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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Venezuela fora do Mercosul (finalmente) - Mac Margolis (Bloomberg)


https://www.bloomberg.com/view/articles/2016-12-09/mercosur-turns-its-back-on-a-diminished-venezuela

Mercosur Turns Its Back on a Diminished Venezuela

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When Hugo Chavez took office in Venezuela in 1999, he promised his compatriots many wonders, from a hemispheric “Bolivarian” alliance against gringo imperialism to 21st-century socialism. Free trade was not part of the deal. So it couldn’t have come as a total shock when on Dec. 2, four South American nations ruled to suspend Venezuela from the continental trade compact to which it never ought to have been admitted.
And yet, for the keepers of the Bolivarian Republic, the ouster from Mercosur might have been a diplomatic outrage. Venezuelan President Nicolas Maduro, who succeeded Chavez in 2013, called the move a “coup”; Foreign Minister Delcy Rodriguez denounced it as “an illegal action” and vowed to appeal. Assorted sympathizers and fringe militants as far away as Uruguay and Paraguay joined the chorus.
What’s at stake isn’t the future of regional commerce. Venezuela’s economy is such a shambles -- merchants have taken to weighing currency instead of counting it -- that trade in any conventional sense of the word ceased to matter long ago. But the choler in Caracas and the initiative by Venezuela’s once-accommodating neighbors said a good deal about the state of play in Latin American relations, where over a decade of diffidence and indulgence before the region’s stumbling autocracy has given way to umbrage and confrontation.
Sure, Chavez, had long pushed for a seat in the region’s signature commercial union, but less to join the compact than to subvert it. As early as 2007, he spoke of trying to “decontaminate” the block of its “neoliberal” bent. Instead, he saw Mercosur membership as a credential to raise Venezuela’s standing in the Americas even as his government eroded democratic rights, jailed opponents, and stunted economic liberty at home. Such behavior ran counter to Mercosur’s charter, which by the Ushuaia Protocol restricted membership to countries with “fully functioning democratic institutions,” and called for sanctions in case of a breakdown of democracy.
Clearly, Venezuela was an outlier. And yet, because criticizing an allied nation was long an unstated taboo in Latin America -- and practically a code of honor during the left’s governing heyday over the last decade -- neither Chavez nor Maduro needed to worry about diplomatic blowback, much less the migraine-inducing fine print of trade treaties. Four years after its backdoor induction to the trade bloc -- a legally questionable maneuver that badly roiled hemispheric diplomacy -- Venezuela still hadn’t bothered to adhere to adhere to Mercosur’s basic precepts, including the founding Treaty of Asuncion and the common external tariff. “Venezuela never should have been allowed to join,” said Brazilian diplomat Paulo Roberto de Almeida, who heads the International Relations Research Institute.
That dereliction was serious enough to exclude Venezuela from Mercosur’s negotiations to strike a trade agreement with the European Union, but drew little more than a shrug from the trade group’s controlling partners. The waiver was not a show of Latin bonhomie. Under former President Luiz Inacio Lula da Silva, Brazil nursed global ambitions, and promoting national champions abroad was part of the game. Flush with oil money, Venezuela was a plum client for contractors like the Odebrecht Group, which took on an estimated $25 billion in sometimes dubious public works with soft loans from Brazil’s national development bank.
Now all that has changed. As Venezuela’s economy tanked, unpaid debts (totaling some $2 billion in 2014) to Brazilian contractors piled up. Tolerance also faded as leftists leaders across the hemisphere lost traction, including in Mercosur. Argentina, Brazil and Paraguay are run by free market centrists, who quickly unfriended the Maduro regime. “The mess in Venezuela has hurt Brazil’s own international reputation especially,” said Oliver Stuenkel, a scholar of international relations at the Getulio Vargas Foundation. “Brazil has not fulfilled its role as a regional leader.” They were backed by Luis Almagro, the outspoken head of the Organization of American States, who in a break with that body’s anodyne diplomacy threatened to invoke the compact’s democracy charter against Venezuela’s excesses.
How much the hardening of Latin attitudes will sway the Maduro government is debatable. Street protests, pressure by the opposition-led legislature, censure by the O.A.S, appeals by Pope Francis -- so far nothing has deterred the bus driver-turned-president from his economic collision course or trashing what’s left of Venezuelan democracy. Ousting Venezuela from Mercosur may have been a symbolic gesture, but at least that’s one credential that Latin America’s outlier government no longer gets to wave.
This column does not necessarily reflect the opinion of the editorial board or Bloomberg LP and its owners.
To contact the author of this story:
Mac Margolis at mmargolis14@bloomberg.net
To contact the editor responsible for this story:
James Gibney at jgibney5@bloomberg.net

