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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Petista do desastre econômico, Guido Mantega, sabota a candidatura de Ilan Goldfajn ao BID - Raquel Landim (CNN)

 Mantega envia carta a EUA, Chile e Colômbia e pede para adiar eleição no BID


Um dos técnicos mais respeitados do país, Goldfajn foi indicado para concorrer ao comando do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes

Raquel Landim, da CNN
11/11/2022 às 11:40

O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, enviou uma carta a representantes dos governos americano, chileno e colombiano pedindo para adiar a eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), marcada para o dia 20 de novembro, apurou a CNN.

No caso dos Estados Unidos, o documento foi entregue a secretária do Tesouro Janet Yellen.

Conforme pessoas que tiveram acesso à carta, Mantega diz falar em nome da equipe econômica do novo governo e afirma que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de indicar outro candidato. Hoje, o candidato brasileiro à presidência do BID é o economista e ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.

Um dos técnicos mais respeitados do país, Goldfajn foi indicado para concorrer ao comando do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que passou por cima de divergências pessoais ao optar pelo seu nome.

O BID é uma instituição multilateral responsável por US$ 12 bilhões em empréstimos para governos na América Latina.Embora Mantega tenha enviado a carta e conte com apoio de setores do PT, a oposição ao nome de Ilan não é consenso na aliança em torno de Lula.

Aliados da senadora Simone Tebet, da deputada eleita Marina Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin apoiam o economista. Além de suas posições liberais em economia, Goldfajn também é conhecido pela atuação em projetos de defesa da Amazônia.

A movimentação desses setores do PT, no entanto, provocou descontentamento em Washington. Não deve ser suficiente para adiar a eleição, mas ameaça a vitória do candidato brasileiro, que parecia garantida.

Fontes que acompanham o processo dizem que, se ficar claro que existe uma divisão no Brasil, os Estados Unidos preferem apoiar o candidato do México, Gerardo Esquivel.A CNN procurou a equipe do presidente eleito Lula e aguarda um posicionamento. Procurado, Ilan Goldfajn prefere não se pronunciar neste momento.

sábado, 15 de janeiro de 2022

As pílulas de amnésia do dr. Guido [Mantega] - Alexandre Schwartsman

As pílulas de amnésia do dr. Guido 

PUBLICADO ORIGINALMENTE NA INFOMONEY, 
EDIÇÃO DE 12 DE JANEIRO DE 2022

https://www.chumbogordo.com.br/400093-as-pilulas-de-amnesia-do-dr-guido-por-alexandre-schwartsman/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_campaign=Coluna+Carlos+Brickmann 

Na semana passada, a Folha de S. Paulo publicou artigos de economistas expondo as ideias dos principais candidatos à presidência na área. Chamou a atenção de muitos, inclusive a minha, a peça cometida pelo ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, dentre outros motivos porque trata-se, é bom deixar claro, de um dos principais responsáveis pela extraordinária deterioração tanto econômica como institucional que levou à recessão de 2014-16.

Por mais que haja algum esforço no sentido de, curiosamente, dissociar o artigo da candidatura (afirma que é apenas “resultado das discussões de um grupo de economistas que assessoram o ex-presidente Lula”), não deixa de ser simbólico que o ministro mais associado à chamada Nova Matriz Econômica, hoje uma pobre órfã intelectual e política, seja seu autor.

Ademais, de alguma forma antecipando o que será provavelmente a retórica envolvida na campanha, o ex-ministro fez uma série de afirmações no seu texto que, ou não se enquadram na realidade, ou omitem fenômenos similares que se observaram nos governos petistas, conforme listado logo abaixo, merecendo comentários, no caso dados que confrontam a “narrativa” do ex-ministro.

A inflação estará recuando dos 10% de 2021, para algo em torno de 6%, às custas de uma feroz política monetária contracionista, que vai paralisar a economia brasileira.

O que o ex-ministro omite é que entre 2014 e 2015 a inflação subiu de 6,4% para 10,7% e só caiu (apenas em 2016!) às custas de uma política monetária ainda mais contracionista que a atual, que levou a Selic para 14,25%% ao ano. O juro real (já descontada a inflação esperada) para um ano, quer era de 4,5% ao final de 2014, atingiu 7,5% já em maio de 2015.

No final de 2014 o Brasil era um país pouco endividado, com uma dívida pública líquida igual a 32,5% do PIB.”

A dívida bruta, que é o que interessa, já havia pulado de 51,5% do PIB em 2013 para 56,3% do PIB em 2014, marcando a reversão da tendência de queda. Em 2015 ainda atingiria 65,5% do PIB, avançando ainda para 69,8% em 2016 (67,5% em maio de 2016, quando Dilma foi afastada). Os interessados podem visualizar a evolução da dívida, em particular seu forte salto em 2014, no gráfico abaixo.

Fonte: BCB

As gestões fiscais dos governos Temer e Bolsonaro foram um desastre que, desde 2016, só acumulou déficits primários.”

No caso, o ex-ministro esquece que o superávit primário que existia até 2013, se tornou déficit já em 2014, subindo ainda mais em 2015 e 2016, conforme exposto a seguir. Temer também entregou déficits primários, mas menores do que havia herdado.

