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sábado, 2 de novembro de 2013

O fascismo em acao no Brasil - Sandro Vaia

Sem acesso ao artigo original (preguiça, ou falta de tempo, para buscar), reproduzo aqui o que pesquei nas leituras do Feedly (recomendo essa ferramenta, que substituiu o Google Reader), e que coincide com o meu argumento de que o Brasil já vive em fascismo corporativo, aliás um dos mais ordinários...
Paulo Roberto de Almeida
Li com atraso um artigo de Sandro Vaia, publicado no Blog do Noblat. Mas nunca é tarde. Eu o reproduzo abaixo.
*
A observação foi feita em tom irônico pelo professor norte-americano Douglas Harper em seu dicionário etimológico e convenientemente lembrada esta semana pelo crítico literário Sérgio Rodrigues em seu blog. Esse passou a ser o xingamento campeão nas redes sociais.

Usa-se a torto e direito, mais ainda do que reacionário e direitista, e por ironia das ironias na maioria das vezes é usado por quem não sabe que seu significado lhe serviria como uma luva. Mal comparando, seria como se o Tiririca chamasse alguém de palhaço.
Na semana passada, dois acontecimentos muito didáticos jogaram luzes sobre esse jogo de sombras onde se esconde esse crescente autoritarismo castrador que se espalha como unha-de-gato em muro chapiscado.
A Folha contratou dois novos colunistas semanais para, segundo ela, ampliar o pluralismo de opiniões em seu caderno “Poder”: Reinaldo Azevedo, que tem um blog campeão de audiência hospedado na Veja, e Demétrio Magnoli, sociólogo e geógrafo conhecido por combater a imposição de cotas raciais nas universidades brasileiras.
A internet se encheu de gritos de maldição contra os articulistas e o jornal que os contratou, leitores anunciaram que cancelariam as suas assinaturas e, fato inusitado, a coluna de estreia de Azevedo, sobre a ação de libertação dos beagles de um instituto de pesquisas científicas, levou a ombudsman do jornal a classificar delicadamente o colunista como um “rotweiller” — o que ela explicou depois, claro, era só uma força de expressão.
Um caso claro de intolerância ideológica, que pode ser facilmente curado por duas providências simples: ou deixar de ler o jornal ou continuar lendo o jornal, mas não ler os colunistas desagradáveis. Rebater argumentos e tentar provar com fatos que os deles estão errados e que os seus estão certos nem pensar. Isso dá muito trabalho. Negar em bloco e chamar de “fascista” facilita a vida. Desqualificar sempre, debater nunca.
Mais grave do que isso foi o que aconteceu numa feira literária em Cachoeira, no interior da Bahia, quando ativistas armados apenas pelas suas bordunas de intolerância intelectual impediram, aos gritos, que se realizassem os debates entre o sociólogo Demétrio Magnoli e a cientista social Maria Hilda Baqueiro Paraíso e o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo francês Jean Claude Kaufmann.
Magnoli e Pondé foram impedidos de falar — como Yoani Sánchez já havia sido impedida meses atrás – por pessoas que os xingavam de “fascistas”. Exemplo perfeito daquilo que os franceses chamam de “glissement semantique” – ou deslizamento de sentido das palavras.
País estranho e paradoxal onde opiniões fortes são comparadas com mordidas de rotweiller e onde fascistas em ação proíbem debates e quem é impedido de falar é que é o fascista.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 7 - Sandro Vaia

Democracia: agite antes de usar, por Sandro Vaia

22.2.2013
http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_229-sandro.jpgAlguma outra vez neste país a democracia foi usada para defender uma ditadura?
Não me lembro. Mas foi exatamente o que aconteceu com a manifestação contra Yoani Sanches, a blogueira cubana que se opõe à ditadura de seu país, que a impediu de falar e inviabilizou a exibição do documentário “Conexão Cuba-Honduras” de Dado Galvão em Feira de Santana, no interior da Bahia.
A grosseria, a incivilidade e a estupidez são algumas das características mais desagradáveis do ser humano e foram usadas em larga escala nao só na Bahia, mas também no plenário da Câmara Federal por algumas pessoas que ainda vegetam no estado primário do processo civilizatório.
Até aí, nada a fazer. Não podemos exigir uma nação de fidalgos nem exigir algum tipo de racionalidade de quem confunde a militância política com a barbárie.
Ninguém é obrigado a gostar de Yoani Sanches como ninguém pode ser proibido de admirar e cultuar ditaduras. Infelizmente, a história da humanidade é recheada de massas ululantes que seguem ditadores e homens providenciais de camisas verdes, negras, pardas, boinas vermelhas ou uniformes verde-oliva.
O fascínio pela servidão voluntária é uma das características mais degradantes do ser humano. O fato de que isso, ao longo da História, tenha produzido pilhas e pilhas de cadáveres pelo mundo todo, não inibe a prática da falta de fé democrática.
Ditadores pendurados de cabeça para baixo nas vigas de um posto de gasolina e outros miseravelmente fuzilados ao lado da mulher depois de tentar fugir das massas que os idolatravam até algumas horas atrás, não ensinam lição alguma a quem está disposto e decidido a nao aprender.

