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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ipea: relembrando o desastre (produtividade do setor publico)

Este o artigo relativo aos comentários feitos dois posts abaixo, sobre o estudo estapafúrdio em torno da produtividade do setor público.
Neste link: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1395
Paulo Roberto de Almeida
Setor público mais produtivo do que o setor privado?
Mises Brasil, quinta-feira, 30 de agosto de 2012

 

IPEA.jpgO comunicado do Ipea "Produtividade na Administração Pública Brasileira: Trajetória Recente" foi publicado em 2009, e gerou alguma revolta na época. Bem menos do que merecia. Por algum motivo, reapareceu nas redes sociais nestes últimos dias, gerando surpresa e compartilhamentos. Dois de seus resultados, de fato, causam espanto: no Brasil, o setor público seria mais produtivo do que o setor privado; e, dentro do setor público, os estados que promoveram choques de gestão tiveram pior aumento, ou até queda, de produtividade entre 1995 e 2006. Aos interessados, o estudo está aqui.

Alguns comentadores econômicos logo viram que tinha algo estranho. Roraima com crescimento vertiginoso de produtividade? Estados mais responsáveis com resultado pífio? Governo mais produtivo que empresas? Miriam Leitão e outros, ainda em 2009, apontaram os equívocos do estudo, mas de uma forma, digamos, discreta. Limitaram-se, em geral, a dizer que "não se compara a produtividade do setor público com a do setor privado". Isso é verdade — veremos por que mais a frente —, mas não diz tudo o que precisaria ser dito. Aproveitando o renascimento do estudo na rede, pretendo mostrar como suas falhas e omissões são tão graves que seria mais justo qualificá-lo de embuste.
Medindo produtividade
Produtividade é o quanto se consegue produzir com determinada quantidade de recursos. Nas palavras do estudo, que até aqui são verdadeiras:
"De maneira geral, a produtividade reflete a relação da produção de bens e serviços por unidade de tempo com o conjunto de fatores engajados nessa mesma produção, como máquinas, trabalhadores, matéria prima, entre outros.
Noutras palavras, o grau de eficiência no uso dos recursos produtivos termina sendo medido pela produtividade [...]."
Como medi-la? É uma conta que exigiria comparar coisas muito diferentes: utilizo plástico, máquinas mão-de-obra, energia elétrica, água, tempo; produzo um brinquedo. Outra empresa, com os mesmos insumos produz um brinquedo diferente; outra ainda produz um banquinho de bar. E uma quarta empresa usa insumos completamente diferente para me entregar um lanche no delivery. O que permite comparar coisas tão diferentes são os preços, que indicam, ademais, o quanto as pessoas valorizam os bens em questão. Se a razão entre o preço do produto final e o preço dos insumos é superior a 1, a empresa é produtiva, gera valor, tem lucro. Se a razão é inferior a 1, a empresa é improdutiva, destrói valor, tem prejuízo. Quanto maior a razão entre receita e despesa do processo de produção, mais produtiva é a empresa.
O setor público tem um grande problema na hora de medir sua produtividade: seu produto, os bens e serviços produzidos pelo governo, não tem preço de mercado. O estado é deficitário; precisa de impostos, dívida e criação de moeda para se financiar. Como então, comparar sua produtividade com a do setor privado? Se fôssemos usar o critério de criação de valor dado acima, o estado invariavelmente apareceria como um destruidor de valor. Ainda assim, costuma-se aceitar que os serviços prestados pelo Estado têm algum valor; e por isso a preocupação em encontrar uma maneira de medi-lo.
Como o Ipea lida com essa dificuldade? Usando uma metodologia aprovada pela ONU e padrão nas contas públicas: em vez de se medir o valor do produto, isto é, seu preço de mercado, mede-se seu custo de produção. Já que não temos receita para medir, medimos as despesas. Se um dado serviço provido pelo estado custou X (e nisso entram salários, manutenção do prédio, material do escritório, etc.), então ele vale X. É essa, inclusive, a metodologia usada para calcular a participação do estado no PIB.
Mas — e aqui mora o problema — se o valor do produto estatal é seu custo de produção, o que entraria como denominador para calcular a produtividade? Afinal, a produtividade no mercado é preço do produto/custo. A produtividade do governo, por essa lógica de igualar o valor do produto ao custo de produção, ficariacusto/custo. Como sair desse impasse? O Ipea, cuja engenhosidade nunca deixa de surpreender, encontrou uma saída criativa ao ressuscitar um princípio derivado do bom e velho marxismo: medição da quantidade de trabalho. Em vez de contabilizar as despesas da produção, conta-se o número de empregados. A escolha é tratada como uma opção entre várias possibilidades:
"A medida de dimensionamento da produtividade em si depende do enfoque prévio adotado, ou seja, a produtividade total dos fatores (capital e trabalho), a produtividade do capital (produção por unidade de capital investido), a produtividade do trabalho (produção por unidade de trabalho). Por isso, a aferição da produtividade numa economia não se mostra um fenômeno trivial [...]."
O que o estudo não diz é que o "enfoque prévio" por ele adotado não serve para nada. Vejam só: a grande vantagem de se trabalhar com valores em dinheiro é que isso permite a comparação de coisas muito diferentes. Como já mencionado, um banquinho de bar e um serviço de delivery, coisas completamente díspares, podem ser quantificadas e comparadas por meio de seus preços. As variáveis "fatores totais" ou "capital" são variáveis expressas em termos monetários. O "trabalho" também poderia ser assim expresso: basta pegar o valor da remuneração dos trabalhadores. Mas o estudo é explícito em utilizar a variável "unidade de trabalho", o que significará, na prática "a força de trabalho ocupada" medida pelo PNAD.

