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sábado, 30 de dezembro de 2023

A grande viagem de Fernão de Magalhães ao redor do globo, por Laurence Bergreen

 Por indicação de Walmyr Buzatto, estou lendo o sample deste estupendo livro:

Laurece Bergreen: 

Over the Edge of the World: Magellan's Terrifying Circumnavigation of the Globe

(2003 e 2019)

Reproduzo abaixo duas passagens para comprovar, mais uma vez, como as especiarias já foram, mais de 5 séculos atrás, o "petróleo" do mundo, e como os portugueses saíram na frente das navegações e descobertas.



Recomendo também a bela biografia do Fernão de Magalhães por Stefan Zweig, cujo anexo, sobre os custos da expedição de circumnavegação, me induziu a tentar determinar quanto teria custado, aos preços atuais, essa viagem fantástica, equivalente às explorações espaciais atuais.

Leiam a postagem aqui: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/fernao-de-magalhaes-livros-sobre.html


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Fernão de Magalhães e Stefan Zweig: o navegante e o biógrafo - Casa Stefan Zweig (30/11/2021, 17hs)

Não posso perder: 



Sobretudo por que eu já me ocupei bastante dos dois, do navegante e do biógrafo, tentando determinar, por exemplo, quanto teria custado a viagem do navegador. Acho que consegui, como demonstrei na minha segunda postagem, como abaixo, da qual transcrevo a parte final: 

"... pode-se calcular que o custo total da viagem de Fernão de Magalhães foi, em preços atualizados de hoje (um ducado espanhol do início do século XVI equivalente aproximadamente a US$ 150), de 3 milhões e setecentos mil dólares.
Se aceitarmos que o valor da carga que trouxe o Victoria era de 7.888.684 maravedis, e que essa moeda poderia equivaler a 50 centavos de dólar por maravedi, teríamos então um retorno de US$ 3.994.342,00, ou, seja, um “lucro” aparente de 250 mil dólares. Não estamos computando, obviamente a perda dos homens e dos navios, pois dos cinco navios apenas um retornou, e dos 240 homens partidos apenas 18 retornaram a Sevilha. Uma empresa de seguros poderia fazer o cálculo do valor humano da primeira viagem de volta ao mundo? Os navios ficam pela amortização em 3 anos..."

Eis as postagens: 

3265. “Fernão de Magalhães: quanto custou a primeira viagem de volta ao mundo?”, Brasília, 8 abril 2018, 3 p. Informação e questionamento sobre os valores atuais das despesas com a frota de Fernão de Magalhães, partindo em 20 de setembro de 1519, para a primeira viagem de circum-navegação, com cinco navios. Postado no blog Diplomatizzando (https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/04/fernao-de-magalhaes-quanto-custou.html).

3394. “Projeto Fernão de Magalhães – leituras de livros”, Brasília, 12-16 janeiro 2019, 10 p. Resumos seletivos de livros (especialmente sobre os custos) relativos à viagem de circunavegação iniciada pelo navegador português convertido em súdito espanhol, com base nas seguintes obras: 1) José Maria Latino Coelho: Fernão de Magalhães (com um prefácio de Júlio Dantas; 4a ed.; Lisboa: Empresa Literária Fluminense, 1921); 2) Visconde de Lagoa: Fernão de Magalhães: a sua vida e a sua viagem (Lisboa: Seara Nova, 1938, 2 vols.); 3) Queiroz Velloso: Fernão de Magalhães: a vida e a viagem (Lisboa: Editorial Império, 1941); 4) Stefan Zweig: Fernão de Magalhães: história da primeira circunavegação (Rio de Janeiro: Editora Guanabara, s.d.; tradução de Elias Davidovich), este último aproveitando postagem anterior feita no blog Diplomatizzando (em 9/04/2018: http://diplomatizzando.blogspot.com/2018/04/fernao-de-magalhaes-quanto-custou.html), acrescida de comentários sobre os valores atualizados dos curstos da viagem feitos pelo economista Leonidas Zelmanovitz, Senior Felow do Liberty Fund (Indiana, USA; em 10 de janeiro de 2019). Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/01/fernao-de-magalhaes-livros-sobre.html).

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Fernão de Magalhães, o primeiro globalizador - número especial da revista L'Histoire (2020)


 

L'énigme Magellan

Magellan reste associé à la première circumnavigation, achevée il y a cinq cents ans. Mais le navigateur portugais mourut en route et ne fit jamais le tour du monde.

D’ailleurs son projet était autre : trouver une route vers l’Asie et ses îles aux Épices, promesse de richesses pour son nouveau souverain Charles Quint.

Le « grand voyage », qui dura trois ans, n’a pas livré tous ses mystères. De la péninsule Ibérique aux Philippines, il continue de travailler les mémoires nationales. On s’intéresse aujourd’hui aussi bien aux petites mains de l’expédition qu’aux sociétés qu’elle a traversées, celles d’un monde de plus en plus interconnecté.