http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_2234-alt-www.jpg

A presença de Yoani Sanches no Brasil poderia ter sido aproveitada para estimular um debate sobre os caminhos que Cuba pode seguir num eventual processo de transição para a democracia.
É evidente que o regime está desgastado, caquético e moribundo, e aí não vai nenhuma figura de linguagem com relação a quem o dirige. Foi Fidel Castro e não qualquer “gusano” contra-revolucionário de Miami que disse, com todas as letras, que “esse modelo nao serve mais nem para nós”.
O que será de Cuba ? Uma nova China? Mas quem seria o Deng Xiaoping cubano que teria coragem de ir à Plaza de la Revolución para dizer que “enriquecer é glorioso”? O que será feito dos 500 mil servidores públicos que perderão seus empregos ?
Um debate interessante para quem está interessado em democracia e em evolução de modelos políticos. Um debate chato e desnecessário para quem prefere substituir o uso da inteligência pelo escorrer da baba elástica e bovina.

Sandro Vaia é jornalista

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Mentes aprisionadas (o Brasil está cheio delas)

Opiniã
Mente cativa
Sandro Vaia
O Globo, 2.07.2010

Na epígrafe de seu notável livro “Mente Cativa”, o escritor e poeta polonês Czeslaw Milosz, prêmio Nobel de Literatura de 1980, citou esta máxima, atribuída a “um velho judeu da Galícia”:

“Quando alguém está honestamente 55% do tempo certo, isso é muito bom e não faz sentido discordar. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, sinal de boa sorte e essa pessoa deve agradecer a Deus. Mas o que deve ser inferido sobre estar 75% certo? Os sábios diriam que é algo suspeito. Bem, que tal 100% certo? Quem quer que diga que está 100% certo é um fanático, um criminoso e o pior tipo de crápula”.

O livro de Milosz é um documento notável sobre um período da vida de um intelectual que viveu sob o totalitarismo comunista na Polônia do pós-guerra. Ele reúne uma série de ensaios onde ele conta, escondendo sob pseudônimo o verdadeiro nome das pessoas, a história de alguns intelectuais que originalmente não tinham afinidades ideológicas com o partido dominante, e aos poucos foram sendo cooptados por um sistema que não deixa brechas à autonomia de consciência, nem estética e nem política. Ou para usar as próprias palavras de Milosz, no livro ele procura “criar separadamente os estágios sobre os quais a mente dá passagem à compulsão do nada”.

No livro, Milosz, que nasceu num território que hoje pertence à Lituânia, conta que viu a chegada do Exército Vermelho à Polônia como uma libertação das atrocidades nazistas e serviu ao governo instalado pelos comunistas como diplomata. Em 1951, pediu asilo na França , onde escreveu “Mente Cativa”, que foi criticado pelos comunistas, que o acusaram de traidor, e pelos direitistas, que o acusaram de tentar entender o regime, em vez de apenas acusá-lo.

Dos 9 ensaios do livro, Milosz dedica 4 à narrativa da história dos escritores e poetas que ele chama de Alfa, Beta, Gama e Delta, que conheceu de perto. Ele mostra de que maneira a metafísica do regime totalitário vai envolvendo e se apossando da consciência das pessoas, até fazer com que percam a referência intelectual e passem, como diz o autor, a fazer parte do “universo de sombras ambulantes”.

A história dos totalitarismos que avançaram pelo Leste Europeu e outras partes do mundo no século passado, seus anos de domínio e sua derrocada, já foi contada e recontada em livros de História. Mas poucos, como George Orwell e Arthur Koestler,se ocuparam da maneira como se dá a dissolução das consciências. Por isso,o livro de Czeslav Milosz é indispensável, não apenas para rever o passado, mas para iluminar o presente.

A tentação totalitária continua por aí, reciclada em várias fórmulas novas e em receitas mágicas, que prometem a felicidade sobre a terra, ao custo básico da renúncia à liberdade de consciência, oferecendo em troca, rios de leite e mel que nunca se concretizam.

É um bom momento para ler “Mente Cativa” e refletir sobre o quanto temos a aprender com a sabedoria do velho judeu da Galícia.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez..