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quinta-feira, 16 de março de 2023

O temor de uma crise global: mercados financeiros cresceram enormemente - Celso Ming (OESP)

A ameaça de crise global | Crise no mercado financeiro exigirá dos bancos mecanismos de autodefesa, como contração de crédito e redução dos juros, que vão comprometer ainda mais a economia global


Por Celso Ming

             O Estado de S. Paulo, 15/03/2023


O colapso do Silicon Valley Bank nos Estados Unidos é a ponta de um iceberg que mostra vulnerabilidades do sistema financeiro global.


Por tudo quanto se sabe, o banco quebrou não por fraude ou por aplicação em ativos de qualidade duvidosa. Quebrou porque estava superaplicado no mais seguro título do mundo, o do Tesouro dos Estados Unidos (o treasury).



É fácil entender por que o treasury pode se desvalorizar e deixar um grande banco na pior, como aconteceu. Se os juros sobem rapidamente, os detentores de títulos não conseguem revendê-los no mercado pelo mesmo preço de face. Numa conta sem rigor aritmético, um treasury de US$ 1 mil que paga juros de 2% ao ano rende US$ 20 ao ano. Se os juros sobem para 5% ao ano, o novo treasury paga US$ 50 ao ano. Para render os mesmos US$ 50, o título de US$ 1 mil com juros contratuais de 2% ao ano tem de ser negociado no mercado a US$ 953. No caso do Silicon Valley, os correntistas correram aos saques – o banco teve de vender seus ativos a preços mais baixos e, de uma hora para outra, ficou sem caixa.


Isso não tem a ver com falta de segurança do título. Bastaria esperar pelo vencimento para garantir os retornos contratuais. O que houve foi um descasamento de prazos. Se essa complicação derrubar mais bancos, com fragilidades dessa ou de outra ordem, como é o caso do Credit Suisse, poderá tornar-se crise sistêmica.


No final dos anos 1970 e início dos 1980, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), dirigido então por Paul Volcker, atirou de repente os juros para 20% ao ano para combater a inflação. Mas, apesar da forte recessão que se seguiu, nada parecido aconteceu, porque o mercado financeiro dos Estados Unidos e do mundo era relativamente pequeno. Em 2015, o valor total dos ativos das instituições financeiras do planeta era de US$ 325 trilhões, cerca de quatro vezes o PIB global daquele ano. Hoje, está em torno de mais de US$ 485 trilhões. Uma trinca nessa barragem ficou muito mais perigosa.


Agora os organismos reguladores do sistema financeiro global e os grandes bancos centrais têm de dar prioridade para debelar o risco de uma crise sistêmica. Isso exige redução dos juros – o contrário do que vinha sendo programado. A dominância financeira, digamos assim, impede que os grandes bancos centrais executem a política monetária (política de juros) mais adequada para reconduzir a inflação para as metas estabelecidas.


Essa não é a única consequência macroeconômica importante. Os bancos serão obrigados a acionar mecanismos de autodefesa e isso exigirá contração do crédito e, assim, cobrará um preço em recessão.


Embora esteja menos exposto do que os países centrais, o Brasil não está ileso. O Banco Central do Brasil provavelmente terá de reduzir os juros. Forte retração do crédito, já restringido pelo fator Americanas, ficou mais provável. E o climão geral está mais para algum contágio via recessão.


https://www.estadao.com.br/economia/celso-ming/a-ameaca-de-crise-global/


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

As montadoras sob pressão e os royalties do petróleo - Celso Ming

 As montadoras sob pressão e os royalties do petróleo


Celso Ming
O Estado de S. Paulo. 11/12/2020

Ninguém sabe quando a era do petróleo chegará ao fim. Mas esse limite está cada vez mais próximo, bem antes de se esgotarem as reservas de hidrocarbonetos no subsolo. E isso produz importantes consequências para o Brasil.

Como aponta matéria publicada no Estadão de domingo, 6 de dezembro, assinada pela jornalista Cleide Silva, aumentam em todo o mundo as restrições à produção de carros novos movidos a gasolina ou diesel. Inglaterra, Alemanha, países da Escandinávia, Japão, China e até mesmo o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, vêm antecipando o início dessa proibição, para 2030 ou 2035. São prazos que inevitavelmente serão adotados por outros países, se não por imposição legal, pelo menos por simples lógica de mercado.

Explicando melhor, por questão de escala de produção ou por necessidade de atender a exportações sob novos padrões, a indústria automobilística global não poderá produzir carros a gasolina para alguns países e, ao mesmo tempo, carros movidos a energia elétrica para outros; terão de unificar os modelos. Isso é mais ou menos como aconteceu com as aeronaves a jato. Quando alguns governos impuseram restrições aos ruídos produzidos pelas turbinas de aviões a jato, essa condição se estendeu a todo o mercado, porque todo avião tinha de estar pronto para operar em qualquer aeroporto ao redor do mundo. Ou seja, a indústria automobilística brasileira tem de tirar também o atraso em relação a esse item porque tem de pensar nas exportações.

Os veículos elétricos ou híbridos representam atualmente 10% das vendas globais de automóveis. Em 2030, a estimativa é de que as vendas desses modelos sejam cerca de 50%, apontam os relatórios de grandes consultorias.

A pressão cresce também sobre a indústria global do petróleo. Mesmo levando-se em conta que a partir de 2030 ainda haverá grande demanda por derivados, não só para atender à frota de veículos a gasolina ou a diesel, mas, também, para queima nas usinas termoelétricas que continuarão funcionando a despeito do aumento da energia limpa, o petróleo vai acabar por micar onde ele se mantiver inexplorado - independentemente do tamanho e da qualidade dessas jazidas.

Daí, também, a urgência em concentrar esforços e capitais para extrair o que o pré-sal brasileiro e outros campos de hidrocarbonetos puderem proporcionar. Os governos do PT cometeram o grave erro de retardar o processo de exploração de petróleo no Brasil, mais para impedir a entrada de empresas privadas estrangeiras e nacionais nesse mercado do que para preservar o futuro das próximas gerações - quando elas não precisarão mais desse recurso natural. É o mesmo erro que cometem agora as corporações ligadas aos sindicatos dos petroleiros. Não moveram uma palha em defesa da Petrobrás enquanto foi dilapidada pela corrupção e agora protestam quando a empresa se dedica a se desfazer de atividades secundárias para se concentrar na sua atividade principal, que é a produção de petróleo.

Mas há outro fator, desta vez de natureza fiscal, que exige urgência na exploração do petróleo brasileiro antes que ele perca a condição de produto estratégico, como ainda é hoje. Trata-se da geração de receitas com royalties e participações especiais, que hoje geram R$ 45 bilhões por ano. (Veja o gráfico.) O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, está praticamente falido e não pode abrir mão de nenhuma oportunidade para atender às necessidades orçamentárias. Petróleo que deixa de ser produzido é royalty que deixa de chegar. Igual necessidade se aplica a outros Estados e municípios do País, tão castigados pela perda de arrecadação nestes últimos anos de crise.