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Venezuela suspensa do Mercosul: deveria ter entrado? - Carlos Malamud (InfoLatam) e Paulo Roberto de Almeida

O mais incrível de toda essa história é a sucessão de ILEGALIDADES que foram cometidas por TODAS as partes desse bloco antes promissor e depois praticamente destruido pelas diplomacias lulopetista, kirchnerista, chavista e bolivarianas, de forma geral.
Em 2005, quando Chávez anunciou sua decisão -- sim SUA, não do país, da burocracia técnica, dos empresários, do parlamento venezuelano -- de ingressar no Mercosul deixou MUITO CLARO que não queria o Mercosul neoliberal, como ele afirmava, e sim que iria destruir o Mercosul livre-cambista para colocar em seu lugar um Mercosul "de los pueblos", ou seja, conforme ao "socialismo do século XXI".
NINGUÉM, na época, do governo brasileiro ou de qualquer outro governo, protestou CONTRA essa afirmação absurda do caudilho bolivariano, NENHUM representante do Brasil levantou-se para condenar essa atitude absolutamente contrária, negativa, prejudicial ao Mercosul, contrariando todos os seus valores, princípios, objetivos e mecanismos de funcionamento.
Todos continuaram como se fosse normal um "futuro sócio" afirmar com todas as letras que, ao ingressar no "clube", pretendia mudar todas as suas regras, num sentido claramente contrário a tudo o que tinha sido feito até então.
Passaram-se os quatro anos acordados para a concretização do acesso da Venezuela (ou do Chávez?) no Mercosul, e absolutamente NADA ocorreu, ou seja, a Venezuela JAMAIS cumpriu os objetivos mínimos da união aduaneira.
Em 2010, constatando que NADA tinha sido feito pelo país pretensamente interessado em ingressar no bloco, sequer protestaram, e concederam mais QUATRO anos para que a Venezuela se movimentasse de alguma forma.
Em 2012, quando aproveitando (ILEGALMENTE) o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo (aquele bispo reprodutor) pelo parlamente do país, estritamente dentro das regras constitucionais, os três sócios SUSPENDERAM (ILEGALMENTE, pelas regras do Protocolo de Ushuaia) o Paraguai, e colocaram a Venezuela para dentro, também ILEGALMENTE, pois o país andino SEQUER tinha RATIFICADO o seu próprio Protocolo de acesso ao Mercosul, ou seja, não cumpria regras mínimas para ingressar na união aduaneira.
A Venezuela sequer ratificou o ACE-18, ou seja, o Tratado de Assunção, tal como registrado na ALADI, e portanto NÃO PODERIA ser considerada membro do Mercosul, e os demais membros agiram mais uma vez ILEGALMENTE ao sancionar tal decisão.
Grande parte da responsabilidade incumbe ao Brasil dos companheiros, à estupefaciente diplomacia lulopetista, a maior fraude que já ocorreu em nossa política externa.
Como isso pôde (sim, gosto deste circunflexo) ocorrer, durante tanto tempo, sem qualquer protesto por parte dos servidores e envolvidos nessas ilegalidades, é ainda algo estranho para mim, mas como estive fora do Itamaraty (ou pelo menos sem cargo nenhum durante toda a gestão companheira) não sei explicar como tantos absurdos ocorreram. É o que vou agora investigar.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 6 de dezembro de 2016

