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quinta-feira, 16 de maio de 2019

Sim, o Brasil deve se interessar pelo Iran - Clovis Rossi (FSP)

O jornalista e editorialista da Folha de S. Paulo, Clovis Rossim chama a atenção para um conflito que ameaça desestabilizar não só o Oriente Médio e o mundo inteiro, como também precipitar uma crise econômica capaz de afundar um pouco mais o Brasil, que já se encontra, segundo o ministro Paulo Guedes, no "fundo do poço".
O que vai fazer o nosso chanceler, ou melhor os chanceleres, o real e o nominal?
Imagino que, por seus instintos, escolheriam ficar do lado de Trump, o que seria um desastre, não necessariamente para o que pode acontecer em seguida. Independentemente disso, seria um desastre para nossa já arranhada credibilidade, para nossa já desgastada imagem internacional.
Um bookmaker inglês recomendaria, talvez, apostar na Lei de Murphy. Segundo esse tipo de especulador, nunca, ninguém, em qualquer época, perdeu dinheiro apostando na estupidez humana.
Segundo Einstein, por outro lado, existem duas coisas infinitas: a expansão do universo e a estupidez humana, e ele não tinha certeza quanto à primeira...
Paulo Roberto de Almeida

O Irã é, sim, assunto para o Brasil

Mas para entender, e não isolar o país persa

Se sobrou alguma vida inteligente no governo Bolsonaro, Israel ofereceu a ele uma bela oportunidade para sair das alucinações e da consequente paralisia. Pedir que o Brasil entre no complicado jogo do contencioso iraniano, como revelado nesta quarta-feira (15) pela Folha, é a chance para a diplomacia brasileira estudar o que fazer a respeito.
Para deixar claro: não se trata de o Brasil se alinhar automaticamente a Estados Unidos e Israel na ofensiva contra o Irã. Trata-se, isto sim, de definir uma política para a região. Não pode haver melhor momento para tanto, se se considerar o potencial explosivo da presente crise.
O Crisis Group, especialista em analisar crises e propor soluções para elas, faz um bom resumo do momento: "Um choque não é inevitável, mas bem pode ocorrer --deliberadamente ou como produto de erro de cálculo".
As consequências desse choque seriam calamitosas para os países da região mas também para a economia internacional, dada a alta dependência do livre fluxo de petróleo pelo golfo Pérsico.
Tudo o que o Brasil não precisa neste momento em que está no fundo do poço(segundo Paulo Guedes) é um conflito que sacuda a economia global.
Logo, entender o Irã é uma questão vital. Em primeiro lugar, cabe separar as perspectivas de EUA e Israel nessa questão. Para Israel, trata-se, sim, de uma ameaça existencial. O Irã dos aiatolás já fez incontáveis declarações de que gostaria de tirar do mapa o Estado judeu. Portanto, Israel tem mesmo que tomar todas as cautelas.
Já para os Estados Unidos, o Irã só é um problema no Iraque, mesmo assim porque a derrubada do governo de maioria sunita (de Saddam Hussein) levou a um país dominado pelos xiitas e, como tal, inevitavelmente sujeito à influência iraniana. É o que analisam, para Foreign Affairs, Steven Simon (Amherst College) e Jonathan Stevenson (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos).
Mais: há aparente contradição entre o presidente Donald Trump, em tese pró-negociações desde que levem a um acordo talhado para os interesses de Washington, e seus assessores belicosos, Mike Pompeo e John Bolton.
Sanam Vakil, pesquisador da Chatham House, excelente centro britânico, procurou 75 analistas e formuladores de políticas de dez países (incluídos Irã e Estados Unidos), em busca de entender o quadro do contencioso.
Relatou também para Foreign Affairs que "alguns entrevistados, incluindo americanos, expressaram preocupação com a possibilidade de que Bolton e Pompeo minem o sucesso de qualquer discussão com o Irã".
Sugestão para o Itamaraty, se está interessado em algo mais do que as idiotices de Olavo de Carvalho: recuperar essa consulta da Chatham House. Fornecerá subsídios excelentes para entender o Irã.
Não é nada simples: se há divergências na administração americana, existem também no Irã, entre o moderado presidente Hassan Rouhani e a linha dura, conforme expôs para o israelense Haaretz Ariane Tabatabai, especialista no país persa.
Resumo da ópera: o Brasil deve, sim, atender ao pedido de Israel, mas não para participar do cerco ao Irã e, menos ainda, para estimular um conflito. Estudar o Irã é a melhor maneira —talvez a única— de distender uma situação com tanto potencial desestabilizador.

domingo, 7 de outubro de 2018

Brasil vai ter de provar ao mundo que não corre risco de se tornar uma autocracia de direita

A impressão disseminada por intelectuais "progressistas" e por jornais de centro-esquerda, inclusive ajudados continuamente por militantes do partido do prisioneiro, é a de que o Brasil vai mergulhar no terror de um regime fascista se o candidato da direita for eleito, hoje ou no segundo turno.
Acho que eles prestam um desserviço ao Brasil, ao colocar em dúvida a solidez de suas instituições democráticas, e ao disseminar "impressões", ou "hipóteses", apenas com base nas declarações e posturas, sem dúvida assustadoras, emitidas por esse candidato.
Não creio que se deva partir de suposições para ameaçar o Brasil e o mundo com a inauguração de um regime antidemocrático no Brasil, inclusive porque essas são ilações que não terão espaço facilitado para se concretizar.
Isso faz parte justamente do terrorismo eleitoral dos candidatos de esquerda, em especial da organização criminosa que assaltou o Brasil e os brasileiros de 2003 a 2016.
Jornalistas que deixam sua opinião política prevalecer sobre um comentário objetivo da situação eleitoral prestam um desserviço à causa da imprensa.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de outubro de 2018

Mundo olha para Brasil com horror

Há relativo consenso de que a democracia corre risco

Oliver Stuenkel, excelente analista, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, relata, em artigo para Americas Quarterly:
“Em debate em classe, um dos meus alunos notou secamente que os eleitores [brasileiros] teriam que escolher entre o terror e horror”, em referência a um eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro  e Fernando Haddad.
É esse, basicamente, o tom que marca o olhar externo sobre o pleito brasileiro, pondo ênfase em Bolsonaro quando se trata de falar de terror.
Já não bastasse a Economist ter levado Bolsonaro à capa, faz duas semanas, com o título “A mais recente ameaça à democracia na América Latina”, vem Le Monde deste sábado com a manchete de capa: “Extrema direita às portas do poder”.
Não preciso dizer que o vespertino francês considera a extrema direita uma ameaça, tanto quanto a Economist.
Rocio Cara Labrador, que cobre América Latina para o Council on Foreign Relations, escreve: “A eleição geral no Brasil será um dos maiores testes para a sua democracia em décadas”.
Em artigo para o Projeto Syndicate, Robert Muggah, cofundador do Instituto Igarapé, belo centro de estudos especializado em segurança, prevê que os conservadores brasileiros farão “um pacto do diabo com o demagogo de extrema direita Jair Bolsonaro”, do que decorreria “pôr em risco o sistema democrático”.
Essa ideia de que a democracia está em risco com a eleição perpassa boa parte das análises externas sobre o pleito brasileiro.
Minha opinião, já manifestada uma e outra vez em colunas anteriores: o risco Bolsonaro já se manifestou, ganhe ou perca a eleição. Quando um terço ou mais dos eleitores se dispõe a votar em um candidato que faz a apologia da tortura, o Brasil retrocede vários passos  na escala civilizatória.
Se a democracia ficará ameaçada, em caso de vitória dele, é questão em aberto. Mas seria um erro eventualmente trágico se os democratas se acomodarem com a pesquisa do Datafolha que mostra recorde de apoio (69%) ao sistema democrático.
O apoio maciço à democracia não deve esconder o fato de que há profunda insatisfação com a maneira como ela está funcionando no Brasil. Numa ponta, há a corrupção tremenda, um vício antigo mas que a Lava Jato trouxe à tona de uma forma estonteante.
Na outra ponta, escreve Roberto Castello Branco, diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV, para a revista Inteligência: “O populismo do século 21 acabou por produzir a mais profunda recessão sofrida pela economia brasileira dos últimos 100 anos. A perda de produto real, de 7,2% em 2015-2016, superou a de outras grandes recessões (-3,8% em 1990/1992, -6,3% em 1981-1983 e -5,3% em 1930/1931)”. Corolário inevitável: assustadores 13% de desempregados.
Esse cenário de horror será encarado por um presidente politicamente fraco: é inédito que todos os candidatos à Presidência tenham mais rejeição do que a intenção de voto de cada qual.
Fica claro que vale a frase com que o Projeto Syndicate abre seu conjunto de artigos sobre a eleição: “O futuro do país está em jogo”.
Se o novo presidente, seja qual for, não conseguir puxar o país do poço, poderá afundar e, junto com ele, a democracia.

sábado, 6 de outubro de 2018

Mundo apresenta perfil majoritario de classe media - World Data Lab

Clovis Rossi não aceita que a classe média, prejudicada pelo crise no Brasil, possa apoiar um candidato de direita, que para ele "defende a tortura".  Esse jornalista de esquerda reconhece a defasagem brasileira em relação aos progressos alcançados em termos de prosperidade para a maior parte da população mundial, mas reluta em atribuir essa situação à política econômica catastrófica dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de outubro de 2018


O mundo moderno é de classe média e alta: pela primeira vez na história contemporânea, um pouquinho mais de 50% da população global de 7,6 bilhões de pessoas pode ser considerado de classe média ou alta, sendo 3,59 bilhões só no segmento médio.