Atrasar a exploração desse recurso implica irrecuperável punição fiscal a esses entes da Federação. Em alguns casos, grandes petroleiras vêm desistindo da exploração de áreas obtidas por leilão, por atrasos inexplicáveis (ou pura falta de empenho) na concessão de licenciamentos ambientais, como aconteceu no Amapá. E esse é outro fator de irracionalidade e de perda fiscal que atinge o setor do petróleo.

O tempo não espera que o País acorde da falta de noção de urgência e de sua omissão irresponsável.

COMENTARISTA DE ECONOMIA

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Cobrar impostos na exportacao e´ idiota - Celso Ming

A força do agro

Celso Ming 

O Estado de S. Paulo, 7/07/2016


Há um punhado de setores da economia por onde pode começar a retomada do crescimento da produção e da renda. Um deles é o agropecuário. Prevalece entre as nossas esquerdas jurássicas o ponto de vista de que tudo que diz respeito ao agronegócio está a relacionado a duas coisas ruins: a uma economia primitiva incapaz de agregar valor; e a atuações políticas atrasadas, ligadas ao latifúndio e aos ruralistas, os de bancada e os do resto.
Não é errado dizer que, ao contrário do que alega essa gente, mineração e agricultura estão entre os setores que mais agregam valor. Minério no chão vale pouco; tirado de lá, alcança o preço que se sabe. Não é à toa que a Vale nunca se interessou em produzir aço. Na agricultura pode-se dizer o mesmo. Uma saca (60 kg) de semente selecionada de soja produz cerca de três toneladas.
Mede-se mais o dinamismo de um setor pela incorporação de tecnologia e pela mentalidade modernizante e ambientalmente sustentável dos seus empreendedores do que pela quantidade de etapas agregadas à produção, embora estas também possam ser desejáveis. O maior país do mundo, os Estados Unidos, não tem nenhum problema em ser o maior produtor agrícola do mundo.
O Brasil não corre nenhum risco de se tornar um fazendão, como parecem temer desenvolvimentistas equivocados. Como lembrou na última segunda-feira o chanceler José Serra, o Brasil pode ser grande exportador tanto de soja quanto de aviões. Para isso não precisa de muito. Basta que o governo colabore com o desenvolvimento da infraestrutura, especialmente no transporte, e não faça besteiras, como a da proposta feita há duas semanas pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que pretende a cobrança de contribuições previdenciárias sobre a exportação de produtos agropecuários.
Essa é uma sugestão idiota, pelo menos por duas razões. Primeira, porque inventa uma taxação sobre exportação quando no mundo inteiro se faz o contrário, isentam- se os produtos de exportação de quaisquer taxações, para evitar que o comprador estrangeiro seja obrigado a pagar impostos. Em segundo lugar, na medida em que o Brasil admitisse essa taxação, estaria matando o argumento da longa luta contra os subsídios aos produtos agrícolas concedidos pelos países de economia madura.
Estaria admitindo que essa concorrência desleal não prejudica suas próprias exportações, visto que aceita até mesmo uma taxação extra sobre seu produto. A agricultura brasileira acaba de ultrapassar a marca da produção de 100 milhões de toneladas de soja por ano. Dentro de mais 15 anos, estará em condições de dobrar esse feito sem desmatamentos, apenas com agregação de terras de pastagens e com aumento da produtividade.
Além do mais, o avanço do agronegócio não se faz apenas com grandes empresas. No Brasil, a agricultura familiar e o cooperativismo mostram grande dinamismo e capacidade de absorver as novas tecnologias de ponta no preparo do solo, genética, manejo de culturas, colheita e armazenamento. É não atrapalhar e deixar acontecer.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Argentina: terra arrasada inclusive na diplomacia - Celso Ming

Parece que os companheiros dos companheiros na Argentina não pouparam sequer a diplomacia porteña.
Paulo Roberto de Almeida

Terra arrasada
O governo Kirchner deixou um cenário de terra arrasada para o governo do seu sucessor, Mauricio Macri. As primeiras notícias foram de sumiço de coisas e de documentos da Casa Rosada, a sede do executivo, e dos ministérios. O que se pode dizer é que não há nem levantamento do material desaparecido, pela inexistência de listas sobre o que antes havia.
Por onde recomeçar?
Na área das relações internacionais, os antigos ocupantes de cargos-chave, quase todos fora da carreira diplomática nomeados por critérios políticos, destruíram ou levaram tudo embora. Os novos têm de recompor até mesmo a agenda de contatos e de eventos já programados. A saída é buscar ajuda nas embaixadas e instituições de países vizinhos.
(da coluna do jornalista Celso Ming, no Estadão deste sábado, 26/12/2015)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fiasco da Pátria Educadora - Celso Ming

A situação, na verdade, é muito pior, mas muito mais pior, como diria o grande apedeuta, do que vocês sequer podem imaginar. Estar nos últimos lugares do Pisa é apenas uma tragédia menor, comparada à catástrofe que é saber que essa situação não vai melhorar, e sim piorar, pois nenhuma, repito NENHUMA política correta está sendo implementada para corrigir os incontáveis equívocos cometidos pelos companheiros, que nesse setor foram muito mais danosos e prejudiciais à nação do que os bilhões roubados pelos gatunos do partido totalitário. Dinheiro roubado se repõe ou se faz novamente, mas educação roubada e destruída isso não tem volta e vai durar anos e décadas para consertar, e isso IF AND WHEN começarem a fazer as coisas certas, o que é amplamente duvidoso.
Paulo Roberto de Almeida


Fiasco da Pátria Educadora

O aumento da produtividade do trabalho que o ministro Joaquim Levy reclama não vai acontecer espontaneamente, sem políticas específicas para isso

