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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Copom: enxugando gelo e enganando os incautos - Comunicado do BC

Desde 2011 que o presidente do Banco Central promete alinhar a inflação com o centro da meta para o ano seguinte, e nunca cumpriu.
Em qualquer país sério, o Congresso já teria exigido sua substituição por alguém capaz de manter suas promessas, e de tomar as medidas necessárias para que isso se faça. Aliás, um presidente que se respeita jamais teria aceito abaixar os juros por decreto, apenas por ordem da presidente, uma inepta em economia. Teria dito simplesmente: "isso é o Copom quem decide e os diretores não querem sugestões externas, eles sabem errar sozinhos, sem precisar de erros externos."
Mas parece que vamos continuar nas promessas vazias.
Alguém aí é capaz de acreditar que a inflação estará no centro da meta em 2017?
O Brasil tem por dez anos mais para ter taxas de juros normais, graças aos crimes econômicos cometidos pelo bando de keynesianos de botequim que nos destruiram nos últimos anos.
Paulo Roberto de Almeida

BRASIL - Copom: navegando as incertezas atuais
Itaú Macroeconômica, 26/11/2015

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) manteve a taxa Selic em 14,25% a.a.. Embora a decisão tenha sido em linha com o esperado - tanto pelos analistas como pela curva de juros - houve um dissenso dentro do Comitê. Dois (de oito) membros da diretoria votaram para uma elevação de 0,50 p.p. na taxa Selic, para 14,75%.

O comunicado que acompanhou a decisão foi lacônico e não traz maiores detalhes além da votação dividida. Abaixo o comunicado completo:

“Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 14,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Edson Feltrim e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pela elevação da taxa Selic para 14,75% a.a. os seguintes membros do Comitê: Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.”

Nas últimas semanas, o Copom vinha sinalizando que adotará as medidas necessárias para trazer a inflação ao centro da meta (4,5%) ao final de 2017.   

Apesar da recente apreciação cambial (o real se valorizou em cerca de 5% frente ao dólar desde a última reunião do Copom), as incertezas políticas/fiscais seguem pressionando as expectativas de inflação e trazendo riscos para a política monetária. Desde a reunião do Copom de 21 de outubro, a mediana das projeções dos analistas para o IPCA de 2016 subiu de 6,12% para 6,64% (marcando a 16ª alta semanal consecutiva). As projeções para 2017 tambem começaram a mostrar pequena elevação, saindo de 5,00% para 5,10% na última semana. As estimativas de inflação implícita nos títulos públicos também se encontram em patamar elevado - as taxas a termo se situam entre 8-9% para intervalos de 1 a 2 anos, e entre 7,0-7,5% para prazos de 3 a 5 anos  - embora estes cálculos reflitam a existência de prêmio de risco nos ativos brasileiros. Esse aumento nas expectativas de inflação piora o balanço de riscos para a inflação, o que  poderia levar o Copom a retomar o ciclo de alta de juros. Estes fatores devem ser as razões para os votos a favor de um aumento de juros.

No entanto, a atividade permanece bastante fraca, o que ajuda a conter os efeitos secundários da depreciação cambial e dos ajustes de preços administrados. Além disto, a piora em curso nas condições do mercado de trabalho tem potenciais efeitos desinflacionários em setores mais intensivos em mão de obra (serviços). A incerteza política/fiscal atual também recomenda cautela na definição da política monetária, de forma a contribuir para a redução da volatilidade nos mercados. Estes fatores contribuem para mitigar as possibilidades de um aperto monetário no curto prazo, e provavelmente foram preponderantes na decisão do restante do colegiado (seis membros do Copom) que optaram pela manutanção da taxa Selic.

Diante de fatores relevantes para a dinâmica inflacionária atuando em direções opostas, e tendo em mente as elevadas incertezas no cenário (especialmente na parte política/fiscal), entendemos que o alongamento do prazo para convergência inflacionária ofereceu maior tranquilidade ao Copom para ajustar a politica monetária apenas no caso de a inflação se mostrar pressionada em prazos mais longos. Desta forma, acreditamos que o Copom não mudará a postura da política monetária, a menos que ocorram alterações relevantes na projeção do Copom para a inflação de 2017.

Assim, mantemos nosso cenário de Selic estável em 14,25% até o fim de 2016.

sábado, 7 de setembro de 2013

A Megera Domada? Calma, nao se trata de Shakespeare, mas de algo muito pior...

A "megera domada" referida aqui é a Ata do Banco Central, ou melhor, do último Copom, que parece ter sido abduzida pelos magos keynesianos do cerrado central, uma tropa de choque que continua achando que impulso fiscal, ou seja, incitação ao consumo pelo estímulo à demanda sempre é bom para fins de crescimento.
O Banco Central já não fala mais grosso, mas pia fino, pois quem manda mandou ele calar a boca e se enquadrar no discurso otimista segundo o qual não existe perigo de inflação e tudo caminha pelo melhor no melhor dos mundos. Que coisa, gente: o BC está acovardado ou castrado?, escolham...
Paulo Roberto de Almeida

Esqueçam o que escrevi

06 de setembro de 2013 | 2h 08
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.
Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom ontem divulgada mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.
Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".
Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.
De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.
Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.
O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.
A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.
Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta (veja ainda o Confira).

terça-feira, 16 de abril de 2013

Copom: para que te quero? Para nada? Podemos dispensar?

Eventual elevação de juros será em patamar menor, afirma Dilma

Alvo de críticas pela alta de preços, presidente volta a criticar 'pessimismo especializado' e descarta altas taxas

Fernando Gallo
O Estado de S.Paulo, 16 de abril de 2013 | 13h 06
 
Belo Horizonte - A presidente Dilma Rousseff, que vem sendo fustigada pela alta nos índices de preços oficiais, afirmou nesta terça-feira, 16, que "qualquer necessidade" de aumento de juros "para combate a inflação" hoje em dia "será possível fazê-la em um patamar bem menor" do que na época em que o País conviveu com taxas mais altas. Ela voltou a dizer que o governo não "negociará" com a inflação e assegurou que não terá "o menor problema em atacá-la sistematicamente". Dilma declarou ainda que "não há hipótese" de o Brasil não apresentar crescimento econômico em 2013 e disse estar "otimista" com o País.
A presidente afirmou também que o combate à inflação foi "uma conquista desses dez últimos anos de governo, do presidente Lula e do meu", e disse que o Brasil jamais voltará a ter altas taxas de juros reais.
"Não é hora de achar que a hora do Brasil passou. Pelo contrário, a hora do Brasil é agora. Temos que ter certeza de que passamos e estamos passando estamos passando um momento muito difícil no cenário internacional. O Brasil está passando esse momento mantendo a sua robustez, a capacidade de fazer política industrial", afirmou Dilma em Minas Gerais, na cerimônia do anúncio de uma fábrica que produzirá insulina humana no Brasil.
"A grande diferença nossa não é só que não desempregamos nem reduzimos direitos para enfrentar a crise, mas sobretudo que mantivemos a capacidade, quando todo mundo eleva impostos, de reduzi-los. Mantivemos a capacidade de buscar um maior equilíbrio entre as variáveis macroeconômicas, que é mudar o patamar de juros no Brasil. Jamais voltaremos a ter aqueles juros em que qualquer necessidade de mexida elevava os juros para 15% porque estava em 12% a taxa real. Hoje temos uma taxa real bem baixa. Qualquer necessidade para combate a inflação será possível fazer num patamar bem menor", disse a presidente.
Dilma voltou a culpar o "pessimismo especializado" pelas avaliações de que a economia pode desandar. "Acredito que tem uma parte dessa história que vocês escutam que é um pessimismo especializado, de plantão. Um pessimismo que nunca olha o que já conquistamos e a situação em que estamos. Sempre olha achando que a catástrofe é amanhã. Achando que esse processo é um processo que tem sinalizações indevidas."
Na segunda, 15, à noite, a uma plateia petista, associara o "pessimismo" aos tucanos ao dizer que os "pessimistas" eram os mesmos que haviam feito o racionamento de energia no país em 2001. Desta feita, no entanto, embora não tenha feita a mesma associação, fez os comentários na presença do governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB), um dos principais aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Aécio, que deve ser um dos oponentes de Dilma na disputa presidencial de 2014, disse em entrevista recente que a presidente é "leniente" com a inflação. Ao ouvir os comentários de Dilma, Anastasia apenas olhou, constrangido. Ele fizera um discurso brando, no qual ressaltou as parcerias entre os governos federal e mineiro e agradeceu Dilma por elas.
Outro possível adversário da presidente em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também vem fazendo críticas à política econômica de Dilma. Ele costuma dizer que economicamente "2012 foi pior do que 2011 e 2011 foi pior que 2010" e já chegou a afirmar que a crise internacional "está chegando ao Brasil".
No PT há um temor de que o aumento de preços possa vir a se transformar num problema eleitoral para o projeto de reeleição da presidente.
 Veja também:
link Dilma diz que inflação está sob controle e faz crítica a 'pessimistas especializados'
link Dora Kramer: Atenção, concentração
link Presidente do PT chama Aécio de 'cara-de-pau'

quarta-feira, 27 de março de 2013

Se eu fosse do Copom, eu me demitiria...