Enfoque fora de foco


Primeiro ponto: o trabalho não é o único fator produtivo: e todo o capital físico? Por que o Ipea limitou sua análise? Só posso supor que a exclusão foi feita porque, se não fosse, a análise seria impossível. Temos o dado de quantos indivíduos estão empregados; mas e a conta de quantos prédios, lâmpadas, aparelhos de ar condicionado etc. existem pelo país a fora? A escolha pelas variáveis físicas (trabalhadores e objetos) em vez de seus valores monetários leva a esse tipo de dificuldade. Para facilitar sua vida, então, o Ipea preferiu se ater aos trabalhadores, à "força de trabalho ocupada", mesmo sabendo perfeitamente que isso já compromete largamente sua análise.
Embora usemos uma única expressão — força de trabalho — para designar a variável, ela abarca coisas muito heterogêneas. Como comparar o trabalho de um faxineiro ao de uma CEO? O valor da remuneração revela uma diferença muito relevante entre eles. A mera contagem dos trabalhadores empregados reduz ambos a unidades indiferentes. Trabalhadores com produtividade muito diferente são igualados. Para se medir a produtividade, portanto, o número de trabalhadores, por si só, é conceitualmente inútil (a não ser que se definisse muito precisamente um tipo de trabalho que não admitisse variações, como "martelar 1000 pregos em uma dia" — o que não é o caso aqui).
O número de empregados não quer dizer rigorosamente nada para a produtividade. Se uma empresa, para produzir $ 1.000, contrata dois funcionários ao salário $ 200 (e supondo que este seja seu único custo), ela tem lucro de $ 600; é produtiva! Por outro lado, uma outra empresa que, para produzir os mesmos $ 1.000 contrata um único funcionário ao salário de $ 950, tem um lucro bem menor, de apenas $ 50. Ou seja, ela é muito menos produtiva que a primeira. Pela conta do Ipea, contudo, ela seria considerada como duas vezes mais produtiva.
Sigamos em frente, e vejamos a qual resultado esses dados nos levarão. O cálculo por trás dos belos gráficos da pesquisa do Ipea é simples. Assim se calcula produtividade do setor privado: valor de mercado dos bens e serviços / número de trabalhadores do setor privado. Do setor público: custo das operações do setor público / número de trabalhadores do setor público. Agora atentem para o detalhe mais grave, um verdadeiro requinte de perversidade dessa "metodologia": os salários e benefícios, isto é, tudo aquilo que o empregador desembolsa para manter o "trabalhador do setor público", é parte do "custo das operações do setor público"; com efeito, é sua parte mais significativa. Ou seja: quanto maiores forem os salários e os benefícios dos funcionários públicos, maior será a "produtividade" do setor público.
O alarde desonesto dos resultados
Reflita alguns segundos sobre esse resultado. Para o Ipea, que é supostamente o instituto mais respeitável de pesquisa econômica do Brasil, um funcionário público ganhar aumento de salário já constitui, por si só, um aumento da produtividade do governo. No setor privado, ocorre exatamente o contrário: se um funcionário de uma empresa ganha aumento e todo o resto fica constante, a empresa se torna menos produtiva. Afinal, aumentou seu custo de produção e o valor de seu produto permaneceu igual.
Tendo isso em mente, como justificar a decisão dos pesquisadores do Ipea de colocar em um mesmo gráfico a variação da tal medida de produtividade do setor público e a do setor privado? A segunda mede, mal e mal, a produtividade do setor privado por trabalhador. A primeira mede, sem mais nem menos, o custo do funcionário público, e não o valor por ele gerado. No processo de mercado, a tendência é que o custo do trabalhador sempre se aproxime do valor por ele criado. No setor público não: o salário é determinado, como bem sabemos, por negociatas e reivindicações políticas que nada têm a ver com a oferta e demanda dos serviços ofertados pelo estado.