Fontes: BCB e estimativas do autor

Convém, aliás, não deixar de lado que as contas públicas foram maquiadas sob a regência de Guido Mantega para esconder sua deterioração, episódio hoje conhecido como “pedaladas fiscais”, muito bem descritas pelos trabalhos de João Villaverde e Leandra Peres. A estimativa do resultado primário livre de pedaladas se encontra no gráfico acima, revelando a extensão do estrago fiscal ainda no governo Dilma.

Não à toa, a partir de 2008 o Brasil passou a receber avaliações positivas de grau de investimento, pelas principais empresas de classificação de risco.”

O Brasil perdeu o grau de investimento em 2015, antes de Temer e Bolsonaro.

Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país.”

A razão entre a renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres (não achei dos 50% mais pobres) vinha em queda desde 1993. Caiu 2,2 pontos percentuais no governo FHC, 6,6 pontos percentuais no governo Lula e 1,2 ponto percentual no governo Dilma (dados só cobrem o período até 2014). A afirmação é, portanto, falsa.

Fonte: Ipea

O desemprego caiu para abaixo de 6% da população economicamente ativa.”

Também não é verdade: no ano de 2014, em que se registrou o menor nível da série da PNAD, o desemprego atingiu 6,9%. Em termos mensais, o nível mais baixo foi 6,7% no final de 2013 e início de 2014. Isto dito, o desemprego foi a 13% ao final de 2016, quase o dobro do registrado imediatamente antes da recessão, exatamente no segundo governo Dilma. Vale dizer, não apenas o dado é falso, como o ministro omite a forte elevação do desemprego ainda no governo do seu partido.

Fonte: IBGE (dessazonalizado pelo autor)

É uma herança maldita que fará com que o PIB de 2022 retroceda para os valores de 2013.”

Omite que em 2015 o PIB já era inferior ao observado em 2012. Nos 12 meses encerrados em junho de 2016, ainda sob o governo Dilma, o PIB era menor que o observado em 2011! Por mais que o atual governo insista em políticas equivocadas, nesta base de comparação a “herança maldita” da Nova Matriz consegue ser ainda pior.

Fonte: IBGE

No conjunto da obra, é difícil deixar de notar o esforço extraordinário para fingir que a recessão de 2014-2016 não existiu (outra vertente tenta atribuir a culpa até a fenômenos paranormais, mas não tratarei deste assunto hoje).

A crise de 2014-16, uma das piores recessões (se não a pior) da história recente do Brasil ocorreu sob o governo petista e como resultado das políticas adotadas principalmente após 2008.

Não falamos aqui apenas da supra referida piora das contas públicas, que acabou levando à depreciação do real, aumento da inflação e das taxas de juros, mas também de bilhões de reais enterrados em “campeões nacionais” e investimentos duvidosos (dentre eles estádios de futebol), que fizeram a fortuna de alguns poucos, deixando para a sociedade os custos do seu fracasso. Corrupção e baixa produtividade são fenômenos intimamente interligados, cuja consequência mais imediata é o crescimento econômico medíocre.

Se alguém ainda nutre a ilusão que um possível retorno deste grupo ao comando do país irá marcar a retomada da política econômica do primeiro mandato de Lula, sugiro que reflita a respeito. Neste sentido, o artigo do ex-ministro, ainda que de forma provavelmente involuntária, é bastante revelador acerca do que nos espera caso este cenário se materialize.



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

INEDITO no BRASIL: CRIMINOSOS foram Ministros da Fazenda - Notícia e Paulo Roberto de Almeida

Primeiro vejam esta notícia que recuperei do blog do Antagonista. Depois leiam o meu comentário abaixo.

MANTEGA VIRA RÉU NA LAVA JATO


Sergio Moro acolheu a denúncia contra Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos petistas. Segundo a acusação do MPF, Mantega editou a “MP da crise” para favorecer a Odebrecht em troca de propina de R$ 50 milhões. Esse valor teria ficado à disposição dele na “conta geral de propinas do PT” mantida pela empreiteira.
É a primeira vez que o ex-ministro da Fazenda se torna réu na Lava Jato. Moro rejeitou a mesma denúncia contra Antonio Palocci, preso desde 2016. 