Para que Copom, não é mesmo?
Se a própria presidente substitui o presidente do Banco Central e todos os demais diretores, membros oficiais do Copom, e decide, com base no seu conhecimento superior de economia, nas suas previsões acertadas (se disser pibinho, acerta nisso, pelo menos), e no seu imenso ferramental econométrico, qual deve ser a taxa de juros no Brasil, qual a que melhor elimina riscos inflacionários e reflete o custo real (não o desejado) do dinheiro emprestado, quais os parâmetros que devem vigorar nos mercados de capitais, no sistema bancário, para que essa pantomima a cada 45 dias, de reunir um monte de gente durante dois dias, para depois anunciar o que a presidente quer?
Melhor poupar esforços e se basear na sua genial intuição, e na bola de cristal do preclaro ministro da Fazenda, para decidir o que já estava decidido. Mais simples assim, não é mesmo?
Por isso mesmo que o grau de volatilidade associado à economia brasileira vem aumentando cada vez mais. Depois colocam a culpa nas agências de classificação de riscos e nos tais de especuladores de olhos azuis de Wall Street e seus capitais vorazes...
Paulo Roberto de Almeida

G1, Quarta, 27/03/2013

Dilma diz que inflação está sob controle apesar de flutuações conjunturais

A presidente participa de reunião da cúpula do Brics.
A presidente Dilma Rousseff disse hoje, na reunião da cúpula do Brics, que a inflação brasileira está sob controle, embora aconteçam flutuações e alterações conjunturais. Dilma também sinalizou que o governo não vai elevar a taxa básica de juros para tentar conter a inflação.
Presidenta Dilma Rousseff posa para foto oficial com os chefes de Estado e de Governo na V Cúpula dos Brics (Crédito: Blog do Planalto /  Roberto Stuckert Filho) Presidenta Dilma Rousseff posa para foto oficial com os chefes de Estado e de Governo na V Cúpula dos Brics
(Crédito: Blog do Planalto / Roberto Stuckert Filho)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

PR para BC: eu ordeno que voce seja livre e independente!; e nao discuta, ouviu?

Durma-se com um barulho desses; depois de ter manipulado o BC durante os últimos dois anos, agora a PR quer dar a impressão de que o Copom é independente; mas só impressão, não é?...
Paulo Roberto de Almeida

Governo vai reforçar discurso de BC autônomo
VALDO CRUZ
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
FSP, 19/02/2013
A presidente Dilma Rousseff orientou a equipe econômica a deixar claro que o BC tem total autonomia para decidir subir os juros quando considerar necessário.
O objetivo é influenciar nas expectativas de mercado, tentando afastar percepções de interferência sobre a condução da política da entidade.
Segundo assessores, Dilma quer transmitir esse recado porque estava se cristalizando o conceito de que o BC está de "mão atadas" e não subiria a Selic neste ano devido a pressões do Planalto.
Para interlocutores presidenciais, o próprio governo contribuiu para que fosse criada essa imagem de que o BC na era Dilma tem menos autonomia do que no governo Lula, o que dificulta a ação do banco em momentos mais turbulentos na economia.
Para reforçar a imagem de autonomia, assessores dizem que, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC pode emitir sinais de uma eventual mudança na taxa de juros, suprimindo suas últimas recomendações de manutenção da política atual por um "tempo suficientemente prolongado".
Essa mudança pode ocorrer caso o BC avalie que há riscos de alteração no cenário atual do banco sobre o comportamento da inflação. A previsão é que a inflação fique acima de 6% no primeiro semestre, recuando no segundo. Caso esse cenário se confirme, tanto o BC como o Palácio do Planalto consideram que o Copom pode ter condições de deixar inalterados os juros, hoje em 7,25%.

domingo, 2 de setembro de 2012

Bancos centrais a servico de governos: missao impossivel

Não só o BC do Brasil, o FED também. Os Bancos Centrais, quase em todas as partes, se converteram em instrumentos dóceis dos governos, indo além de seus mandatos tradicionais para adentrar em políticas de estímulo keynesiano, inundando os mercados de dinheiro, praticando política fiscal, se preocupando com emprego e outras tarefas que nunca deveriam ser as deles. Bancos centrais, se precisam existir, o que não é um fato, precisam apenas resguardar o poder de compra das moedas e o bom funcionamento dos mercados financeiros, especialmente o bancário. Tudo além disso é ultrapassar suas funções precípuas.
Por isso que eles estão contribuindo para agravar a crise, ou aprofundar a recessão, em lugar de simplesmente preservar a moeda.
O Federal Reserve, por exemplo, recebeu a incumbência -- claramente demagógica e despropositada -- de defender o pleno emprego, o que nunca deveria ser sua função. Vai dar errado...
Paulo Roberto de Almeida 

O Copom se transformou em instrumento do governo

Editorial O Estado de S.Paulo, 31 de agosto de 2012
As decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) não se vinculam mais ao seu objetivo natural, mas à política econômica ou, mais exatamente, anticíclica, em estreita colaboração com o governo. Não é mais a tendência da inflação que as dita, mas a necessidade de cumprir uma meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Assim, é inútil procurar adivinhar se o Copom acha que haverá um aumento dos preços. A decisão de ontem, nessa perspectiva, era esperada e foi sem surpresa que o mercado recebeu a notícia da fixação da Selic em 7,5%. A novidade foi o comunicado da reunião dizer que, "considerando os efeitos cumulativos e defasados das ações da política implementada até o momento, que em parte se refletem na recuperação em curso da atividade econômica, o Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia".
Dado o resultado restrito dessa nova política econômica, interpretou-se que o Copom encerrará o ciclo de redução da Selic com mais uma queda de 0,25 ponto de porcentagem apenas. O Copom parece estar consciente de que foi além do razoável, no papel de aprendiz de feiticeiro.
Apesar de falar da "recuperação em curso", parece que o Copom não obteve resultados à altura dos meios utilizados, embora empregando artilharia pesada. Em todos os tipos de crédito tivemos, em sete meses, um crescimento de 7,8% - e o crédito direcionado, controlado pelo governo, cresceu 8,8%. O crédito para as pessoas físicas acusou, no período, aumento de 18,7%, ante 16,7% para as pessoas jurídicas. O estoque de crédito está em 23% do PIB, nas instituições públicas, e em apenas 19,1%, nas instituições privadas nacionais. As concessões acumuladas do crédito livre, em sete meses, diminuíram de 7,2% no caso das empresas e aumentaram 3,1% para as famílias, enquanto as taxas de juros apresentaram queda de 7,8% para empresas e 9,5% para famílias.
Realmente, a atuação do Banco Central favoreceu essencialmente as pessoas físicas, e não tanto as empresas. Até agora é difícil falar, como faz o Banco Central, em recuperação econômica, mas no máximo de uma política que visou a amortecer os efeitos de uma crise mundial. Foi um período em que a taxa Selic estava alta demais e qualquer elevação dela seria excessiva. Hoje, a manipulação da taxa básica de juros é mais fácil, porém deveria continuar sendo instrumento de contenção da inflação.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ata do Copom: dançando sobre gelo fino

O Copom, coitado, gostaria de ter a colaboração do governo, na parte fiscal, para não ter de levar uma política monetária agressivamente restritiva, pois isso prejudica a atividade econômica, está claro.
Quem sabe se na próxima Ata (depois de 31 de agosto) ele não passa uns recados mais diretos aos malucos que estão no comando da economia?
A última Ata, como sempre, é bem educada. Talvez eles pudessem falar mais grosso da próxima vez.
Paulo Roberto de Almeida

160ª Reunião do Comitê de Política Monetária - Banco Central
Data: 19 e 20/7/2011
Local: Sala de reuniões do 8º andar (19/7) e do 20º andar (20/7) do Edifício-Sede do Banco Central do Brasil – Brasília – DF
Horário de início: 16h24 (19/7) e 16h15 (20/7)
Horário de término: 19h33 (19/7) e 18h47 (20/7)

Presentes:
Membros do Copom
Alexandre Antonio Tombini – Presidente
Aldo Luiz Mendes
Altamir Lopes
Anthero de Moraes Meirelles
Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo
Luiz Awazu Pereira da Silva
Sidnei Corrêa Marques

Chefes de Departamento (presentes no dia 19)
Adriana Soares Sales – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 20)
Daso Maranhão Coimbra – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
João Henrique de Paula Freitas Simão – Departamento de Operações do Mercado Aberto
Márcio Barreira de Ayrosa Moreira – Departamento de Operações das Reservas Internacionais
Renato Jansson Rosek – Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais
Tulio José Lenti Maciel – Departamento Econômico
Wagner Thomaz de Aquino Guerra Júnior – Departamento de Assuntos Internacionais

Demais participantes (presentes no dia 19)
Alexandre Pundek Rocha – Assessor do Gabinete do Presidente
André Minella – Consultor do Departamento de Estudos e Pesquisas
Emanuel Di Stefano Bezerra Freire – Chefe de Gabinete da Diretoria
Gustavo Paul Kurrle – Assessor de Imprensa
Nelson Ferreira Souza Sobrinho – Consultor do Departamento de Estudos e Pesquisas

Sumário
Evolução recente da economia
Avaliação prospectiva das tendências da inflação
Implementação da política monetária
Inflação
Atividade econômica
Expectativas e sondagens
Mercado de trabalho
Crédito e inadimplência
Ambiente externo
Comércio exterior e reservas internacionais
Mercado monetário e operações de mercado aberto

Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fixadas pelo governo para a inflação.

Evolução recente da economia
1. A inflação medida pela variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) situou-se em 0,15% em junho, após registrar alta de 0,47% em maio. Assim, a inflação acumulada em doze meses até junho alcançou 6,71% (6,55% em maio e 6,51% em abril), 1,87 ponto percentual (p.p.) acima da observada em igual período de 2010. O aumento da inflação nesse período reflete tanto o comportamento dos preços livres, que variaram 7,14% (5,11% em doze meses até junho de 2010), quanto o dos preços administrados, que se elevaram em 5,70% (4,21% no mesmo período de 2010). Especificamente sobre preços livres, cabe destacar que a variação dos preços dos bens comercializáveis alcançou 6,26% (2,98% em igual período de 2010), e a dos não comercializáveis, 7,89% (7,06% em igual período de 2010). A inflação no setor de serviços segue elevada, com variação mensal de 0,60% em junho, depois de alta de 0,59% em maio. No acumulado em doze meses até junho, a inflação de serviços atingiu 8,75% – maior nível desde setembro de 1997. Em síntese, o conjunto de informações disponíveis sugere persistência da alta de preços observada em 2010, processo liderado pelos preços livres, que, em parte, se reflete no fato de a inflação de serviços, que se caracteriza por inércia significativa, seguir em níveis elevados.

2. No primeiro semestre de 2011, o IPCA acumulou alta de 3,87%, 0,78 p.p. acima da inflação observada em igual período de 2010, com variação de 3,71% dos preços livres e de 4,25% dos administrados. Os grupos com maiores elevações foram Educação, Despesas pessoais e Vestuário, com variações de 7,45%, 5,10% e 4,36%, respectivamente, nos primeiros seis meses de 2011, ante 5,56%, 4,17% e 3,26%, respectivamente, em igual período de 2010. Esses grupos foram responsáveis por 1,35 p.p. da inflação plena no período. Já a alta de preços no grupo Alimentação e bebidas, de 3,11%, ficou 1,43 p.p. abaixo da observada no primeiro semestre de 2010. No acumulado em doze meses, entretanto, a trajetória dos preços desse grupo desempenha papel relevante na dinâmica da inflação plena, com variação de 8,90% em junho (8,20% em maio), refletindo, em parte, choques de oferta, domésticos e externos, potencializados pelo ambiente de elevada liquidez nos mercados financeiros internacionais e pelo aumento da demanda global.

3. As três principais medidas de inflação subjacente calculadas pelo Banco Central registraram evolução similar à da inflação plena: enquanto houve alta na variação acumulada em doze meses, a média das variações mensais recuou entre abril e junho. O núcleo do IPCA por médias aparadas com suavização deslocou-se de 0,60% em abril para 0,64% em maio e 0,54% em junho. O núcleo por dupla ponderação, após registrar 0,68% em abril, recuou para 0,59% em maio e para 0,42% em junho, enquanto o núcleo por exclusão passou de 0,52% em abril para 0,54% em maio, e para 0,56% em junho. Dessa forma, a média da variação dos três núcleos deslocou-se de 0,60% em abril para 0,59% em maio, recuando para 0,51% em junho. No acumulado em doze meses até junho, as três medidas de núcleo alcançaram 6,01%, 6,82% e 6,51%, respectivamente, ante 5,86%, 6,68% e 6,30% em maio, e 5,84%, 6,66% e 6,32% em abril. O índice de difusão do IPCA, que havia alcançado 59,38% em abril, aumentou para 64,84% em maio e recuou para 58,85% em junho, indicando, na margem, menor disseminação da alta de preços.

4. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou deflação de 0,13% em junho, ante inflação de 0,01% em maio e de 0,50% em abril. No acumulado em doze meses até junho, a inflação, de acordo com esse índice, ficou em 8,63%, ante 5,07% em junho de 2010. Nesse critério, o índice vem desacelerando desde dezembro de 2010, quando registrou variação de 11,30%. O principal componente do indicador, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), variou 9,61% em doze meses até junho, refletindo alta de 6,54% no IPA industrial e de 19,38% no IPA agrícola. Na desagregação segundo o estágio da produção, observou-se variação acumulada de 22,68% nos preços de matérias-primas brutas, 5,44% nos preços de bens intermediários e 4,58% nos preços de bens finais, na mesma base de comparação. Já a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), outro componente do IGP-DI, registrou alta de 6,40% no acumulado em doze meses até junho, superior aos 4,93% registrados nos doze meses até junho de 2010. Na mesma base de comparação, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), componente de menor peso no IGP‑DI, variou 7,75% (6,48% em junho de 2010). Já o Índice de Preços ao Produtor/Indústria de Transformação (IPP/IT), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede o nível de preços na indústria excluindo o valor de fretes e impostos, registrou deflação de 0,55% em maio, após alta de 0,28% em abril e 0,39% em março. Em doze meses, a variação desse índice recuou para 5,60% em maio, de 6,68% em abril. Conforme destacado em Notas de reuniões anteriores, o Copom avalia que os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre os preços ao consumidor dependerão, entre outros fatores, das condições atuais e prospectivas da demanda, da exposição de cada setor à competição externa e interna e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação.

5. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) incorpora estimativa para a produção mensal dos três setores da economia, bem como para os impostos sobre produtos e, portanto, constitui importante indicador coincidente da atividade econômica. Considerando os dados ajustados sazonalmente, o IBC-Br apresentou crescimento de 0,2% em maio, após registrar elevações de 0,4% por três meses consecutivos (fevereiro a abril). Dessa forma, a taxa de crescimento no trimestre de março a maio, em relação ao trimestre anterior, foi de 1,3%. Persiste a tendência de moderação da taxa de crescimento do indicador no acumulado em doze meses, reduzindo-se de 5,7% em abril para 5,3% em maio. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), da Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 1,4% em junho, após igual redução em maio e aumento de 3,0% em abril. O nível do indicador em junho ficou 0,1% acima do valor de junho de 2010, e 0,7% abaixo do nível médio de 2010.

6. A atividade fabril apresentou alta em maio, com avanço de 1,3% na produção industrial, de acordo com a série geral dessazonalizada pelo IBGE, após registrar recuo de 1,2% em abril e avanço de 0,3% em março. Dessa forma, a produção industrial atingiu novo recorde em maio. A taxa de crescimento da média móvel trimestral ficou em 0,2% no período de março a maio, patamar inferior ao crescimento de 0,4% medido entre fevereiro e abril. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção apresentou avanço de 2,7% em maio, enquanto no acumulado em doze meses a produção industrial mostrou expansão de 4,5% em maio, ante 5,4% registrados em abril, continuando em processo de moderação do ritmo de crescimento. Na comparação com dezembro de 2008, mês de menor medição da produção industrial durante a crise de 2008/2009, o crescimento acumulado até maio foi de 26,8%. O faturamento real da indústria vem apresentando evolução similar. A dinâmica de recuperação pós-crise foi amparada, parcialmente, pelo crescimento do financiamento da atividade industrial por parte de instituições financeiras públicas.

7. Entre as categorias de uso da indústria, segundo dados dessazonalidados pelo IBGE, houve avanço de 1,7% na produção de bens de capital em maio, de 1,5% na produção de bens intermediários e de 2,7% na produção de bens de consumo duráveis, enquanto a produção de bens de consumo não duráveis e semiduráveis ficou estável. Já no acumulado em doze meses até maio, a produção de bens intermediários registrou expansão de 4,7%, a produção de bens de consumo duráveis, 2,4%, e a produção de bens não duráveis e semiduráveis avançou 2,3%. Na mesma base de comparação, o crescimento da atividade da indústria de bens de capital é o maior entre as categorias de uso, com expansão de 11,5%. Tal comportamento evidencia a robustez do investimento, fator relevante na retomada econômica do período pós-crise.