O que ninguém disse, por desatenção ou timidez, mas que está absolutamente claro, é que a medida de produtividade do setor público usada pelo Ipea é, na verdade, uma medida da ineficiência do setor público. O governo mais produtivo, nessa definição, é aquele que gasta proporcionalmente mais. Quanto mais benefícios, quanto mais aumentos, quanto mais gastos desnecessários em geral, mais "produtivo". Dá para levar a sério?
O estudo do Ipea compara apenas a trajetória da produtividade, mostrando como a produtividade do setor público aumentou mais do que a do setor privado. O presidente do Ipea na época, Márcio Pochmann, foi muito além disso na divulgação dos resultados à imprensa. Citado pela Carta Maior, afirmou que "em todos os anos pesquisados, a produtividade da administração pública foi maior do que a registrada no setor privado. E essa diferença foi sempre superior a 35%. [...] Há muita ideologia e poucos dados nas argumentações de que o Estado é improdutivo, e os números mostram isso." Explicitando as definições da pesquisa, a fala de Pochmann diria o seguinte: "no setor privado, cada trabalhador cria $ 100 de valor; no setor público, cada funcionário custa $ 135 aos cofres públicos. Portanto, o setor público é 35% mais produtivo". Agora que sabemos o que significam os cálculos de produtividade a que Pochmann se referia, como encarar tal declaração feita à mídia? Seria possível caracterizá-la como intelectualmente honesta?
Os problemas não param aí. A "conclusão" de que os governos de estados que fizeram "choque de gestão" (isto é, cortaram gastos desnecessários em suas operações, algo sempre benéfico) tiveram piores ganhos de produtividade, longe de ser uma descoberta empírica como foi alardeado, é um resultado trivial dado pela própria construção da variável. Ao cortar gastos, o estado diminui a relação entre gastos e número de funcionários (supondo que seu corte de gastos envolva relativamente pouco corte de funcionários, o que é razoável de se supor dada a dificuldade de se demitir um funcionário público). Não era preciso coleta de dados para concluir essa obviedade matemática.
A "produtividade" do Ipea
Não é de hoje que o Ipea goza de pouca credibilidade. Embora ainda haja gente séria dentro dele, há anos que sua especialidade deixou de ser medir a realidade ou fazer previsões. É claro que um instituto austríaco como o IMB pode — e deve — questionar a abordagem empirista que o Ipea sempre teve, mesmo em seus melhores dias; mas essa divergência se dá no plano da discussão científica. Pesquisadores e cientistas igualmente sérios podem ter visões divergentes de como conduzir a ciência. O Ipea dos últimos anos, por outro lado, abandonou a seriedade científica e tem se dedicado cada vez mais a fazer propaganda vulgar do mais puro estatismo. Tudo com dinheiro de impostos, claro. De um estudo como o aqui analisado, não cabe divergir; cabe desmontar e acusar o embuste.
É notório que os gastos com esse questionável instituto, que saem do nosso bolso, não param de subir, chegando a mais de R$ 300 milhões anuais. Para que tanta verba? Acho que agora, finalmente, entendemos o motivo: pela definição do próprio Ipea, gastar mais dinheiro já é, por si só, aumento de produtividade. Todos os que prezam a ciência econômica podem apenas torcer para que a chegada do novo presidente, Marcelo Neri, mude os rumos da instituição