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Demorou, mas chegou, embora pelo mínimo e apenas parcialmente. A população brasileira precisa tomar consciência de que, pela PRIMEIRA VEZ na história do Brasil, ao contrário de toda a história anterior, com ministros da Fazenda mais ou menos competentes, ou declaradamente incompetentes, mas normais, digamos assim, nós tivemos, durante todo o período lulopetista, dois ministros que se sucederam, Palocci e Mantega, justamente, que USARAM A MÁQUINA DO ESTADO, não para desenvolver e implementar medidas universais, impessoais, e puramente administrativas, mas, PRESTEM ATENÇÃO, medidas governamentais – leis, decretos, portarias, medidas provisórias, regulamentos, disposições administrativas, enfim, toda a panóplia da burocracia – voltadas PRECIPUAMENTE para o ASSALTO AO ESTADO, ou seja, práticas CRIMINOSAS, confirmando que eles não eram ministros da Fazenda do BRASIL, mas ministros das finanças do PARTIDO, ou seja, fazendo tudo aquilo, cuidadosamente planejado, cientificamente preparado, especificamente voltado para dar vantagens, recursos públicos, desgravações tributárias, tarifas protetoras, financiamentos do BNDES, subsídios setoriais (no caso, por ramo, ou até por unidade empresarial), TODOS DIRECIONADOS a carrear milhões, centenas de milhões, quiçás BILHÕES, para os capitalistas promíscuos dispostos a fazer "DOAÇÕES LEGAIS" e PROPINAS ILEGAIS, em cash ou em depósitos no Brasil e no exterior, no sentido de alimentar os cofres do partido criminoso e as contas dos mafiosos lulopetistas. ISTO É INÉDITO NO BRASIL, e confirma que a criminalidade lulopetista não pode ser colocada no mesmo nível da corrupção "normal" dos demais políticos e partidos, do tipo: "Ah, todo mundo faz...". NÃO FOI ASSIM: o PT e seus líderes criminosos se estabeleceram no poder para ROUBAR, o máximo possível.
Digo mais: É IMPOSSÍVEL compreender a história do Brasil, de 2003 a 2016, se não admitirmos, se não assumirmos, que o país foi governado, nesse período, por uma ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA cientificamente planejada. 
Não temos PROVAS DOCUMENTAIS da IMENSA ROUBALHEIRA perpetrada pela ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA travestida de partido político, mas se os jornalistas investigativos analisarem CADA UMA das medidas tomadas pelos dois ministros das finanças do PT poderão constatar que a maior parte delas estava destinada a ROUBAR, pelo Partido e para seus líderes, de forma planejada, deliberada, cientificamente calculada.  O que temos, e eu afirmo sem medo de errar, que são COMPELLING EVIDENCES,  evidências aplastantes da atividade criminosas dos  dois ministros. QUE ELES SEJAM CONDENADOS A 300 ANOS DE CADEIA, e que suas fotos sejam retiradas da galeria de ministros do Ministério da Fazenda. 
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de agosto de 2018

sábado, 11 de agosto de 2018

A Grande Corrupcao lulopetista: 307 encontros entre Mantega e Odebrecht

Isso é apenas parte da história, uma pequena parte...
A Lava Jato ainda não apurou quantos encontros, abertos e furtivos (sobretudo estes últimos), teve Mantega com o "super-capitalista companheiro", o homem das empresas X, todas elas regiamente sustentadas por centenas de milhões generosamente repassadas por esse Banco de Grandes Bobos que é o BNDES. O dia em que a PF, ou o MPF, rastrearem as ligações e os encontros entre Mantega e Eike Batista, talvez o número se aproxime, ou talvez até supere, esses encontros entre o ministro da fazendona companheira e o grande capitalista promíscuo, o homem da empresa geneticamente corrupta que deve mudar de nome doravante, com toda probabilidade. A PF também pode solicitar as planilhas de voo do jatinho do Mister X, e as vezes em que Mister Manteiga viajou de "carona", para o Rio ou SP. Pena que eles não conseguiram pegar parte das verbas generosas repassadas em formato cash de X a M, em $$ de várias denominações, à escolha do cliente.
Os brasileiros ainda não se deram conta de que os dois ÚNICOS ministros das finanças pessoais do PT, por acaso também do Brasil, foram apparatchiks especialmente dedicados às doações legais e ILEGAIS dos capitalistas achacados em favor da maior organização criminosa que já governou o Brasil. Pela PRIMEIRA VEZ na história do Brasil, tivemos não apenas ministros da Fazenda, mas súditos do grande chefão mafioso que colocaram toda a máquina do Estado, naquela jurisdição, a serviço do projeto de poder do PT. 
Estou apenas refletindo o que leio na imprensa diária, com base na minha percepção daquilo que os americanos chamam de "compelling evidences", que deveria garantir a todos os protagonistas pelo menos 300 anos de cadeia.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 11 de agosto de 2018


Lava Jato rastreia 307 encontros de Mantega com Marcelo Odebrecht para aprovação de MPs


Por Claudio Dantas

Na denúncia contra Guido Mantega, o MPF anexa relatório com a identificação de 307 possíveis encontros de Marcelo Odebrecht com o então ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, entre os anos de 2011 e 2015.
A partir do cruzamento das ERBs (antenas de celular) utilizadas por Marcelo e Mantega, a Lava Jato verificou que ambos estiveram nos mesmos lugares ao mesmo tempo.
“A elevada quantidade de encontros destoa completamente de uma relação sadia e proba entre um ministro da Fazenda e um alto executivo de um grupo empresarial”, escrevem os procuradores.
A força-tarefa também identificou 118 ligações telefônicas do celular de Marcelo Odebrecht para assessores de Guido Mantega, e mais 129 chamadas entre as secretárias de ambos. Segundo o MPF, o objetivo dos contatos era viabilizar a aprovação das MPs 470 e 472, de interesse da Odebecht.





sexta-feira, 10 de outubro de 2014

UFC economico: Brazil’s election: in face-off with Mantega, Fraga disappoints (FT)

Brazil’s election: in face-off with Mantega, Fraga disappointsSamantha Pearson
The Financial Times, 10/10/2014