8. A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), sem ajuste sazonal, passou de 6,4% em maio para 6,2% em junho (7,0% em junho de 2010). Após registrar 9,0% em março de 2009, a taxa observada não apenas recuou significativamente, como também atingiu o mínimo histórico para o mês de junho, na série iniciada em março de 2002. A taxa de desocupação dessazonalizada registrou 6,1% em junho, com aumento de 0,1 p.p. comparativamente à de maio. O emprego, medido pelo número de ocupados nas seis maiores regiões metropolitanas, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, apresentou elevação de 2,3% em junho, depois de ter expandido 2,5% em maio. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam que houve criação de 215,4 mil postos de trabalho em junho (213,0 mil em junho de 2010), com expansão do número de empregos formais em todos os oito setores de atividade econômica. Os setores que mais contribuíram para o aumento do número de empregos formais, em junho, foram o agrícola e o de serviços. De acordo com a PME, o rendimento médio real habitual observado em junho avançou 0,5% em relação a maio e 4,0% em relação a junho de 2010. Como consequência, a taxa de crescimento da massa salarial real, considerando o rendimento médio real habitual da população ocupada remunerada nas seis regiões metropolitanas, atingiu 6,2% em junho, ante o mesmo mês de 2010, depois de registrar alta de 6,6% em maio, e permanece como fator-chave para a sustentação do crescimento da demanda doméstica.

9. De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo IBGE, o volume de vendas do comércio ampliado cresceu 12,8% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, depois de registrar alta de 12% em abril e queda de 2,7% em março, na mesma base de comparação. Na série com ajuste sazonal, a variação mensal do volume de vendas do comércio ampliado foi de 1% em maio, após ter atingido altas de 1,2% em abril e de 1,9% em março. Note-se, ainda, que a taxa de crescimento acumulada em doze meses ficou em 10,5% em maio (ante 10,2% nos dois meses anteriores). No acumulado em doze meses, todos os dez segmentos pesquisados mostraram expansão no volume de vendas, com destaques, em termos de crescimento, para Móveis e eletrodomésticos (17,2%), Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (16,7%) e Materiais de construção (13,9%). Nos próximos meses, a trajetória do comércio continuará a ser influenciada pelas transferências governamentais, pelo ritmo de crescimento da massa salarial real, pela confiança dos consumidores e pela expansão do crédito.

10. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação, calculado pela FGV, sem ajuste sazonal, permaneceu inalterado em junho (84,1%), em relação a maio. Esses valores de maio e de junho situam-se 0,5 p.p. e 1,0 p.p., respectivamente, abaixo dos valores observados no mesmo período de 2010. Com o ajuste sazonal, calculado pela FGV, o valor do Nuci recuou para 84,3% em junho (igual valor de março de 2011), após registrar 84,4% nos dois meses anteriores. A utilização de capacidade é maior no setor de materiais de construção (87,2%) e no de bens intermediários (86,3%). Na margem, o setor de materiais de construção manteve-se estável, o setor de bens intermediários apresentou elevação de 0,2 p.p., o de bens de consumo, de 0,3 p.p., enquanto o setor de bens de capital apresentou queda de 0,1 p.p. Segundo os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dessazonalizados pelo Banco Central, o Nuci atingiu 82,4% em maio, ante 82,1% observados no mês de abril. De fato, as taxas de utilização da capacidade instalada têm se mostrado relativamente estáveis, em patamares elevados, refletindo a expansão recente da atividade econômica, cujos efeitos ainda não foram compensados totalmente pela maturação dos investimentos. A propósito, a absorção de bens de capital apresentou crescimento de 18,7% no acumulado em doze meses até maio, enquanto a produção de insumos para a construção civil cresceu 6,7%. Conforme assinalado em Notas anteriores das reuniões do Copom, a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e de serviços para o adequado atendimento da demanda.

11. O saldo da balança comercial acumulado em doze meses aumentou de US$23,1 bilhões em maio para US$25,3 bilhões em junho. Esse resultado adveio de exportações de US$231 bilhões e importações de US$205,8 bilhões, ou variações de 34,1% e 34,5%, respectivamente, no acumulado em doze meses até junho. O déficit em transações correntes acumulado em doze meses passou de US$48,9 bilhões em abril para US$51 bilhões em maio, equivalente a 2,29% do PIB. Por sua vez, os investimentos estrangeiros diretos totalizaram US$64,1 bilhões em doze meses até maio, equivalente a 2,88% do PIB, superando a necessidade de financiamento externo.

12. A recuperação da economia global segue em velocidades distintas e com pressões inflacionárias assimétricas. As evidências apontam moderação da atividade na margem, em parte refletindo o aumento da incerteza global, a perda de dinamismo da recuperação norte-americana, o elevado preço do petróleo, bem como os efeitos do aperto monetário em importantes economias emergentes. De fato, o indicador antecedente composto divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, sinalizou continuidade da recuperação mundial em maio, mas com moderação, ainda que potencial, nas principais economias. Já o Purchasing Managers Index (PMI) para a economia global, um indicador do nível de atividade na indústria e no setor de serviços, passou de 52,7 em maio para 52,2 em junho, o que representa o segundo menor valor desde o início da recuperação mundial (agosto de 2009). Os indicadores PMI desagregados indicam menor dinamismo nos Estados Unidos da América (EUA) e na Zona do Euro (com contração da atividade na Itália e na Espanha). As perspectivas macroeconômicas para a Zona do Euro continuam apresentando fortes assimetrias, pois, enquanto algumas economias permanecem impactadas por riscos de insolvência e sujeitas a fortes ajustes fiscais, o ritmo da expansão continua sustentado em outras regiões, como na Alemanha. Em relação à reunião anterior do Copom, a percepção do mercado sobre a situação fiscal na Zona do Euro e, em particular, suas implicações sobre o sistema financeiro regional – mesmo após a divulgação dos testes de estresse – apresentaram deterioração relevante, e permanecem incertezas em relação a questões da dívida americana. No que se refere à política monetária, as economias maduras continuaram com posturas acomodatícias. Sobre inflação, apesar da aceleração recente, os núcleos persistem em níveis moderados no grupo de países do G3 (EUA, Zona do Euro e Japão). Nos países emergentes, observam-se pressões inflacionárias disseminadas e, desde a última reunião do Copom, houve continuidade dos apertos das condições monetárias em diversas economias. Em particular, o banco central chinês elevou novamente as taxas de referência para depósitos e empréstimos, totalizando, desde outubro de 2010, nove aumentos de requerimentos compulsórios e cinco elevações nas taxas de juros.

13. O preço do barril de petróleo do tipo Brent mostrou-se volátil e permanece acima de US$115. Esse nível de preços é consistente com um quadro de aparente fortalecimento da demanda global, bem como de elevada instabilidade política em alguns países do Oriente Médio e do norte da África, a despeito da intensidade decrescente dos conflitos. Cabe ressaltar que a complexidade geopolítica que envolve o setor do petróleo tende a acentuar o comportamento volátil dos preços, que é reflexo, também, da baixa previsibilidade de alguns componentes da demanda global e do fato de o crescimento da oferta depender de projetos de investimentos de longa maturação e de elevado risco. Em relação às demais commodities, destaca-se a moderação dos preços internacionais das agrícolas e metálicas, após sucessivos meses com elevações relevantes. Em particular, os preços a vista do minério de ferro negociado na China oscilaram em patamares semelhantes aos do início do ano. O Índice de Preços de Alimentos, calculado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que compreende 55 itens, vem apresentando certa estabilidade nos últimos meses, mas continua em patamares elevados. No passado recente, a alta volatilidade dos preços das commodities foi fortemente influenciada pela ampla liquidez global, em contexto no qual os mercados financeiros se ajustam às novas expectativas de crescimento da demanda e à volatilidade nos mercados de câmbio.

Avaliação prospectiva das tendências da inflação
14. Os choques identificados, e seus impactos, foram reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses:
a) a projeção de reajuste no preço da gasolina para o acumulado de 2011 permaneceu em 4,0%, considerados na reunião do Copom de junho, contemplando, portanto, reversão parcial da elevação de 6,1% ocorrida até junho; e a projeção para o reajuste no preço do gás de bujão, para o acumulado de 2011, foi mantida em 0%;
b) a projeção de reajuste das tarifas de telefonia fixa, para o acumulado em 2011, reduziu-se para 0,9%, ante 2,9% considerados na reunião de junho, enquanto a de eletricidade elevou-se para 4,1%, ante 2,8% considerados na reunião de junho;
c) a projeção de reajuste, construída item a item, para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados para o acumulado de 2011, segundo o cenário de referência, elevou-se para 4,9%, ante os 4,6% considerados na reunião de junho. Esse conjunto de preços, de acordo com os dados publicados pelo IBGE, correspondeu a 29,08% do total do IPCA de junho;
d) a projeção de reajustes para o conjunto de preços administrados por contrato e monitorados para o acumulado de 2012, conforme o cenário de referência, elevou-se para 4,4%, ante 4,3% considerados na reunião do Copom de junho. Essa projeção se baseia em modelos de determinação endógena de preços administrados, que consideram, entre outros, componentes sazonais, variações cambiais, inflação de preços livres e inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP); e
e) a trajetória estimada para a taxa do swap pré-DI de 360 dias indica spread sobre a taxa Selic, no cenário de referência, de 44 pontos base (p.b.) e de -46 p.b. para o quarto trimestre de 2011 e de 2012, respectivamente.