Celso Ming
O Estado de S. Paulo, 13 Maio 2015 | 21h 00
 O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, advertiu nesta quarta-feira, em Londres, que, “sem forte ganho em produtividade, não podemos apoiar salários mais altos”.
O assunto é objeto de reiteradas advertências do Banco Central por seu impacto sobre a inflação. Quando os salários crescem mais do que a produtividade do trabalho, o resultado é a alta de preços, pelo efeito demanda. Aumentos de salário produzem mais procura por bens e serviços e, quando isso acontece acima do aumento da oferta, é inevitável a inflação, que é o mecanismo natural, digamos assim, de ajuste de uma distorção.
No depoimento que fez dia 29 de abril no Congresso, o ministro Joaquim Levy apresentou a tabela e o gráfico que vão reproduzidos aí acima. Mostram que o rendimento médio do brasileiro (portanto os salários) cresceu substancialmente mais do que a produtividade da economia, a produtividade do trabalho e a produtividade do capital.
É um equívoco afirmar que os salários aumentaram demais apenas por pressão dos sindicatos e das bancadas trabalhistas no Congresso. Os salários aumentaram consideravelmente mais do que o ritmo da economia porque a política econômica criou aumento da demanda por mão de obra. Tanto isso é verdade que, ao longo dos dois últimos anos, o mercado de trabalho operou praticamente em regime de pleno-emprego.
Agora os indicadores mostram avanço do desemprego, o que tende a derrubar, também, a renda média do trabalhador, uma vez que a economia brasileira, que já andava devagar quase parando, entrou em recessão. O fator que começou a agir para derrubar os salários é, portanto, o esfriamento do mercado de trabalho e não alguma coisa ligada à eficácia da mão de obra.
A produtividade do trabalho muito baixa no Brasil é também uma consequência da falta de políticas que procurem melhorar o desempenho da mão de obra no País. Isso se faz com melhora da qualidade de ensino e de treinamento.
A Pátria Educadora é um enorme fiasco nesses misteres. O mau desempenho dos estudantes brasileiros nas avaliações internacionais e os movimentos generalizados de greves de professores mostram a situação crítica do ensino no Brasil, apenas o 60.º colocado, na avaliação da qualidade do ensino feita em 76 países pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como está no Confira.
Embora pareça ter entendido o atraso do desenvolvimento econômico e social produzido por esses fracassos, o governo Dilma só consegue apontar soluções a longo prazo, quando o regime de partilha do pré-sal tiver proporcionado rendimentos da produção de petróleo.
O aumento da produtividade do trabalho que o ministro Joaquim Levy reclama não vai acontecer espontaneamente, sem políticas específicas para isso. 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Mercosul, doze anos de desmantelamento - Celso Ming (Estadao)

MERCOSUL
Pobre Mercosul 
Celso Ming
O Estado de S. Paulo, 26/02/2015

No dia 4 de fevereiro, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, fechou com a China um pacote de acordos que envolvem negócios de mais de US$ 20 bilhões, a maioria na área de investimentos.
A China se comprometeu a construir hidrelétricas, projetos de infraestrutura, telecomunicações e tecnologia aeroespacial. Além de financiamentos de longo prazo, está previsto fornecimento de equipamento produzido na China com isenção alfandegária e emprego de mão de obra chinesa.
São acordos que contrariam frontalmente os tratados do Mercosul na medida em que dão prioridade aos produtos chineses sobre os provenientes dos sócios do Mercosul.
Há uma semana, o diário El Clarim, de Buenos Aires, citou uma anônima autoridade do governo que justificou mais esse atropelamento dos tratados e a crescente prioridade dada a produtos chineses com a alegação de que a Argentina não está obrigada a pagar bem mais caro por produtos brasileiros.
O problema, obviamente, não está no preço, que a China põe onde quer, desde que obtenha as contrapartidas de seu interesse. O problema está em que os produtos brasileiros seguem sujeitos a travas e a licenças prévias de importação, não importando seu preço, enquanto os da China vêm tendo porteira aberta.
A justificativa é a de que a crise cambial não deixa outra saída à Argentina. Enquanto isso, o governo Dilma vem tolerando passivamente os desaforos comerciais, sob o argumento de que não pode abandonar os hermanos numa hora difícil. A principal vítima é o Mercosul, que se apresenta como uma união aduaneira, o segundo estágio de integração entre Estados nacionais. (O primeiro é a definição de uma área de livre-comércio, em que mercadorias e serviços podem circular livremente, sem restrições e impostos alfandegários.) Além de intercâmbio comercial livre entre membros do grupo, uma união aduaneira exige unificação das políticas de comércio e tratamento comum a produtos provenientes de países de fora do bloco. Daí a existência de uma TEC, a Tarifa Externa Comum, que unifica as alíquotas do Imposto de Importação.
O Mercosul não conseguiu completar nem o primeiro estágio, o de área de livre-comércio. Por imposição da Argentina, o comércio bilateral está repleto de restrições, embargos e licenças prévias. Mesmo antes de atravessar a atual penúria de dólares, a Argentina já vinha perfurando sistematicamente a TEC.
A Argentina também não aguenta a concorrência externa. Por isso vem sabotando as negociações de um acordo comercial com a União Europeia. Porque entende que a união aduaneira está em vigor e, com ela, o tratamento comum do comércio exterior, o Brasil vem tolerando o desmanche do Mercosul pela Argentina. Não está nem um pouco claro o tratamento que o governo Dilma pretende dar agora a este cada vez mais desmoralizado bloco.
O gráfico mostra como evoluem as importações da Argentina tanto do Brasil quanto da China. A fonte é a própria Argentina. Mostra o crescimento da importância do produto chinês e a forte redução de importância do produto.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: o projeto Marina Silva - Celso Ming

Vejam bem: não se trata do programa do PSB para governar o Brasil, e sim do projeto Marina Silva para encantar os corações.
Paulo Roberto de Almeida

Projeto Marina
Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 28/08/2014

O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira; Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras

Está na hora de começar a avaliar o que seria a política econômica de um agora mais provável governo Marina Silva.

De cara, a principal objeção seriam as enormes dificuldades de governabilidade a enfrentar, dada a baixa densidade política da coalizão PSB-Rede. Mas este é um problema de qualquer partido e bloco político do Brasil. Enquanto houver 32 siglas – e outras em processo de registro, como a Rede Sustentabilidade – nenhum presidente terá maioria no Congresso. Valerá a capacidade de composição que Marina ainda não demonstrou, até porque não conseguiu oficializar seu partido nem apaziguar os políticos do PSB, agora órfãos de Eduardo Campos.

Enquanto foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, Marina notabilizou-se por suas posições ambientalistas rígidas, a ponto de criar convulsões no setor do agronegócio. Dentro do PT também produziu críticas torrenciais. Lula se queixava de que, em vez de empenhar-se pelo desenvolvimento e facilitar a aprovação de projetos hidrelétricos, Marina preferia defender o bagre. Também foram notórias suas posições contrárias à aprovação das culturas transgênicas. Curiosamente, o candidato a vice de sua chapa, o gaúcho Beto Albuquerque, esteve todos estes anos em campo oposto. A candidata ainda não explicou como vai lidar com esses desafios.

O lançamento do programa do governo do PSB-Rede, coordenado por uma das controladoras do Grupo Itaú, Maria Alice Setúbal, a Neca, está agendado para sexta-feira. Mas não é preciso esperar para conhecer algumas de suas linhas mestras. As primeiras manifestações de Marina sobre as escolhas de políticas macroeconômicas mostram mão firme na direção de retomada da ortodoxia. Seu principal assessor na área, o professor Eduardo Giannetti da Fonseca, já avisou que, se eleito, o governo Marina retomará o tripé abandonado no segundo mandato Lula e no mandato Dilma. Isso significaria a formação de um mais alentado superávit primário (sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida), observância mais rigorosa da meta de inflação e câmbio flutuante, sem essa enorme interferência do governo.

Marina tem anunciado que pretende plena autonomia do Banco Central na execução da política monetária (política de juros) e o retorno à função original eminentemente técnica das agências reguladoras, hoje loteadas politicamente pelo governo PT. Giannetti está avisando que um eventual governo Marina abandonará o casuísmo da administração Dilma, voltado para a distribuição de bondades para determinados setores, e não para outros, fator que cria distorções, insegurança e incertezas. A intenção é trabalhar na direção do aumento da produtividade sistêmica, e não nas desonerações parciais e temporárias.

Isso sugere que serão atacadas outras distorções criadas, como o represamento de preços e tarifas, que desidrataram a Petrobrás, a economia do etanol e o setor elétrico. Não está claro em que proporção e em que condições essa conta será repassada para o contribuinte.

Também não se sabe como seriam encaminhadas as reformas inadiáveis – nesta lista estão a política, a do sistema tributário, a da Previdência Social e a das leis trabalhistas. Ainda há tempo para esclarecimentos. De todo modo, do jeito dele, o mercado financeiro já mostrou que está confiando no que agora é mais do que uma mera hipótese Marina.

CONFIRA:
O gráfico mostra como tem desabado o Índice de Confiança da Indústria. (ICI). Em agosto, foi atingido o menor nível desde abril de 2009.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Politica energetica continua erratica: governo nao sabe o que faz

Depois de ter determinado uma absurda mistura de biodiesel de mamona no diesel fossil -- e ter, assim, misturado matriz energetica com prtoblema social -- e depois de ter afundado o etanol combustivel com sua mais que absurda politica de precos para a gasolina, o governo agora mete os pes pelas maos novamente ao determinar, sem maiores estudos tecnicos e de formacao de precos de mercado, a adicao suplementar de biodiesel de soja ao diesel combustivel, numa demonstracao suplementar que so atua na improvisaqcao, por puxadinhos, por medidas erraticas que tentam conter problemas que ele mesmo criou com sua mais do que equivocada politica energetica, que ja destruiu a Petrobras.
Paulo Roberto de Almeida

Por que só agora?

29 de maio de 2014 | 2h 07
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
A presidente Dilma autorizou ontem o aumento da participação de biodiesel na mistura com o óleo diesel, utilizada tanto nos motores dos caminhões, como em boa parte das termoelétricas.
A partir de 1.º de junho essa participação irá de 5% para 6%; e, a partir de 1.º de novembro, de 6% para 7%. O anúncio foi feito como se tratasse de uma decisão de excelência técnica que só trará benefícios: diversificará a matriz energética, reduzirá o consumo de derivados de petróleo, cria mais um mercado cativo para o setor da soja e melhora as condições operacionais da agricultura familiar.
Se é tudo isso - e, de fato é -, por que então esse aumento da adição do biodiesel não foi providenciado antes, uma vez que há anos o setor enfrenta forte capacidade ociosa?
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, calcula que deixará de ser importado 1,2 bilhão de litros de óleo diesel por ano, o equivalente a uma despesa de US$ 1 bilhão, a preços de hoje, não incluídas aí as despesas com frete e seguros. Lobão também lembrou que mais biodiesel na mistura contribui para a redução de emissões de gás carbônico na atmosfera. Se é assim, por que o governo não reconheceu esses benefícios mais cedo, quando poderia ter reduzido ainda mais as importações de óleo diesel e ter contribuído também mais para preservar o meio ambiente?
Mais interessado, no momento, em quebrar a resistência e a irrigação do agronegócio, que vem tratando a presidente Dilma com vaias e protestos explícitos ou difusos, o governo desconsiderou de repente dois argumentos a que vinha se agarrando para negar esse aumento da participação do biodiesel no coquetel com o óleo diesel: o primeiro deles, o de que encareceria demais os combustíveis, e o segundo, o de que os preços da mistura final ficariam mais vulneráveis aos vaivéns das cotações internacionais da soja, especialmente em períodos sujeitos a drásticas oscilações climáticas.
Ontem, a presidente Dilma preferiu dizer que o impacto da nova mistura sobre a inflação "é insignificante". Se, ao contrário do que vinha sustentando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, "é insignificante", especialmente diante dos demais benefícios proporcionados, por que - outra vez - essa autorização veio só agora?
No que diz respeito à vulnerabilidade das cotações da soja a períodos de seca dos grandes produtores mundiais, como Estados Unidos, Brasil e Argentina, ninguém chegou a levá-la em consideração.
Curiosamente, os mesmos argumentos usados pelo governo Dilma para justificar esse aumento de biodiesel na mistura com o diesel impõem-se na defesa das vantagens de outro biocombustível, o etanol. E, no entanto, ao obrigar a Petrobrás a pagar parte da conta do consumidor de gasolina, além de avançar sobre o caixa da Petrobrás, a política do governo prostrou o setor do etanol, sem acenar até agora com nenhuma perspectiva de redenção.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Politica economica: o governo volta a fazer populismo cambial (desta vez para baixo)? - Celso Ming

Uma das mais contundentes acusações dos petistas contra os tucanos, quando os primeiros estavam ainda na oposição -- ou seja, no Ancien Régime tucanês, antes do "nunca antes" do glorioso regime lulista -- era que os segundos praticavam, além da submissão ao FMI, "populismo cambial", ou seja, deixavam que o real se valorizasse além da conta, para agradar a classe média -- que sempre adorou ir a Paris uma vez por ano, ou passear duas vezes por ano na Disney World de Orlando -- e para dar a impressão de que os brasileiros estavam mais ricos.
Sumidades econômicas como Mercadante e Guido Mantega gritavam nos jornais contra os riscos do "populismo cambial", que segundo eles iria acabar com a nossa indústria e jogar o Brasil novamente nos braços do FMI.
Pois bem, nunca antes no Brasil houve uma valorização do real tão forte quanto no governo Lula, com as sumidades acima concordando com o novo populismo cambial.
Agora se faz a política inversa: se usa o câmbio para combater a inflação, que eles mesmos provocaram com o seu populismo do crédito e manipulação de preços e tarifas (Petrobras, sistema elétrico, etc.).
Ou seja, os companheiros não sabem o que fazer, e por isso dão uma no cravo e outra na ferradura, apenas mostrando a cavalgadura que são.
Paulo Roberto de Almeida