Carlos Malamud: Mercosur Venezuela

Mercosur suspende a Venezuela

mercosur
Infolatam
Madrid, 4 diciembre 2016
Por CARLOS MALAMUD
(Infolatam).- La suspensión de Venezuela como miembro del Mercosur ha servido para enviar a la comunidad internacional mensajes claros y muy diversos. En primer lugar, que el tiempo político en América Latina ha comenzado a cambiar con la llegada de gobiernos menos respetuosos de los “usos y costumbres” propios de la diplomacia bolivariana, hasta ahora más partidaria del ordeno y mando que del diálogo y la negociación, inclusive con sus socios importantes. En segundo lugar, consecuencia de lo anterior, pero también de la muerte de Hugo Chávez y de la profunda crisis económica venezolana, la decadencia del ALBA y con ella un creciente aislamiento regional del proyecto bolivariano. Y por último, el estilo prepotente, casi barriobajero, de quienes deberían representar a Venezuela en la escena internacional, comenzando por Nicolás Maduro y su ministra de Exteriores Delcy Rodríguez.
Tras el conflicto creado por la pretensión de Argentina, Brasil y Paraguay de que Venezuela no ejerciera la presidencia pro tempore de Mercosur, los cuatro países fundadores decidieron darle al gobierno de Caracas un plazo relativamente breve, hasta el 1 de diciembre, para adecuar su legislación al acervo comunitario. Pese a que Maduro afirmó haber cumplido con el 95% de lo requerido, el punto de vista mayoritario es exactamente el contrario. Incluso el viceministro de Exteriores de Uruguay José Luis Cancela señaló que Venezuela aún debe incorporar 228 normas a su legislación, siendo las dos más relevantes las referidas al protocolo de derechos humanos del Mercosur y al Acuerdo de Complementación Económica Nº18 (ACE18). Este último “es el corazón… del propio Mercosur”, al regular “la arquitectura comercial de la vinculación entre los socios”.
CARACAS (VENEZUELA), 02/12/2016.- EFE/Cortesía Palacio de Miraflores/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS
Debida a esta circunstancia Maduro se mostró dispuesto a viajar a Montevideo para entrevistarse con el presidente Tabaré Vázquez para solucionar las cosas, tras pedirle: “No le haga eso a Venezuela”.
Se da la circunstancia de que Uruguay ha sido hasta ahora el país menos proclive a sancionar a Venezuela o a apartarlo de Mercosur, pese a que hace ya más de cinco años que se exige completar la adecuación normativa. Incluso el propio Cancela ha dicho que el gobierno de Caracas debía seguir participando en las distintas estructuras del bloque con voz pero sin voto. Debida a esta circunstancia Maduro se mostró dispuesto a viajar a Montevideo para entrevistarse con el presidente Tabaré Vázquez para solucionar las cosas, tras pedirle: “No le haga eso a Venezuela”.
Pese a la consideración mostrada con Uruguay, la norma ha sido la opuesta. Para comenzar habría que recordar el uso indiscriminado y peyorativo del concepto “Triple Alianza” para descalificar a Argentina, Brasil y Paraguay. La ministra Rodríguez insistió en un tuit que “Venezuela no reconoce este acto írrito sustentado en la ley de la selva de unos funcionarios que están destruyendo el Mercosur” y acusó a sus “burócratas intolerantes” de secuestrar los mecanismos de la integración para expulsarlos del bloque.
No sólo eso. En un acto de clara injerencia en los asuntos de los demás países le pidió a sus ciudadanos que se manifestaran delante de las instituciones comunitarias para impedir la expulsión de Venezuela. Si alguno de los gobiernos acusados hubiera tenido una reacción de ese estilo la respuesta venezolana hubiera sido estentórea y clamorosa, sumando incluso, como en el pasado, las acostumbradas muestras de solidaridad de Rafael Correay Evo Morales.
Este reciente apego bolivariano por las normas y las instituciones contrasta con el desprecio de 2005, cuando los entonces presidentes de Mercosur (Néstor Kirchner, Luis Inácio Lula da Silva, Nicanor Duarte y Tabaré Vázquez) accedieron al pedido de Hugo Chávez de integrarse como miembro de pleno derecho tras su salida de la CAN (Comunidad Andina). Esto ocurrió sin ningún tipo de discusión, ningún estudio previo sobre el impacto de dicha medida ni ninguna política de convergencia con la realidad económica institucional, del bloque. Eran otros tiempos, los tiempos en que los deseos de Chávez debía satisfacerse sin discusión, pese a estar vigente la cláusula democrática.
Hoy las cosas han cambiado. La actitud beligerante de Paraguay contra Venezuela, producto de su suspensión de Mercosur en 2012, tras el juicio político que destituyó a Fernando Lugo, ha sido acompañada por la postura crítica de Argentina y Brasil. En aquel entonces se dio la circunstancia de que prácticamente el mismo acto también permitió el ingreso definitivo del gobierno bolivariano en Mercosur. Claro está que para que esto pudiera producirse hubo que doblegar las normas, o como reconoció el entonces presidente uruguayo José Mujica, los elementos políticos prevalecieron sobre los jurídicos. Pero entonces nadie protestó, ni se quejó de un “golpe de estado”, como hizo en esta oportunidad la ministra Rodríguez.
En relación con otros golpes imaginarios, la ex presidente brasileña Dilma Rousseff se solidarizó con la posición bolivariana al afirmar tajante que la medida atenta contra la soberanía venezolana y que la acción estuvo guiada por intereses imperiales: “La suspensión es un recurso extremo e inadecuado. Sin embargo, no se puede esperar mucho de un Gobierno ilegítimo que ha usurpado mi mandato por medio de un golpe parlamentario disfrazado de impeachment. La medida muestra la pequeñez del Gobierno de Brasil a las demandas de América Latina”. Su incomprensión del nuevo clima que empieza a vivirse en la región se confirma con su afirmación de que se trata de un acto peligroso e irresponsable que compromete la convivencia entre las naciones de América del Sur.
Lo que es indudable, más allá de las declaraciones más o menos altisonantes de las autoridades bolivarianas, es que su influencia regional ha mermado considerablemente. Poco antes de la muerte deFidel Castro, el presidente argentino Mauricio Macri señalaba en relación al triunfo de Donald Trump que: “La nueva corriente de líderes latinoamericanos no está pendiente de Cuba”. Esta misma frase se podría perfectamente hacer extensiva a Venezuela. Sin embargo, por otras razones, especialmente por los efectos desestabilizadores que su crisis podría tener sobre el conjunto de América Latina, los presidentes regionales deberían estar mucho más pendientes de lo que allí ocurre. Pero no para acatar ciegamente las órdenes o deseos del mandatario de turno, sino para evitar una desgracia de incalculables consecuencias, tanto para Venezuela como para el conjunto de la región.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Venezuela: o que vai se passar depois do fracasso do dialogo mediado pelo Vaticano? Ninguem sabe...

