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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Choque dentro de uma civilizacao: o caso do blogueiro condenado a MIL chibatadas - Mario Machado

Meu amigo Mário Machado, animador do Coisas Internacionais, tem uma sensibilidade especial para assuntos "civilizatórios", como eu, e sempre se preocupou com o destino de pessoas, como eu, acima e além dos Estados e das religiões.Sua postagem sobre o caso do infeliz blogueiro saudita, é particularmente feliz (se me permitem a contradição nos termos) em capturar o absurdo da sentença punitiva em face do que ele escreveu, que está no centro do conflito de civilização a que eu já me referi várias vezes, e que divide as sociedades islâmicas (não todas, mas várias) dentro delas. Elas não vão poder evoluir enquanto não equacionarem essa impossibilidade de seus próprios filhos não puderem discutir os textos sagrados e fazerem aquilo que se chama de exegese, ou seja, interpretação e discussão. Até lá, teremos pequenas e grandes tragédias como essa.
Paulo Roberto de Almeida

A punição Raif Badawi
Mario Machado
Coisas Internacionais, 30 Janeiro 2015 08:59 AM PST

Ontem escrevi en passant sobre os conflitos internos sobre os rumos das civilizações e sobre as forças de manutenção cultural tendem a se valer de leis draconianas para artificialmente coibir a força natural pela mudança que existe em qualquer agrupamento humano e como a comparação (facilitada pela migração e tecnologia) entre civilizações pode ser uma força importante.

Um exemplo, extremo desse fenômeno é a punição administrada ao blogueiro saudita Raif Badawi, 1.000 chibatadas. Acredito que nem a mais relativista das almas consegue não se escandalizar diante das 1.000 chibatadas.

O The Guardian fez uma boa seleção de citações do blog (hoje encerrado, obviamente) de Badawi destaco algumas, que são analises sobre a realidade de seu país e de sua ‘civilização’.

Sobre liberdade de expressão e inovação:
As soon as a thinker starts to reveal his ideas, you will find hundreds of fatwas that accused him of being an infidel just because he had the courage to discuss some sacred topics. I’m really worried that Arab thinkers will migrate in search of fresh air and to escape the sword of the religious authorities.

Secularismo:
Secularism respects everyone and does not offend anyone ... Secularism ... is the practical solution to lift countries (including ours) out of the third world and into the first world.

e;

I’m not in support of the Israeli occupation of any Arab country, but at the same time I do not want to replace Israel by a religious state ... whose main concern would be spreading the culture of death and ignorance among its people when we need modernisation and hope. States based on religious ideology ... have nothing except the fear of God and an inability to face up to life. Look at what had happened after the European peoples succeeded in removing the clergy from public life and restricting them to their churches. They built up human beings and (promoted) enlightenment, creativity and rebellion. States which are based on religion confine their people in the circle of faith and fear.

Sobre o terrorismo de inspiração islâmico:

What hurts me most as a citizen of the area which exported those terrorists ... is the audacity of Muslims in New York that reaches the limits of insolence, not taking any regard of the thousands of victims who perished on that fateful day or their families. What increases my pain is this [Islamist] chauvinist arrogance which claims that innocent blood, shed by barbarian, brutal minds under the slogan “Allahu Akbar”, means nothing compared to the act of building an Islamic mosque whose mission will be to ... spawn new terrorists ... Suppose we put ourselves in the place of American citizens. Would we accept that a Christian or Jew assaults us in our own house and then build a church or synagogue in the same area of the attack? I doubt it. We reject the building of churches in Saudi Arabia, not having been assaulted by anyone. Then what would you think if those who wanted to build a church are the same people who stormed the sanctity of our land? Finally, we should not hide that fact that Muslims in Saudi Arabia not only disrespect the beliefs of others, but also charge them with infidelity to the extent that they consider anyone who is not Muslim an infidel, and, within their own narrow definitions, they consider non-Hanbali [the Saudi school of Islam] Muslims as apostates. How can we be such people and build ... normal relations with six billion humans, four and a half billion of whom do not believe in Islam.

As mil chibatadas em Badawi são um drama humanitário e uma história tristemente exemplar sobre os conflitos internos nas civilizações e nos lembram uma vez mais como é incompleta a explicação do terrorismo e autoritarismo somente pela luta de civilizações, ou como culpa do imperialismo “ianque” (como gostam de dizer).

Não entendam esse texto como uma apologia de uma pretensa superioridade do ocidente que seria o exemplo máximo, por que no seio do ocidente os mesmos temas estão presente e causam acalorados debates, mas é aí que reside o ponto, não é mesmo? Afinal, é contra um debate amplo com alternativas múltiplas que se insurgem os radicais, claro que dão nomes como ocidentalização e infiéis, por que como sabemos palavras além de sua carga semântica, carregam uma forte carga emocional.

