “building up exercise,” and not a contest.

Russia Direct, July 13, 2015

Os Brics na Russia e a nova ideologia do grupo: agora virou nao-ocidental - Russia Direct

Como eu leio sempre tudo, de todos os lados, para me informar e formar minha opinião, recebo, toda semana, o jornal Russia Direct, que parece ter saído diretamente do Kremlin, mas tem um toque jornalístico aparentemente técnico, só que reproduzindo tudo o que pensa o Kremlin de outra forma.
O número que recebi hoje, segunda-feira 13 de julho, e que resume a visão russa do recente encontro dos líderes dos Brics em Ufá, na Rússia (quase chegando no Kazaquistão), é uma maravilha para quem gosta de ideologia e de mistificação: os Brics podem agora passar a ser, não exatamente anti-ocidentais, mas simplesmente não-ocidentais.
Entenderam essa?
O Brasil agora é um país não-ocidental. Não é uma maravilha?
O Russia Direct também se preocupa em que a visita da presidente do Brasil aos EUA, justo antes do summit dos Brics, pode representar o perigo da falta de unidade nos Brics. Não é gozado? Isso pode atrapalhar a unidade que a Rússia pretende dos Brics para enfrentar o Ocidente. O que é que vai fazer o Brasil? Garantir a unidade dos Brics, ou ajudar na cruzada anti-ocidental não-ocidental?
Os "experts" russos consultados para a terceira matéria listada abaixo se perguntam isto:
"Is Brazil backing away from the BRICS?"
Um outro jornal russo, refletido na matéria, traz uma matéria de opinião, segundo a qual:
"The BRICS have cracked: Brazil surrenders to the United States” was how REGNUM headlined an opinion piece on Rousseff’s visit to the United States."
O Brasil se rendendo aos EUA, pelas mãos daquela que prometia defender a soberania do país contra a arrogância do império? Parece um pouco grego tudo isso...
O jornal até tenta ensinar aos dirigentes russos que não se deve ser tão anti-ocidental a ponto de prejudicar os interesses russos, como se lê na última matéria, mas como verificamos no Brasil também a natureza dos dirigentes políticos os induzem a atuar conforme suas convicções profundas, e contra os interesses do país.
Assim é a vida. Leiam e se informem sobre o que pensam, e como pensam, os russos...
Paulo Roberto de Almeida

Russia Direct, July 3, 2015
The BRICS and the West: Partners or rivals?
Debates: The annual BRICS Summit in Russia this year marks a breakthrough in the development of the group’s political and financial institutions. The big question now is whether these institutions will choose to partner with the West or go it alone.

The BRICS may be non-Western but they are not anti-Western
Interview: Fyodor Lukyanov, head of Russia’s Council on Foreign and Defense Policy, discusses how the BRICS are evolving in response to changing geopolitical conditions.

The future of BRICS in limbo
The visit by the Brazilian president to the U.S. before the BRICS summit points to a lack of unity within the BRICS, which could dent the Kremlin’s aspirations to break its isolation from the West.
How the US military plans to neutralize Russia
The new military strategy of the U.S., which now includes Russia in the list of top threats, indicates that Washington is trying to maintain its global influence that was established after the collapse of the Soviet Union.

Understanding the context of the Kremlin's post-Crimean ideology
The release of a “patriotic stop-list” of undesirable foreign organizations is just the latest manifestation of the short-term ideological thinking that is currently ascendant in the Kremlin.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Brics: China um exemplo de cibersecurity totalitária. Um exemplo a ser seguido pelos demais? (NYT)

Logo ao abrir as notícias do dia, nesta sexta-feira 10 de julho, em Anápolis, deparo-me com uma matéria do New York Times da véspera, enquanto se desenvolvia o encontro do ano do grupo Brics, reunido na Rússia, em Ufá.
A chamada da matéria é a seguinte:

SINOSPHERE
What You Need to Know About China’s Draft Cybersecurity Law

By AUSTIN RAMZY
China, which has some of the world’s tightest Internet restrictions, has released a draft of a bill that authorizes broad powers to control the flow of online information.
The New York Times, Compiled: July 9, 2015 6:01 AM