15. Em relação à política fiscal, considera-se o cumprimento da meta de superávit primário de R$117,9 bilhões (ou cerca de 2,9% do PIB), sem ajustes, em 2011, conforme parâmetros constantes da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) – 2011. Além disso, admite-se, como hipótese de trabalho, superávit primário de R$139,8 bilhões (ou cerca de 3,1% do PIB) em 2012, conforme parâmetros constantes do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) – 2012, inclusive no que se refere ao aumento projetado para o salário mínimo em 2012.

16. No conjunto das projeções, foram incorporados os efeitos estimados das alterações dos recolhimentos compulsórios anunciadas em dezembro de 2010.

17. Desde a última reunião do Copom, a mediana das projeções coletadas pelo Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin) para a variação do IPCA em 2011 elevou-se para 6,31%, de 6,22%. Para 2012, a mediana das projeções de inflação se deslocou de 5,10% para 5,20%. Nos casos específicos de bancos, gestoras de recursos e demais instituições (empresas do setor real, distribuidoras, corretoras, consultorias e outras), a mediana das projeções para 2011 se deslocou de 6,21%, 6,22% e 6,27%, para 6,28%, 6,38% e 6,31%, respectivamente. Para 2012, a mediana das projeções se deslocou de 5,00%, 5,40% e 5,00%, para 5,01%, 5,40% e 5,05%, na mesma ordem.

18. O cenário de referência leva em conta as hipóteses de manutenção da taxa de câmbio em 1,60 R$/US$ e da taxa Selic em 12,25% ao ano (a.a.) em todo o horizonte relevante. Nesse cenário, a projeção para a inflação de 2011 se elevou ligeiramente em relação ao valor considerado na reunião do Copom de junho, e se encontra acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e de juros coletadas pelo Gerin, com analistas de mercado, no período imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de inflação para 2011 também se elevou ligeiramente e se encontra acima do valor central da meta para a inflação. Para 2012, a projeção se manteve estável no cenário de referência e no de mercado, acima do valor central da meta nos dois casos. No que se refere ao primeiro semestre de 2013, a projeção de inflação se elevou, no cenário de referência, e permaneceu estável, no cenário de mercado, posicionando-se ao redor do centro da meta em ambos os cenários. Em um cenário alternativo, que leva em conta a manutenção da taxa de câmbio, no horizonte relevante, em patamares semelhantes aos observados no passado recente; e a trajetória de juros coletada pelo Gerin, a projeção de inflação se encontra acima da meta para 2011 e para 2012, e em torno da meta no primeiro semestre de 2013.

Implementação da política monetária
19. O Copom avalia que a política monetária deve contribuir para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. Nesse sentido, reitera que, no regime de metas para a inflação, orienta suas decisões de acordo com os valores projetados para a inflação pelo Banco Central e com base na análise de cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. O Comitê entende, também, que riscos baixos para a inflação subjacente no curto prazo tendem a reduzir incertezas em relação ao comportamento futuro da inflação plena, facilitam a avaliação de cenários por parte da autoridade monetária, assim como auxiliam no processo de coordenação de expectativas dos agentes econômicos, em particular, dos formadores de preços. Note-se, adicionalmente, que riscos baixos para a inflação subjacente no curto prazo tendem a potencializar os efeitos das ações de política monetária, fazendo com que elas possam afetar de forma mais duradoura a dinâmica da inflação plena no futuro. Embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, o Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos.

20. A evidência internacional, no que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas levam ao aumento dos prêmios de risco, tanto para o financiamento privado quanto para o público, e ao encurtamento dos horizontes de planejamento, tanto das famílias quanto das empresas. Consequentemente, taxas de inflação elevadas reduzem os investimentos e o potencial de crescimento da economia, além de terem efeitos regressivos sobre a distribuição de renda. De outra forma, taxas de inflação elevadas não trazem qualquer resultado duradouro em termos de crescimento da economia e do emprego, mas, em contrapartida, trazem prejuízos permanentes para essas variáveis no médio e no longo prazos. Assim, a estratégia adotada pelo Copom visa assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, o que exige a pronta correção de eventuais desvios em relação a essa trajetória. Tal estratégia leva em conta as defasagens do mecanismo de transmissão e é a mais indicada para lidar com a incerteza inerente ao processo de formulação e de implementação da política monetária.

21. Como consequência da estabilização e da correção de desequilíbrios, as quais determinaram mudanças estruturais importantes, o processo de amadurecimento do regime de metas se encontra em estágio avançado, e isso se reflete favoravelmente na dinâmica da taxa de juros neutra e na potência da política monetária. Evidências a esse respeito são oferecidas, entre outros, pelo cumprimento das metas para a inflação nos últimos sete anos, ao mesmo tempo em que as taxas reais de juros recuaram. Progressos na estrutura dos mercados financeiros, redução do prêmio de risco cambial e do inflacionário, entre outros, parecem ter determinado redução significativa da taxa neutra. Também contribuiu para isso a geração de superávits primários consistentes com a manutenção de tendência decrescente para a relação entre dívida pública e PIB. Em outra perspectiva, alguns desses desenvolvimentos, combinados a outros, como o alargamento de prazo dos contratos, também sugerem que o poder da política monetária no Brasil vem aumentando ao longo dos últimos anos, não obstante a substancial incerteza que envolve o dimensionamento de variáveis não observáveis. O Comitê também pondera que há evidências de que a tração da política monetária aumentou no passado recente e, comparativamente ao que se observava há alguns anos, atualmente pressões inflacionárias são contidas com mais eficiência por meio de ações de política monetária.

22. O Copom observa que, desde sua última reunião, houve deterioração adicional dos mercados internacionais, com a volatilidade e a aversão ao risco se elevando, em grande parte, alimentadas por extraordinários níveis de liquidez e por incertezas crescentes quanto ao ritmo de recuperação da atividade global. Nesse período, aumentaram as preocupações com dívidas de países e de bancos europeus, inclusive de economias centrais, e com a possibilidade de desaceleração da atividade econômica na China. Observou-se recuo nos preços de importantes commodities, notadamente das agrícolas e, ao mesmo tempo, certa estabilidade na cotação da moeda norte‑americana. De modo geral, entretanto, as perspectivas para o financiamento externo da economia brasileira seguem favoráveis. Em outra frente, a trajetória dos índices de preços mostra clara disseminação de pressões inflacionárias nas principais economias.

23. O Copom pondera que, embora esteja em curso moderação da expansão da demanda doméstica, são favoráveis as perspectivas para a atividade econômica. Essa avaliação encontra suporte em sinais que, apesar de indicarem certo arrefecimento, apontam que a expansão da oferta de crédito tende a persistir tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas; e no fato de a confiança de consumidores e de empresários se encontrar em níveis historicamente elevados, a despeito de acomodação na margem, entre outros fatores. O Comitê entende, adicionalmente, que o dinamismo da atividade doméstica continuará a ser favorecido pelo vigor do mercado de trabalho, que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em substancial crescimento dos salários.

24. O Copom entende que o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, mostra sinais mais favoráveis. No último trimestre de 2010 e no primeiro deste ano, a inflação foi forte e negativamente influenciada por choques de oferta domésticos e externos. As evidências sugerem que os preços ao consumidor já incorporaram os efeitos diretos desses choques. Também foram relevantes efeitos diretos da concentração atípica de reajustes de preços administrados ocorrida no primeiro trimestre deste ano, que, em casos específicos, mostram sinais de reversão. O Comitê pondera que esses efeitos ainda deverão impactar indiretamente a dinâmica dos preços ao consumidor, entre outros mecanismos, via inércia. Ao mesmo tempo, avalia como relevantes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, apesar dos sinais de que esse descompasso tende a diminuir. Destaca, além disso, a estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente de mão de obra, e pondera que, em tais circunstâncias, um risco muito importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação. No final do ano passado e início deste ano, os riscos associados à trajetória dos preços das commodities nos mercados internacionais foram chave para o cenário prospectivo, entretanto, desde abril esses preços mostram certa acomodação.

25. O Copom prevê dois momentos distintos para a trajetória de inflação, segundo o cenário central para 2011. Neste trimestre, a inflação acumulada em doze meses tende a permanecer em patamares superiores àquele observado no segundo trimestre. Isso, em grande parte, explica-se pela elevada inércia trazida de 2010, pela duração de choques que atingiram a economia no final do ano passado, que se estenderam para o primeiro trimestre deste ano, que se refletem no fato de as projeções de inflação para o bimestre julho/agosto de 2011 apontarem taxas médias mensais superiores às registradas no mesmo período de 2010. Entretanto, a partir do quarto trimestre, o cenário central indica tendência declinante para a inflação acumulada em doze meses, ou seja, deslocando-se na direção da trajetória de metas.

26. O Copom reafirma que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais. Importa destacar que a geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidificará a tendência de redução da razão dívida pública sobre produto. A propósito, cabe enfatizar que, desde o início deste ano, importantes decisões foram tomadas e executadas, e reforçam a visão de que está em curso um processo de consolidação fiscal.