Mario Machado

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Coisas Internacionais: nossos aliados pouco aliados - Mario Machado

Meu amigo internacionalista e colega blogueiro, animador do Coisas Internacionais, faz interessantes considerações sobre as estranhas amizades do Brasil lulo-petista, que alerto não ser o Brasil normal, ou seja, aquele que sempre conhecemos antes do Nunca Antes...
Esse Brasil lulo-petista, infelizmente fala pelo Brasil, mas inverteu completamente algumas agendas diplomáticas, e os ingênuos, os incautos, os estrangeiros, ou certos jornalistas distraídos (ou aliados, ou melhor, de má-fé) proclamam que o Brasil, ou o Itamaraty, está fazendo isso e mais aquilo, quando não é, são os companheiros lulo-petistas, amadores em relações internacionais, e deformados em política -- quem gosta de ditadura para mim só pode ter um problema mental, ou alguma deformação moral -- que estão imprimindo direções surpreendentes a uma diplomacia que sempre primou pelo equilíbrio, pelo comedimento, pela medida, e sobretudo pelo respeito absoluto do direito internacional, sem falar dos interesses nacionais, obviamente.
Mas, leiam o que escrevem com uma ironia típica da Economist, e uma sutileza mordaz, meu amigo Mário Machado, que até achou uma reflexão que fiz para rechear seu texto por si excelente.
Paulo Roberto de Almeida

Nossos aliados
Coisas Internacionais,  03 Setembro 2014

Nossos aliados nos BRICS andam ocupados em agendas, no mínimo, controversas. Sempre repito aqui que qualquer um que estude e trabalhe com Relações Internacionais, cedo ou tarde terá que conviver e apertar as mãos de gente imprópria para o consumo humano, tudo em nome dessa quimera política chamada Interesse Nacional.

Ás vezes a diplomacia brasileira exagera nas deferências a esses parceiros problemáticos, vez ou outra algum presidente chama ditador de irmão, ou abrimos uma residência oficial para a estadia de outro. Mas, isso é esporádico, pontos fora da curva.

O problema é quando parceiros estratégicos de alto relevo agem de maneira controversa e essa aliança acaba impondo um silêncio conivente do Brasil, para um país que tem buscado com muito afinco o status de Ator Global, ou seja, por definição uma voz relevante nos assuntos planetários. E esse projeto tem se calcado na aliança com os outros gigantes emergentes.

A China tem se movimentado para restringir as liberdades individuais em Hong Kong, como bem colocou o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, com seu natural estilo provocador:

“[A China] começa a restringir os direitos democráticos, que ainda existem, na sua província especial, ex-colônia britânica, que teve a sorte de ter todas as liberdades democráticas da metrópole-mãe, e mais liberdades econômicas do que a própria metrópole, que derivou para o fabianismo e foi para uma gloriosa decadência, antes de ser recuperada por uma estadista clarividente. Agora, o mais velho império do mundo pretende estabelecer a tirania que já existe em sua própria jurisdição”.

A Rússia tem se envolvido em violações da soberania Ucraniana. E a tradição diplomática brasileira sempre foi visceralmente avessa a esse tipo de violação, mas nesse caso tem mantido um silêncio loquaz. E nem vou levar em consideração os que por ideologia ou apreço a conspiração que tacham os ucranianos de nazistas.

Mas, a maior contradição dessa aliança é o caso indiano, que tem uma deliberada política de subsídios agrícolas agressivos que prejudicam os exportadores brasileiros e uma das causas do travamento da Rodada Doha, tudo bem que a causa do Livre Comércio não é popular no Palácio do Planalto, mas deve ser complicado, pra dizer o mínimo, equilibrar as concepções estratégicas que calcam a aliança global com prejuízos pra um dos setores mais importantes da economia brasileira que é o setor agrícola.

A Política Internacional, por vezes exige alianças, que nos amarram a atores que na consecução de suas agendas violam alguns dos valores que dizemos que nos definem. Como bem disse Nelson Rodrigues: “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, mas numa democracia seria interessante que temas como nossas alianças internacionais fossem debatidos de maneira séria e pragmática.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Raul Castro na Granja do Torto: Um Itamaraty humilhado? - Mario Machado (Coisas Internacionais)

Raul Castro na Granja do Torto: Um Itamaraty humilhado?
Coisas Internacionais,  20 Julho 2014 09:29 AM PDT

A diplomacia brasileira sempre gozou de muito prestígio, aliás, com chanceleres de carreira, ou seja, sem respaldo de votos e partidos é importante que tenha prestígio para se fazerem ouvir na esplanada, assim é o sistema brasileiro, precisamos ter em mente.