Logo, um assunto altamente relevante para todos os cidadãos que se preocupam com a intrusão do Estado, dos governos mais exatamente, em suas vidas privadas.
Carmen Lícia e eu estávamos na China, em 2010, quando soubemos, por acaso, em agosto daquele ano, que finalmente havia sido levantada a barreira total imposta por Beijing no acesso à internet, por toda uma imensa província chinesa (no nome), Xinjiang (na verdade o chamado Kazaquistão chinês), em consequência dos distúrbios causados pelos rebeldes uigures contra dominação Han naquela região, inclusive na capital Urumqi. Uma província inteira, cortada do mundo, durante mais de um ano, segundo dispositivos que integram a atual lei de segurança na internet agora implementada.
E o que constato pela matéria abaixo?
Isto abaixo, que continua a ser preocupante do ponto de vista dos direitos cidadãos.
Paulo Roberto de Almeida 

What You Need to Know About China’s Draft Cybersecurity Law




Surveillance cameras in Tiananmen Square, Beijing. The release of draft legislation on cybersecurity in China followed the recent passage of a law on national security. Credit Wu Hong/European Pressphoto Agency
China, which has some of the world’s tightest Internet restrictions, has released a draft of a new cybersecurity law that authorizes broad powers to control the flow of online information. The bill, which has been translated into English on the website China Law Translate, comes after the recent passage of a law on national security and with the expected approval of bills on nongovernmental organizations and counterterrorism.
Here is a look at some of the main provisions of the cybersecurity bill, and what the measure tells us about the structure of China’s Internet control apparatus:
The Cyberspace Administration of China has a crucial role. Perhaps the most interesting aspect of the bill is not the powers that it spells out, but who holds them. Analysts say the draft shows clear signs that the Cyberspace Administration and its director, Lu Wei, drive Internet policy and that it gives the body great powers to guide research and education.
Near the beginning, the draft says that the “state Internet information department” is “responsible for comprehensively planning and coordinating network security efforts and related supervision and management efforts.”
Rogier Creemers, a research scholar at Oxford University, said this is a clear reference to the Cyberspace Administration of China and puts it in the driver’s seat for policy-making going forward. “They are clearly in charge,” Mr. Creemers said.
“They are are a coordination and decision-making body at the highest political level,” he said, adding that with this law the Cyberspace Administration has set a broad agenda, and that it will be up to other ministries to then work out more specific laws, such as rules governing e-commerce or what hardware banks can use.
Most of the provisions are not new. China has long taken steps to restrict many types of online content, from pornography to political discussions. Many foreign sites are blocked, and domestic sites use automated censorship mechanisms as well as staff members to remove posts on restricted topics.
Even the most aggressive measures discussed in the draft, restricting Internet access in a particular region to “safeguard the national security, social stability or handle a sudden major incident of concern for social safety,” have been used. In 2009, China shut off nearly all Internet access and international calls in the far western region of Xinjiang for months, after deadly riots in the city of Urumqi.
But often such powers were defined in lower-level regulations or even Internet companies’ contracts. By elevating them to a national law, Chinese authorities are signaling that they are placing a high priority on compliance and that they want to “make it harder for Internet companies to avoid or drag feet on implementation,” said Maya Wang, a researcher with Human Rights Watch based in Hong Kong.
“The law is meant to say the party is serious about controlling the Internet,” she said.
A warning to global companies. China has long been a difficult place for foreign technology companies to thrive. Many sites, including Facebook, Google, Twitter and YouTube, are partly or completely blocked.
Some clauses, such as a requirement for the development of safeguards on “critical information infrastructure,” could further curtail the activities of foreign companies, but the details are still unclear.
“The foreign business community will be reading the law closely, trying to determine how the cybersecurity standards and procurement provisions will be implemented,” Adam Segal, an expert on China and digital policy at the Council on Foreign Relations, wrote. “The past few months will not give them great comfort, as Beijing has adopted a national security law and other provisions to make technology used in China ‘secure and controllable’.”