27. O Copom destaca que o cenário central também contempla moderação na expansão no mercado de crédito, para a qual contribuem ações macroprudenciais e ações convencionais de política monetária recentemente adotadas. Ainda sobre esse mercado, o Comitê considera oportuna a introdução de iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito.

28. Em suma, o Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza crescente e acima do usual, e identifica riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta. Desde a última reunião, no âmbito externo, as evidências apontam moderação adicional no processo de recuperação em que se encontram as economias do G3 e, em outra perspectiva, ainda revelam influência ambígua sobre o comportamento da inflação doméstica. No âmbito interno, ações macroprudencias e, principalmente, ações convencionais de política monetária recentemente implementadas ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços, processo que tende a se acentuar neste semestre. Embora incertezas elevadas e crescentes que cercam o cenário global e, em escala marcadamente menor, o cenário doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis.

29. Nesse contexto, avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic para 12,50% a.a., sem viés.

30. A demanda doméstica se apresenta robusta, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão do crédito. Além disso, em que pese iniciativas recentes apontarem contenção das despesas do setor público no primeiro semestre, impulsos fiscais e creditícios haviam sido aplicados na economia anteriormente, e ainda deverão contribuir para a expansão da atividade e, consequentemente, para que o nível de ociosidade dos fatores se mantenha em patamares baixos. Aos efeitos desses estímulos, entretanto, contrapõem-se os efeitos da reversão de iniciativas tomadas durante a crise financeira de 2008/2009, os das recentes ações macroprudenciais e, principalmente, os das ações convencionais de política monetária implementadas neste ano. Esses elementos e os desenvolvimentos no âmbito fiscal e parafiscal são parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas.

31. Ao final da reunião, foi registrado que o Comitê voltará a se reunir em 30 de agosto de 2011, para as apresentações técnicas, e no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado nº 20.223, de 15 de outubro de 2010.

SUMÁRIO DOS DADOS ANALISADOS PELO COPOM
Inflação
32. O IPCA variou 0,15% em junho, ante 0,47% em maio, de acordo com os dados divulgados pelo IBGE. No primeiro semestre do ano, o IPCA acumulou variação de 3,87%, ante 3,09% em igual período de 2010. No acumulado em doze meses até junho, o índice variou 6,71%, comparativamente a 6,55% até maio. A variação dos preços livres recuou de 0,44% em maio para 0,26% em junho, refletindo desaceleração tanto nos preços de comercializáveis, de 0,36% para 0,19%, quanto nos de não comercializáveis, de 0,50% para 0,32%. Os preços monitorados variaram 0,12% em junho, ante 0,55% em maio, influenciados, principalmente, pela redução de 3,94% no item gasolina. Os grupos Transportes e Alimentação e bebidas foram os principais responsáveis pela desaceleração do índice no mês, com contribuições respectivas de -0,12 p.p. e -0,06 p.p. O índice de difusão situou-se em 58,85% em junho, ante 64,84% em maio.

33. Os preços livres aumentaram 7,14% no acumulado em doze meses até junho, ante 6,80% em maio, enquanto os monitorados apresentaram desaceleração de 5,96% para 5,70% nos períodos considerados. Entre os preços livres, a variação em doze meses de produtos comercializáveis acelerou de 5,96% em maio, para 6,26% em junho, e a de produtos não comercializáveis, de 7,53% para 7,89%. Os preços do segmento de serviços, que apresentam maior grau de persistência, aumentaram 8,75% em junho, ante 8,54% em maio e 6,82% em junho do ano anterior.

34. As três medidas de núcleo do IPCA calculadas pelo Banco Central registraram aceleração no acumulado de doze meses encerrado em junho, na comparação com o mês anterior. Na comparação mensal, entretanto, apenas o núcleo por exclusão, que exclui dez itens de alimentação no domicílio e combustíveis, registrou elevação, atingindo 0,56% em junho, ante 0,54% em maio, e acumulando elevação de 6,51% nos doze meses até junho, ante 6,30% no mês anterior. O núcleo pelo critério de médias aparadas com suavização variou 0,54% em junho, ante 0,64% em maio, acumulando 6,01% em doze meses, contra 5,86% em maio. O núcleo de dupla ponderação cresceu 0,42% em junho, contra 0,59% em maio, tendo acumulado 6,82% em doze meses, ante 6,68% no mês anterior.

35. O IGP-DI variou -0,13% em junho, após alta de 0,01% em maio, acumulando elevações de 2,95% no ano e de 8,63% nos últimos doze meses, comparativamente a 9,14% em maio, de acordo com a FGV. No mês, a queda do IGP-DI refletiu as variações negativas do IPC e do IPA e a desaceleração do INCC.

36. O IPA apresentou variação de -0,19% no mês, após -0,63% em maio, acumulando variações de 2,22% no ano e de 9,61% em doze meses. Os preços dos produtos agropecuários variaram -1,11% em junho, após variação de -3,19% em maio, acumulando aumento de 0,51% no ano e de 19,38% em doze meses. Os preços dos produtos industriais apresentaram elevação de 0,13% no mês, ante 0,32% em maio, acumulando altas de 2,84% no ano e de 6,54% em doze meses. Relativamente aos produtos agropecuários, a retração no mês foi mais fortemente influenciada pelas quedas dos preços da laranja, -16,20% em junho, ante -22,47% em maio; e de suínos, aves e bovinos, -12,57%, -4,93% e -2,17% em junho, respectivamente, ante -5,49%, -5,22% e -2,33% no mês anterior. Entre os produtos industriais, as principais contribuições para a desaceleração da inflação foram carnes, produtos de carnes e pescados, -0,10 p.p., e açúcar, -0,07 p.p.

37. O IPC variou -0,18% em junho, após elevação de 0,51% em maio, acumulando 3,80% no ano e 6,40% em doze meses. No mês, os grupos alimentação e transportes foram os responsáveis pela queda do índice, com contribuições de -0,30 p.p. e -0,14 p.p., respectivamente. O INCC variou 0,37% no mês, ante 2,94% em maio, consequência da desaceleração do aumento dos preços de mão de obra, de 5,48% em maio para 0,36% em junho, e de materiais, equipamentos e serviços, de 0,51% para 0,38%, na mesma base comparativa. O INCC acumulou variações de 5,60% no ano e de 7,75% em doze meses.

38. O IPP/IT recuou -0,55% em maio, ante alta de 0,28% em abril, acumulando aumento de 1,13% no ano e de 5,60% nos doze encerrados em maio, 6,68% no mês anterior. O resultado do mês foi influenciado pela contração dos preços nos setores de alimentos e de produção de derivados de petróleo, coque e biocombustíveis, que contribuíram com variações de -0,36 p.p. e -0,23 p.p., respectivamente, para o IPP/IT no mês. No acumulado do ano, a variação do índice refletiu especialmente a queda dos preços de alimentos, com contribuição de -0,66 p.p ao indicador.

39. O Índice de Commodities Brasil (IC-Br) recuou 1,56% em junho, terceiro mês consecutivo de desvalorização, em meio aos recuos respectivos de 1,25%, 3,55% e 0,15% dos subíndices referentes aos segmentos agropecuária, metal e energia. No trimestre encerrado em junho, houve variação negativa de 7,51%, com retrações de 10,43%, 7,08% e 0,44% em agropecuária, metal e energia, respectivamente. No ano e em doze meses, o índice acumula aumentos de 1,43% e 31,65%, na ordem.

Atividade econômica
40. O IBC-Br cresceu 0,2% em maio ante abril, considerados dados dessazonalizados. Pela série observada, o IBC-Br aumentou 4,2% em relação a maio de 2010, acumulando elevações de 4% no ano e de 5,3% em doze meses.

41. As vendas do comércio ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, aumentaram 1% em maio em relação a abril, segundo dados dessazonalizados da PMC, do IBGE, após elevação de 1,2% em abril. Em consequência, a média do trimestre encerrado em maio cresceu 2,7% relativamente ao trimestre encerrado em fevereiro. Na comparação mensal, houve alta em oito dos dez segmentos pesquisados, com ênfase na expansão de 11,6% em Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação. O volume de vendas do comércio varejista cresceu 0,6% em maio, comparativamente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, após contração de 0,2% em abril, enquanto a média trimestral registrou elevação de 1,6% em relação ao trimestre finalizado em fevereiro.

42. Considerados os dados observados, as vendas do comércio ampliado apresentaram aumento interanual de 12,8% em maio, influenciadas principalmente pelos aumentos de 25,9% nas vendas de Veículos e motos, partes e peças, e de 20,4% nas de Móveis e eletrodomésticos. No acumulado de doze meses, o comércio ampliado registrou crescimento de 10,5%, favorecido pela elevação das vendas nos segmentos relativos a Móveis e eletrodomésticos, 17,2%, Equipamento e material para escritório, informática e comunicação, 16,7%, e Material de construção, 13,9%.