Patriota caiu por que nunca soube controlar a máquina e principalmente nunca conseguiu gozar de prestigio palaciano, há relatos – sem confirmação oficial – de que era ademoestado, em público, com a veemência (grosseria) habitual da presidente. Um desprestigio pessoal que também pesava sobre a pasta.

Aliás, foi o caso do senador boliviano confinado a nossa embaixada em La Paz, que deu cabo a um processo nunca antes vistos no MRE, uma comissão de sindicância, presidida por pessoa alheia ao Serviço Exterior Brasileiro, não recordo nem no período de truculência militar um processo semelhante.

O Itamaraty enfrentou, também, processos grevistas inéditos – e a meu ver justos – na luta contra o anacrônico assédio moral e por melhores salários para funcionários locais.

Vários países do mundo possuem assessores especiais em assuntos externos, mas nesses países os chanceleres são políticos com tração social, então a chancelaria não se vê em desprestígio, por exemplo, o caso do State Department que não detém o monopólio da política externa americana, mas é altamente relevante em sua execução e construção. O modelo brasileiro tem a vantagem de supostamente descolar a política externa de interesses de curtíssimo prazo da política partidária, ele resguarda o patrimônio construído pelas gerações e dá a Política Brasileira a bem vista previsibilidade e senso de interesse de Estado com ampla continuidade temporal.

Há muito que qualquer observador atento percebe que mais e mais decisões de política externa são decididas exclusivamente no Planalto. Marco Aurélio Garcia é homem poderoso, coordenador de campanhas presidenciais e articulador da Política Externa para América do Sul e Latina e apesar de todos os circunlóquios fica clara que eleições afetivas e ideológicas pesam sobremaneira nessas decisões, ou como explicar hospedar o ditador cubano na Residência Oficial da Granja do Torto?

Já escrevi isso várias vezes, pode-se fazer uma política externa cosmopolita, sul-sul, anti-hegemonica, ou qualquer adjetivo que se queira, sem ter que ir na “extra-mile”, em um vocabulário mais corrente é possível ter relações independentes com qualquer país sem ter que “puxar saco”. É claro, que nos assuntos internacionais se aperta a mão e se posa pra fotos com pessoas não recomendadas para o consumo humano, mas abrir sua casa para elas, é um tanto demais.

Quais os ganhos que hospedar com tamanha deferência o líder cubano trarão para o Brasil? E por que tratar a hospedagem como “Segredo de Estado”?

Força diplomatas, sempre tão avessos a intervenção dos “amadores” na Política Externa, não há humilhação que seja pra sempre. E pensando bem, imagino o porquê do silêncio. A subserviência é sempre constrangedora.

sábado, 29 de março de 2014

O erro fundamental do coletivismo - Mario Machado (Coisas Internacionais)

Meu amigo Mário Machado, e colega blogueiro, no Coisas Internacionais, assina aqui um dos melhores textos que já li sobre as perversões morais do coletivismo, um mal que nos afeta profundamente, pois ele está na base de TODAS as políticas equivocadas que estamos conhecendo no Brasil desde 2003, e que estão fazendo o Brasil retroceder absoluta e relativamente, sobretudo no plano educacional e mental.
Subscrevo integralmente cada uma de suas palavras e seria capaz de apontar muitas outras consequências práticas, em nossas vidas, das políticas de inspiração coletivista adoradas pelos companheiros totalitários.
O Brasil recua, a olhos vistos, e em todas as frentes, sobretudo no plano das políticas públicas -- e o que se salva não deve nada ao Estado, justamente -- e esses recuos são inteiramente devidos à ideologia coletivista dos companheiros.
Leiam o texto com atenção, e reflitam.
Paulo Roberto de Almeida 