Paul Mozur contributed reporting.
Follow Austin Ramzy on Twitter at @austinramzy, and Paul Mozur at @paulmozur.



quinta-feira, 9 de julho de 2015

Brics realizam encontro numa "aldeia Potemkin" (combina com eles...)

Quem conhece a história de Catarina, dita a grande, que obviamente vem depois do fundador de Ufá, Pedro, também dito o Grande, e de Ivan, dito o Terrível (et pour cause, como a Catarina, aliás), sabe do que estou falando, a maquiagem da miséria atrás de frondosos cenários de pujança e riqueza.
Um pouco como as maquiagens contábeis feitas pelos companheiros aqui no Brasil, a completa deformação das contas públicas por economistas aloprados, transformando a feitura dos déficits em vistosos superávits.
Não é de estranhar que os Brics sigam o mesmo exemplo de mistificação, como evidenciado nesta matéria da BBC.
Paulo Roberto de Almeida

Fundada por Ivã, o Terrível, cidade veste 'máscara' para sediar cúpula dos Brics
Luiza Bandeira Enviada especial da BBC Brasil a Ufá, Rússia
BBC Brasil, 9/07/2015

Escolha de Ufá para sediar reunião anual dos BRICS pode ter tido motivação política

Uma edição da Gazeta Russa publicada no Brasil na semana passada já alertava: apesar de a socialite americana Paris Hilton ter achado a cidade de Ufá, sede russa da 7ª Cúpula dos Brics, "linda e encantadora", nem todos que visitam a capital da Bachquíria "sentem a vibração logo de cara".
Construída por ordem do czar Ivã, o Terrível, para proteger o território de invasões, Ufá não lembra nem de longe os tempos de fortaleza.
Encravada na Rússia Central, a mais de mil km de Moscou, próxima do Cazaquistão e dos Montes Urais, que marcam a divisa com a Sibéria, a cidade tem ruas largas, arquitetura insossa e luzinhas com aparência natalina acesas em pleno julho.
As centenas de placas do evento espalhadas pela cidade não deixam dúvida da importância para Ufá de sediar a cúpula dos Brics. Mas nos longos trajetos entre os hotéis escolhidos pela organização para abrigar jornalistas e o centro de imprensa, é difícil ver qualquer vibração.

Policiais vigiam as ruas de Ufá, que receberam adesivos para amenizar o visual.

Vazia
Apesar de ter mais de um milhão de habitantes, há poucas pessoas nas ruas e calçadas. A polícia, por outro lado, está em quase toda esquina. Os policiais se posicionam discretamente, normalmente sem carros ou presença ostensiva na rua; costumam ficar sozinhos ou em duplas nas calçadas.

Apesar de abrigar uma população em torno de 1 milhão de habitantes, a maioria das ruas de Ufá tem aparência deserta.

Escolhida para sediar tanto a cúpula dos Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – a cidade consumiu US$ 189 milhões nos preparativos para o evento, de acordo com o governo.
A maior parte, US$ 108 milhões, veio de investimentos privados, com o governo federal e o da república da Bachquíria bancando o resto. O governo de Vladimir Putin tem interesse em mostrar pujança com o evento - a Rússia sofre sanções devido à crise na Ucrânia e o líder russo quer fazer do encontro uma demonstração de poder.
Os principais investimentos foram para a reforma do aeroporto e construção de novos hotéis – um deles, da rede Hilton, dá uma pista para justificar a propaganda positiva que a herdeira da rede fez da cidade.
 
Maquiagem
Nas redes sociais russas, os preparativos causaram polêmica: o governo foi acusado de maquiar a cidade para os participantes do evento.
Fotos publicadas por um blogueiro e compartilhadas por milhares mostraram casas escondidas por falsas fachadas, feitas de uma espécie de papel de parede, e também por grandes cartazes de árvores.