43. As vendas de autoveículos pelas concessionárias, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, registraram aumento mensal de 1% em junho, de acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), dessazonalizados pelo Banco Central, acumulando queda de 1,3% no segundo trimestre, em comparação com o primeiro. As vendas de autoveículos aumentaram 10% no acumulado do ano, influenciadas pelas altas em ônibus, 23,7%, comerciais leves, 18,7%, caminhões, 17%, e automóveis, 7,2%. No acumulado nos doze meses encerrados em junho, foi registrada elevação de 12,3%, com ênfase no crescimento de 26,4% em caminhões, de 23,7% em comerciais leves e de 22,5% em ônibus.

44. O índice de quantum das importações de bens de capital, divulgado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e ajustado sazonalmente pelo Banco Central, registrou retração de 1,8% em junho, ante maio. A análise dos dados observados indicou crescimento de 17,8% na comparação com junho de 2010, de 26% no acumulado do ano até junho e de 39,2% no acumulado em doze meses.

45. A produção de bens de capital registrou expansão de 1,7% em maio, acumulando alta de 4,4% no trimestre, relativamente ao finalizado em fevereiro, de acordo com dados dessazonalizados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do IBGE. O resultado mensal foi influenciado principalmente pelas elevações de 10,1% na produção de bens de capital para o setor agrícola e de 8% para construção, enquanto as maiores contrações foram registradas nos segmentos de equipamentos para fins industriais não seriados, -5%, e para o setor de energia elétrica, -4%. A produção de bens de capital cresceu 7,1% na comparação com maio de 2010, acumulando aumentos de 6,4% no ano e de 11,5% no período de doze meses encerrados em maio.

46. A produção de insumos típicos da construção civil cresceu 3,6% em maio, ante abril, e recuou 0,2% no trimestre encerrado em maio, em relação ao finalizado em fevereiro, pela série com ajuste sazonal. O segmento registrou elevação de 3,9% em relação a maio de 2010, acumulando aumentos de 3,5% no ano e de 6,7% nos últimos doze meses.

47. Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somaram R$166,5 bilhões no acumulado dos últimos doze meses encerrados em abril, aumento de 13,8% em relação a igual período de 2010, com ênfase na expansão de 26,1% dos recursos direcionados à indústria de transformação e de 5,23% naqueles direcionados ao setor de comércio e serviços. No primeiro quadrimestre do ano, os desembolsos decresceram 5,4% na comparação com igual período de 2010, com 40% do valor total destinado ao setor de infraestrutura, seguido por indústria, 31%, comércio e serviços, 20%, e agropecuária, 9%.

48. A produção da indústria geral cresceu 1,3% em maio em relação ao mês anterior, pela série com ajuste sazonal da PIM-PF, do IBGE, com ênfase para a expansão de 2,7% em bens de consumo duráveis. Em relação a maio de 2010, a produção da indústria apresentou expansão de 2,7%, destacando-se o aumento de 7,1% em bens de capital. As elevações no acumulado do ano e no período de doze meses encerrado em maio alcançaram 1,8% e 4,5%, respectivamente, em relação a iguais períodos do ano anterior, sobressaindo os aumentos da indústria de bens de capital, de 6,4% e de 11,5%, nas mesmas bases de comparação.

49. O Nuci da indústria de transformação, calculado pela FGV, recuou 0,1 p.p. em junho ante maio, para 84,3%, segundo dados dessazonalizados. O resultado refletiu elevação de 0,2 p.p. em bens intermediários, estabilidade em material de construção e retrações de 0,3 p.p., 0,2 p.p. e 0,1 p.p. em bens de consumo duráveis, não duráveis e em bens de capital, respectivamente, na comparação mensal. Considerada a série observada, o Nuci recuou 1 p.p. em relação a junho de 2010, influenciado pelas quedas nos indicadores das indústrias de material de construção, -3 p.p., e de bens de consumo, -2 p.p., e considerados os aumentos de 1,4 p.p. em bens de capital e de 0,1 p.p. em bens intermediários.

50. A produção de autoveículos atingiu 295,6 mil unidades em junho, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), representando expansão de 0,6% em relação a maio, considerados dados dessazonalizados pelo Banco Central. A produção do setor aumentou 4,1% em relação a junho de 2010 e 3,8% no acumulado do ano.

51. O licenciamento de autoveículos nacionais registrou crescimento de 0,5% em junho, ante maio, pela série dessazonalizada pelo Banco Central, e de 8,6% em relação a junho de 2010. As exportações apresentaram variações de 4,2% e de -10,9% nas mesmas bases de comparação. No acumulado do ano e em doze meses, o licenciamento aumentou 3,9% e 7,3%, enquanto as exportações variaram 2,8% e 12,1%, respectivamente.

52. O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, referente ao mês de junho, projetou safra de grãos para 2011 de 161,5 milhões de toneladas, 8% superior à registrada em 2010. Considerando-se as três principais culturas, estimam-se elevações de 18,1% na safra de arroz, de 9,3% na de soja e de 3,2% na de milho.

Expectativas e sondagens
53. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), considerados dados dessazonalizados da Sondagem de Expectativas do Consumidor, da FGV, de abrangência nacional, elevou-se 2,3% em junho, situando-se em 118 pontos, revertendo tendência de queda observada nos últimos três meses. O resultado mensal decorreu de elevações de 1% no Índice da Situação Atual (ISA) e de 3,2% no Índice de Expectativas (IE). Na comparação interanual, o ICC apresentou recuo de 1,1% em relação a junho de 2010, influenciado pelo declínio de 4,9% no IE, enquanto o ISA cresceu 4,9%.

54. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), considerados dados dessazonalizados da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, da FGV, declinou 2,5% em junho, atingindo 107,1 pontos. O resultado foi influenciado pelas quedas de 3,5% no ISA e de 1,7% no IE. O ICI apresentou desempenho desfavorável pelo sexto mês consecutivo na comparação interanual, com recuo de 7,3% em relação a junho de 2010, resultado de variações de -9,8% no ISA e de -4,6% no IE.

55. O ICS, da FGV, registrou retração mensal de 1,4% em junho, dados livres de influência sazonal, mesmo desempenho do mês anterior, refletindo reduções de 2,8% no ISA e de 0,3% no IE. O ICS apresentou elevação de 0,1% em relação a junho de 2010, resultado de queda de 3,3% no ISA e de expansão de 2,9% no IE.

Mercado de trabalho
56. Segundo dados divulgados pelo Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged) do MTE, foram criados 215,4 mil empregos formais em junho, representando expansão de 0,4% em relação a maio, considerados dados dessazonalizados. Desse total, 75,2 mil postos foram criados na agropecuária, 53,5 mil no setor de serviços, 30,5 mil na construção civil, 30 mil no comércio e 22,6 mil na indústria. No acumulado no ano, o saldo atingiu 1,3 milhão de postos, ante 1,5 milhão de vagas geradas em igual período de 2010. Consideradas as estatísticas acumuladas em doze meses até junho, foram abertos 1,9 milhão de empregos formais, comparativamente a 2 milhões de postos acumulados até março.

57. A taxa de desemprego aberto recuou 0,2 p.p. em relação a maio, atingindo 6,2%, a menor taxa histórica para o mês, e 0,8 p.p. menor que a taxa registrada no mesmo mês do ano anterior, resultado de quedas de 0,2% na ocupação e de 0,4% na População Economicamente Ativa (PEA), de acordo com os dados da PME do IBGE, realizada nas seis principais regiões metropolitanas do país. Considerando dados dessazonalizados, o desemprego situou-se em 6,1%, 0,1 p.p. acima do resultado do mês anterior. Segundo a mesma pesquisa, o rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores registrou aumentos de 0,5% em relação ao mês anterior, de 4% comparativamente a junho de 2010 e de 3,8% no acumulado do ano. Em consequência, a massa salarial, calculada pelo produto entre rendimento real e população ocupada, apresentou variações de 0,4% no mês, de 6,4% na comparação com mesmo mês do ano anterior e de 6,2% no acumulado do ano.

Crédito e inadimplência
58. O saldo dos empréstimos do sistema financeiro totalizou R$1.804,5 bilhões em maio, correspondendo a 46,9% do PIB, com elevações de 1,6% no mês, de 5,8% no ano e de 20,4% em doze meses. A carteira de recursos livres registrou aumentos de 1,6%, de 5,7% e de 18,1%, respectivamente, nas mesmas bases de comparação, refletindo expansões respectivas de 1,7%, de 5,9% e de 18,4% no saldo das operações com pessoas físicas, e de 1,4%, de 5,5% e de 17,8% no relativo a operações com pessoas jurídicas. Os financiamentos com recursos direcionados cresceram 1,6% no mês, 6% no ano e 25,1% em doze meses, com destaque para os acréscimos de 3,5%, de 15,5% e de 48,2% nos financiamentos habitacionais, nas mesmas bases de comparação.

59. A taxa média anual de juros incidente sobre as operações de crédito referencial aumentou 0,1 p.p. em maio, para 40%. As taxas relativas ao segmento de pessoas jurídicas atingiram 31,1%, variação 0,1 p.p. em relação a abril, enquanto as relativas ao segmento de pessoas físicas permaneceram estáveis, em 46,8%.