Joel Pinheiro da Fonseca é mestrando em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta e escreve no blog Ad Hominem. 

sábado, 23 de junho de 2012

Ipea: uma triste historia a caminho da decadencia institucional

Seria excelente se um órgão de pesquisa aplicada fizesse pesquisa aplicada, com base no mérito individual dos pesquisadores, e com base em rigorosa aferição da qualidade dessas pesquisas por avaliadores independentes, não vinculados à instituição.
Seria excelente se um órgão de pesquisa aplicada, no Brasil, funcionasse como o NBER americano, o National Bureau of Economic Research, que funciona com muito poucos funcionários permanentes, tem uma verba enxutíssima de funcionamento, e no entanto produz trabalhos estupendos, que só são divulgados depois de intenso, extenso, profundo e implacável processo de avaliação (blind-review) por pares independentes e autônomos, e depois de uma discussão aberta, rigorosa, também implacável por outros economistas especializados no tema.
Assim trabalha o NBER.
O IPEA é patético perto disso: publica o que vem na cabeça do seu presidente maoista, e promove os assuntos que se alinham politicamente com a sua linha esclerosada de pensamento.
Convido os interessados a visitar a página do NBER, verificar o seu orçamento, constatar o seu modo de funcionamento, os seus poucos funcionários e depois comparar isso com o ineficiente IPEA da atualidade. É de chorar...
Enfim, no Brasil não existe esse tipo de rigor acadêmico-científico, o que joga o IPEA atual na vala da mediocridade, a despeito de todos os bons valores individuais ali existentes, tanto entre a turmos dos "velhos", como entre os "novos" (embora alguns dos diretores não deveriam ser convidados nem para gerenciar time de futebol da quarta divisão).
Abaixo as duas únicas matérias que detectei sobre o processo de sucessão na instituição, como sempre ocorre em se tratando de companheiros, esquizofrênico no mais alto grau.
Em todo caso, o selecionado indicado é um quadro competente e não é da "tchurma". Talvez por isso esteja sendo recebido com tanta raiva pelos companheiros, alguns aloprados "pesquisadores".
Paulo Roberto de Almeida 



Intelectuais do PT criticam economista indicado para o IPEA
Dilma e Mantega apoiam Marcelo Neri, que enfrenta resistência de desenvolvimentistas
NATUZA NERY, DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 23/06/2012

Indicado para dirigir o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o economista Marcelo Neri é hoje o nome preferido da presidente Dilma Rousseff ao posto, mas enfrenta resistência da ala desenvolvimentista do governo.
Sugerido ao cargo pelo ministro Moreira Franco (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Neri tem o aval do ministro Guido Mantega (Fazenda), egresso da Fundação Getúlio Vargas, tal como Neri.
Apesar do apoio robusto, a reação a ele cresce à medida que a definição do futuro presidente do órgão é protelada.
Economistas do Ipea tradicionalmente ligados ao PT torcem o nariz para a indicação, apesar de Neri, colunista da Folha, ter feito repetidos elogios à política de inclusão social de Lula.
Nos últimos dias, a economista Maria da Conceição Tavares, uma das gurus do pensamento petista, passou a liderar um movimento para emplacar outro titular.
Uma das alternativas é José Carlos Miranda, ex-representante do Brasil no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mas sem amplo apoio nos bastidores.
Dilma busca um nome de "peso" para comandar o instituto e, segundo interlocutores, vê esse perfil em Marcelo Neri. A expectativa é que a decisão seja tomada a partir da semana que vem.
Por trás da resistência a Neri está uma tradicional rivalidade no mundo acadêmico: o antagonismo entre os economistas da PUC-Rio, liberais, e os da Unicamp, desenvolvimentistas -defensores de uma maior intervenção do Estado na economia.
Do ponto de vista político, o PSDB é adepto da primeira escola, e o PT, da segunda.
Também está no páreo Vanessa Petrelli, presidente interina do Ipea, mas com chances consideradas pequenas.