Coisas Internacionais


Posted: 29 Mar 2014 08:48 AM PDT
atlasColetivista é aquele que crê que os interesses das abstrações sociais (classe, raça, gênero, etc.) são mais importantes que o individuo. Em geral, eles tratam o individuo como algo que deve ser enquadrado em padrões de desejos e comportamentos que seriam definidos pela estrutura coletivista que pertenceriam. O coletivista julga está fazendo o melhor para humanidade e geralmente tem um horizonte utópico arrebatador, basta ver as duas maiores expressões do coletivismo no século XX (Socialismo e Fascismo), para identificar as tendências que descrevo.
Para os adeptos do coletivismo, que não duvidem é um conceito muito difundido e influente, o pior comportamento humano possível é o individualismo, pois para eles o individuo nada mais é que um ente a serviço da causa. E a causa é sempre nobre, os comunistas tomaram o poder para realizar a justiça social plena e com um horizonte utópico desses o que são alguns milhares de “alienados” mortos ou encarcerados?
Quem ousa pensar diferente é um perigo é alguém a ser silenciado, afinal olha como é bom o futuro prometido e o caminho para chegar lá é silenciando o dissidente. É um mecanismo de controle eficiente e funciona bem, afinal, quantas críticas ao individualismo “selvagem”, “egoista” e outros muitos adjetivos lemos por ano? Agora mesmo o leitor desse texto pensou em várias.
Certa vez, quando eu reclamava do impacto negativo que certa aventura econômica do governo teria sobre os preços que eu pago sobre um produto um conhecido professor e escritor no campo das RI não duvidou e taxou um: “mesquinho e egoísta”. Eu tolamente tentei demonstrar que isso não era verdade, sou até moderadamente generoso e faço muitos trabalhos voluntários para a comunidade, mas tudo era respondido com a ironia e a soberba dos que se julgam superiores por seus valores coletivistas (e não importa quantos crimes esses valores tenham causado, nessa hora a culpa é estranhamente individual). Por fim, desisti do debate. Não haveria ali nada além de discurso emocional, carregado em palavras militantes, uma chatura sem tamanho.
Essa história me veio a cabeça e decidi compartilhar uma frase com vocês que soará como uma verdadeira heresia contra os dogmas do coletivismo. Mas, pareceu-me apropriado compartilhar.
“Minha felicidade não é um meio para nenhum fim. Ela é o fim. Ela é seu próprio objetivo. Ela é seu próprio propósito. Tampouco eu sou um meio para qualquer fim que outros possam desejar realizar. Eu não sou um instrumento para seu uso. Eu não sou um servo de suas necessidades.” Ayn Rand
Reitero: “Eu não sou instrumento para seu uso. Eu não sou um servo de suas necessidades”. Eu não sou uma ‘categoria de pensamento’, eu sou um indivíduo e um indivíduo permanecerei.
Mário Machado

quinta-feira, 13 de março de 2014

Venezuela, Brasil e Unasul - Coisas Internacionais


Coisas Internacionais, 13 Mar 2014 07:06 AM PDT

Os observadores da Política Externa Brasileira costumam apontar para realidade que para alguns é incomoda de que o Itaramaty perdeu espaço na formulação de política externa para questões sul-americanas, que estariam sob atenção direta do Palácio do Planalto, mais precisamente sob coordenação de Marco Aurélio Garcia. E isso se faz sentir no modo como o Brasil atua nesse continente.
A Venezuela cresceu em importância econômica para o Brasil desde o governo Lula, investimentos brasileiros fluíram para o país de Bolívar, mas o modo errático de administração econômica dos bolivarianos exige dos exportadores brasileiros doses cavalares de paciência e de navegar os tortuosos caminhos palacianos para conseguirem liberar seus pagamentos. Não é difícil imaginar que um procedimento pouco ortodoxo como esse esteja aberto a arbitrariedades e as famosas “vendas de soluções”. Mas, quem faz negócios com a Venezuela e for diligente já estava sabendo que interagiria num sistema altamente personalista.
A crise é grave e contabiliza mortos e cenas dantescas de milicianos abrindo fogo contra estudantes universitários, mas ao que parece para o Assessor Especial da Presidência, Marco Aurélio esses acontecimentos são apenas “valorização midíatica”.
Em reportagem da BBC Brasil uma teoria adicional sobre o silêncio brasileiro, que seria fruto de pragmatismo comercial, ou seja, evitaríamos comentários ostensivos quanto a situação da Venezuela e assim garantiríamos que exportadores e, principalmente, empreiteiras recebessem seus pagamentos, que são vultosos.
Já escrevi aqui sobre essa crise alertando que ela escancara a ilusão que é a noção de liderança brasileira, que os acadêmicos de RI tanto gostam. Resgato agora um trecho:
Ora, se o governo brasileiro quer mesmo ter papel de liderança no continente não pode se omitir, não pode deixar de condenar a violência dos manifestantes e dos agentes do governo, deveria fazer gestões para que o opositor preso responda processo em liberdade, o que acalmaria um pouco as ruas e pediria comedimento por parte do regime na resposta as manifestações e mais articularia uma missão da UNASUL ou MERCOSUL até a Venezuela para avaliar melhor a situação e para ajudar na negociação do fim da crise. Ações práticas demonstram liderança.
Inevitável é o questionamento de quanto da ação vacilante do governo deriva da simpatia ideológica e o quanto deriva de um quadro de análise política sobre a mensagem que isso passaria aos manifestantes nacionais, que prometem infernizar o governo durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.
Pode um líder ser tão vacilante? Cabeças devem estar fervendo no belo palácio dos arcos atormentadas por essas questões, como diria o Barão do Rio Branco, Política Externa é projetar uma certa imagem de Brasil e nesse caso é uma parcial a favor de regimes de mesma matiz ideológica e vacilante quanto a própria capacidade de intermediar crises regionais. É esse um quadro acurado?
Adiciono uma pergunta as que fiz acima. Um verdadeiro líder regional se abstém de influir positivamente para a solução pacífica de uma crise que ceifa vidas humanas e com potencial de tornar ainda mais forte a marca Brasil na região por medo de ser alvo de calote ou de represálias?
A UNASUL parece que finalmente se convenceu da necessidade de alguma ação de mediação, e votou pela criação de um Conselho de Chanceleres para acompanhar a questão que para ser efetivo deve oferecer Bons Ofícios para que os lados alcancem algum tipo de solução que cesse a violência. Embora, a nota divulgada, com o diplomatiquês de sempre não seja auspiciosa nesse sentido.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Venezuela e a questao da lideranca brasileira - Blog Coisas Internacionais


