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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Boris Johnson como primeiro ministro da GB? Non, merci - Editorial Le Monde

Poderia ser um pequeno Trump no comando de um dos países mais importantes da Europa, a sexta economia mundial. Le Monde se inquieta.
De vez em quando, grandes mediocridades chegam ao comando de certos países. Nenhum está imune a esses desastres, como sabemos muito bem...
Grato a Pedro Luiz Rodrigues, por esta transcrição.
Paulo Roberto de Almeida


Le Monde, Paris – 13.6.2016 - Editorial
Boris Johnson à la tête du Royaume-Uni ? Non merci !
Pour l’Union européenne, l’accession de M. Johnson au poste de premier ministre équivaudrait à l’installation à Londres d’un Trump au petit pied se consacrant à la saboter.

En juin 2016, au lendemain de la victoire de la campagne en faveur du Brexit qu’il avait conduite, Boris Johnson avait disparu, passant le week-end à jouer au cricket. Dépassé par un succès non anticipé, lâché par son compère Michael Gove, il avait renoncé à briguer Downing Street et à gérer la sortie de milité. Trois ans après, alors que le divorce avec l’UE tourne au cauchemar pour le Royaume-Uni, revoilà Boris Johnson en pole position pour succéder à Theresa May, dont il n’a cessé de savonner la planche.l
Une partie de la biographie de Boris Johnson ressemble à celle d’un leader nationaliste ordinaire, comme l’Europe mais aussi les Etats-Unis en produisent désormais en quantité. Correspondant du Telegraph à Bruxelles dans les années 1990, souvent à coup de bobards sur de prétendues décisions de l’UE, il a largement contribué à la transformation de l’europhobie en cause populaire au Royaume-Uni et en arme redoutable pour le Parti conservateur, jusque-là pro-européen. Qu’il prenne enfin aujourd’hui la responsabilité du Brexit pourrait découler d’une certaine logique. Mais Boris Johnson n’a rien à faire de la logique ni des convictions. Il a même théorisé son absence de principes en se vantant d’avoir préparé deux lettres ouvertes avant de se jeter dans la campagne de 2016, l’une pro-européenne, l’autre favorable au Brexit. Depuis lors, la liste de ses impostures, de ses bévues et de ses échecs n’a cessé de s’allonger. Mensonges sur le juteux rapatriement de « l’argent donné à l’Europe » sur son bus de campagne, promesse que le Royaume-Uni obtiendrait « le beurre et l’argent du beurre » dans la négociation sur le Brexit, comparaison de l’UE avec le IIIe Reich et de François Hollande avec un kapo. Nommé à la tête du Foreign Office par Mme May, qui voulait ainsi l’éloigner, il tente d’humilier les dirigeants européens et ridiculise son pays sous toutes les latitudes par son amateurisme, sa légèreté et sa méconnaissance des dossiers.

Rhétorique chauvine

C’est cet homme-là qui prétend aujourd’hui prendre la barre du paquebot Britannia en détresse. Rivalisant de populisme avec l’extrême droite de Nigel Farage, qui prospère sur la colère suscitée par l’impasse du Brexit, Boris Johnson jure qu’avec lui le pays sera sorti de l’UE d’ici au 31 octobre, même sans accord avec Bruxelles. La catastrophe économique consécutive à un « no deal » ne lui fait pas peur. Sa rhétorique chauvine promet aux Britanniques un avenir radieux et « mondial » une fois qu’ils seront délivrés du carcan européen.
Sa démagogie va jusqu’à menacer de ne pas acquitter les 39 milliards d’euros que le Royaume-Uni s’est engagé de verser aux Vingt-Sept dans le cadre du budget pluriannuel en cours. Une décision aux conséquences incalculables, puisqu’elle entacherait la crédibilité internationale d’un pays qui se veut le champion de la primauté du droit. Pour l’UE, l’accession de M. Johnson au pouvoir à Londres équivaudrait à l’installation d’un Trump au petit pied outre-Manche se consacrant à la saboter. Le Royaume-Uni ne se contenterait plus de cultiver son malaise européen, voire d’entraver le développement de l’UE. Il deviendrait une principauté hostile fondée sur la déréglementation sociale, fiscale et environnementale. « Boris » doit cesser d’être vu seulement comme un bouffon. Son entrée au 10, Downing Sreet serait une calamité pour son pays et pour l’Europe.



sexta-feira, 24 de junho de 2016

Populistas sao idiotas? Provavelmente Mario Sabino, mas jornalistas tambem podem se enganar...