It was set to be one of the biggest massacres of Brazil’s election. On Thursday night Guido Mantega, finance minister, went head-to-head with Armínio Fraga, the former central banker who will take his job if Aécio Neves wins the presidency this month.
Mantega certainly has some explaining to do. The economy is expected to grow a measly 0.2 per cent this year, according to Brazil’s latest central bank survey. That is less than much of the developed and developing world.
On top of that, 12-month inflation last month came in at 6.75 per cent – above the upper limit of the country’s tolerance band and far above the official target of 4.5 per cent.
So far, Mantega and the PT party have blamed this all on the global financial crisis…
In short, Mantega should have been an easy target.
Fraga certainly had the right arguments. The government needs to fix its economic model, combat inflation, raise investment, attract capital, build credibility and reduce unnecessary lending by the state development bank BNDES, he said. Furthermore, the global financial crisis was *five* years ago, he pointed out. All that is music to investors’ ears.
Even so, he struggled to get the upper hand on Thursday night. While Mantega spoke as a confident politician, drawing on populist and coherent (albeit somewhat flawed) narratives, Fraga largely responded with the cold pragmatism and technical details of a central banker.
As the Brazilian journalist Sérgio Augusto remarked on Twitter: “I had forgotten how bad Armínio Fraga is at interviews and debates. He comes across as everything he isn’t: insecure and false.”
After eight years of Mantega as Brazil’s finance minister, investors and business people may welcome a little cold pragmatism. However, it is not these people Fraga has to convince – the vast majority would have picked Fraga over Mantega anyway. Rather, Fraga and the PSDB party need to find a way to get the economic message across to the average Brazilian and to deconstruct the common belief that what is good for the markets is bad for the people and vice-versa.
After all, this is not just a cordial economic debate: it’s war – the final battle for control over the world’s second-biggest emerging market and the lives of more than 200m people.

sábado, 31 de agosto de 2013

Brasil: uma politica economica esquizofrenica - Rogerio Werneck, Rodrigo Constantino

Do blog do economista liberal Rodrigo Constantino:


30/08/2013
 às 15:27 \ EconomiaIntervencionismoLiberdade Econômica

O modelo equivocado tem mãe. Ou: O problema vem do andar de cima.

Muita gente torce para alguma indicação mais concreta de que o modelo econômico, visto por quase todos como equivocado, finalmente será alterado. Concessões mais amigáveis aos investidores, fim da contabilidade criativa e maior rigor no combate a inflação. Compram sonhos.
Não só nenhum dos principais nomes envolvidos na concepção do modelo foi rifado apesar dos fracassos, como é preciso constatar que a cabeça da Hidra está um andar acima. Guido Mantega e Luciano Coutinho, por exemplo, exercem sua influência na medíocre gestão da economia, sem dúvida. Só que não basta demiti-los – o que sequer foi feito, pois a crença no nacional-desenvolvimentismo está enraizada em quem dá as cartas.
É o que sustenta Rogério Werneck em sua coluna de hoje no GLOBO, “Um governo em apuros”. Ele diz:
A esta altura, qualquer esforço sério de restauração da credibilidade da política fiscal exigiria mudança da equipe econômica. Algo que o governo obviamente não está disposto a fazer. Não obstante o lamentável desempenho da economia e a extensão do descrédito da política fiscal, a presidente não parece ter intenção de fazer qualquer alteração maior na equipe econômica, seja na Fazenda, seja no Tesouro, seja no BNDES.
Isso sugere que o problema de falta de credibilidade da política econômica é de solução bem mais difícil do que em geral se pensa. É preciso levar mais a sério o que diz a presidente Dilma, quando se dá ao trabalho de esclarecer, com todas as letras, que, na verdade, a central de formulação e condução da política econômica está instalada no terceiro andar do Palácio do Planalto. Só não entende quem não quer.
Exato. Quem determina os rumos das políticas econômicas é a própria presidente. Ela que tem endossado os malabarismos todos, o grau assustador de intervencionismo estatal, o congelamento de preços, os subsídios do BNDES. A visão distorcida acerca do funcionamento da economia não é apenas do segundo escalão, que por lábia aguçada teria persuadido a chefona. É da própria chefe!
E agora, com apenas um dado de crescimento acima do esperado, sendo que todas as previsões já apontam para recuo no próximo trimestre, o governo voltou a vender euforia e ridicularizar os “pessimistas”. Já vimos o fundo do poço, diz Mantega, mais torcedor que qualquer coisa.
Com isso, o equívoco ganha sobrevida. A equipe que vem adotando tantas medidas erradas respira aliviada, aumentando o grau de tensão do mercado. Menos pressão para mudar o rumo. Mais problemas à frente. Tudo devidamente apoiado pela própria presidente Dilma.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Gustavo Franco, disfarcado de Mme Lagarde, humilha Guido Mantega: impagavel...