Existe algum futuro para o diálogo na Venezuela?


A situação da Venezuela, iniciado o acalentado diálogo entre o governo e as oposições, com mediação do Vaticano, aproxima-se claramente de um impasse, ainda que não se possa prever ainda um desfecho. O governo se empenha em bloquear todas as saídas políticas a um conflito que é o que se estabeleceu em torno da permanência ou não do presidente Nicolás Maduro em seu cargo, esperado pelas oposições numa derradeira saída constitucional, e sabotado pelo próprio governo, o presidente Maduro em primeiro lugar, o PSUV logo em seguida, as FFAA em terceiro lugar, com talvez algumas oscilações de conduta, caso a situação se aproxime de um enfrentamento de tipo violento. Em termos claros, ninguém consegue prever, nem mesmo os principais protagonistas, o que pode ocorrer na Venezuela nas próximas semanas. A situação da população, por sua vez, se agrava cada vez mais, em face do desabastecimento e da própria crise política, alimentada pelo governo diretamente.
O Brasil, país que sob os governos petistas anteriores, em especial o presidente Lula pessoalmente, apoiou aberta e enfaticamente o regime chavista em todas as suas etapas, carrega enorme responsabilidade sobre o impasse que se criou em função precisamente desse suporte político e material fornecido ao regime durante os quase quinze anos de convivência amigável, em grande medida secreta. Não é improvável que o apoio recebido por Chávez de Lula tenha outros elementos a serem considerados do que simples simpatias ideológicas, ou diretrizes emanadas dos comunistas cubanos, diretamente ou via Foro de São Paulo. Os cubanos dominam tão amplamente as duas pontas dessa relação, por motivos que superam o destino individual dos protagonistas, que caberia agregar esse fator em qualquer investigação que se faça sobre os aspectos públicos – negócios, projetos conjuntos, visitas diplomáticas – e sobretudo sobre os aspectos secretos dessa interação pouco documentada nos registros oficiais das duas partes. Agora que Chávez desapareceu – mas os cubanos permanecem – e que o ciclo petista nos quatro últimos governos brasileiros se encerrou, vários elementos dessa relação assumiram necessariamente formas ainda menos claras, ou abertas.
O novo governo do Brasil não tem, obviamente, simpatias pelo regime chavista da Venezuela, mas hesita fortemente quanto aos caminhos a serem adotados, por várias razões, nem todas podendo ser confessadas abertamente. Uma delas, justamente, é a existência de algum comércio residual entre os dois países, uma vez que a Venezuela já chegou a representar um dos mais importantes três ou quatro saldos excedentários das balanças comerciais bilaterais do Brasil. Um rompimento diplomático ou afastamento ainda mais nítido poderia colocar em dificuldade para a liquidação desses saldos, agora irrelevantes no plano macroeconômico, mas ainda importante no plano microeconômico para algumas empresas do norte ou mesmo do sudeste. Existem, por outro lado, vários financiamentos oficiais e negócios em curso, que o governo não quer ver prejudicados se houvesse um rompimento ainda maior do que a atual situação de retirada recíproca de embaixadores.
As hesitações mais importantes se explicam contudo pelo temor de que, ao cabo de uma pressão aberta e declarada do governo brasileiro, sobrevenha um rompimento explícito e formal, o que deixaria o Brasil sem qualquer condição de conduzir contatos, negociações, ou até tratar dos impactos decorrentes do agravamento da crise, sobretudo em seus aspectos humanitários na fronteira e além dela. Essas hesitações são reais, mas não explicam o pouco ativismo do Brasil nos organismos regionais e multilaterais do hemisfério. Por um lado o governo brasileiro não tem nenhuma simpatia pelo presidente da Unasul, não apenas em vista da simpatia sempre demonstrada por Samper em favor dos governos lulopetistas, como também porque essa entidade é considerada como pró-chavista e totalmente complacente com os governos bolivarianos. A OEA, por sua vez, é considerada muito próxima dos EUA para ser eficiente num mecanismo de pressões políticas e de negociações mediadas diretamente por ela (inclusive porque o seu secretário-geral já se inviabilizou como mediador ou patrocinador de um diálogo).