Avec Carmen Bernand, Romain Bertrand, Michel Chandeigne, Juan Gil, Christian Grataloup, Rui Manuel LoureiroOlivier Thomas




Le premier tour du monde en 1124 jours

Magellan reste associé à la première circumnavigation, achevée il y a 500 ans. Pourtant le navigateur portugais mourut en route et ne fit jamais le tour du monde.

L'objectif du capitaine général Magellan n'était d'ailleurs en aucun cas de faire le tour du monde, mais de trouver une voie vers les Moluques, les riches « îles aux Épices ». A la tête de cinq nefs, il partit de Séville le 10 août 1519 et s'élança sur l'océan le 20 septembre. Seul un bateau revint, avec à son bord des survivants exsangues, dont les témoignages permettent de connaître, presque jour par jour, cette expédition.


Globalisation : acte I

Europe, Amérique, Asie, monde musulman : à partir des années 1520 les Grandes Découvertes permettent le développement du commerce intercontinental et une diffusion inédite des savoirs.

La découverte du détroit de Magellan est une révolution : elle précise les contours du Nouveau Monde et l'étendue réelle de l'océan Pacifique. La première circumnavigation achevée par Elcano a des répercussions rapides en Europe et dans le bassin méditerranéen.

Bien que le calcul des longitudes reste encore imprécis jusqu'au XVIIIe siècle, l'image globale du monde est mieux connue, comme le montre pour la première fois la mappemonde de Battista Agnese qui, en 1543, incorpore d'ailleurs dans son dessin les routes du « grand voyage ». La partition du monde entre Espagne et Portugal, établie depuis 1494 par le traité de Tordesillas, jusqu'alors contestée en Asie, se concrétise : en 1529, quelques années après le retour de la Victoria à Séville, le traité de Saragosse accorde les Philippines à l'Espagne tandis que les Moluques reviennent finalement au Portugal, moyennant une compensation financière.


domingo, 14 de abril de 2019

Fernao de Magalhaes: o primeiro globalizador - Stefan Zweig (introducao ao livro)

Introdução de Fernão de Magalhães – o homem e a sua façanha

Stefan Zweig

A origem de um livro pode estar nos sentimentos mais diversos. Há quem escreva livros movido por entusiasmo ou estimulado por um sentimento de gratidão, mas a paixão intelectual também pode ser acesa da mesma forma pela irritação, a ira ou o desgosto. Às vezes, a curiosidade serve de motor, o prazer psicológico de entender, escrevendo, os homens ou os fatos; outras vezes – muito freqüentemente – são motivos mais censuráveis, como a vaidade, a cobiça, o prazer em se ver retratado, que levam alguém a produzir. Eis por que a cada livro o autor deveria fazer uma espécie de prestação de contas interior para tentar descobrir os sentimentos ou a necessidade pessoal que o levaram a escolher um determinado assunto. No caso deste livro, tenho total clareza sobre o seu motivo interior. Ele nasceu de um sentimento algo insólito mas muito intenso: a vergonha.

Foi assim. Ano passado, tive pela primeira vez a oportunidade longamente desejada de fazer uma viagem à América do Sul. Sabia que me esperavam, no Brasil, algumas das paisagens mais lindas do mundo, e, na Argentina, um reencontro inigualável com velhos amigos. Só este pressentimento já tornou a travessia maravilhosa, e a ele se somou tudo de bom que se pode imaginar: mar tranqüilo, o relaxamento total no navio veloz e amplo, liberação de todos os compromissos e aborrecimentos diários. Saboreei infinitamente os dias paradisíacos dessa travessia. Mas de repente, no sétimo ou no oitavo dia, flagrei em mim uma impaciência irritante. Sempre este céu azul, sempre este mar azul e tranqüilo! Nesses súbitos acessos, as horas de viagem me pareciam excessivamente lentas. Ansiava chegar logo ao porto de destino, alegrava-me que os ponteiros do relógio avançassem inexoravelmente, e deprimia-me aquele gozo indolente e frouxo do nada. Cansavam-me os mesmos rostos, e a monotonia da vida a bordo me enervava precisamente pela tranqüilidade de sua pulsação regular. Adiante, adiante, mais rápido, mais depressa! De repente, aquele belo e confortável vapor parecia mover-se com excessivamorosidade.