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A presidência do IPEA e os Departamentos de Economia
Mansueto Almeida, 23/06/2012

Estou assustado com a briga pela presidência do IPEA, por um motivo simples. O IPEA está longe de ser “uma jóia da coroa” como é a Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Eletrobrás, etc. Nessas empresas, faz todo sentido a briga política por nomeações devido ao volume de recursos que essas instituições controlam.
Um simples contrato com algumas dessas empresas pode ser uma benção para o fornecedor. Mas e o IPEA? Por que tem sido tão difícil para o governo nomear o presidente do IPEA? Acho que é fácil explicar essa briga.
Como já destaquei acima, o IPEA não é uma instituição rica como as demais empresas mistas ou estatais, mas comparando com o orçamento de qualquer departamento de economia, o IPEA é sem dúvida uma jóia da coroa no mundo acadêmico.
Em 2011, o orçamento da instituição foi de R$ 301 milhões. Mais ou menos um terço desse valor, R$ 105 milhões, foi direcionado para o pagamento de aposentados, R$ 122,9 milhões para o pagamento de funcionários ativos, R$ 50 milhões para custeio (aqui entra o custo das pesquisas), R$ 19 milhões para investimento (o IPEA está construindo uma sede propria nova) e o que resta (R$ 3 milhões) vai para reserva de contingência.
Bom, R$ 50 milhões  para pesquisa (e para cobrir os custos administrativos associados à pesquisa) é um cifra invejável no mundo acadêmico. Ademais, como o IPEA é um órgão do governo, ele consegue aumentar ainda mais o orçamento por meio de convênios com Ministérios e tem ainda um empréstimo anual do BID para mais pesquisas e contratação de bolsistas. É uma facilidade que não existe no mundo acadêmico.
Se eu fosse político, jamais perderia meu sono tentando influenciar nomeações para o IPEA. Seria muito mais interessante concentrar esforços para nomear diretores de estatais ou  mesmo tentar nomear o ministro das cidades, esporte, turismo, integração nacional ou saúde – ministérios nos quais a execução do orçamento de investimentos se dá, preponderantemente, por meio de transferências voluntárias para estados e municípios.
Mas R$ 50-60 milhões por ano para pesquisa é muito dinheiro na realidade do mundo acadêmico – que nem sempre consegue recursos para pesquisa por mérito e tem dificuldade de conversar com o setor privado.  A direção de uma instituição como o IPEA, implica, algum espaço para definir temas de pesquisa e, assim indiretamente (ou diretamente) beneficiar alguns pesquisadores e departamentos de algumas universidades mais do que outros.
E isso é relativamente fácil. Basta abrir o chamado para uma pesquisa de acordo com o perfil técnico do departamento de uma universidade ou do pesquisador que se quer contratar –os órgãos de controle têm muito pouco controle sobre isso ou nenhum, mas isso é comum com quase todas as instituições de pesquisa do mundo.
Assim, a briga pela presidência do IPEA é, na verdade, a briga de alguns pesquisadores por dinheiro para pesquisa, financiamento para viagens e  patrocínio de congressos. Sinceramente, seria melhor que essa briga fosse resolvida no âmbito do Ministério da Educação e do MCT, os dois ministérios que tratam de recursos para pesquisa das universidades.
Assim, seria ótimo, para o IPEA e para o próprio governo, que a Presidenta Dilma e o Ministro Moreira Franco pudessem tomar a decisão de nomeação do novo presidente (ou presidenta) do IPEA fora do jogo político por “verbas de pesquisa” de alguns departamentos de economia, que têm o péssimo hábito de dividir a pesquisa entre “aqueles do nosso lado” e “os outros que não são do nosso lado”.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Teorias conspiratorias: ufa! Estava sentindo falta delas. Ainda bem que o presidente do Ipea nao me deixa carente...

Este blog, como se diz acima, é pelas ideias inteligentes. Mas de vez em quando são bem-vindas, também, algumas ideias idiotas, como forma de contraponto às primeiras, para fazer o contraste, e oferecer, como querem alguns puristas, aquilo que já foi chamado de "outro-ladismo".
Teorias conspiratorias, por exemplo, andavam fazendo falta.
Quando ainda existia o socialismo, era mais fácil: bastava culpar meia dúzia de capitalistas pelos problemas do socialismo -- que eram reais no socialismo real -- e dizer que eles se reuniam à noite, em algum hotel chic da Suíça, para conspirar com esse modo de produção sucessor do capitalismo, que acabou não sucedendo nada, fez tilt, deu dois suspiros e depois morreu, sozinho, triste e macambúzio, como se dizia nos romances de antigamente...
Vai ver que foram aqueles seis capitalistas hiper, super, megapoderosos, que complotaram de forma bem sucedida para criar todos aqueles problemas enfrentados pelos países do socialismo real.
Cuba, por exemplo: quão rica, poderosa, feliz e sobretudo livre ela não seria, se não fosse pelo embargo americano? Ianques desgraçados, vocês estão empobrecendo Cuba apenas para provar suas teorias sinistras e funestas, de que o socialismo não funciona. Só não funciona por causa de vocês, malditos capitalistas. Se vocês não existissem o mundo seria tão mais..., o quê mesmo?: feliz, rico, próspero? Enfim, menos capitalista, e portanto mais socialista. Pelo menos não haveria todos esses países neoliberais para se fazer comparação.