O Mercosul, por sua vez, que já cometeu inúmeras irregularidades nos processos de adesão e de incorporação da Venezuela ao bloco, encontra-se paralisado em função de diferenças de pontos de vista entre seus membros quanto às condições de aplicação da cláusula democrática – Protocolo de Ushuaia – ou qualquer outra medida mais forte. Os chanceleres dos quatro membros originais, à exclusão da própria Venezuela, que tem insistido estar na presidência pró-tempore do bloco, apresentaram uma espécie de ultimatum light à Venezuela, colocando a data de 1/12/2016 como o limite de tempo no qual a Venezuela deveria cumprir uma série de requisitos técnicos para confirmar sua incorporação plena às regras comerciais do Mercosul. Mas isso não representa nenhuma grande ameaça ao governo chavista em si, apenas um incômodo suplementar. Nem se sabe o que ocorrerá, efetivamente, após a data fixada pelos quatro membros do bloco.
A crise econômica se aprofunda, a crise política só pode se agravar com as manobras e tergiversações do governo chavista – ou de Maduro pessoalmente – e o Brasil e o Mercosul encontram-se totalmente indecisos quanto ao que fazer para poder influir no processo político venezuelano. De fato, uma atitude mais incisiva por parte do governo Temer do Brasil teria um efeito muito limitado sobre os atuais dirigentes da Venezuela, com os quais, de resto, não existe diálogo possível, em vista das ofensas já dirigidas pelo presidente Maduro e por sua chanceler contra o governo “golpista” que assumiu oficialmente pouco mais de dois meses atrás (mas o distanciamento já tinha se manifestado desde maio último, com o afastamento provisório da presidente).
Aparentemente, portanto, a crise venezuelana continuará se desenvolvendo com sua dinâmica própria, com um papel irrelevante, ou absolutamente marginal, dos países vizinhos e das organizações regionais num processo que pode atingir algum clímax nas próximas semanas, com o fracasso previsível do atual diálogo mediado pelo Vaticano.
O que fará o Brasil? Provavelmente muito pouca coisa, além de preparar as FFAA para atuar na fronteira de Roraima para acolher um eventual afluxo ainda maior de venezuelanos, fugindo por motivos econômicos, ou saindo no seguimento de uma crise ainda maior, com derramamento de sangue, divisão das forças militares e políticas (do PSUV), e precipitação de choques violentos entre protagonistas ainda não de todo definidos. Se a situação se agravar realmente, nenhum dos órgãos regionais está em condições de exercer qualquer papel protagonista, e talvez o assunto reverta ao próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Não está claro que o Brasil esteja em condições de assumir qualquer liderança em qualquer cenário que se desenho, e isso é preocupante para um candidato a líder regional e alegadamente a uma cadeira permanente no CSNU. A única organização supostamente habilitada a atuar, politicamente, seria o Conselho de Defesa da Unasul, que é singularmente inoperante uma vez que a divisão entre bolivarianos e os demais países se fará clara desde o primeiro momento.
Ou seja, estamos numa situação de impasse real na Venezuela e de total indefinição da parte dos seus vizinhos e organismos regionais. O Brasil deveria, há muito tempo, ter proposto a criação de um “Grupo de Apoio ao povo venezuelano”: ele não o fez, não fará, e não tem condições diplomáticas ou políticas de fazê-lo. Pobre povo venezuelano, abandonado e sem solidariedade real na região ou fora dela.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Venezuela: paises latino-americanos (menos os bolivarianos) expressam preocupacao (mais uma vez...)