Foi talvez naquele segundo que me dei conta de meu estado de impaciência, e logo me envergonhei. Estás viajando – disse a mim mesmo – no barco mais seguro, na viagem mais linda possível, com todo o luxo à disposição. Se, à noite, sentes frio no camarote, basta girar um botão com dois dedos e o ar já se aquece. Sentes muito calor, à hora do sol a pino no Equador, basta dar um passo rumo ao salão com os ventiladores refrescantes ou mais dez passos até uma piscina à tua espera. À mesa, podes escolher qualquer prato e qualquer bebida neste que é o mais completo de todos os hotéis, e tudo chegará num passe de mágica, trazido por anjos, em abundância. Podes escolher entre ficar sozinho e ler livros ou participar de jogos a bordo com música e companhia, o quanto quiseres. Sabes para onde estás viajando, conheces exatamente a hora da chegada e sabes que estás sendo aguardado com simpatia. Da mesma forma, sabe-se a qualquer momento em Londres, Paris, Buenos Aires e Nova York em que ponto do universo o navio se encontra. Basta galgar os vinte degraus de uma pequena escada e uma centelha obediente saltará do aparelho da telegrafia sem fio, levando a tua pergunta, a tua saudação, para qualquer lugar da Terra, e em apenas uma hora receberás a resposta. Lembra-te, impaciente, lembrate, imodesto, do passado! Compara, por um instante, esta viagem com as de outrora, sobretudo com as daqueles intrépidos homens que descobriram para nós estes mares imensos e o mundo, e tem vergonha! Tenta imaginar como partiam em seus diminutos veleiros rumo ao desconhecido, sem noção do caminho, perdidos no infinito, incessantemente expostos ao perigo, à mercê de todas as inclemências do tempo, de todo o martírio da privação. Sem luz que os iluminasse à noite, nada para beber senão a água salobra e morna das talhas ou da chuva recolhida, nada para comer senão torradas velhas e toucinho salgado e rançoso, e ainda privados, às vezes, deste alimento escasso durante dias e dias. Sem cama nem espaço para descansar, sob calor infernal, sob um frio inclemente e, além de tudo, a consciência de estar só, absolutamente só, neste inclemente deserto de água. Durante meses, anos, ninguém sabia em seus lares onde estavam, nem eles próprios sabiam para onde iam. Acompanhava-os a necessidade, a morte rondava em mil formas no mar e na terra, o perigo os aguardava na forma de pessoas e elementos, e durante meses, anos, a solidão os acompanhava em suas embarcações miseráveis. Ninguém, eles sabiam, poderia ajudá-los, durante meses e meses não cruzariam com nenhum veleiro nestas águas intransitadas, ninguém poderia salvá-los do perigo e da miséria, ninguém relataria sua morte e seu naufrágio. E bastava que eu começasse a imaginar essas primeiras viagens dos conquistadores dos mares para sentirme profundamente envergonhado de minha impaciência.

Uma vez despertado, este sentimento de vergonha não me abandonaria mais durante toda a viagem, e a idéia destes heróis sem nome não me largou mais nem um instante. Experimentei o desejo de saber mais a respeito daqueles que foram os primeiros a ousar a luta contra os elementos, sobre as primeiras viagens nos oceanos desconhecidos, cuja descrição já em menino excitara a minha imaginação. Fui à biblioteca do navio e escolhi ao acaso alguns volumes. E de todas as figuras e viagens, vim a admirar principalmente a façanha daquele homem que, a meu ver, realizou a proeza mais grandiosa da história dos descobrimentos: Fernão de Magalhães, que partiu de Sevilha em cinco minúsculos barcos pesqueiros para dar a volta ao mundo, no que talvez tenha sido a odisséia mais maravilhosa da história da humanidade, aquela partida de duzentos e sessenta e cinco homens decididos, dos quais só regressaram dezoito num galeão em frangalhos, mas tendo içada ao mastro a bandeira da maior vitória. Naqueles livros não havia muitos relatos sobre ele, pelo menos o que li não me bastou. Por isso, ao regressar, li e pesquisei mais, espantado com o quão pouco se disse sobre esse feito heróico até agora. E, como já aconteceu algumas vezes antes, vi que a melhor e mais fértil possibilidade de entender algo inexplicável é tentar recriálo também para outras pessoas. Assim nasceu este livro, e, posso dizer sinceramente, para a minha própria surpresa. Pois ao tentar descrever, com a maior fidelidade possível, esta odisséia de acordo com os documentos disponíveis, tive o tempo todo a sensação de estar contando uma ficção, um sonho, um daqueles contos de fada sagrados da humanidade. Mas não há nada melhor do que uma verdade que parece inverossímil! Por se elevarem tão acima da média terrestre, todos os feitos heróicos da humanidade têm algo de inconcebível; mas sempre é aquilo que há de incrível em suas realizações que faz os homens voltarem a ter fé em si mesmos.

in Fernão de Magalhães – o homem e a sua façanha. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. Tradução de Kristina Michahelles. (publicado com expressa autorização da editora)

Fonte: Site da Casa Stefan Zweig: http://www.casastefanzweig.org/sec_texto_view.php?id=21

sábado, 12 de janeiro de 2019

Fernão de Magalhães: livros sobre a primeira viagem de circunavegação


Projeto Fernão de Magalhães - leituras

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: mini-resenhas; finalidade: preparar projeto]
  
Leitura de alguns livros sobre Fernão de Magalhães, com notas sintéticas.

Resumo sobre o custo da primeira viagem de circunavegação: pode-se calcular que o custo total da viagem de Fernão de Magalhães foi, em preços atualizados de hoje (um ducado espanhol do início do século XVI equivalente aproximadamente a US 150), de 3 milhões e setecentos mil dólares.