Coisas Internacionais, 21 Feb 2014 06:39 AM PST

Não é a primeira vez que reflito nesse blog sobre o conceito e a abrangência da suposta liderança brasileira na região da América do Sul. E reiteradamente constato que essa liderança propalada em discursos raramente se converte em política, em ações estratégicas, em momentos de crise como o que vive agora a Venezuela.
O Brasil se eximiu de ter um papel ativo e público na solução da crise das papeleras, amarga disputa entre Argentina e Uruguai que ameaçou seriamente a unidade do MERCOSUL.
Quando a Colômbia atacou acampamento das FARC em território equatoriano e matou um membro do secretariado da narco-guerrilha Raúl Reys, novamente, nossa diplomacia ficou a reboque da dupla Kirchner- Chávez.
Foram duas oportunidade de liderar, de oferecer bons-ofícios e tentar impelir estratégias nacionais para a região, sem imposição imperial, mas construindo com habilidade o consenso ao se mostrar verdadeiramente engajado.
É sempre difícil pros decisores políticos separar seus interesses de governo (partidário-eleitorais) dos interesses de Estado (de longo prazo e supostamente suprapartidários) principalmente quando a simpatia e antipatia ideológica são tão aparentes como no atual partido no poder no Brasil. Só a simpatia ideológica explica por que o Brasil é neutro diante das FARC que tentam derrubar um regime para impor uma ditadura socialista e na busca desse propósito traficam drogas que inundam as ruas brasileiras e armas ilegais que nos matam e é agora completamente defensor do regime bolivariano que enfrenta ampla contestação de uma fatia significativa da população da Venezuela.
Sobre a Venezuela é preciso resistir a vontade de demonizar os lados em disputa. É verdade que Maduro foi democraticamente eleito, ainda que pipoquem denuncias de fraudes eleitorais, mas também é verdade que sua eleição transformada pelos marketeiros brasileiros em referendo sobre o Chável, recém-falecido (o que é claro tem forte carga emocional) foi bem apertada com cerca de 200 mil votos de diferença.
Isso quer dizer que não são protestos de uma “minoria fascista”, “branca” e “racista” que não suportaria um Estado mestiço e indígena, como li na opinião de um professor da UnB, que pela ingenuidade da afirmação não deve ser (assim espero) membro do iPol ou do iRel.
Hoje, 21 de fevereiro de 2014, até as 10h não havia no site do Itamaraty nenhuma nota referente a virulência das manifestações e da repressão na Venezuela, alguns dias atrás uma nota da CELALC havia sido publicada mas foi retirada. Notas oficiais são em conteúdo sempre cheia de platitudes e diplomatiquês, mas a ausência delas é um indicativo muito interessante de que falta consenso sobre o assunto no governo.
E antes que venham com a balela de que qualquer manifestação contrariaria a não-intervenção, o Brasil emitiu com rapidez nota externando preocupação com a violência e pedindo refreamento por parte do governo e opositores e diálogo para alcançar a paz social na Ucrânia.
Ora, se o governo brasileiro quer mesmo ter papel de liderança no continente não pode se omitir, não pode deixar de condenar a violência dos manifestantes e dos agentes do governo, deveria fazer gestões para que o opositor preso responda processo em liberdade, o que acalmaria um pouco as ruas e pediria comedimento por parte do regime na resposta as manifestações e mais articularia uma missão da UNASUL ou MERCOSUL até a Venezuela para avaliar melhor a situação e para ajudar na negociação do fim da crise. Ações práticas demonstram liderança.
Inevitável é o questionamento de quanto da ação vacilante do governo deriva da simpatia ideológica e o quanto deriva de um quadro de análise política sobre a mensagem que isso passaria aos manifestantes nacionais, que prometem infernizar o governo durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.
Pode um líder ser tão vacilante? Cabeças devem estar fervendo no belo palácio dos arcos atormentadas por essas questões, como diria o Barão do Rio Branco, Política Externa é projetar uma certa imagem de Brasil e nesse caso é uma parcial a favor de regimes de mesma matiz ideológica e vacilante quanto a própria capacidade de intermediar crises regionais. É esse um quadro acurado?

domingo, 11 de novembro de 2012

Brasil e Paquistao: duas atitudes sobre a educacao

Parece incrível, mas o Brasil recua em matéria educacional, e isto se tornou ainda mais patente desde que os companheiros e as "saúvas freireanas" se apossaram da educação no Brasil, tornando o MEC uma força ainda mais retrógrada do que normalmente já era.
Leiam este excelente post do meu amigo Mário Machado, no seu blog Coisas Internacionais.
Paulo R. Almeida 

Coisas Internacionais, 10 Nov 2012 03:54 PM PST

Qualquer pessoa minimante informada sobre os acontecimentos internacionais já ouviu falar da jovem Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa que é ativista pela educação das meninas de seu país, que foi alvejada por um terrorista covarde talibã e agora com apenas 15 anos luta pela vida em um hospital londrino.
Não há relativismo cultural no mundo que justifique que a luta pela educação feminina seja uma ofensa capital, não imagino uma pessoa normal que possa defender tal postura, só mesmo a mente deturpada de um radical pode concatenar vil ato. O atentado causou tamanha ojeriza que outras alas talibãs decretaram que o atirador responsável deve ser executado (resisto a escrever abatido). Normalmente não escrevo textos tão enfáticos, mas neutralidade nesse caso é uma espécie de aquiescência com esse ato que deve ser sempre repudiado e denunciado.
Hoje, 10 de novembro, o governo paquistanês realiza o Dia de Malala, esse dia, é claro, tanto serve para repudiar o ataque e reforçar a campanha para que as meninas tenham acesso a educação e sejam estimuladas por seus pais, como serve para que o governo paquistanês demonstre ao mundo que sua sociedade não é composta só de talibãs e que é de fato uma sociedade complexa com múltiplas correntes de opinião.
(Convido meus leitores a pesquisarem os projetos de Malala e inspirados por ela, que agora são espalhadas por outras províncias paquistanesas e o Google ta ai para nos ajudar nisso.)
Por um acaso, me deparei com os mais recentes desenvolvimentos da história de Isadora Faber, a garota catarinense que por meio do Facebook expõe as fragilidades da sua escola pública e dá seu olhar singular sobre os eventos em sala da aula.

Desde a primeira vez que ouvi falar no Diário de Classe tive duas certezas: que essa página ficaria famosa e que as represálias seriam pesadas e viriam de colegas e professores. Afinal, os acomodados, incompetentes, ineptos em geral detestam a publicidade. Na página a menina que compartilha sua visão dos fatos de modo corajoso e público, afinal, ela poderia ser uma anônima, mas dá a cara pra bater, aliás, essa metáfora está tragicamente perto de ser uma descrição factual, afinal até o Ministério Público estadual se envolveu para investigar as supostas ameaças e o apedrejamento da casa da família da jovem.
Não vou me arriscar em psicologismo barato e discorrer sobre a inveja que a notoriedade do Diário de Classe desperta em alguns dos colegas da menina, não nego que deve ser um fator, mas não tenho credenciais para enveredar nesse rumo.
Os textos do Diário de Classe, não são particularmente bem redigidos são apenas coletâneas de momentos vividos pela menina no dia-a-dia de sua escola e nesse sentido não são corrosivos, irônicos, ofensivos ou agressivos. Ela retrata uma escola normal, em que há tensão entre alunos “bagunceiros” e estudiosos, em que professores têm preferidos e outros que perseguem. Uma realidade que todos nós já vivemos em sala de aula.
A Isadora tem preferência por postar fotos do cardápio e das refeições da escola e isso tem um potencial problemático, por que a correlação entre o que é oferecido aos estudantes e o que o poder público paga pode conter alguma anormalidade. Chega a ser triste ler os comentários que dizem que o lanche está bom demais e ironizam a menina, mas que não procuram saber se correspondem ao orçamento da chamada “merenda escolar”. Não estou acusando ninguém de nada, que fique claro, apenas mostro como a página tem um potencial de controle social do orçamento público que é desconfortável para os políticos e burocratas.
Há um quê de muito ridículo quando adultos, professores, com formação superior se juntam para circular um manifesto que objetiva “um outro olhar” para refutar uma menina.
Pouco importa se há concordância ou não com o que escreve a menina, ela não pode ser alvo de intimidação para cessar de escrever, não quero viver num Brasil em que a página na internet de uma menina de 13 anos seja alvo de uma “fatwa” dos talibãs do comodismo, do status quo e da incompetência.
Quem diria que com tantas diferenças entre Brasil e Paquistão estaríamos unidos pelo radicalismo contra meninas que querem mais educação?

sexta-feira, 2 de março de 2012

O sentido da liberdade, negra, branca, de todas as cores - Mario Machado

Meu amigo, e que sempre me distingue com transcrições e comentários ligados a meus posts anarco-liberais, me distingue agora com mais um texto exemplar, que não hesito em copiar e colar aqui, com o devido reconhecimento e meu agradecimento, pela oportunidade de ler algo tão singelo, e tão belo.
Independentemente das qualidades de forma, já mencionadas, o que vale, para mim, no entanto, é sua mensagem, e ela é absolutamente transparente, no que vai agora transcrito.
Paulo Roberto de Almeida

Sexta-feira, 13 de maio de 2011

[Especial 13 de maio] 13 de maio, mas onde está a liberdade?

Mario Machado
13 de maio, mas onde está a liberdade?*
O laureado escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez em seu excelente livro “Cem anos de solidão”, no qual o autor nos conta a peculiar e particularmente trágica saga da estirpe dos Buendía, na sua ficcional e pitoresca cidade de Macondo, narra a certa altura a epifania da personagem, Aureliano Buendía, então coronel de uma força rebelde comunista, que decide encerrar o conflito no qual está imerso e durante esse processo constata o narrador:
“Nunca foi melhor guerreiro do que então. A certeza que finalmente lutava pela própria libertação e não por ideais abstratos, por ordens que os políticos podiam virar para o direito e para o avesso segundo as circunstâncias, infundiu-lhe um entusiasmo apaixonado” (MARQUEZ, p. 167)
E hoje é um dia propício para falar de liberdade, mas fique tranqüilo meu leitor, não lançarei aventuras filosóficas sobre a natureza da liberdade, nem sobre fatores sistêmicos que aumentam ou restringem a liberdade, ou qualquer dessas coisas, tampouco farei referências a pílulas vermelhas e azuis, ou abrir os horizontes da consciência para obter a liberdade, enfim fiquem tranqüilos ao ler, pois não virei o que se chama por ai de “bicho-grilo”.
Sim, meus leitores eu sou descendentes de negros, afro-descendente, como está na moda, carrego essa herança na pele, e na pele, também estampo o resto da minha vasta herança étnica, afinal como a maioria absoluta dos brasileiros eu sou o que se chama de mestiço, já me chamaram de pardo, mas na boa, pardo é papel.
Não tenho vergonha de minhas origens negras, tenho plena consciência das duríssimas dificuldades que meus antepassados passaram, conheço a dificuldade interna em uma família branca que se mesclou e o tipo de sentimentos baixos e nobres que despertam dessa mistura.
Gosto de me declarar negro, por que já tentaram que me sentisse inibido de fazer isso, como se houvesse algo de errado com a quantidade de melanina na pele de alguém. Muita gente não entende o porquê da ênfase que muitos dão ao orgulho negro, mas a meu ver e no meu sentimento o orgulho de ser negro nasce como uma reação aos que tentam menosprezar alguém por sua cor, é um movimento que não nasce de desejo de supremacia, mas de um desejo de normalidade.
Entendam não estou trazendo esse assunto ao blog, por que eu seja um ativista da causa negra (coisa que eu não sou), ainda mais por que não acredito em uma causa negra uniforme, não acredito em separar as pessoas em grupos. Se existe uma causa é a causa de toda a sociedade, por que quer queiramos ou não nossos destinos estão entrelaçados, então é lógico e claro que superar as barreiras artificiais que separam as pessoas em categorias por motivos étnicos é um passo necessário para vivermos melhores e sei lá perseguirmos cada um seu caminho para a felicidade. Acredito que a forma para equilibrar as relações raciais passa necessariamente por coisas simples (e ao mesmo tempo complexas de implementar) como treinamento em negócios, crédito, empreendedorismo e educação (e claro valores familiares, que quebrem certos ciclos viciosos, sim acredito em valores familiares, não escondo que sou católico), embora o ponto aqui não seja esse.
Estudando as relações internacionais vemos que essa insanidade étnica e/ou racial, só pode terminar em tragédia, mais ódio, mais preconceito, nunca menos. O caminho para harmonia social exige esforço coletivo e, sobretudo individual, e me parece que nos dias de hoje, não sei o motivo, as pessoas andam avessas a tudo que exige sacrifícios pessoais.