Os prédios antigos receberam uma fachada falsa com a aplicação de adesivos.
Um prédio antigo também teria sido escondido atrás de uma espécie de adesivo simulando uma aparência mais moderna. Além disso, calçadas de cimento teriam sido cobertas por grama falsa.
Pela cidade, a reportagem da BBC Brasil viu os cartazes de árvores retratados, mas eles estavam tapando obras.
Segundo a agência de notícias russa Tass, as autoridades de Ufá reagiram dizendo que o blogueiro não era mais bem-vindo na cidade.

Calçadas de Ufá foram cobertas por grama artifical para melhorar o visual urbano.
Turisticamente, Ufá se vende como uma divisa entre Ocidente e Oriente. Ela não tem grandes atrações turísticas: segundo o Trip Advisor, o melhor programa da cidade é visitar o monumento Slavat Yulaev (líder de uma rebelião no local), visível a partir do centro onde será realizada a cúpula.
Já o guia Lonely Planet recomenda, em seu site, uma visita ao Museu Lênin, em uma casa onde o próprio líder da Revolução Russa morou por algum tempo, a 30 quilômetros de Ufá. A Gazeta Russa, suplemento em português financiado pelo governo russo, aconselha provar o mel de Ufá, especialidade local.
O turista que visitar Ufá, porém, pode ter problemas de comunicação: a maior parte das pessoas que a reportagem da BBC Brasil encontrou não falava inglês - mas elas não se abstiveram de falar em russo, mesmo sabendo que o interlocutor não falava a língua.
 
Exposição
Logo na entrada do centro de imprensa, há uma exposição sobre Ufá com basicamente quatro itens: uma maquete do antigo kremlin (fortaleza) da cidade, que não existe mais; um traje usado pelo bailarino Rudolf Nureyev, celebridade maior da cidade; um troféu do time de hóquei local e o motor de um caça produzido em Ufá.
A mostra termina com maquetes de projetos que prometem, nos próximos sete anos, mudar a paisagem da cidade – que, hoje, é marcada por alguns prédios de arquitetura funcional típica soviética, sem grandes atrativos e em tons pastéis - com prédios modernos e espelhados e grandes áreas verdes.
Na sala de imprensa, grandes telões mostram imagens turbinadas da cidade – luzes acesas à noite, prédios históricos, igrejas e mesquitas com iluminação especial e imagens aéreas do rio que banha a cidade.
Jornalistas que se interessaram em saber um pouco mais pela cidade ganharam pelo menos três livros: um sobre a história de Ufá, um sobre a Bachquíria e um sobre a Rússia em geral.
Mas qual o interesse da Rússia em realizar um evento de grande porte em uma cidade longínqua e pouco conhecida?
Para o professor de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel, o objetivo é promover uma cidade fora do eixo.
"Assim como outros países, a Rússia usa a cúpula para beneficiar politicamente um aliado e apresentar ao mundo algumas regiões que não têm visibilidade", afirma.
Ele lembra que, quando o Brasil foi anfitrião da cúpula, escolheu Fortaleza como sede do evento – um afago ao aliado Cid Gomes, que quando governador, construiu um grande centro de convenções que acabou sendo usado para o evento.

Brics pretendem aprofundar ainda mais as bobagens economicas dos paises desenvolvidos

Nunca devemos nos surpreender com as contradições e equívocos dos Brics (minus China, que só faz aquilo que lhe interessa, sem atenção para as bobagens dos colegas de bloco).
Quem não se lembra das lamúrias, protestos, reclamações dos lulo-petistas (e nem preciso lembrar quem) que, no auge da crise dos desenvolvidos (que parece largamente superada atualmente, menos nas escusas fajutas dos mesmos lulo-petistas), acusavam as economias desenvolvidas de fazerem "guerra cambial", e de "tsunami financeiro".
Eles reclamavam contra o manancial de dinheiro que os bancos centrais do G7 despejavam no mercado, estupidamente, ou seja, keynesianamente, para sustentar a demanda, como eles se justificavam.
Pois agora são os Brics, que na iminência da interrupção dos diversos "quantitative easing", e sa subida dos juros, reclamam que vai faltar dinheiro, e querem a extensão das linhas de crédito em divisas fortes. Eles querem mais liquidez, querem mais dinheiro fácil, querem fazer tsunami financeiro, querem aumentar a inflação e a dívida pública...
Vão ser contraditórios lá em Ufá...
Paulo Roberto de Almeida 