Pois bem, eu estava sentido falta de uma boa teoria conspiratoria, das boas, daquelas capazes de explicar tudo e um pouco mais. Explicar como, por exemplo, nosso planetinha redondo -- sim, se ele fosse quadrado não teríamos problemas de poluição capitalista, pelo menos não em direção ao Sul, que é todo subdesenvolvido e anticapitalista -- não estaria sendo poluído tanto assim, se não fosse por essas malditas companhias transnacionais, que dominam, literalmente, o planeta e a estratosfera. Basta 500 delas -- reunidas em assembleia na Batcaverna -- para decidirem sobre nossas vidas e sobretudo nossas mortes (de poeira, de fumaças tóxicas, de venenos capitalistas e defensivos multinacionais). Uma coisa horrível.
Enfim, nem sempre temos um gênio da economia como esse presidente do Ipea para restabelecer a verdade verdadeira sobre os problemas do planeta.
Estou louco para ouvi-lo na Rio+20... (para ele vão abrir uma exceção, e será Rio+1, o gênio da raça).
Paulo Roberto de Almeida


26/09/2011 10:39
Brasil Econômico (SP): Brasil enxerga a questão ambiental pelo ângulo social

Para Pochman,do Ipea,reduzir emissão de gases é insuficiente e não tem eficácia para emergentes.
A base industrial futura está em novos materiais
Um dos personagens mais ativos na articulação de propostas estruturais para a Rio+20, o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que o poder desmedido das multinacionais tem contribuído enormemente para fragilizar os fóruns de governança global.
“Somos cada vez mais governados por 500 corporações, que respondem por 47% do PIB mundial e 4/5 dos investimentos em inovações tecnológicas.
Elas financiam campanhas, partidos, pesquisas e até Ongs e aniquilam o espaço público.
Fazem com que presidentes, governadores e prefeitos se transformem em seus caixeiros-viajantes”, afirma.
Na visão de Pochmann,essa correlação desigual de forças gera um desequilíbrio de poder, que acaba por privilegiar decisões favoráveis à manutenção do atual padrão de produção e consumo.
“As corporações decidem o quê, quando e onde tudo vai ser produzido e também o quê e quem vai ser taxado”, exemplifica.
Por outro lado, elas detêm conhecimento de ponta, materiais e recursos tecnológicos que as credenciam a liderar a transição para um novo modelo de desenvolvimento.
“Trabalham com inovação e não querem ser protagonistas do passado.
Vivem a dialética de mirar o futuro com o olhar focado no lucro, o principal objetivo desse modelo em crise”, analisa.
A questão mais relevante em jogo, no entender de Pochmann, é o esvaziamento de elementos de governabilidade que esse cenário gerou, reduzindo drasticamente o papel do Estado do ponto de vista supranacional: “O mundo atravessa a mais grave crise mundial desde 1929 e a ONU não foi capaz de fazer nenhuma conferência para discutir o assunto.
Estamos vivendo um movimento de decadência dos EUA e de ascensão chinesa, que contrapõe o esgotamento das velhas formas de regulação com a imaturidade das novas.
Não nos faltam modelos de desenvolvimento; faltam atores globais”.
Por isso, o grande desafio da diplomacia brasileira para a Rio+20, na opinião de Pochmann, é ajudar a construir uma governança transnacional, fortalecendo entidades como o G-20 e os Brics.
“Os países desenvolvidos sustentam70% da dinâmica econômica mundial e os 37 mais ricos concentram a maior parte da renda”, disse.
O economista lembra que há mais de três décadas se discutem alternativas a esse modelo responsável pela desigualdade entre as nações.
“Ele só é sustentável se quisermos incluir nele apenas um terço da população mundial”, frisa.
O presidente do Ipea diz que não existe um único caminho para a nova sociedade que buscamos e muito menos convergência em torno de uma das três vias em pauta nas agendas internacionais.
A primeira, que chama de pós-desenvolvimentista, é a mais crítica em relação ao modelo vigente.
Propõe o resgate de valores perdidos, acompanhado de um profundo respeito pela natureza, um retorno à mãe-Pátria.
“Apesar de ter muitos adeptos, esse modelo, rudimentar e agrário, não é viável nos dias de hoje", opina.
A segunda vem ancorada na implantação da economia verde, com a perspectiva de tornar sustentável economicamente um modelo ambiental insustentável.
“Essa alternativa não altera as coisas, apenas reorganiza a indústria para diminuir a emissão de gases e deter o aquecimento global”, avalia.
Bastante confortável para os países ricos, que não precisam mais crescer, a proposta é pouco atraente para a maioria da população.
A terceira via, nem pós-desenvolvimentista nem economicista, propõe uma base industrial e produtiva assentada em novos materiais.
“Essa é a melhor saída, mas sua implantação demanda pesados investimentos, o que parece pouco provável de ocorrer com as restrições impostas pela crise fiscal internacional e num cenário em que os bens financeiros são mais atrativos do que os bens produtivos”, diz, taxativo.
O lado bom é que o Brasil, ao ajudar a construir o conteúdo da Rio+20, está dando outro viés ao debate, garante Pochmann: “O país não está aceitando a visão de fora, que queria um debate sobre a economia verde.
Está defendendo a visão totalizante do desenvolvimento, que considera a questão ambiental, mas do ponto vista social”.
Ele não quis comentar o convite do PT para concorrer à Prefeitura de Campinas (São Paulo).