1) José Maria Latino Coelho: Fernão de Magalhães, com um prefácio de Júlio Dantas; 4a ed.; Lisboa: Empresa Literária Fluminense, 1921
 “Pour écrire en prose, il faut avoir quelque chose à dire.” – Maupassant.
“Designado Fernão de Magalhães por capitão-mor da expedição entrou a governar a Trinidad, que ia por capitania. A segunda caravela Santo Antonio capitaneava João de Cartagena. A terceira, por nome Concepción, mandava Gaspar de Quesada, e fazia nela o ofício de piloto o celebrado Elcano, que mais particularmente partilhou com Magalhães as glórias desta longa navegação e descobrimento. A quarta, cuja invocação era Victoria, comandava Luiz de Mendonça. Na caravela Santiago embarcou de capitão João Serrano, que era ao mesmo tempo piloto-mor de toda a frota. Tripulavam ao todo as cinco embarcações duzentos e trinta e sete homens...” (152-3).
“Fernão de Magalhães foi a Burgos, onde estava  imperador e lhe beijou a mão, e o imperador lhe deu mil cruzados de acostamento para gasto de sua mulher enquanto fosse sua viagem...” (p. 154, Gaspar Corrêa, Lendas da Índia, tomo II, parte II, p. 627).
“Largou de Sevilha a armada em 1 de agosto de 1519, e aos 27 de setembro desaferrou do porto de San Lucar, aproando ao rumo das Canárias. Tomando terra em Tenerife para refrescar, e aperceber-se de vitualhas, passando na volta de Cabo-Verde e endireitando para a América, surgiram na baia de Santa Luzia, de onde saíram a 27 de dezembro. Chegando ao rio da Prata, foi a nau Santiago pelo rio acima, até 25 léguas de sua foz, e veio trazendo nova de que o rio se alargava para o norte.” (p. 156)
Citação de Gaspar Corrêa: “Partiu-se de Canarias de Tenerife e foi demandar Cabo-Verde, donde atravessou à costa do Brasil, e foi entrar num rio que se chama Janeiro... E daqui foram navegando até chegarem ao cabo de Santa Maria, que João de Lisboa descobrira no ano de 1514...” (p. 159)
Revolta de João de Cartagena e outros: “Usou Fernão de Magalhães de extrema severidade para com os capitães que se haviam alevantado contra ele e andavam apostados para o matar. Foi sumaríssimo o processo, com que os sentenciou à pena capital,... e fez neles justiça crudelíssima.”(p. 161) “Veio depois Fernão de Magalhães junto da caravela de João de Cartagena, e por ardil de que usou para evitar um rencontro, onde poderia derramar-se muito sangue, entrou na embarcação e ao Cartagena prendeu e mandou esquartejar com pregão de traidor...” (p. 162; cita Gaspar Corrêa, Lendas da Índia, tomo II, parte II, p. 629).
“Não era apenas a vida que o lustre português havia de perder, se chegasse a vingar a sedição dos espanhóis. Era a própria empresa em que se empenhava, e a glória que já sonhara para si, e os louros imortais de ousado aventureiro e de feliz descobridor. (p. 163-4).
“A 24 de agosto de 1520 se fizeram de novo ao mar as caravelas.
“Pouco depois naufragou, na violência de uma borrasca, a nau Santiago, em que ia o piloto-mor João Serrano, sem que houvesse que lastimar a perda da tripulação e da fazenda.” (p. 165) “Navegaram as quatro caravelas que ainda restavam, até darem fundo num rio a que deram o nome de Santa Cruz, e guarnecendo-se ali contra os temporais, e fazendo aguada e provisão do que a terra podia ministrar, a 18 de outubro se aventuraram de novo ao Oceano.” (p. 165-6).
Fugiu uma nau [Santo Antonio, de Mesquita] de volta à Espanha. Sobraram Concepción, Victoria e Trinidad, que engolfaram-se pelo estreito, e “saiu afinal no Mar do Sul, a 27 de novembro de 1520, depois de ter gastado vinte e dois dias nesta derrota.” (p. 168-9).
“Navegando sempre a noroeste passou Fernão de Magalhães a 13 de fevereiro de 1521 o equador, e chegando aos 13o de latitude boreal, descobriu um arquipélago, a que chamou de ilha dos Ladrões, por lhe parecer que os índios seus habitadores eram mui inclinados à rapina.” (p. 172) Morte de Magalhães.
De volta à Espanha, Sebastian de Elcano recebeu de Carlos V o galardão de alta façanha, e por divisa de seu brazão o moto Primus circumdedisti me. (p. 192-3)

2) Visconde de Lagoa: Fernão de Magalhães: a sua vida e a sua viagem. Lisboa: Seara Nova, 1938, 2 vols.
“As cinco naus, adquiridas de segunda mão, importaram em 1.315.750 maravedis, sendo deficientíssimo seu estado de conservação, a julgar pelas longas e dispendiosas reparações que sofreram, e ainda pelas seguintes palavras com que Sebastião Alvares as descreve ao rei de Portugal, ‘sam muy velhos e remêdados... e certifico a vossa alteza que pa Canaria navegaria de maa vontade neles..” (p. 251).
“Sumario de todo el coste que tuve la armada de Magallanes (p. 257)
1519, sem outra data (maravedis)
3.912.241 – coste de las cinco nãos de la armada, con sua aparejos
415.000 – cosas de despensa y cobre, aparejos para pesqueria, cartas...
1.589.551 – viscocho y vino, carne, aceite y pescado, quesos...
1.154.504 – sueldo de cuatro meses para 237 personas (capitanes...)
1.679.769 – ropas de seda y paño para dadivas, mercadorias de rescate...
__________
8.751.125 – Así parece monta en todo el gasto de la dicha armada (p. 258)
8.334.335 – Costo total menos rebate abajo
416.790 – rebate de las cosas que quedaron en la Casa de Contratación (Sevilla)
6.454.209 – fornecido por S.M.
1.880.126 – fornecido por Cristobal de Haro
8.334.335 – Custo total, “equivalentes a pouco mais de 20.000.000 de réis ouro”

 [Problema PRA: qual o valor do reis ouro em 1500?]


“É curioso notar que o custo total da expedição de Cristovão Colombo foi apenas de 1.167.542 maravedis”. (p. 259) [Nota de rodapé a esta informação: “Em 1919, por motivo do 427 aniversário da América, publicaram alguns periódicos americanos um extrato das despesas feitas com a primeira viagem de Colom. Dele extractamos as verbas seguintes: “Seis meses de soldo ao Almirante: 500 pesetas; ao capitão da Pinta, 450; ao da Nina, 400; às tripulações das três caravelas em número de 120 homens, 10.500; equipamento da frota, 14.000; víveres, 2.900; dinheiro adiantado a Colombo, 52.492; ao capitão Alonso Pinzón, 14.000. Total: 65.242 pesetas”. (p. 259).