Meus comentários iniciais a esta crônica interessante mas mal informada sobre o Brexit:
Escreve Mario Sabino:
"A economia do Reino Unido, (...) é baseada na exportação de manufaturados que perderão o acesso sem barreiras ao maior mercado do planeta. Mercado, aliás, que está para integrar-se ao americano. UE e Estados Unidos negociam a criação da maior zona de livre comércio do mundo -- e o Reino Unido ficará fora dela."
Não Mario Sabino, os produtos ingleses, ou britânicos, NÃO perderão o acesso ao maior mercado consumidor do planeta. Eles continuarão tendo acesso, pois assim estabelecerão pessoas inteligentes (algumas até eurocratas, vejam vocês) dos dois lados da Mancha, que vão negociar um simples acordo de associação, ou de livre comércio entre uma GB fora da UE (se sair, o que ainda pode não ser definitivo) e o "resto" da Europa, ou seja, esses turbulentos europeus "além Mancha". A lógica, a história, os interesses assim o determinam.
Mais ainda: é muito mais fácil para uma GB livre, sozinha, chegar antes a um acordo de livre comércio com os EUA do que aquele bando de mercantilistas franceses e outros protecionistas do continente. A GB sempre foi a favor do livre comércio, desde 1846, com apenas um intervalo de algumas décadas no século XX, por força de sua própria decadência. Mas desde aquela "dama de ferro" da qual alguns não gostam, ela continua sendo a favor da liberalização comercial.
Tampouco acredito nisto Mario Sabino:
"O Reino Unido não ficará pobre, mas enriquecerá menos no seu esplêndido isolamento. A queda do valor da libra é o sinal mais evidente do futuro britânico."
Isso é terrorismo econômico dos eurocratas e outros dirigistas doentios. A Suíça, a Noruega e alguns outros irredentistas não ficaram mais pobres, relativa ou absolutamente, por escolherem não pertencer à UE, e aos seus milhares de regulamentos intrusivos e excessivamente burocratizados. Eles podem levar uma vida mais simples, e ainda assim ter todos os intercâmbios possíveis com aquele monstro burocrático, sem precisar aderir à selva de regulamentações kafkianas (desculpe Franz).
 Vamos com calma, Mario Sabino, não faça do Brexit um drama econômico, ele é só uma comédia política. Os europeus continentais vão continuar sendo o que são, e a GB retomará sua liberdade para negociar acordos de livre comércio com quem ela quiser, dejar, for possível, inclusive com os EUA, a China, o Brasil, whoever.
Viver livre é sempre uma boa opção, em lugar de ter de manter uma confusa catedral gótica que custa um bocado para ficar sempre limpa e arrumada, sobretudo com aqueles corais gigantescos, cada um cantando na sua lingua, e mais 83 combinações de interpretações simultâneas necessárias, inclusive do finlandês para o grego, e do húngaro para o espanhol.
Falar inglês, não tem preço, ou melhor, custa muito mais barato...
Paulo Roberto de Almeida

Populistas são idiotas
Por Mario Sabino
O Antagonista, 24 de Junho de 2016

O populismo de esquerda e direita é capaz de infectar até mesmo países altamente civilizados, caso do Reino Unido. O Brexit representou uma vitória do populismo de direita, cujo rosto é Nigel Farage, chefe do Independence Party.
Os motores do Brexit foram principalmente a crise migratória e a xenofobia dos mais velhos -- os britânicos com menos de 24 anos votaram maciçamente pela permanência do Reino Unido na União Europeia. O excesso de regulação dos burocratas de Bruxelas contou para o “Leave”, mas serviu como força auxiliar para a decisão que causou um terremoto nas bolsas de todo o mundo e lançou uma sombra sobre o processo de globalização.
O populismo é o exato oposto da racionalidade, demonstra o Brexit. Como escreveu David Cassidy, da “New Yorker”, os seus partidários não ouviram a City, o ministro das Finanças, o Banco da Inglaterra, o FMI, o governo americano e uma infinidade de grandes economistas e empresários. Ao contrário do que diz toda essa gente respeitável, os adeptos do “Leave” acreditam que o Reino Unido poderá se tornar uma Noruega ou uma Suíça, países que rejeitaram a integração com o bloco, mas se beneficiam de um status especial com as nações da UE.
É um engano. A economia do Reino Unido, além de ser bem maior do que a norueguesa e suíça, é baseada na exportação de manufaturados que perderão o acesso sem barreiras ao maior mercado do planeta. Mercado, aliás, que está para integrar-se ao americano. UE e Estados Unidos negociam a criação da maior zona de livre comércio do mundo -- e o Reino Unido ficará fora dela. Muito inteligente.
A massa ignara que votou pela saída do bloco europeu deixou-se levar pelo discurso estúpido de Nigel Farage e asnos do Partido Conservador, sem se dar conta de que a integração à UE foi determinante para tirar o país da recessão na década de 80 e empurrar ladeira acima a economia britânica nos anos que se seguiram. O thatcherismo não teria dado resultados tão espetaculares sem a adesão ao bloco, apesar de todas as bravatas da Dama de Ferro.
A burocracia da UE é exasperante? Sim. A adoção do euro, sem união fiscal, foi desastrosa? Sim. A crise iniciada em 2008 continua a bater forte, em especial no Sul do continente? Sim. Os tropeços, contudo, não apagam o fato de que o bloco europeu é um sucesso político -- amalgamou nações historicamente inimigas -- e econômico. Não há um país que tenha empobrecido por causa da UE. Ela propiciou e acelerou o enriquecimento de todos, absolutamente todos, que a integram. O Reino Unido não ficará pobre, mas enriquecerá menos no seu esplêndido isolamento. A queda do valor da libra é o sinal mais evidente do futuro britânico.
A saída da UE também causará um problemão interno. Escócia e Irlanda do Norte votaram majoritariamente na permanência do Reino Unido no bloco. Em 2014, no plebiscito que definiu que os escoceses continuariam ligados à Inglaterra, um forte argumento utilizado nesse sentido foi dado pela UE. Os principais líderes europeus afirmaram que, se a Escócia saísse do Reino Unido, ela dificilmente seguiria no bloco. Agora, a Escócia está fora da UE, por causa do atrelamento à Inglaterra. Escoceses já recomeçam a falar em independência, dessa vez para voltarem ao bloco. Na Irlanda do Norte, por seu turno, o Sinn Fein, o partido nacionalista, quer um referendo para uni-la à Irlanda, que ficou rica graças à UE.
A ironia, nota David Cassidy, é que o Reino Unido corre o risco de se esfacelar do ponto de vista político antes de se desligar do bloco europeu, processo que deve demorar alguns anos para completar-se.
Populistas são, acima de tudo, idiotas.