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domingo, 30 de junho de 2013

O Messias reencarnado, uma não-ficção política brasileira - Roberto Saboya

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA 
Roberto Saboya 
Junho, 2013 

No livro de Gabriel Garcia Marques, toda a comunidade do vilarejo fica sabendo antes da iminente morte de Santiago Nasar, mas nada fazem para salva-lo de seu trágico destino anunciado logo à primeira linha do romance. Ao longo da história não se sabe o que passa na mente de Santiago, nem mesmo se ele estava ciente de que o queriam matar. 
Na primeira linha do romance brasileiro Lula já anuncia a morte de Dilma, que, a exemplo do que acontece com Santiago, não se sabe o que passa na sua mente, nem mesmo se ela está ciente de que a querem matar. 
Neste nosso romance, a arma do crime foi a abertura das burras do tesouro nacional para eleger Dilma. Lula emitiu títulos caros para entregar dinheiro barato a seus eleitores para isso utilizando os bancos públicos. Em 2009, o BNDES emprestou US$45 bilhões e gerou um prejuízo de US$6,5 bilhões aos cofres públicos. Lula repetiu Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, a quem atribuem a frase: “quebrei o banco, mas elegi meu candidato”. 
No último ano do seu até então bem comportado governo, Lula aumentou a divida publica para 66,8% do PIB, o salário dos funcionários públicos em até 62%, a despesa primária do governo chegou a 23,6% do PIB. Lula inovou ao inventar a “contabilidade criativa” que permitiu reduzir o superávit para fictícios 2,5% ao excluir as obras do PAC e as despesas do Minha Casa Minha Vida. 
Lula, um gênio politico, é muito mais inteligente que seus congêneres latino-americanos. Programou seu terceiro e quarto mandato sem recorrer a golpes de  estado ou reformas constitucionais. Para isso foi preciso eleger um “poste”, na realidade um “escada”, sem que este tivesse a menor condição de se reeleger em 2014. 
Lula escolheu a dedo seu candidato. Arrogante, autoritário, com antiquadas ideias marxistas e sem a menor experiência no sofisticado jogo político. Enfim, alguém totalmente incapaz de liderar um grande país. 
Mas Lula conhecia muito bem o poder inebriante do Aero Lula, helicópteros, cortejo de limusines, palácios e, sobretudo, do cerimonial, das homenagens e das tribunas. Era preciso preparar uma armadilha. Uma armadilha mortal. Tal qual Santiago, o sucessor de Lula deveria morrer antes do final de seu primeiro mandato. 
E essa armadilha chamava-se inflação. 
Lula nada entende de economia, mas passou doze anos tendo aulas práticas de inflação. Foram três derrotas para três presidentes que se glorificaram ou se amarguraram ao combater a inflação. Aprendeu. Recebeu o país com 12,53% de inflação e no último ano de seu primeiro mandato estava em 3,14%. 
Graças à politica expansionista de seu segundo mandato seu sucessor recebeu um país em processo de aceleração inflacionária. Lula reduziu os juros e aumentou os gastos públicos e com ele o déficit público. Seu sucessor teria de fechar o saco de bondades ou aumentar os juros. Ambas as medidas seriam impopulares e deixariam os eleitores com saudades do antecessor. Se não fizesse nada, continuando a expandir os gastos e mantendo ou reduzindo os juros, seria ainda pior. Decididamente, seu sucessor não conseguiria se reeleger. 
É claro que Lula preferiria um governo austero, afinal só conseguira ser “o cara” após o sacrifício e a intensa labuta de seus antecessores. Receber um país em caos não era uma boa ideia. Para se garantir colocou seu sucessor dentro de uma camisa de força formada por Gilberto Carvalho, Antônio Palocci e Alexandre Trombini. 
No inicio funcionou. Trombini aumentou os juros. A pressão inflacionaria de Lula projetava uma inflação de 5,29% e a taxa de juros era 10,66%. Seis meses de governo Dilma e já projetava 6,31% e a taxa de juros chegava a 12,42%. Nessa época o mercado projetava uma taxa de 12,75% para o final do ano e uma inflação em queda para 5,20%, em 2012. Era uma politica contracionista. Dilma passaria o resto do seu mandato acertando os estragos de seu antecessor e, certamente, não se reelegeria. 
Não se sabe o que passava na cabeça de Santiago, nem de Dilma, mas não é difícil imaginar o que pensou ao se deitar na cama do Palácio da Alvorada naquela sua primeira noite do dia primeiro de janeiro de 2011. 
Dilma nascera com a missão de mudar o país. Desde adolescente já tentava assumir o poder pela força das armas. Filha de um dirigente do Partido Comunista da Bulgária, já fizera parte de uma organização chamada Politica Operaria (POLOP), mais tarde Comando da Libertação Nacional (COLINA). Participou ativamente da sua fusão com a Vanguarda Popular Revolucionaria (VAR) dando origem a Vanguarda Armada Revolucionaria Palmares (VAR-Palmares). Não deu certo. Acabou presa e tudo o que conseguiu foi um emprego público em Porto Alegre onde ficaria o resto da vida não fosse sua militância junto a ex-integrantes do VAR-Palmares, na eterna busca da conquista do poder, desta vez dentro da legalidade. 
Naquela noite, deitava nos confortáveis lençóis de algodão egípcio do imenso quarto da presidência, Dilma deve ter pensado: “a classe operária, finalmente, chegou ao paraíso”. 
Dilma não estava ali para servir de “escada” para um esperto sindicalista e ficar nas mãos de banqueiros e empresários capitalistas. Seis meses depois livrou-se de Palocci, deu uma faxina nos ministérios de Lula e caiu na sua armadilha: ampliou o saco de bondade e mandou baixar os juros. 
Trombini, um burocrata experiente e competente, sabia que a inflação ainda sofria pressão de alta e que este não era o momento, mas pensou no emprego, no currículo e cedeu. Resultado, a inflação que projetava 6,31% fechou o ano em 6,50%. Para 2012 a projeção de 5,2% acabou em 5,84% e em 2013 já aponta para os mesmos 6,5% do passado recente. 
Quando soube da queda nos juros, Lula deve ter sorrido, mas foi um sorriso amarelo. PhD em inflação, Lula não queria receber uns pais com inflação elevada, mas sabia muito bem que os efeitos negativos da inflação ainda demorariam a aparecer e que até lá o saco de bondades governamentais elevaria o prestigio dos dirigentes. 
Não teve dúvidas. Saiu do ostracismo a que se impusera e subiu nos palanques. Não queria que Dilma capitalizasse sozinha a benesse de uma politica prematuramente desenvolvimentista. Em junho de 2012 abriu a guarda e chegou a dizer que seria candidato, caso Dilma não quisesse se reeleger. 
Com o tempo, Lula começou a incomodar e Dilma chamou-o para uma conversa. A essa altura, final de 2012, a inflação já começava a mostrar suas garras e Lula, mais do que depressa, abriu mão de sua candidatura e, traiçoeiramente, lançou a de Dilma. Desta vez Lula sorriu e seu sorriso não tinha nada de amarelo. Dilma caíra na armadilha e não mais conseguiria se reeleger. 
De lá para cá foi um caos. A inflação ascendente somada ao lançamento prematuro da candidatura gerou diversos embates políticos. Surgiram candidatos de oposição que bateram nas elevadas taxas de inflação e Dilma não teve jeito senão mandar subir as taxas de juros. 
Marxista de carteirinha, Dilma nada entende de mercado, acha que banqueiros ganham dinheiro quando os juros sobem, que os empresários são predadores naturais, que o capital estrangeiro quer sugar as riquezas do nosso país e que o lucro é a parcela roubada do trabalhador. Como aumentar o juro da casa própria, do bolsa-família, do bolsa-qualquer-coisa para combater a inflação? Por outro lado, não podia deixar a inflação corroer o salário dos trabalhadores. Subsidiar os juros geraria déficit e ai teríamos a armadilha de Lula em pleno funcionamento. Maquiar as contas públicas também não enganava mais ninguém. Tanto as agências de risco como a velhinha de Taubaté já sabiam das suas inconsistências. 
Dilma está perdida. Hora diz que vai combater a inflação aumentando os juros ao mesmo tempo em que amplia as benesses do PAC e das bolsas-qualquer-coisa. Ora diz que o cambio é livre para em seguida gastar milhões de dólares para nele intervir. 
Em recente entrevista à Agência Estado, o ex-ministro Delfim Neto (outro PhD Summa cum laude em inflação) declarou: “O governo precisa fazer com que todos os gastos avancem menos que o PIB, sobretudo despesas correntes. Graças aos enormes truques contábeis, ninguém mais acredita em nada. A tal quadrangulação fiscal realizada no fim do ano foi a gota que derrubou a água do copo (...). O mercado tem a percepção de que a situação fiscal no Brasil é uma esculhambação. Há uma crença no mercado, que não é a minha opinião, de que o governo já não sabe mais qual é o déficit público que está criando. Para o mercado, o governo faz tanto truque, mexe com tanta coisa, que não tem mais credibilidade. É preciso encontrar um caminho claro e transparente que não tenha mais truque”. 
Mas para Dilma esse caminho não mais existe. Segundo o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, duas barreiras se apresentam: “A primeira é ideológica: a presidente Dilma Rousseff e seus ministros simplesmente não acreditam no receituário ortodoxo. A segunda é de natureza politica: ainda que engulam a contragosto esse receituário, eles sabem que seus benefícios  somente virão em um prazo incompatível com seu horizonte politico, e as eleições ocorrerão antes que o crescimento apareça”. 
Enquanto isso Lula sorri e não cansa de apontar o dedo. “Dilma jamais permitirá a volta da inflação”, disse ele em Porto Alegre. Mais tarde, em Minas, reafirmou: "Tenho ouvido discurso que eles [oposição] têm feito, a novidade do tomate. O que eles não sabem é que uma mulher calejada na luta como essa mulher não vai permitir que um tomatezinho venha quebrar as forças da economia...” Já Dilma se atrapalha e, em mais um dos seus lapsus línguae, dá o troco: “a inflação foi uma conquista destes dez últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo” (pronunciamento em Minas Gerias no dia 16\04|2013. 
Ver em: http://www.youtube.com/watch?v=kvwx4zJ9i24. 

A sorte está lançada. A inflação é o tema predominante das pesquisas de opinião, e ela vai subir. E vai subir muito. Dilma cairá nas pesquisas e cada vez mais se perderá. Não sabe o que fazer nem tem em quem confiar. Sua equipe é subserviente e\ou incompetente. Ninguém que tenha um mínimo de caráter e competência aceitará algum cargo na sua área econômica. Os ratos começam a abandonar o navio. 
Dentro em breve Lula será aclamado pelo povo e o PT exigirá sua presença. Lula será eleito presidente em 2014 e, pasmem, eu votarei nele. Quem mais terá a força politica para tomar as medidas necessárias para conter a espiral inflacionária? Aécio e Eduardo Campos encontrarão feroz resistência das militâncias petistas. Já Lula, em seu terceiro mandato, lançara uma nova Carta aos Brasileiros e governará acima das inexistentes oposições. 
Lula lá! 


NOTA: A única nota dissonante foi um comentário que apareceu recentemente na coluna do Elio Gaspari, onde ele dizia que Lula tem sido visto caminhando de madrugada pelos corredores do Hospital Sírio Libanês.