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ipea acha que funcionários publicos devem brotar da terra, como champignons...

...ou se reproduzir como coelhos, seria o caso de se dizer.
Algum economista sério leva a sério o que dizem esses "técnicos" do "novo Ipea"?
Eles já ouviram falar em ganhos de produtividade?
Eles já ouviram falar da Grécia, da Itália, da França?
Eles vivem neste mundo?
Eles são de Marte? Ou de Vênus?

Cidadãos brasileiros:
toda vez que vocês ouvirem um "técnico" do novo-velho Ipea dizer uma coisa assim:
"Faz falta uma definição estratégica..", ""Faz falta uma política setorial..."
amarrem e internem num asilo de loucos, pois do contrário vocês vão ser chamados a pagar a conta...
Um "especialista" [em quê, exatamente, em contratações?] do Ipea tem a coragem de dizer isto:
"Não há exorbitância salarial do governo federal na comparação com o setor privado". Ele certamente não ouviu dizer que a média dos rendimentos no setor privado é R$ 1.500,00, enquanto no setor público supera R$ 8.000,00. Será que ele vai explicar que a produtividade dos funcionários públicos é muitas vezes maior do que a dos trabalhadores do setor privado, que aliás pagam os salários nababescos dos primeiros?
E o que os empresários teriam a dizer sobre isto?: "O setor privado nem sempre é assim, não contrata apenas pelo mérito", afirmou o especialista [do Ipea]."
Claro: o setor privado adora gastar dinheiro à toa, e contratar gente incompetente. O setor privado, aliás, possui dezenas de milhares de funções de confiança, onde os empresários colocam os amigos, os parentes, os cabos eleitorais, os protegidos da presidência, e o mais interessante é que essas pessoas contratadas pelo setor privado não precisam mostrar desempenho, aliás, nem precisam trabalhar...
Paulo Roberto de Almeida