Âncora cambial

09 de abril de 2014
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, as cotações do dólar no câmbio oficial chegaram a recuar para abaixo de R$ 2,20. A queda acumulada no ano é de 6,4%. Apenas nos seis primeiros dias úteis de abril, alcança 2,7% (veja o gráfico).
No ano passado o governo Dilma se empenhou para produzir o efeito contrário, ou seja, puxar para cima as cotações do dólar de maneira a encarecer importações e dar mais competitividade à indústria. Agora festeja a queda das cotações. O momento é de uso do câmbio como âncora de preços. O Banco Central (BC) está deixando que o dólar fique mais barato para, com isso, reduzir a inflação. Já não se importa em reduzir a volatilidade, desta vez para baixo.
Essa baixa (valorização do real) não era esperada. Ao contrário, o governo se preparara para a tal tempestade perfeita, cujo efeito principal seria a forte desvalorização do real. Mas não veio a tempestade. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sendo mais cuidadoso na sua política monetária, para não produzir vagalhões. Voltaram a sobrar dólares. A política de juros no Brasil favorece a entrada de moeda estrangeira por aqui porque ficou mais vantajoso tomar empréstimos lá fora a juros baixos para comprar reais, aplicá-los no mercado financeiro interno e ter bom lucro com isso.
Por aí se vê que o jogo virou e o quadro passou a ser de abundância de dólares. Sabemos que o governo e o BC passaram a tirar proveito dessa queda das cotações para combater a inflação não só porque estão comemorando, mas pelo jeito de administrar a política cambial.
Foi para responder à ameaça de tempestade perfeita que o BC adotou uma política de leilões de swap cambial e de venda de dólares, a fim de fornecer hedge (defesa) às empresas com compromissos em moeda estrangeira e impedir a disparada do câmbio. O quadro mudou, como se viu, e, no entanto, o BC continua mantendo os leilões, como se nada tivesse acontecido.
Tudo se passa como se agora o governo tivesse outro objetivo: o de impedir a cavalgada dos preços. A derrubada das cotações do câmbio barateia em reais as importações e, assim, concorre para segurar a inflação. De quebra, reduz em reais a conta da Petrobrás com importação de óleo diesel que está sendo queimado nas termoelétricas para suprir a quebra de produção de energia pelas hidrelétricas. O efeito colateral é a redução da capacidade de exportar da indústria nacional. Mas, aparentemente, o governo não está ligando para esse impacto sobre as empresas. Elegeu como prioridade segurar a inflação e deixou para depois o desempenho da indústria.
Os cálculos que correm no mercado são de que, em 12 meses, uma redução das cotações do dólar concorre para tirar 0,45 ponto porcentual da inflação. Pode ser o suficiente para evitar o estouro do teto da meta, que é de uma inflação de 6,5% em cada ano-calendário.
Sobram perguntas sem respostas: (1) até que nível o BC deve tolerar a escorregada do dólar?; (2) a âncora cambial é suficiente para evitar o estouro da meta, considerando-se o salto dos preços dos serviços acima dos 8% ao ano?; e (3) até quando perdurará a nova abundância de moeda estrangeira nos mercados?

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nuestros hermanos, los protecionistas: a Argentina e o (nao) futuro do Mercosul

O fator Argentina

02 de abril de 2014 | 2h 08
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
No primeiro trimestre do ano, as exportações do Brasil para a Argentina caíram 14,4% em relação ao primeiro trimestre de 2013 (veja o gráfico). Como pesam cerca de 8% sobre as vendas externas totais, essa retração tem impacto significativo na balança comercial brasileira, especialmente para o setor de veículos.
A Argentina passa por uma forte crise cambial. Não tem moeda conversível em volume suficiente para pagar todas as contas. Daí as travas sobre as importações do mundo inteiro, e não só as do Brasil, apesar dos tratados de livre-comércio e de união aduaneira que amarram os dois países.
Após meses em estudo, o governo Dilma acabou desistindo da proposta de liquidar em moeda nacional as contas com a Argentina porque esse acerto deixaria um mico enorme no Banco Central, pois o Brasil é superavitário nas relações comerciais com o vizinho: depois das compensações, sempre sobra um tanto a ser pago pela Argentina. Em 2013, o superávit foi de US$ 3,15 bilhões.
Nas últimas semanas, o Ministério do Desenvolvimento anunciou uma linha de crédito a ser aberta pelo setor privado e candidamente dizia acreditar na eficácia da gambiarra. É que o problema de fundo continua. Nem o Tesouro nem o Banco Central da Argentina estão dispostos a dar garantias para o pagamento futuro dessa dívida, nem tampouco esses avais podem ser dados pelo Brasil.
O ex-secretário da Indústria da Argentina no governo Duhalde Dante Sica, hoje consultor, não vê futuro em soluções desse tipo. Isso implica emperramento das exportações do Brasil para a Argentina até que as condições se normalizem, sabe-se lá quando.
Dante Sica não acredita que as atuais negociações de abertura comercial entre Mercosul e União Europeia tenham sucesso. Para ele, o máximo que conseguirão será certa encenação para manter as aparências e adiar indefinidamente um acordo. "Não há condições na economia da Argentina para avanços significativos de um acordo comercial", diz.
Não dá para dizer que as coisas por lá estejam inteiramente paradas. O governo de Cristina Kirchner começou a reduzir subsídios, especialmente sobre as tarifas da água e do gás. Também encaminhou um acordo com a espanhola Repsol, que perdeu por decreto o controle da petroleira argentina YPF. E começa a negociar um acordo com o Clube de Paris, que cuida das dívidas entre governos.
O ajuste está sendo descarregado quase inteiramente sobre o setor privado. O rombo das contas externas exige cobertura das reservas e o das contas públicas, das emissões de moeda. Em dezembro, as reservas estavam a US$ 30,6 bilhões; hoje, estão a US$ 27,2 bilhões; e a base monetária cresce a 18% ao ano. É o que explica que a inflação esteja em 33% ao ano pelos cálculos da Consultoria Abeceb, que Dante Sica dirige. Essa inflação põe em risco a relativa estabilidade cambial obtida a partir da última semana de janeiro, em torno de 8 pesos por dólar.
Normalmente, esse tipo de distribuição de contas a pagar pela população cobra alto custo eleitoral. Aparentemente, a presidente Cristina já desistiu de mais um mandato e trata de empurrar a administração econômica até o final de 2015.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Heranca maldita dos companheiros: o afundamento das contas publicas, e o buraco dos deficits