É o que informa o World Data Lab, baseado em Viena e financiado, entre outros, pelo governo alemão e pelo Unicef, o braço da ONU para a infância. O resultado decorre da análise da renda e de gastos de lares compilados por 188 países e agregados pelo Banco Mundial.

Pena que o Brasil não siga essa tendência mundial. Afinal, classe média costuma ser elemento de estabilidade, porque, em geral, seus integrantes têm um desejo existencial (ascender ao andar de cima) e um receio primordial (evitar descer para o andar de baixo), para usar expressões consagradas por Elio Gaspari.

É óbvio que instabilidade, econômica ou política, conspira contra a ascensão e facilita a derrapagem.

Homi Kharas, um dos coordenadores da pesquisa, traz a classe média para a situação do Brasil às vésperas da eleição de domingo: "A classe média estava saturada da corrupção, saturada dos pobres serviços públicos e vinha consistentemente optando por mudanças no governo", disse.

No Brasil, de fato, a classe média foi espremida nos anos Lula/Dilma, como prova a mais completa e confiável pesquisa sobre desigualdade, feita pelo grupo liderado pelo francês Thomas Piketty e que desmontou a propaganda governamental de que havia diminuído a desigualdade no período.

O estudo deles demonstra que os 10% mais ricos viram sua fatia da riqueza nacional aumentar de já obscenos 54% para 55%. Os 50% mais pobres também tiveram um ganho de um ponto percentual (de ínfimos 11% para insignificantes 12%).

Quem perdeu esses dois pontos percentuais foi justamente a classe média, que passou a ficar com 32% da renda.

Que esteja enfurecida, se entende. Mas, do meu ponto de vista, não se justifica que penda para um candidato que faz apologia da tortura.

Na teoria, o comportamento deveria ser diferente, como comenta Kristofer Hamel, operador-chefe do World Data Lab: o rápido crescimento da classe média, diz ele, "terá significativos efeitos econômicos e políticos, na medida em que as pessoas se tornarão mais exigentes com as empresas e os governos".

O World Data Lab põe na classe média quem ganha entre US$ 11 e US$ 110 por dia (de R$ 43 a R$ 423), com base na paridade do poder de compra, o cálculo que leva em conta os preços em cada país.

No Brasil também houve notável progresso, mas a maioria da população ainda é ou pobre ou de baixa renda (ganha entre US$ 2 e US$ 10 por dia).

É o que mostra outro estudo, do Centro Pew de Pesquisas, feito em 2011: a maioria (50,9%) ficava entre a pobreza (7,3%) e a baixa renda (43,6%).

Na classe média (US$ 10 a US$ 20), estavam apenas 27,8% dos brasileiros, de todo modo um auspicioso crescimento de dez pontos percentuais em relação a 2001.

Como os anos mais recentes, não cobertos pelo estudo, foram de crescimento econômico negativo ou muito reduzido, parece razoável deduzir que a classe média encolheu ou estacionou desde 2011.

Ou, posto de outra forma, também nesse quesito, o da classe média, o Brasil está fora de sintonia com o mundo.

Clóvis Rossi. Repórter especial, membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A politica externa invisivel de Dilma - Clovis Rossi (FSP)

A POLÍTICA EXTERNA INVISÍVEL DE DILMA!
Clóvis Rossi
Folha de S.Paulo, 28/08/2011

1. Depois dos oito trepidantes anos da diplomacia de Lula/Amorim, a discrição de Dilma/Patriota parece um silêncio ensurdecedor. Afinal, Lula dava palpites, às vezes despropositados, sobre todos os assuntos da realidade internacional, do teor da democracia na Venezuela de Hugo Chávez ao caráter supostamente futebolístico dos protestos contra a reeleição do iraniano Ahmadinejad. Dilma, passados oito meses de governo, não disse uma só palavra sobre temas internacionais, por mais que o Oriente Médio tenha começado a ferver exatamente nos primeiros dias de sua gestão.

2. O silêncio e a discrição passam a impressão de que o Brasil se afastou -ou foi afastado- da grande cena internacional, na qual até forçou a entrada no período anterior. O novo estilo diplomático do Brasil é menos impulsivo. No caso, por exemplo, da Líbia, a pauta da semana, o Brasil prefere conversar e conversar, com seus parceiros no Conselho de Segurança, com os demais integrantes do BRICs (Rússia, Índia, China e África do Sul), com a Turquia e outros, antes de reconhecer o Conselho Nacional de Transição como legítimo representante líbio, mesmo depois de a Liga Árabe tê-lo feito. No caso da Síria, o Itamaraty leva em conta até a posição da comunidade síria no Brasil que não demonstra nenhuma ansiedade por ver Bashar Assad defenestrado. Tudo somado, tem-se uma diplomacia de baixa voltagem, mas não por isso fora do jogo global.