A resposta de Madame Lagarde


O Estado de S.Paulo, 04 de agosto de 2013

GUSTAVO H.B. FRANCO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, dirigiu uma carta à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em julho de 2013, solicitando uma revisão metodológica no cálculo da Dívida Bruta do Brasil. O organismo trabalha com um valor correspondente a 68% do PIB e as autoridades brasileiras reconhecem apenas 58,7%. Logo abaixo, num exercício inteiramente ficcional, imagina-se o teor de uma carta resposta, de caráter pessoal e confidencial.
"Washington, 2 de agosto de 2013
Mon cher Guido,
Demos boas gargalhadas com a sua mui amável carta trazendo o seu pedido para mudarmos a metodologia de apuração da Dívida Bruta brasileira, que, de qualquer jeito, se me permite a piada insolente, continua sendo uma bruta dívida por qualquer critério que possamos escolher. Esteja certo que vamos trabalhar o assunto da maneira mais conveniente para todos, pois, como você bem sabe, não há outra instituição multilateral neste mundo de Deus que melhor compreenda a necessidade de as autoridades jogarem para a torcida. Ademais, em condições normais, as queixas e os pedidos que aparecem são sempre malcriados, pois, como sabemos, somos uma organização que todos adoram detestar, aí incluídos os representantes que mandam para cá.
Sei bem que o amigo anda enfrentando críticas centradas nos dribles contábeis que vocês inventaram para enfeitar os números fiscais. Aqui nesta casa, como você já terá observado muitas vezes, todos somos admiradores do futebol arte, e nesse quesito vocês são os indisputáveis campeões mundiais, os artistas que todos querem ver em ação.
Pena que nos últimos anos, desde a Copa de 1994, tenha havido certa "germanização" dos assuntos fiscais e monetários contrariando a vocação brasileira para a criatividade. Nossos analistas apaixonados pelo futebol brasileiro vinham se deslocando para a cobertura dos jogos de Espanha, Itália, Portugal e Grécia, a fim de melhor exercitar o fascínio pela inovação. Felizmente, todavia, graças ao trabalho de vocês, esse longo inverno chegou ao fim. Desde os tempos do ministro Delfim, e daquelas inesquecíveis cartas de pura embromação, nós não víamos nada tão interessante. Dê os meus parabéns ao moço do Tesouro, ele tem um futuro brilhante pela frente, talvez em Wall Street. Só posso imaginar o que será capaz de fazer quando aprender sobre derivativos.
Deve ter sido ele o autor da minha passagem favorita de sua carta, quando você diz que os títulos do Tesouro na carteira do Banco Central "não têm natureza fiscal". Que achado! Dívida de natureza não fiscal seria como dinheiro de caráter não monetário. Ninguém do "staff" tinha ouvido nada parecido, e seguramente a novidade vai causar sensação na França, posso lhe garantir. Jean Baudrillard, caso estivesse vivo, escreveria certamente sobre isso, nada pode ser mais pós-moderno e consistente com sua semiótica do simulacro.
Veja, Guido, eu sou advogada, não sei nada sobre números e, por isso, talvez não seja mesmo capaz de apreciar como deveria o trabalho de vocês. Mas de contabilidade eu entendo uma coisa ou outra, pois bastam as quatro operações e saber que a obrigação de um é a riqueza de outro. Com esse pouquinho de conhecimento, consegui capturar a malícia utilizada em seu texto quando você afirma que os títulos do Tesouro que não estão "em poder do público" não devem estar na estatística de "dívida bruta". Está tudo dentro de casa, não é mesmo? O "staff" diz que é um tolo argumento de senso comum, como costumam ser as grandes falácias em economia, o que, para mim, soa como uma espécie de elogio a seu texto.
É claro que eles dizem um monte de outras coisas horríveis de vocês, esses caras são pagos para achar defeito nas coisas. A maior parte dessas mesquinharias é muito difícil para uma advogada, mas o pedaço que eu entendi, eu não consigo contestar e, por isso, preciso que você me ajude. Eles dizem que topam excluir da estatística da dívida bruta qualquer coisa que você, Guido, possa cancelar sem que isso traga qualquer implicação patrimonial para ninguém, como títulos em tesouraria. Mas esse não é bem o seu caso, certo? Se você cancelar esses títulos que você quer tirar da conta, você vai quebrar o Banco Central, não? Afinal, são cerca de R$ 400 bilhões em títulos a cancelar no ativo e o patrimônio do BCB é de R$ 21,5 bilhões. Muito feio, não?
Mas quem se importa com o que diz o "staff". De minha parte, fico curiosa sobre o assunto, como dizem os advogados, "por amor ao debate". Importante mesmo é o que vai se passar diante dos olhos do distinto público, a saber: vou lhe escrever uma carta com felicitações pelos progressos alcançados no terreno fiscal, com uma reserva ou outra para não ficar adulatório, e vou acrescentar que, mesmo reconhecendo os méritos (vou precisar muito cuidado com a linguagem aqui) de seu pedido, não podemos mudar nada de natureza metodológica que não seja aplicável para todo o mundo, inclusive para aqueles alemães insuportáveis. Você sabe como é difícil conversar desses assuntos com esse povo. J'adore quando você implica com eles e com os americanos! Nisso você me faz lembrar o finado Jacques Rueff, ele não era do seu tempo e foi uma lenda na França. É invenção dele a expressão "privilégio exorbitante", para provocar os americanos (e que virou título de um livro recente do Barry Eichengreen, que trabalhou aqui conosco), mais ou menos como você fez com a sua já consagrada "guerra cambial".
Em ambos os casos, nós bem sabemos que se trata apenas de uma tola frase de efeito para consumo da imprensa não especializada e dos círculos alternativos, e Rueff não tinha nada que ver com você: era um liberal de corte austríaco, seguidor de Von Mises, apóstolo do padrão ouro e membro da Academia Francesa, onde ocupou a cadeira de Jean Cocteau. Por isso, talvez o marechal De Gaulle o chamasse de "meu poeta das finanças".
Seu texto não tem lá muita poesia, mas eu entendi bem o seu propósito. Eu escrevo a minha carta, você continua a fazer a conta do jeito que você achar mais conveniente, e a vida segue, cada um no seu quadrado.
Transmita meus cumprimentos à sua equipe, aos quais se junta o nosso querido DSK que apenas alerta para os riscos do excesso de maquiagem.
Um último ponto, já ia me esquecendo: obrigada pela sua rápida intervenção no affaire do pacote grego. Era só o que faltava, não é? Nunca sentimos tantas saudades do finado Alexandre Kafka, um homem gentil e sensato. Sei que vocês querem esse rapaz longe daí, mas você não acha que já sofremos o suficiente?
Cordialmente,
Christine."