Contra turbulência, Brics querem acesso a moeda de países ricos
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 9/07/2015
Os países do Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - querem que as nações desenvolvidas garantam linhas de swap de moedas, no caso de restrição de liquidez no mercado cambial, que poderia afetar os emergentes, quando os EUA voltarem a elevar os juros, provavelmente ainda neste ano.
No começo da crise global, em 2008, o Brasil foi um dos países que obtiveram linha de swap de moedas de US$ 30 bilhões com o Federal Reserve, que nunca foi acionada. A China, com quase US$ 4 trilhões de reservas, fez bilateralmente vários acordos com emergentes nos últimos tempos.
O Valor apurou, que no comunicado de 75 parágrafos que vão divulgar hoje, ao final de sua cúpula em Ufá, na Rússia, os líderes das cinco grandes economias emergentes vão manifestar persistente "preocupação com o potencial efeito das repercussões de politicas monetárias não convencionais de países avançados, que poderiam causar volatilidade disruptiva nas taxas de câmbio, nos preços dos ativos e nos fluxos de capital".
Para "reduzir os riscos potenciais'' desse cenário, a presidente Dilma Rousseff e seus colegas Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Jacob Zuma (África do Sul) e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Mori, conclamarão as principais economias desenvolvidas a "reforçar seu diálogo politico e a coordenação no contexto do G-20".
Os líderes dos Brics consideram importante fortalecer a cooperação financeira internacional por meio de instrumento como linhas de swap "para mitigar os impactos negativos de divergência de política monetária nos países emissores de moedas de reserva" - essencialmente os EUA, a zona do euro e o Japão.
Existe o sentimento entre autoridades do grupo de que, mesmo com uma melhor preparação e boa comunicação do Federal Reserve (o BC dos EUA) sobre a normalização de sua política monetária, o aumento da volatilidade nos mercados é possível quando os juros aumentarem nos EUA e o dólar continuar se valorizando globalmente.
Produtores de matérias-primas, incluindo o Brasil, entram nesse cenário com o fim do superciclo dos preços de commodities, no rastro da desaceleração da economia da China que pode agora se acentuar com o estouro da bolha no seu mercado de ações.
O acordo operacional do fundo de reservas dos Brics, de US$ 100 bilhões, que entra em vigor no fim deste mes, servirá para defesa no caso de algum dos cinco países do grupo enfrentar problemas de liquidez em dólar.
Mas a Índia é um dos países que dá ênfase à garantia de acesso a linha de swap também pelos bancos centrais dos países ricos, como deixou claro em reuniões no G-20, grupo que reúne as maiores economias do planeta.
Para Nova Déli, é preciso assegurar que linhas de swap de moedas estejam disponíveis, como em 2008, para evitar o estigma de um país em dificuldade recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ter de se submeter a suas condicionalidades.
O que o Brics defende, porém, sofreu no G-20 resistência dos EUA e da Europa no ano passado, com alguns países ricos estimando que a primeira linha de proteção deve vir do FMI.
No comunicado do Brics, que será divulgado hoje, os líderes avaliam que a recuperação global não está consolidada, resta frágil e com divergências consideráveis entre países e regiões.
Eles estimam que os mercados emergentes e os países em desenvolvimento continuam a ser os grandes motores do crescimento economico global.
Para o Brics, reformas estruturais, ajuste doméstico e inovação são importantes para o crescimento sustentável e para fornecer uma contribuição significativa para a economia mundial.
''Notamos os sinais de melhora das perspectivas de crescimento em algumas das principais economias avançadas. No entanto, riscos para economia global persistem'', dirá o documento.
Para o grupo, os desafios têm relação com endividamento público e desemprego elevados, pobreza, menos investimentos e comércio, taxas de juros reais negativas juntamente com sinais de prolongada inflação baixa nos países desenvolvidos.