3) Queiroz Velloso: Fernão de Magalhães: a vida e a viagem. Lisboa: Editorial Império, 1941.
“Em 20 de outubro de 1517, chegou Fernão de Magalhães a Sevilha...” (...) (p. 33: cap. V: A Capitulação ajustada com Carlos I). “Magalhães já casara com a filha do seu hospedeiro, Beatriz Barbosa, que lhe trouxera um dote de seiscentos mil maravedis.” (p. 34-5) “Carlos I desembarcara em 19 de setembro de 1517, num porto das Astërias, e a 18 de novembro chegara a Valladolid. Muito novo, empreendedor, desejoso de engrandecer seus Estados, as circunstâncias era favoráveis à pretensão de Magalhães.” Com rapidez impressionante, a 22 de março de 1518, promulgava o rei a Capitulação com o bacharel Rui Faleiro e Fernão de Magalhães, autorizando a projetada viagem, que não seria feita en la demarcación é limites del Serenísimo Rey de Portugal. Comprometia-se Carlos I a dar-lhes a veyntena dos lucros, com o título de Adelantados (p. 36) é Governadores de todas as terras e ilhas descobertas; a mandar armar cinco navios, com 234 homens, abastecidos de víveres e munições para dois anos; e a transmitir imediatamente a respectiva ordem à Casa da Contratação das Índias. No mesmo dia assinou o monarca três cédulas, uma nomeando Magalhães e Faleiro capitães da armada, com poderes ilimitados, as outras fixando a cada um deles o soldo anual de 50.000 maravedis. De caminho para Saragoça, em Aranda de Duero, por cédulas datadas de 17 de abril, mandou repartir igualmente pelos dois 60.000 maravedis, como ajuda de custo; e aumentou-lhes o soldo com 8.000 maravedis mensais, durante todo o tempo que servissem na armada.” (p. 37)
A Casa de Contratação fez saber ao rei que não havia dinheiro. Atrasou-se o empreendimento. (...)
“Em Barcelona, onde chegara a 15 de fevereiro de 1519, tomou Carlos I uma série de providências, assaz reveladoras do interesse que merecia a empresa. A 30 de março foram publicadas três cartas régias: uma, mandando entregar a João de Cartagena a capitania do terceiro navio – dos dois primeiros eram capitães Fernão de Magalhães e Rui Faleiro – com o soldo anual de 40.000 maravedis; outra, nomeando o mesmo João de Cartagena vedor da armada, com o soldo de 60.000 maravedis: e a última, nomeando tesoureiro Luiz de Mendoza, com vencimento anual igual ao do vedor.” (p. 41-2)
“Em 8 de maio, promulgou Carlos I as instruções que deviam reger a armada, desde a sua partida até a posse das terras a que se destinava. É um diploma excessivamente minucioso, como todos os Regimentos da época. (...) Nas instruções aparece, mais uma vez, a proibição de tocarem nos domínios do rei de Portugal.” (p. 44)
“O anúncio da expedição chamara a Sevilha muitos matalotes de Portugal. Magalhães contratara-os, não como compatriotas, mas por serem os mais hábeis marinheiros do mundo.” (p. 46)
VIII – O Custo da Armada (p. 49-52)
“(...) Segundo a Relación de todo gasto de la armada de cinco nãos que van al decubimiento de la Especeria, o rei dispendeu na compra e reparação dos navios, aparelhos, armamento, munições, mantimentos, mercadorias e adiantamentos de soldo, 6.870.999 maravedis. Deduzidos, porém, 416.790 maravedis, importância das mercadorias, armas e pólvora, que não seguiram na expedição e ficaram armazenadas em Sevilha, monta o gasto do rei a 6.454.209 maravedis, ou 18.600 ducados e 9 marvedis, à razão de 374 maravedis por ducado.” (p. 49-50)
“Cristovão de Haro forneceu à Casa da Contratação, para aquisição de mercadorias, 1.616.781 maravedis; e mais 263.345 maravedis que pagó en las cosas necessárias a la armada... (...) Juntando, (...) podemos fixar o custo total da armada r, 8.546.349 maravedis, ou 24.629 ducados e 86 maravedis.”(p. 50)
IX – A Organização da Armada
“Na quarta-feira, 10 de agosto de 1519, após uma salva de artilharia, saiu a armada de Sevilha para a foz do Guadalquivir.” (p. 54)
Naus: Trinidad (11 toneladas); San Antonio (120 t.); Concepción (90 t.); Victoria (85 t.); Santiago (75 t.). Pigafetta diz que a tripulação se compunha de 237 homens. (p. 55) “Entre eles figuram italianos, franceses, alemães, flamengos, gregos e um inglês. Espanhois, comparativamente, alistaram-se poucos, alegando a insuficiência de soldo e a repugnância de servir um capitão português. Carlos I, afinal, permitira que, além dos pilotos, pudessem seguir mais dez portugueses.” (p. 55-6)
“Aos sobresalientes da Trinidad pertencia também Antonio Pigafetta, alistado sob o nome de Antonio Lombardo... [Nota de rodapé: percebia o soldo mensal de mil maravedis. Antes da partida recebeu quatro meses adiantados. Depois do regresso – pois foi um dos dezoito que voltaram ao porto de saída – cobrou, além da respectiva quintalada, 32.924 maravedis, correspondentes à duração da viagem.] (p. 56)
“A 29 de novembro de 1519, passam ao largo do cabo de Santo Agostinho, na costa do Brasil. A 8 de dezembro avistam terra, e a 13, havendo dobrado o Cabo Frio, fundeiam na baia do Rio de Janeiro. Nesta região paradisíaca permaneceu a armada duas semanas para descanso da tripulação. A 26 ou 27, depois de bem provida de água, peixe, frutas, aves e lenha, continuou a viagem, paralelamente à costa.” (p. 60-1)
Fernão de Magalhães morreu em Cebu, em 27 de abril de 1521. (...) “A morte impediu que Fernão de Magalhães voltasse a Sevilha pelo Cabo da Boa Esperança; e, no entanto, pode-se legitimamente afirmar-se que o grande navegador deu a volta ao mundo. Pelo meridiano de Greenwich, a ilha de Cebu fica situada entre 123o e 124o de Longitude Leste;” (p. 95)
Camões, nos Lusíadas, C. X, est CXL, o coloca nos versos:
            O Magalhães, no feito com verdade
            Português, porém não na lealdade.

“O Chile considera-se descoberto pelo navegador; em 1920 comemorou, com grande solenidade, o 4o centenário da travessia do Estreito. Para assistir a essas festas convidou todas as nações da América e três da Europa: Espanha, Portugal e Inglaterra. As festas terminaram com a inauguração, em 16 de dezembro , da estátua de Fernão de Magalhães, erigida na cidade de Punta Arenas, situada sobre o Estreito e capital do território de Magallanes. ” (nota p. 98)
A nau Victoria foi a única que retornou a Sevilha: a 6 de setembro de 1522 ancorava em San Lucar de Barrameda; e a 8 fundeava em Sevilha, com dezoito tripulantes europeus, e quatro indígenas malaios. O valor da carga – só o cravo foi estimado em 7.888. 684 maravedis – excedeu consideravelmente todas as despesas da expedição. (p. 105)

4) Stefan Zweig: Fernão de Magalhães: história da primeira circunavegação. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, s.d.; tradução de Elias Davidovich.