Não foram poucas as vezes que debati com integrantes dos movimentos negros, que na minha concepção são movimentos políticos com agendas políticas, onde a componente racial é só a tática escolhida para alcançar os objetivos políticos normais (poder, não condeno a busca pelo poder, mas como já disse racialismo é algo perigoso e raramente termina bem, seja em Ruanda ou no III Reich),por sinal sou sempre cético no que tange a belos discursos, procuro ver além das palavras por que por vezes as intenções e conseqüências dessas idéias nobres são mortíferas, um exemplo: liberdade, igualdade e fraternidade, quantos cederam suas vidas por conta da revolução francesa? Quantas mães esposas, esposos, filhos, filhas, netos, netas, choraram por conta de nobres palavras de conseqüências desastrosas? Justiça social, então quantos morreram em nome dessa suposta causa? E quanta injustiça a busca por ela incentivou?
A liberdade ainda não é uma garantia, um direito fundamental, em nossa sociedade, quantos são os que por vontade de ter uma vida melhor pra si e seus filhos acabam por trabalhar em condições análogas a escravidão? Quantos imigrantes (bolivianos, chineses e etc.) vivem em condições precárias em nossas cidades?
Quantos se deixam escravizar? Deixam-se patrulhar intelectualmente? Temem ir contra a maré? Defendem pontos de vista que não são os seus? E por quê? Muitos o fazem para fazer parte de um grupo, para sentirem o pertencimento. Não ouso me deixar patrulhar, não abro mão do pensamento livre, assim honro o sacrifício de tantos no passado, a dor dos escravizados, por isso respeito e reverencio as liberdades individuais, não podemos nunca mais tolerar a escravidão, seja na forma do trabalho servil obrigado, seja vivendo vidas patrulhadas, seja sendo escravos de governos e regimes de exceção, não importa o lado do espectro político, ambos escravizam. E há ainda outra forma de escravidão mental, que são os vícios.
Portanto, independente do estado das relações raciais no Brasil, aproveitemos o dia de hoje, para pensar mais alto, para pensar em como e se somos livres e como obter e manter essa liberdade. Não há dom maior na vida humana que o dom de ser livre, ser livre até mesmo pra ser estúpido. E no meu ponto de vista, devemos sempre cultuar a liberdade, sempre com olhos abertos para os avanços do totalitarismo, temos que ter ciência e inteligência para não permitir que as liberdades individuais sejam solapadas não obstante a desculpa usada para isso devemos ter cuidado redobrado com as desculpas nobres, não é a toa que dizem que o inferno está cheio de boas intenções.
Assim meus leitores não importa que etnia vocês tenham que cor de pele vocês tenham, qual seja sua nacionalidade, o que importa é o conteúdo do caráter, (todos reconhecem essa referência) quem sabe chegaremos a esse dia, um passo de cada vez, sem radicalismo e sem delírios de raça, (entre os quais o pior deles é o da pureza) sejamos humanos e quem sabe um dia teremos relações raciais equilibradas, e assim deixarão de ser bandeiras pra nos dividir, sob palavras de união.
Imagino que vou irritar muita gente com esse texto, mas sou LIVRE, para pensar e sou grandinho para suportar desavenças civilizadas.
Sou livre, graças a Deus. Como diz o velho Negro Espiritual: [retirado de "American Negro Songs" by J. W. Work]
Free at last, free at last
I thank God I'm free at last
Free at last, free at last
I thank God I'm free at last
Way down yonder in the graveyard walk
I thank God I'm free at last
Me and my Jesus going to meet and talk
I thank God I'm free at last
On my knees when the light pass'd by
I thank God I'm free at last
Tho't my soul would rise and fly
I thank God I'm free at last
Some of these mornings, bright and fair
I thank God I'm free at last
Goin' meet King Jesus in the air
I thank God I'm free at last
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*Originalmente publicado em 13 de maio de 2009. (aqui)