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ultimas noticias: Ministro da Fazenda renuncia...

Recebido de Brasília, há poucos minutos:


Ministro da Fazenda
Gabinete
1o. de Abril de 2013

Excelentíssima Senhora Presidenta da
República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Palácio do Planalto
Brasília, DF
Brasil

Senhora Presidenta,
De conformidade com entendimentos já antecipados a Vossa Excelência, e por razões de ordem eminentemente pessoal, venho apresentar, por meio desta carta, minha renúncia, em caráter irrevogável, ao cargo de Ministro de Estado da Fazenda, em que tão honrosamente fui confirmado, quando de sua posse, em 1o. de janeiro de 2011. Eu lhe sou pessoalmente grato por esse gesto de apreço e de reconhecimento por nossos trabalhos conjuntos, em prol do governo e do partido, nas últimas décadas.
Existem diversas razões para que minha colaboração com o governo de Vossa Excelência se encerre nesta conjuntura, mas creio que as seguintes constituem fatores importantes:
1.     A economia brasileira atravessa um período de redefinição de prioridades, a partir de um novo aprofundamento da crise na Europa e também de novas iniciativas de política econômica em nossos parceiros dos BRICS, em especial a China.
2.     A situação internacional, que tem reflexos na economia brasileira, exigirá novas medidas, da parte do governo, em defesa da atividade doméstica, e creio que Vossa Excelência se sentirá mais livre com a designação de um ministro que possa conceber e aplicar novos mecanismos de estímulo a setores que enfrentam dificuldades temporárias.
3.     A despeito dos esforços da área econômica do governo, sob a forma de redução de impostos e de novas concessões de créditos através dos bancos oficiais, a economia brasileira não tem reagido com o vigor necessário para enfrentar a conjuntura de crise.
4.     A situação do balanço de pagamentos começa a exibir sinais de preocupação, com a diminuição dos saldos comerciais e o aumento dos déficits em serviços, o que pode, eventualmente, agravar a lacuna nas transações correntes, gerando novos motivos de stress na frente cambial, o que também exigirá novas medidas nessa área.
5.     As pressões inflacionárias tem sido persistentes, a despeito dos esforços do governo no sentido de controlar os preços, o que aliás redundou em problemas de caixa para a Petrobras (e possivelmente para as companhias de eletricidade, a partir da redução de tarifas determinada por Vossa Excelência), o que também será necessário equacionar.

À margem desses fatores objetivos que se prendem à conjuntura – mas que podem exigir respostas estruturais, que exigirão políticas de longo prazo, para as quais admito que um novo responsável pela área econômica possa ser necessário com vistas a dar novo impulso à economia – minha saída tem a ver, como adiantado, com contingências eminentemente pessoais, sobre as quais Vossa Excelência está perfeitamente bem informada.

Muito respeitosamente,

Guido Mantega
Ministro de Estado da Fazenda

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O dragao da maldade e os guerreiros atrapalhados...