Lista das despesas feitas com a frota de Magalhaes, p. 281-92; extraído do 4 volume da “Coleccion de los viajes y descubimientos” de D. Martin Hernandez de Navarrete, Madrid, 1837.
Resulta dessas despesas a soma de 8.751.125 maravedis, a deduzir 416.790, dos bens que ficaram em Sevilha; importância exata das despesas: 8.334.335; adiantado por S. Majestade: 6.454.209; adiantado por Christopher de Haro: 1.880.126. (p. 292)

Ver postagem realizada no blog Diplomatizzando em 9/04/2018: 



O livro contém, em apêndice, o contrato concluído entre o rei espanhol Carlos I (depois Carlos V, ao realizar-se a união com os Habsburgos, da Áustria) e os dois navegadores encarregados de montar o empreendimento: Rui Faleiro e Fernão de Magalhães, feito na cidade de Valladolid, em 22 de março de 1518, segundo registro feito no quarto volume da “Colección de los viajes y descubrimientos”, de D. Martin Hernandez de Navarrete (Madrid: 1837). 
Pelas descobertas e serviços a serem prestados ao rei, assim como pelos perigos em que incorreriam, eles teriam direito a 20%, ou seja, um quinto, dos rendimentos e lucros em todas as ilhas e terras que descobrissem, além do título de governador dessas terras, para eles e para seus herdeiros, por todos os tempos. Eles também teriam licença para mandar dessas terras e ilhas o valor de mil ducados anualmente, assim como poderiam vender ou adquirir o que desejassem, bastando pagar o vigésimo como contribuição, à isenção de qualquer outro imposto, anterior ou posterior. Isso, porém, só seria válido quando do regresso da primeira viagem, e não antes. Para dar mais uma recompensa, eles poderiam reter para si, depois de escolhidas seis para o rei, duas ilhas para seu próprio usufruto (mas pagando a quinta parte nos rendimentos e lucros). 
Entrando nos detalhes de sua prestação, o rei prometia, para levar a cabo as promessas de volta ao mundo, aprestar cinco navios: dois de 130 toneladas, dois de 90 e um de 60 toneladas, equipados com tripulação, canhões e víveres para dois anos, para 234 pessoas, incluindo capitães, marinheiros e grumetes para a condução da armada. 

Quanto custou o afretamento da primeira viagem ao redor do mundo?
Mas, quanto custou tudo isso? Stefan Zweig relaciona, em um outro apêndice, a lista das despesas com a frota de Fernão de Magalhães, conforme consta do mesmo 4o. volume da “coleção de viagens e descobrimentos”, de Navarrete, de 1837. Todos os valores estão expressos em maravedis, a unidade de conta usada na Espanha entre os séculos XI e XIX, primeiro sob a forma de moedas de ouro cunhadas pelos ocupantes Almorávidas, depois sob diversas formas metálicas pelos reis católicos da Reconquista e seus descendentes, várias vezes desvalorizadas em relação à sua cunhagem original (de ouro para prata, depois vários tipos de metais, entre eles cobre). A lista resumida a seguir indica os valores dos navios e de diversas outras despesas com a frota, como segue:  
1) Navio “Concepción”, de 90 toneladas: 228.750 maravedis;
2) Navio “Victoria” (o único que retornou), de 95 toneladas: 300.000 maravedis;
3) Navio “San Antonio”, de 120 toneladas: 330.000 maravedis;
4) Navio “Trinidad”, de 110 toneladas: 270.000 maravedis;
5) Navio “Santiago”, de 75 toneladas: 187.500 maravedis.


O valor total dos navios era, portanto, de 1.316.250 maravedis. Com todos os seus equipamentos, canhões, pólvora, armaduras e lanças, o custo total da frota ascendeu a 3.912.241 maravedis. Os víveres (bolacha, vinho, azeite, peixe, carne seca, queijo e legumes, barris e garrafas para vinho e água) representaram 1.589.551 maravedis. Por sua vez, o soldo a ser pago durante 4 meses a 237 pessoas, incluindo os capitães e oficiais, requeria 1.154.504 maravedis. Mais 2 milhões de maravedis foram empregados em objetos diversos, além de mercadorias para permutas e presentes, entre eles sedas e panos. A importância total das despesas feitas com a armação completa dos cinco navios correspondia a 8.334.335 maravedis, dos quais 6.454.209 foram adiantadas pelo rei Carlos I e outros 1.880.126 maravedis por um “capitalista”: Christofer de Haro. 