60. O prazo médio das operações de crédito referencial permaneceu estável em 476 dias em maio, na comparação com o mês anterior. O prazo relativo ao segmento de pessoas jurídicas apresentou redução de três dias, enquanto o referente ao de pessoas físicas aumentou três dias, sempre considerado o período comparativo, atingindo 388 dias e 570 dias, respectivamente.

61. A taxa de inadimplência nas operações de crédito referencial, correspondente a atrasos superiores a noventa dias, cresceu 0,2 p.p., atingindo 5,1% em maio. As taxas relativas às operações com pessoas jurídicas aumentaram 0,2 p.p. e as referentes às operações com pessoas físicas, 0,3 p.p., alcançando 3,9% e 6,4%, nessa ordem.

Ambiente externo
62. Com a inflação ainda impactando negativamente o poder de compra das famílias e com perda de tração nos setores manufatureiro e de serviços em nível mundial, o PMI global continuou indicando desaceleração da atividade econômica ao término do segundo trimestre. O índice de encomendas também apresenta desaceleração, indicando aumento de incerteza com relação às perspectivas de recuperação da atividade. Nos EUA, não obstante a revisão do PIB do primeiro trimestre, de 1,8% para 1,9%, o mercado de trabalho permanece fraco, com a criação de postos de trabalho abaixo das expectativas de mercado por dois meses consecutivos. Em junho, houve criação de apenas 18 mil vagas, com taxa de desemprego avançando para 9,2%. De forma distinta, as economias asiáticas voltam a mostrar sinais de recuperação. No Japão, onde as linhas de fornecimento de peças voltam rapidamente à normalidade, a produção industrial cresceu pelo segundo mês, 5,7% em maio na comparação com abril. A pesquisa Tankan do Banco do Japão (BoJ) apontou revisão positiva nos planos de investimento em bens de capital em praticamente todos os segmentos empresariais, enquanto sete das nove regiões do país apresentaram melhora em investimento, produção e consumo. Nesse ambiente, a taxa de desemprego recuou para 4,5% em maio, com vendas no varejo elevando-se 2,4% no mês. Na China, a variação trimestral anualizada do PIB do segundo trimestre indicou crescimento de 9,1%, frente a 8,7% no trimestre anterior.

63. Desde a última reunião do Copom, os mercados financeiros refletiram o agravamento da crise grega, e seus impactos na Europa e os receios sobre o ritmo da recuperação nos EUA. Após melhora decorrente da aprovação de novas medidas fiscais na Grécia, os rebaixamentos nos ratings de crédito de Portugal e Irlanda devolveram volatilidade aos mercados, provocando aumento da aversão ao risco, elevação dos prêmios soberanos dos países europeus com problemas fiscais a patamares recordes, e valorização do dólar. Nos mercados de commodities, os preços internacionais seguiram em tendência declinante, ainda que em ritmo mais moderado, em meio ao aumento da oferta, à continuidade da desaceleração da economia mundial e à elevação da aversão ao risco nos mercados financeiros. Em especial, o recuo nas cotações das commodities agropecuárias refletiu condições climáticas mais favoráveis no Hemisfério Norte e divulgação de dados melhores que o esperado para estoques e área plantada na safra dos EUA.

64. Ainda refletindo a forte alta dos preços de commodities registrada até abril do corrente ano, alguns índices anuais de inflação seguem pressionados, a exemplo dos IPCs nos EUA, Reino Unido, Área do Euro e China, que, em junho, atingiram, pela ordem, 3,6%, 4,2%, 2,7% e 6,4%. Os núcleos dos índices de preço mantiveram-se em níveis relativamente confortáveis, inclusive no Reino Unido, onde desacelerou pelo segundo mês consecutivo, para 2,7%. Nas economias emergentes da América Latina, a inflação permaneceu em trajetória de alta moderada no Chile e na Colômbia, mas registrou recuo no Peru e manteve tendência de redução no México. Na Ásia emergente, destaque-se a acentuada desaceleração da inflação na Indonésia.

65. Nesse cenário, enquanto as autoridades monetárias dos EUA, Japão e Reino Unido mantiveram inalteradas suas respectivas taxas básicas de juros em julho, o Banco Central Europeu promoveu novo ajuste das condições de liquidez, aumentando a taxa de refinanciamento em 0,25 p.p., para 1,5% a.a., e o banco central chinês efetuou a terceira elevação no ano da taxa de empréstimo, situando-a em 6,56% a.a. Nas demais economias emergentes, houve continuidade do movimento de normalização gradual da política monetária, com elevações dos juros básicos no Chile, Colômbia, Polônia, Índia e Tailândia.

Comércio exterior e reservas internacionais
66. A balança comercial brasileira registrou superávit de US$4,4 bilhões em junho. As exportações somaram US$23,7 bilhões e as importações, US$19,3 bilhões. O saldo acumulado no semestre alcançou US$13 bilhões, 63,1% superior ao registrado em igual período de 2010, pelo critério de média diária, refletindo aumentos de 31,6% nas exportações e de 28,5% nas importações. A corrente de comércio cresceu 30,1% no acumulado do ano, somando US$223,6 bilhões, comparativamente a US$170,5 bilhões em igual período de 2010.

67. As reservas internacionais atingiram US$335,8 bilhões em junho, US$2,8 bilhões acima da posição de maio e US$47,2 bilhões superiores ao estoque registrado em dezembro de 2010. As compras líquidas do Banco Central, no mercado a vista de câmbio, totalizaram US$2,3 bilhões no mês.

Mercado monetário e operações de mercado aberto
68. Desde a reunião do Copom de junho, a curva de juros doméstica apresentou elevação em toda a sua extensão. No âmbito doméstico, esse movimento foi influenciado pela perspectiva de um ciclo mais prolongado de ajuste na meta para a taxa Selic, pela divulgação de índices de inflação corrente próximos aos tetos das estimativas e pelo aumento das expectativas inflacionárias. O cenário externo, permeado por grandes incertezas, contribuiu para a oscilação das taxas ao longo de toda a curva de juros. Entre 6 de junho e 18 de julho, as taxas de juros de um, de três e de seis meses elevaram-se em 0,24 p.p., 0,19 p.p. e 0,14 p.p., respectivamente. As taxas para os prazos de um, de dois e de três anos subiram 0,10 p.p., 0,15 p.p. e 0,19 p.p., respectivamente. A taxa real de juros, medida pelo quociente entre a taxa nominal de um ano e a expectativa de inflação (suavizada) para os próximos doze meses, recuou de 7,10%, em 6 de junho, para 6,84%, em 18 de julho, resultado, principalmente, do ajuste para cima na expectativa de inflação doze meses à frente.

69. Entre 7 de junho e 18 de julho, o Banco Central realizou três leilões de contratos de swap cambial reverso, sendo que o leilão de 28 de junho foi destinado à rolagem dos contratos de vencimento em 1º de julho. Essas operações totalizaram o equivalente a US$2,3 bilhões em valor nocional.

70. Na administração da liquidez do mercado de reservas bancárias, o Banco Central realizou, semanalmente, de 7 de junho a 18 de julho, operações compromissadas com prazo de seis meses, tomando recursos no valor total de R$48,4 bilhões. Com isso, o saldo diário médio do estoque das operações de longo prazo subiu para R$166,9 bilhões. No mesmo período, realizou operações compromissadas com prazos entre 13 e 29 dias úteis, elevando o saldo diário médio das operações tomadoras de curto prazo para R$160,7 bilhões. O Banco Central atuou, ainda, em trinta oportunidades como tomador de recursos por meio de operações compromissadas de curtíssimo prazo. Essas operações, incluídas as de nivelamento, tiveram saldo diário médio tomador de R$65,0 bilhões no período. O saldo diário médio do estoque total dos compromissos de recompra do Banco Central subiu de R$361,3 bilhões, entre 19 de abril e 6 de junho, para R$392,6 bilhões, entre 7 de junho e 18 de julho. Considerando-se o período mais recente, houve elevação do saldo dos compromissos de recompra em R$92,0 bilhões, com o estoque total passando de R$351,4 bilhões, em 6 de junho, para R$443,4 bilhões em 18 de julho. O principal fator condicionante para a expansão da liquidez no período foi o resgate líquido de títulos pelo Tesouro Nacional.

71. Entre 7 de junho e 18 de julho, as emissões de títulos pelo Tesouro Nacional, decorrentes dos leilões tradicionais, somaram R$52,3 bilhões. A venda de títulos com remuneração prefixada alcançou R$33,4 bilhões, sendo R$29,6 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimentos em 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, e R$3,8 bilhões em Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F) com vencimentos em 2017 e 2021. As vendas de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) totalizaram R$5,5 bilhões, com emissão de títulos com vencimentos em 2017 e 2018. Nos leilões de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B), foram vendidos títulos com vencimentos em 2014, 2016, 2020, 2030, 2040 e 2050, em montante total de R$13,4 bilhões.