Economia lulo-petista propoe ao Brasil recuo de 80 anos no comercio internacional: de volta aos anos 1930 com o Brics

Inacreditáveis petistas: não contentes de provocarem o maior desastre econômico no Brasil desde a era Sarney e Collor, eles ainda querem fazer o Brasil recuar ainda mais, voltar ao bilateralismo estrito e ao uso de moedas contábeis no comércio internacional, como se fazia na época da Grande Depressão.
Não surpreende: o lulo-petismo econômico é pior que uma Grande Depressão. Significa uma derrocada completa dos saudáveis princípios do multilateralismo econômico, da abertura no comércio internacional, e um recuo inacreditável ao mais vulgar mercantilismo e protecionismo.
Aceitar comércio em moedas locais, inconversíveis, num momento em que a China pretender tornar o yuan uma moeda conversível e inserida na cesta do SDR, os Direitos Especiais de Saque do FMI, é de uma estupidez imensa, só compatível com a esquizofrenia econômica lulo-petista.
Bando de bárbaros regressistas.
Paulo Roberto de Almeida

Putin pede a Dilma uso de moedas locais em trocas
Assis Moreira


Valor Econômico, 9/07/2015
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conclamou a presidente Dilma Rousseff para os dois países "trabalharem mais" para a possível utilização de real e rublo no comércio bilateral, que visa reduzir o uso de dólar nas trocas.
Já a presidente, pelo menos na declaração inicial diante dos jornalistas não tocou no tema. A área econômica do governo brasileiro acha que as propostas na mesa ainda não levam a um consenso.
Moscou está particularmente engajado no uso de moeda local, no momento, tirando as lições de seu confronto com americanos e europeus, que impuseram sanções contra Moscou.
Por sua vez, uma declaração de empresários dos Brics, que será entregue aos líderes hoje, também coloca como uma das prioridades o uso de divisas nacionais no comércio entre eles.
O volume de comércio entre os países dos Brics saltou, entre 2005 e 2014, de US$ 72 bilhões para US$ 297 bilhões, um incremento de 311%, acima do crescimento do comércio mundial, de 80%, no mesmo período. Os países dos Brics dobraram a sua participação no comércio desde 2001, representando, hoje, 18% do comércio global, segundo o Itamaraty.
Em todo caso, Dilma e Putin prometeram se engajar para que o comércio bilateral aumente para USS 10 bilhões, comparado a USS 6,8 bilhões no ano passado.
Segundo Putin, o comércio bilateral cresceu 15% em 2014, mas diminuiu no primeiro trimestre deste ano. Ele, porém, disse ter certeza de que as trocas vão continuar aumentando. O Brasil exporta sobretudo carnes para o mercado russo.
Os dois presidentes abordaram os acordos de ciência e tecnologia que vão assinar, incluindo na área de astronomia.
Dilma foi a última dos líderes a chegar a Ufá para a cúpula dos Brics. Mas o anfitrião, Putin, demorou tanto em encontros bilaterais que o jantar de abertura começou com grande atraso. Já tarde da noite, os dois presidentes tiveram um encontro bilateral. Ao retornar para o hotel, a presidente não quis comentar as turbulências nas bolsas da China, que apagaram mais de US$ 3,5 trilhões em valor e podem implicar em mais baixa na demanda por commodities.
Hoje, a presidente terá reuniões bilaterais com os presidentes da China, de Belarus e do Cazaquistão, e com o primeiro-ministro da Índia. Segundo sua assessoria, todos pediram para falar com ela, enquanto Dilma não requisitou nenhuma conversa.
É possível que o Brasil consiga uma ligeira satisfação na sua luta pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O governo considera isso ainda mais simbólico neste ano em que a ONU completa 70 anos.
A China não quer apoiar a entrada do Japão no Conselho de Segurança e tampouco tem simpatia pela entrada da Índia. Ocorre que Brasil, Índia, Japão e Alemanha formam o G-4, engajados pela reforma. Os chineses dizem que, se o Brasil não estivesse nesse tipo de grupo, seria menos complicado para Pequim dar algum apoio para a reforma do Conselho.
A declaração dos líderes e o texto da parceria econômica terão juntos 80 páginas, resultado de meses de negociações.