Apenas um reparo a esta coluna do sempre competente Celso Ming.
Ele afirma que o "superávit primário de 1,9% do PIB, [serve] para cálculo da poupança do governo para abater a dívida pública," o que é inexato.
O superávit primário tem o objetivo exclusivo de coletar recursos para cobrir o serviço da dívida, ou seja, pagar apenas os juros, que representam bem mais do que isso.
Juros da dívida são o principal componente da despesa pública, superando todas as demais rubricas. Ora, mesmo um superávit primário de 3,5% do PIB, como deveria ser o objetivo do governo, só permite cobrir uma parte dos juros, sendo que o resto é transformado em novos títulos da dívida e se soma ao estoque do principal, que deve ser pago a seu termo, e provavelmente será trocado por nova dívida.
Ou seja, a situação é ainda pior do que afirma Celso Ming, a quem de toda forma rendo minhas homenagens pela excelência de suas colunas.
Paulo Roberto de Almeida 
Celso Ming
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Corte de vento


18 de março de 2014 | 2h 04
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
As autoridades da área econômica juraram que não apelariam mais para contabilidades criativas com a finalidade de fechar as contas públicas e manter as aparências. No entanto, já há mais do que indícios de que as manipulações continuam. São da mesma natureza das que foram feitas nos anos anteriores e foram denunciadas.
Ontem, o jornal Valor avisou que, para efeito de definição do superávit primário de 1,9% do PIB, ou seja, para cálculo da poupança do governo para abater a dívida pública, o Ministério da Fazenda subestimou propositalmente em pelo menos R$ 10 bilhões (pode ser mais) o rombo da Previdência Social deste ano.
Quem está dizendo isso não é um desses cricas que estão sempre à procura de pelo em ovo. Quem está dizendo que o governo Dilma está subestimando em tais proporções o déficit da Previdência e, com isso, se dedicando a "corte de vento" é ninguém menos do que o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves.
Este não é o único dado que reforça a impressão de que o governo segue enganando brasileiras e brasileiros a respeito da administração das contas públicas. O anúncio da obtenção do superávit primário de 1,9%, feito no dia 20 de fevereiro, também superestimou a arrecadação do Tesouro. Colocou no cálculo um avanço do PIB de 2,5%, quando o Brasil inteiro não conta (em média) com mais de 1,7%, como a Pesquisa Focus, do Banco Central, vem revelando todas as semanas.
Na semana passada, o banco Morgan Stanley avisou que apenas a possibilidade de racionamento de energia elétrica já derrubou para 1,5% as expectativas de avanço do PIB do Brasil neste ano. Ora, crescimento mais baixo da atividade econômica implica arrecadação também mais baixa, portanto, é fator de encolhimento do resultado das contas públicas. Insistir em arrecadação inconsistente com o tamanho do PIB é insistir no jogo manipulatório.
E por falar em energia elétrica, há evidências de que também está subestimado o aumento de R$ 21 bilhões na conta de luz, que fez parte do pacote de socorro para as distribuidoras de energia elétrica anunciado na semana passada. Se isso se confirmar, serão inevitáveis ainda maiores transferências do Tesouro para o setor.
Esta Coluna também já vinha chamando a atenção para o estrago sobre a arrecadação dos Estados que tem sido provocado pelo achatamento de preços e tarifas comandado pelo governo. O ICMS sobre combustíveis e energia elétrica é importante fonte de arrecadação dos Estados. Se mantém represados esses preços, a decisão populista do governo Dilma concorre ainda para que o restante do setor público também deixe de cumprir suas metais fiscais.
É frágil o atual arranjo em que se baseia a sustentação das contas públicas. O governo sabe disso e mal consegue disfarçar as contradições em que se enreda. A estratégia está clara. Consiste em tentar aguentar como der, empilhar esqueletos para dentro de um armário qualquer, esperar pelo resultado das eleições e depois ver como se consertam os estragos.
A principal consequência dessa postura é o aumento das incertezas. Hoje, qualquer empresário sabe que, em sua empresa, as decisões que podem esperar devem ser adiadas até que haja mais clareza.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Politica economica do Governo: sensacao de um aviao caindo... (bem, fortes emocoes...)

Foi a piada que eu vi (li) na manhã de quinta-feira, 23/01/2014, aliás a propósito de um projeto de discurso em Davos aqui colocado (vejam o post: Meus caros capitalistas...).
O governo é realmente capaz de causar sensações fortes, embora nem todas positivas.
E assim vamos vivendo...
Paulo Roberto de Almeida

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Celso Ming
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Emocional cambiante

23 de janeiro de 2014 | 2h 06
Celso Ming - O Estado de S.Paulo

O governo Dilma tem se esforçado por encorajar empresários e formadores de opinião, porque entende que o pessimismo é corrosivo para o crescimento econômico. Mas não tem sido bem-sucedido.

Nos dois últimos dias, quatro fatos diferentes falavam de estado de espírito cambiante dos brasileiros em relação ao que acontece com a economia e a renda.
O relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou ontem que o empresário brasileiro começou 2014 menos confiante no governo e no comportamento da economia (veja o gráfico). "A queda de confiança reflete tanto o aumento do número de empresários que perceberam piora nas condições atuais dos negócios como, também, menor otimismo em relação aos próximos meses", diz a nota que acompanha os resultados do levantamento.
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, pareceu afinado com o governo quando reconheceu ontem em Davos, na Suíça, onde se realiza o Fórum Econômico Internacional, que as críticas à política econômica têm "certa dose de exagero". Mas seu banco não vem fazendo projeções melhores sobre o comportamento da economia do que as demais instituições financeiras. De todo modo, Trabuco admitiu que há alguma coisa errada na maneira como o governo Dilma encara o mundo dos negócios e suas manifestações: "O (governo do) Brasil precisa reafirmar a confiança num modelo que não seja estatista, que seja de (boa) convivência entre o público e o privado".
Na terça-feira, o diretor da agência de classificação de risco Standard & Poor's, Roberto Sifon-Arevalo, já adiantara que não via sinais de melhora na economia brasileira e, que por isso, não tinha também como acenar com uma reversão da "perspectiva negativa" em que foram colocados os títulos de dívida soberana do Brasil.
Também em Davos, o ministro-chefe da Secretaria de Estudos Estratégicos (SAE), economista Marcelo Neri, levou ontem o assunto para o lado da psiquiatria. Ele vê no brasileiro uma síndrome bipolar, "excesso de otimismo na população, que pode reduzir a poupança, e excesso de pessimismo dos empresários, o que conduz à redução do investimento". Mas não apontou como reverter esse desvio patológico.
O problema é que o governo Dilma parece insistir mais em fazer a cabeça dos empresários do que em apresentar resultados. Tenta cercar os inimigos na guerra das emoções, mas eles escapam sempre. Comporta-se como o imperador Dario I, da Pérsia que, no século 5.º antes de Cristo, não conseguiu combater os citas porque eles não se deixavam encontrar. Mudavam todos os dias sua posição. Esse povo nômade não tinha cidades a defender ou onde se concentrar e, assim, cambiante, fez Dario de bobo e desgastou irremediavelmente seu exército.
O presidente do Bradesco explicou ontem que há US$ 1 trilhão, apenas nos bancos dos Estados Unidos, à espera de oportunidades e que o Brasil só conseguirá atrair esses capitais se mudar seu jeito de tratar os negócios.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A 'mentira institucional' do Mercosul: Jose Mujica, presidente do Uruguai - Celso Ming