Comunicado de los Gobiernos de Argentina, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay sobre la situación en Venezuela.
Miércoles 26 de Octubre de 2016

Los gobiernos de Argentina, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay:

Observamos con preocupación la aguda polarización por la que atraviesa Venezuela y reiteran su llamado para que las partes tengan voluntad política y establezcan un diálogo constructivo con soluciones que respeten el estado de derecho y las garantías constitucionales y permitan a todos los venezolanos ejercer sus derechos fundamentales.

Esperamos que las marchas del día de hoy se desarrollen en total tranquilidad y se garanticen los derechos de todos los ciudadanos venezolanos a manifestarse respetando las prácticas democráticas de nuestras sociedades.

Damos la más enfática bienvenida al acompañamiento por parte del Vaticano de tal modo a dar una mayor agilidad, con sentido de urgencia, a las gestiones para buscar, con el gobierno y la oposición, soluciones efectivas y duraderas para el pueblo venezolano.

Santo Domingo, Octubre 26 de 2016
http://www.cancilleria.gob.ar/comunicado-de-los-gobiernos-de-argentina-brasil-colombia-costa-rica-chile-guatemala-honduras-mexico

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Crude Nation: a destruicao da Venezuela pelo petroleo - Raul Gallegos (Nebraska UPress)

Petróleo é uma maldição, para países mal organizados. O Brasil estaria muito melhor hoje, se não tivesse descoberto o pré-sal. Isso atiçou a sanha dos companheiros mafiosos, e quadruplicou sua vontade de roubar. Certo: eles teriam destruído a Petrobras de qualquer jeito, mas talvez muito antes de toda a tragédia, que continuou a ser alimentada pela exuberância do pré-sal, que elevou as ações da Petrobras, deu-lhe um grau de investimento que ela não teria na ausência do pré-sal, não a teria endividado exageradamente, o bandido do Lula não teria modificado a Lei do Petróleo de 1997, não teria criado a Sete Brasil, uma empresa feita inteiramente para roubar em grande escala, não teria criado um enorme problema constitucional na repartição desses royalties que derivaram da modificação da lei, enfim, a desgraça seria menor, e teria tido um desenlace bem antes da agonia que foram os anos da Madame Pasadena.
No caso da Venezuela, o desastre foi muito maior, e o roubo em escala ainda mais gigantesca. A Alba só existiu em função dos petrodólares chavistas, e deve deixar de existir dentro em breve. Enfim, o petróleo na Venezuela foi a maldição absoluta, e o livro de Raúl Gallegos deve trazer promenores a esse respeito.
Dá para ler um excerto, mas está ainda muito caro para comprar. Em seis meses dá para comprar na Abebooks por poucos dólares.
Paulo Roberto de Almeida



Crude Nation
How Oil Riches Ruined Venezuela
Raúl Gallegos

hardcover2016. 256 pp.
9 photographs, 1 map
978-1-61234-770-7
$34.95 t
 


Beneath Venezuelan soil lies an ocean of crude—the world’s largest reserves—an oil patch that shaped the nature of the global energy business. Unfortunately, a dysfunctional anti-American, leftist government controls this vast resource and has used its wealth to foster voter support, ultimately wreaking economic havoc.