Na fábula, na legenda, ou na história (cada um aceite como quiser), São Jorge, de lança em punho, matava valentemente o dragão, que ameaçava comer a donzela mandada para aplacar a sua fome (ou seja lá o que for...). 
Na figuração econômica, sobretudo brasileira, o dragão ficou simbolizando a inflação. Num passado não muito distante (digamos, 18 anos, mais ou menos), o vice-presidente guindado à presidência por um desses golpes do acaso (corrupção), que hoje pareceriam contos da Carochinha, achou que era São Jorge, mas mesmo atrapalhado, permitiu que os bravos guerreiros comandados pelo então ministro da Fazenda FHC (mas o mérito cabe todo à sua equipe de economistas, não a ele, sequer ao presidente, que não permitiu um ajuste real nas contas públicas), dessem um golpe certeiro na inflação. Ele foi dado, e durante o restante dos anos 1990 ela permaneceu em patamares civilizados, chegando mesmo, antes da crise de 1998, a meros 2% (se estou bem lembrado), patamar jamais alcançado antes ou depois. Se ela subiu em 2002 -- e por isso deu vazão à acusação desonesta de "herança maldita" por um provocador de inflação -- foi justamente porque o partido de oposição, vulgo dos trabalhadores, sempre sacrificou os trabalhadores, no seu pacto perverso com a CUT dos patrões, a FIESP, todos engajados em produzir inflação, ao anunciar planos mirabolantes de "mudar tudo isso que está aí". Ainda bem que não o fizeram, e a inflação, depois de recrudescer na campanha eleitoral, voltou a patamares civilizados com um presidente de BC que acreditava no tripé macroeconômico definido em 1999. Isso é história.
Mas, o governo dos companheiros perdeu a mão quando a atual presidente ascendeu à Casa Civil, bloqueando um ajuste mais forte, um superávit primário mais robusto, e dando início ao período de gastança que abalaria um dos pés do tripé, o equilíbrio fiscal. O segundo tripé, as metas da inflação, começou a ser desacreditado quando o atual ministro da Fazenda, ainda no governo anterior, se opôs ao rebaixamento da meta, num momento em que era possível fazê-lo, pois a de 2005 tinha ficado até abaixo da meta. Mas desde 2005 que não apenas a meta é mantida em 4,5% (mais de três vezes a média mundial) mas também o espaço de variação é muito grande, de 2%, exagerados. Finalmente, o terceiro pé, câmbio, vem sendo desacreditado desde muito tempo pelo ministro trapalhão (escolha qualquer um deles) que diz que o câmbio flutua, desde que seja pertinho de 2 reais por dólar.
Em qualquer país sério, executor monetário que prometesse cumprir metas e não cumprisse, seria chamado ao parlamento, e eventualmente demitido. O presidente do BC prometeu, em 2011, que entregaria a inflação dentro da meta em 2012. Não apenas não o fez, como diz que não sabe quando o fará.
Por isso a população está legitimamente preocupada, como indicam os dois artigos a seguir.
Eu já estou ao abrigo da inflação brasileira (não tanto, pois ainda pago contas no Brasil, para familiares), mas me preocupa que a estabilização monetária, tão duramente conquistada em 1994, e o tripé macroeconômico, tão dramaticamente introduzido em 1999 seja tão canhestramente sabotados, aparentemente de forma consciente, por gente que não sabe o que está destruindo.
Paulo Roberto de Almeida 
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Augusto Nunes, 09/02/2013
às 8:31 \ Direto ao Ponto

Nocauteada pelo Plano Real, a inflação avisou de novo que está querendo acordar

Dragão adormecido (Imagem: Gunilla Riddare)
Milhões de brasileiros sensatos estão compreensivelmente inquietos com o monstro adormecido há mais de 18 anos (Imagem: Gunilla Riddare)
Nocauteado pelo Plano Real em 1995, o dragão que atormentou o Brasil por quase meio século voltou a entreabrir os olhos neste janeiro: o índice de 0,86% é o maior dos últimos dez anos ─ e elevou para 6,15% a taxa anual. Os números seriam ainda mais perturbadores se os prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes não tivessem adiado, a pedido de Dilma Rousseff, o aumento das tarifas do transporte coletivo em São Paulo e no Rio. Mas os governantes do Brasil Maravilha seguem contemplando o horizonte com a expressão beatífica de um Gilberto Carvalho quando vê Lula a menos de cinco metros de diostância. A coisa vai bem demais, recitam as flores da inépcia. Se melhorar, estraga.
Na quinta-feira, Dilma Rousseff mandou a inflação passear para encontrar-se a sós com o senador amazonense Alfredo Nascimento. Demitido do Ministério dos Transportes depois de pilhado pela imprensa em cenas de corrupção explícita, Nascimento apareceu no Planalto caprichando na pose de presidente do PR. Na sexta-feira foi a vez de Carlos Lupi, apeado do Ministério do Trabalho também por ter aterrissado ruidosamente no noticiário político-policial. No papel de comandante do PDT, Lupi enfim reviu a chefe que lhe inspirou espalhafatosas declarações de amor.
“A presidenta quis trocar ideias com nossos aliados”, fantasiou Gilberto Carvalho. Quem passou a vida trocando favores não tem ideias para trocar. Nas duas audiências, só se tratou do contrato de aluguel que deverá garantir o apoio do PR e do PDT à candidatura de Dilma a um segundo mandato. A trinca não perdeu tempo com assuntos desagradáveis ─ as razões do despejo da dupla, por exemplo. Ninguém infiltrou na pauta temas incômodos ─ a inflação de janeiro, por exemplo. Dilma, Nascimento e Lupi examinaram exclusivamente questões ligadas à eleição de 2014. O passado e o presente ficaram fora da pauta que só tratou do futuro.
No lugar da presidente ocupada com dois casos de polícia, irrompeu no picadeiro o inevitável Guido Mantega. O que tinha a dizer sobre o índice divulgado pelo IBGE? “A projeção é de que janeiro foi o pico”, reincidiu a usina de vigarices. Depois de atravessar 2012 enxergando um pibão até ser atropelado pelo pibinho, depois de recorrer a trapaças de envergonhar qualquer 171 para esconder crateras nas contas públicas, Mantega recomeçou a sequência de previsões cretinas. A tapeação não pode parar.
“Eu não tenho projeção até dezembro, mas nos próximos meses a inflação vai para baixo”, mentiu outra vez. Até o aprendiz de ilusionista disfarçado de ministro da Fazenda sabe que a taxa de janeiro seria mais alarmante se o o preço da gasolina subisse no começo do ano, como queria Graça Foster, presidente da Petrobras. O próximo índice já refletirá os efeitos desse aumento.
Ainda no primeiro semestre, queiram ou não os prefeitos companheiros, paulistanos e cariocas estarão pagando mais caro para embarcar em ônibus, trens urbanos e metrôs. O crescimento da demanda (estimulado pelo governo) e a redução da oferta (decorrente da retração da atividade industrial) ameaçam reprisar a parceria historicamente perversa. E a curva ascendente dos preços dos alimentos começa a causar estragos sobretudo nos bolsos da classe média (velha ou nova).
Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, milhões de brasileiros sensatos estão compreensivelmente inquietos com os sinais emitidos pelo monstro adormecido há mais de 18 anos. Os encarregados de impedir que desperte não perdem o sono por tão pouco. Dilma e Mantega estão brincando com o perigo. Podem acabar engolidos pelo bicho que acordaram.
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Inflação preocupante