Como avaliar esses valores? Seria possível atualizar o valor das despesas?
Caberia, agora, verificar o valor desses maravedis do início do século XVI, quando a Espanha começa a conhecer a grande inflação provocada pelos carregamentos de ouro e prata trazidos do Novo Mundo, e traduzir esses totais em valores correntes de nossos tempos. Segundo leio numa informação sobre as moedas usadas na Espanha em torno desse período, o maravedi passou a ser usada mais como unidade de conta do que como moeda efetiva para as transações, desde a introdução de uma nova moeda, o real, pelo rei Pedro I, de Castilla, em meados do século XIV, por um valor de 3 maravedis (Wikipedia: “Spanish real”; link: https://en.wikipedia.org/wiki/Spanish_real). A taxa de câmbio aumentou até 1497, quando o real, doravante emitido sobre a base de um composto de prata, foi fixado num valor de 34 maravedis. Segundo essa nota, o famoso “peça de oito” (peso de a ocho), também conhecido como dólar espanhol, foi emitido no mesmo ano como moeda de intercâmbio. Em 1566, o escudo cunhado em ouro passou a ser emitido, num valor de 16 reais de “prata”. Um século depois, dois reais de “meia prata” valiam 1 real de prata pura. O maravedi estava então cotado a esse real de “meia prata” à razão de 68 maravedis por cada unidade da moeda. Teoricamente, portanto, cada real de prata forte seria equivalente a 136 maravedis, e o escudo de ouro poderia valer 2.176 maravedis. 
Talvez se possa aproximar os valores expressos contabilmente em maravedis dos reais de prata, o que representaria mais ou menos o seguinte: o total da expedição teria custado 245.127 reais de prata, ou 15.320 mil escudos de ouro. Não posso, no entanto, no estado atual de meus conhecimentos, traduzir o valor real das despesas da frota de Fernão de Magalhães em cifras precisas suscetíveis de atualização. Caberia, a partir daí, tentar representar esses valores em pesetas do século XIX, com base nas frequentes desvalorizações dos antigos reais de prata, e trazer esses valores para cifras próximas dos dólares do século XX. O site Measuring Worth(http://eh.net/howmuchisthat/), da rede de história econômica à qual recorro frequentemente, promete para um breve futuro índices para conversão da peseta espanhola do século XIX (a partir de 1850), mas o site ainda não está pronto (https://www.measuringworth.com/spaincompare/coming-soon.php). Vamos aguardar, ou pedir a historiadores econômicos espanhóis, que um cálculo mais preciso seja feito.

Comentários recebidos em 10 de janeiro de 2019 do economista Leonidas Zelmanovitz, Senior Felow do Liberty Fund (Indiana, USA):

“Vou ter que ficar lhe devendo uma conversão precisa dos Maravedis.
A conversão que eu fiz em uma ocasião, foi a do Ducado, moeda usada por Carlos V para fazer o controle das receitas e despesas do seu reino. 
Em 1537, por exemplo, um Ducado, com 91,7% de ouro, tinha um peso equivalente a 10% de uma onça de ouro.
Considerando que hoje em dia uma onça de ouro equivale a aproximadamente mil e trezentos dólares, o conteúdo de ouro de um Ducado equivaleria a aproximadamente 130 dólares e com uma margem para seigniorage, eu diria, que o valor aproximado de um Ducado seria de 150 dólares hoje em dia.
Como o Maravedi era uma moeda de cobre, cuja cunhagem foi muito abusada, a "taxa de câmbio" entre o Maravedi e o Ducado variava consideravelmente. 
Eu diria que para essa primeira metade do século 16 uma boa média dessa equivalencia seria de uns 300 maravedis para um ducado, ou de 50 centavos de dolar por Maravedi.
As fontes que eu trabalhei em 2012 foram James D. Tracy "Emperor Charles V, Impresario of War," e Thobar Carande "Carlos V y sus Banqueros", mas eu encontrei a referência abaixo, que pode lhe ajudar.
Leonidas  

Source: Fiat Money in 17th Century Castile, by François R. Velde, Federal Reserve Bank of Chicago, and Warren E. Weber, Federal Reserve Bank of Minneapolis and University of Minnesota.

Footnote 1 states:
The ducat disappeared as a coin in 1537 but remained as a unit of account, representing 375 maravedis.
Table 2 Castilian monetary system, ca. 1590 (before the onset of vellón inflation) lists the following in the column "Purchasing Power":
·       maravedis -- 1/2 lb bread
·       15 maravedis -- 1 bottle wine
·       50 maravedis -- 1 spring chicken
·       80 maravedis -- 1 day skilled labor
·       200 maravedis -- 1 ga. olive oil
·       350 maravedis -- 1 bushel wheat
·       1450 maravedis -- minimum weekly middle class income

So 1 ducat was the rough equivalent of 1/4 the minimum weekly middle class income. It would have bought you four and a half days of skilled labor. Or 7 (live!) chickens, a bottle of wine and a pound of bread. ¡Buen provecho! "

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Addendum para novos cálculos:
Com base nos cálculos acima de Leonidas Zelmanovitz e nas informações coincidentes, pois originárias da mesma fonte, constantes dos livros de Queiroz Velloso e de Stefan Zweig, pode-se calcular que o custo total da viagem de Fernão de Magalhães foi, em preços atualizados de hoje (um ducado espanhol do início do século XVI equivalente aproximadamente a US 150), de 3 milhões e setecentos mil dólares.
Se aceitarmos que o valor da carga que trouxe o Victoria era de 7.888. 684 maravedis, e que essa moeda poderia equivaler a 50 centavos de dólar por maravedi, teríamos então um retorno de US$ 3.994.342,00, ou, seja, um “lucro” aparente de 250 mil dólares. Não estamos computando, obviamente a perda dos homens e dos navios, pois dos cinco navios apenas um retornou, e dos 240 homens partidos apenas 18 retornaram a Sevilha. Uma empresa de seguros poderia fazer o cálculo do valor humano da primeira viagem de volta ao mundo? Os navios ficam pela amortização em 3 anos...

Vale!


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de janeiro de 2019