Governo Lula nem chegou a recompor quadro de servidores, diz estudo do Ipea

Por João Villaverde | De Brasília
Valor Econômico, 9/09/2011

A contratação de 155,8 mil servidores civis federais ao longo do governo Luiz Inácio Lula da Silva não representou um inchaço do funcionalismo, mas apenas uma recomposição - e, mesmo assim, incompleta, segundo estudo dos economistas José Celso Cardoso e Roberto Nogueira, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No trabalho eles defendem que os 630,5 mil servidores civis na ativa que estavam registrados pelo Ministério do Planejamento em janeiro deste ano constituem um contingente positivo, mas que ainda deveria ser elevado.
A forte incorporação de novos trabalhadores no serviço público federal, no entanto, não acarretou aumento dos gastos com salários, segundo o Ipea. De acordo com Cardoso e Nogueira, os gastos com pessoal não "saíram do controle" do governo. Os economistas partem da comparação anual entre as despesas com pessoal e a evolução da receita corrente líquida. Em 2010, as despesas com funcionários públicos federais corresponderam a 18,7% do total arrecadado pela União. Ainda que o resultado seja muito superior aos 15,7% registrados em 2005, a relação, apontam os economistas, "permaneceu praticamente constante ao longo da primeira década de 2000, num contexto de retomada relativa do crescimento econômico e também da arrecadação tributária".


A comparação entre os anos de 2009 e 2010 explica a lógica do mais recente estudo do Ipea. Em 2009, a relação entre despesas com funcionalismo e receita corrente líquida foi de 19,3%, acima dos 18,7% do ano passado. Isso ocorreu mesmo com um salto no número de servidores civis na ativa - dos 601,1 mil de 2009 para 630,5 mil no ano passado. Como a comparação é feita com as receitas correntes, o forte crescimento da economia verificado no ano passado - de 7,5% - serviu por "diluir" o peso que as despesas com servidores ocuparam, diferentemente do que ocorreu no ano anterior, quando a economia caiu 0,6%.
"Não há exorbitância salarial do governo federal na comparação com o setor privado", disse Cardoso, para quem não existe uma "tendência de Estado gigante em pessoal, pois afinal ainda estamos longe do tamanho que tínhamos em 1992". Naquele ano, o governo federal tinha em sua folha de pagamentos 683,6 mil servidores civis na ativa. "Não podemos pensar que esses 630 mil servidores civis na ativa hoje constituem uma imensa empresa", disse Nogueira. "O serviço público contrata os melhores trabalhadores, os concursos públicos funcionam pela meritocracia. O setor privado nem sempre é assim, não contrata apenas pelo mérito", afirmou o especialista.
Os economistas do Ipea, no entanto, criticam a falta de uma política coordenada para o funcionalismo. "Faz falta uma definição estratégica de recursos humanos no serviço público federal", disse Nogueira, para quem "o governo Lula foi pouco explícito, mas quando agia, por meio de concursos e aumento de salários, era claro. Ao contrário do que ocorria no governo Fernando Henrique Cardoso, que falava muito em uma estratégia, mas que foi pouco efetivo na ação", disse o economista.
A comparação entre os anos de 2009 e 2010 explica a lógica do mais recente estudo do Ipea. Em 2009, a relação entre despesas com funcionalismo e receita corrente líquida foi de 19,3%, acima dos 18,7% do ano passado. Isso ocorreu mesmo com um salto no número de servidores civis na ativa - dos 601,1 mil de 2009 para 630,5 mil no ano passado. Como a comparação é feita com as receitas correntes, o forte crescimento da economia verificado no ano passado - de 7,5% - serviu por "diluir" o peso que as despesas com servidores ocuparam, diferentemente do que ocorreu no ano anterior, quando a economia caiu 0,6%.
"Não há exorbitância salarial do governo federal na comparação com o setor privado", disse Cardoso, para quem não existe uma "tendência de Estado gigante em pessoal, pois afinal ainda estamos longe do tamanho que tínhamos em 1992". Naquele ano, o governo federal tinha em sua folha de pagamentos 683,6 mil servidores civis na ativa. "Não podemos pensar que esses 630 mil servidores civis na ativa hoje constituem uma imensa empresa", disse Nogueira. "O serviço público contrata os melhores trabalhadores, os concursos públicos funcionam pela meritocracia. O setor privado nem sempre é assim, não contrata apenas pelo mérito", afirmou o especialista.
Os economistas do Ipea, no entanto, criticam a falta de uma política coordenada para o funcionalismo. "Faz falta uma definição estratégica de recursos humanos no serviço público federal", disse Nogueira, para quem "o governo Lula foi pouco explícito, mas quando agia, por meio de concursos e aumento de salários, era claro. Ao contrário do que ocorria no governo Fernando Henrique Cardoso, que falava muito em uma estratégia, mas que foi pouco efetivo na ação", disse o economista.