09 de fevereiro de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Com os preços em disparada, o ano começou mal para as famílias brasileiras e com sinais agourentos para o governo da presidente Dilma Rousseff. Nenhum outro país emergente vem enfrentando, como o Brasil, a combinação de custo de vida em alta e produção estagnada, uma das grandes marcas da economia nacional nos últimos dois anos. As perspectivas de expansão da atividade parecem melhores em 2013 do que no biênio anterior, mas as pressões inflacionárias continuam preocupantes, embora as autoridades apostem, pelo menos oficialmente, numa melhora gradual do quadro. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 0,79% em dezembro para 0,86% em janeiro e atingiu a maior variação mensal desde abril de 2005, segundo informou na quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta acumulada em 12 meses chegou a 6,15% e continuou a distanciar-se da meta fixada pelas autoridades de 4,5%. Não há ainda sinal, no entanto, de uma política anti-inflacionária mais firme que a adotada a partir de agosto de 2011, quando o Banco Central (BC) passou a reduzir os juros.
A hipótese de um aumento de juros já foi considerada nos mercados, depois de o presidente do BC, Alexandre Tombini, descrever o quadro atual como desconfortável, mas ainda é tratada como improvável. Os dirigentes do BC reafirmaram no fim de janeiro, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a expectativa de uma acomodação dos preços ao longo de 2013. Reiteraram também a disposição de manter a atual política por um "período suficientemente prolongado".
Esse é um jogo de alto risco. A experiência já desmentiu no ano passado algumas das previsões mais importantes do Copom. A inflação, segundo o pessoal do BC, vinha sendo impulsionada principalmente pelos preços internacionais dos produtos agrícolas. A crise global derrubaria esses preços. Oscilaram, de fato, mas voltaram a subir. O governo cumpriria a meta fiscal e isso também ajudaria a conter as pressões inflacionárias. Também essa projeção foi errada. No fim do ano, o Ministério da Fazenda recorreu a uma porção de truques para maquiar o resultado das contas públicas. Além de tudo, outros fatores, além dos preços internacionais das commodities, alimentaram fortemente a inflação. Os fatos, portando, desmentiram tanto o diagnóstico quanto os prognósticos oficiais.
Os fatos continuam desmentindo a avaliação oficial dos técnicos e dirigentes do BC. A alta dos preços das matérias-primas é apenas um dos componentes do quadro. Os números mostram um cenário mais complexo e um problema bem mais grave. Em dezembro, aumentos de preços foram registrados em 70% dos itens componentes do IPCA. Bastaria isso para desmentir a tese de uma inflação associada a uma classe única de fatores. Em janeiro esse indicador de difusão chegou a 75%, denunciando um alastramento ainda mais amplo.
É fácil entender esse quadro quando se levam em conta o alto nível de emprego, a expansão da massa de rendimentos, o rápido aumento do crédito e a expansão do gasto público, apesar das dificuldades orçamentárias em fase de estagnação econômica. Curiosamente, o próprio Copom, em sua última ata, menciona "a maior dispersão" dos aumentos de preços ao consumidor, a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho", as perspectivas de uma demanda interna ainda robusta e, afinal, a "posição expansionista das contas públicas".
Alguns desses fatores haviam sido apontados em documentos anteriores do Copom. No entanto, as decisões sobre a política monetária foram tomadas, ao longo do ano, como se esses problemas devessem esgotar-se nos meses seguintes, sem deixar marcas no sistema de preços. Esse otimismo, até agora contrariado pelos fatos, parece manter-se. O governo continua confiando em medidas tópicas, destinadas a conter este ou aquele preço (da eletricidade, por exemplo), como remédios contra a inflação. Que um governo com inclinações populistas faça isso é até compreensível. Chocante, mesmo, é a passividade do BC.