'Mentira institucional'
Coluna Celso Ming
O Estado de S. Paulo, 16/01/2014

O presidente do Uruguai, José Mujica, passou a criticar abertamente o Mercosul. Sábado, no Canal 4 da TV de Montevidéu, afirmou em tom de queixa que "o Mercosul vive uma mentira institucional".
Em fevereiro de 2012, já advertira que o Mercosul se deformava tanto que se transformara em um "chicletão", que pegava o jeito de cada mastigada. Em junho daquele ano, os dirigentes do Mercosul decidiram suspender o Paraguai pelo afastamento do então presidente Fernando Lugo, processo que não transgredira nenhum dispositivo democrático, para admitir a Venezuela sem o cumprimento dos trâmites previstos nos tratados. Mujica foi então conivente com essas arbitrariedades produzidas pelas presidentes Cristina Kirchner, da Argentina, e Dilma Rousseff, do Brasil. Chegou mesmo a aprovar o que chamou então de "primazia do político sobre o jurídico" que passou a prevalecer nas decisões de cúpula.
Agora, diante de novos desrespeitos aos tratados comerciais dentro do bloco perpetrados pelo governo da Argentina que prejudicam o Uruguai, Mujica voltou a reclamar das transgressões jurídicas. Independentemente dos seus vaivéns, o que ele está dizendo agora é que o Mercosul não passa segurança para ninguém. Não é suficientemente confiável nem para terceiros países eventualmente interessados em fechar acordos comerciais nem para os próprios sócios membros do grupo.
Seus dirigentes podem sempre inventar mais lambanças que contrariem acordos internacionais. A rigor, não é preciso nem reuniões de cúpula. A qualquer momento um governo qualquer, como agora está fazendo o da Argentina, pode perfurar a Tarifa Externa Comum (TEC), a tabela de tarifas aduaneiras (teoricamente) adotada pelos membros do bloco, sem que nada disso seja depois cobrado pelos responsáveis.
Mujica prega "um ajuste da parte jurídica no possível que somos hoje e não ao que sonhamos que deveríamos ser".
Isso parece implicar o rebaixamento do Mercosul do grau de união aduaneira, que nunca foi, ao grau de união de livre-comércio, que também nunca foi. Essa revisão ao menos liberaria seus membros para acordos comerciais fora do bloco, que uma união aduaneira não permite.
A questão de fundo consiste em saber o quanto o restabelecimento da verdade institucional sugerido por Mujica interessaria aos principais membros do Mercosul, especialmente à Argentina, que mais está tirando proveito dos seguidos desrespeitos aos contratos.

Do ponto de vista do Brasil, esta não é apenas uma questão de governo. Embora reclamem episodicamente das travas comerciais arbitrárias impostas pela Argentina, os empresários brasileiros representados na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e na Confederação Nacional da Indústria (CNI) nunca defenderam uma plataforma firme de revisão do Mercosul. Ao contrário, parecem conformados à atual atitude do governo brasileiro de aceitar bovinamente os desrespeitos dos hermanos e esperar pela sempre improvável recuperação de sua economia. Isso parece indicar que os problemas precisam piorar muito para que se crie disposição para mudanças mais profundas.

Esquadrilha da fumaca em Davos? Estrategia de marketing - Celso Ming

Efeitos especiais

Celso Ming - O Estado de S.Paulo, 15/01/2014

Faz parte da filosofia voluntarista deste governo o entendimento de que, na falta de soluções, se deve chamar o marqueteiro.
Durante meses, a presidente Dilma se encarregou de tentar virar o jogo com discursos repetitivos e de mobilizar seus ministros a fazer a mesma coisa: o IBGE soltou números decepcionantes? Mobilize-se o Guido Mantega e o Alexandre Tombini. O mercado foi tomado por certa apatia em relação aos leilões de concessão? Acione-se a ministra Gleisi Hoffmann.
Agora, uma alentada comitiva oficial, com a presidente Dilma na comissão de frente, foi escalada para comparecer à conferência anual do Fórum Econômico Internacional de Davos, na Suíça, agendada para os dias 22 a 25. Sua missão é fazer a cabeça das autoridades e dos analistas internacionais a respeito das excelências da economia brasileira.
A presidente Dilma está completando seu quarto ano de governo e, até o momento, julgou ser dispensável sua presença no encontro anual de Davos, que reúne durante quase uma semana as mais renomadas autoridades de governo e os capitães globais de negócios.
No ano passado, o então chanceler do Brasil Antonio Patriota tentou justificar a ausência da presidente com a afirmação de que "a Davos só vai quem procura promoção pessoal". Agora vão ela mais a equipe econômica inteira. O embaixador Patriota não terá de dar explicações adicionais porque foi removido para outro posto.
O risco que corre o governo brasileiro é de vender fumaça com acompanhamento de orquestra. Se a suposta ofensiva internacional de marketing for feita sem substância a oferecer, o resultado pode ser um desastre, como aconteceu em 1994, semanas antes do estouro do Efeito Tequila que prostrou a economia do México. A iniciativa marqueteira das autoridades mexicanas ficou então imediatamente desmoralizada por falta de respostas convincentes aos maus resultados da economia.
Desta vez, a presidente Dilma talvez pretenda aproveitar a oportunidade para pregar um choque de capitalismo e, nessas condições, resgatar seu governo e sua política econômica do atual déficit de confiança.
O problema é que essas ofensivas precisam ser acompanhadas de ação. Meras exibições de planilhas animadas e coloridas em Power Point, sem indicação de mudanças radicais na administração das despesas públicas e sem correção das atuais distorções, tendem a ampliar a frustração e a aumentar a propensão das agências de classificação de risco a rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil. Se isso de fato acontecer, tudo tenderá a piorar.
Em 2002, o então candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não precisou de efeitos especiais para virar a onda de pessimismo que tomara conta da opinião pública. Simplesmente, mandou divulgar a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu, sem margem a dúvidas, a cumprir um programa confiável de administração das contas públicas e a puxar os juros básicos até onde fosse necessário para controlar a inflação.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O modelo companheiro de regulacao energetica e a revolucao em curso nos EUA e no mundo - Celso Ming

Revolução ignorada

08 de janeiro de 2014 | 2h 06
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Um dos maiores acontecimentos da economia global em 2013, com graves consequências para o Brasil e enorme impacto estratégico, foi praticamente ignorado pelo governo Dilma. Trata-se da revolução energética que, em apenas seis anos, deverá tornar os Estados Unidos não apenas autossuficientes em petróleo e gás, mas fortes exportadores em potencial.
O assunto não chega a ser novidade, mas é preocupante que não esteja sendo levado em conta pelo governo Dilma em suas formulações de política econômica. Quando se referiram à economia mundial, os dirigentes brasileiros têm olhos voltados para a crise europeia, para a persistência de altos riscos no mercado financeiro global e para os problemas que poderiam ser produzidos pelo desmonte da política monetária altamente expansionista dos Estados Unidos. Mas tendem a ver a revolução energética nos Estados Unidos somente como aposta de alguns, ainda sujeita a confirmações. Quando acordarem, pode ser tarde.
E, no entanto, como consta no relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos divulgado no dia 23 de dezembro, a produção de petróleo e gás subirá nada menos que 800 mil barris diários a cada ano até 2016, quando atingirá 9,6 bilhões de barris diários. Será, então, batido o recorde de 1970.
Há poucos anos, os Estados Unidos importavam 50% do petróleo que consumiam. Esse número já caiu para 37% e, em 2016, o país deverá trazer de fora apenas 25%. Em 2020, aponta a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), os Estados Unidos serão autossuficientes.
A revolução energética está sendo obtida graças ao emprego de nova tecnologia de exploração das reservas de xisto, que são rochas fortemente impregnadas de petróleo e gás. Essa tecnologia consiste em um bombardeio a alta pressão das camadas de xisto por uma mistura de água, areia e produtos químicos, que liberta o óleo e o gás aprisionados na rocha.
Os impactos econômicos serão impressionantes. O relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos prevê que o preço médio do barril (159 litros) de petróleo, que esteve em US$ 112 em 2012, baixará para US$ 92 em 2017, queda de 17,9%.
Os baixos preços do gás, que começam a ser negociados a US$ 4 por milhão de BTU (ante os US$ 14 a US$ 16 por milhão de BTU vigentes aqui e na Europa), deverão atrair novos projetos de indústria, não apenas na petroquímica, mas também nos setores eletrointensivos, como química básica, cimento, vidro, cerâmica e metalurgia eletrolítica.
Do ponto de vista da indústria brasileira, que já está alijada dos grandes centros de suprimento global, se for confirmada, essa revolução não implica apenas perda de competitividade em relação à indústria americana. Implica, também, risco de migração da indústria brasileira para lá ou desistência de projetos no Brasil.
Do ponto de vista estratégico, a independência energética dos Estados Unidos forçará mudanças importantes na política voltada para o Oriente Médio, grande centro exportador de petróleo. O atual equilíbrio de forças na região parece ameaçado. O impacto sobre a Venezuela, maior exportador da América Latina, também poderá ser dramático. Hoje, a economia está altamente dependente do faturamento com petróleo, cujos preços cairão em três anos.
O governo do México, outro grande exportador, entendeu o que está em jogo e tratou de criar as bases de sua própria revolução do petróleo. Acabou com o monopólio estatal exercido pela Pemex e também vai tratando de explorar suas reservas de xisto.
Enquanto isso, o governo brasileiro segue excessivamente confiante com as descobertas de petróleo no pré-sal e seus dirigentes preferem desconversar a respeito das consequências sobre a economia brasileira. Alegam que os problemas ambientais causados pela tecnologia do craqueamento hidráulico do xisto acabarão por desencorajá-la. Provavelmente não serão, porque a tecnologia do craqueamento hidráulico está sendo aperfeiçoada. Pode ser mais uma grave omissão do governo Dilma.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Fracassos de um governo que nao acredita em setor privado - Celso Ming

Falhou

O Estado de S.Paulo, 16 de setembro de 2013 | 20h00
Celso Ming

A principal fonte das apreensões que cercam mais um malogro em leilões de concessões de serviços públicos é a reação imatura do governo federal, que reflete despreparo.
Não houve interesse para as obras da BR-262, a rodovia que liga os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, que integram o primeiro lote de leilão de concessões da área. A outra, a BR-050, entre Minas Gerais e Goiás, teve oito consórcios interessados, mas, entre eles, nenhuma empresa estrangeira.

Mantega. “Questões políticas” (FOTO: Hélvio Romero/Estadão)
Há meses o modelo de concessões vem sendo apontado pelo governo Dilma como símbolo da virada no crescimento do PIB e como aposta para a nova era da infraestrutura nacional. Só o pacote para rodovias, ferrovias, portos e aeroportos prevê quase R$ 200 bilhões em investimentos. Nos discursos pronunciados nas últimas semanas, a presidente Dilma vinha reforçando a perspectiva de sucesso. O tom previamente triunfalista, na base do “agora, sim, vocês vão ver”, levava jeito de tentar compensar o fracasso do leilão do trem-bala, em agosto, e de concessões rodoviárias anteriores (BR-040, BR-116 e BR-262).
desenxabida surpresa do governo com o fiasco do leilão da BR-262 é a principal nota negativa. Depois de tanta expectativa, nem o ministro dos Transportes, César Borges, nem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a quem foi confiada a liderança das negociações preparatórias do empreendimento, tinham noção do que acabaria acontecendo, sinal de que, de fato, não controlaram o processo.
Em seguida, as declarações de Mantega, que atribuíram o fracasso de uma obra com repercussões perenes no Brasil “a questões políticas” menores, reforçam a impressão de erros nas negociações. Se, como declarou logo em seguida o ministro, os maiores empecilhos foram de natureza política paroquial (e não técnica), então o governo falhou na tarefa de viabilizar politicamente o novo jogo, especialmente quando se sabia que partem de dentro do governo as maiores resistências às concessões de serviços públicos.
Desta vez, há grande interesse do governo em atrair capitais estrangeiros para os novos investimentos. Os ministros Guido Mantega e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, se encarregaram de vender os empreendimentos em “road shows” no exterior. No entanto, até agora, esses capitais se mantiveram arredios, como já ficara evidente no cancelamento do leilão do trem-bala.
Tudo isso sugere que a modelagem dos leilões carrega vícios que precisam de pronta correção. A fragilidade das regras do jogo deve ser um deles. Por pressões do governo federal, reajustes de pedágio previstos em contrato foram revogados para atender às pressões das manifestações de junho. A falta de comprometimento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) também está sendo apontada como obstáculo à remuneração pelas obras da BR-262.
Deficiências em estudos preliminares podem ser outra explicação para o insucesso. No entanto, a falta de confiança num governo que mantém em postos importantes gente para a qual o capital privado é sempre suspeito e não deve ser convenientemente remunerado “porque as concessões envolvem risco zero” pode ser o maior problema.