Crude Nation reveals the ways in which this mismanagement has led to Venezuela’s economic ruin and turned the country into a cautionary tale for the world. Raúl Gallegos, a former Caracas-based oil correspondent, paints a picture both vivid and analytical of the country’s economic decline, the government’s foolhardy economic policies, and the wrecked lives of Venezuelans.

Without transparency, the Venezuelan government uses oil money to subsidize life for its citizens in myriad unsustainable ways, while regulating nearly every aspect of day-to-day existence in Venezuela. This has created a paradox in which citizens can fill up the tanks of their SUVs for less than one American dollar while simultaneously enduring nationwide shortages of staples such as milk, sugar, and toilet paper. Gallegos’s insightful analysis shows how mismanagement has ruined Venezuela again and again over the past century and lays out how Venezuelans can begin to fix their country, a nation that can play an important role in the global energy industry.
 
Raúl Gallegos, a senior analyst for the consulting firm Control Risks, has been a featured columnist for Bloomberg View, covering Latin American politics, business, and finance. He has been an oil correspondent with Dow Jones and the Wall Street Journal.
"A timely, important book."—Publishers Weekly

"Crude Nation brilliantly paints the reality, and comprehensively expounds the extent and implications of Venezuela’s mishandling of precious and finite oil riches, and its unpropitious economic mismanagement."—Impeccable Business

“Gallegos provides a compelling, enlightening view into the everyday—challenging readers to understand life in one of the world’s most volatile economies.”—Ian Bremmer, president of the Eurasia Group and author of Superpower: Three Choices for America's Role in the World
 
“An invitation to understand the tragedy of one of the richest economies in the hands of an irresponsible and tyrannical government.”—Álvaro Uribe, former president of Colombia
 
“Venezuela’s tragedy was not inevitable. Why did it happen? How could it have been avoided? Who pushed Venezuelan society into the abyss of misery, death and corruption where it now lies? These pages offer interesting clues to answer these questions.”—Moisés Naím, author of The End of Power 
 
“Raúl Gallegos is a sharp-eyed guide to the alternate universe that is contemporary Venezuela. His new book, Crude Nation, makes for a lively, surprising read.”—Paul M. Barrett, author of Law of the Jungle
 
Crude Nation ponders Hugo Chávez’s legacy: an economy run more on magical realism than on either Keynes or Marx. How does a country with the world’s largest oil reserves fail so miserably in virtually every critical sector? Gallegos has a compelling theory why and has more answers than most.”—Ann Louise Bardach, PEN award–winning journalist and author of Without Fidel: A Death Foretold in Miami, Havana, and Washington
Crude Nation is essential reading for those wanting to understand what is happening in Venezuela today and what it will take to turn that nation around.”—Shannon K. O’Neil, Nelson and David Rockefeller Senior Fellow for Latin American Studies at the Council on Foreign Relations and author of Two Nations Indivisible: Mexico, the United States, and the Road Ahead
 
“Raúl Gallegos does a superb job chronicling Venezuela’s myriad woes. No other account captures in such stark terms and vivid detail how calamitous the utter mismanagement of oil riches can be for an economy and society. Crude Nationtells a tragic, cautionary tale—one with untold costs for most Venezuelans.”—Michael Shifter, president of the Inter-American Dialogue think tank 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mercosul: Venezuela suspensa de fato, em dezembro de direito - Nota MRE


Nota 337, Ministério das Relações Exteriores

Aprovação da "Declaração Relativa ao Funcionamento do Mercosul e ao Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela"
13 de setembro de 2016

Os Chanceleres dos quatro países fundadores do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – aprovaram, neste 13 de setembro de 2016, "Declaração Relativa ao Funcionamento do MERCOSUL e ao Protocolo de Adesão da República Bolivariana da Venezuela".

A Declaração foi adotada em razão do descumprimento, pela Venezuela, dos compromissos assumidos no Protocolo de Adesão ao Mercosul, assinado em Caracas em 2006, especificamente no que se refere à incorporação ao ordenamento jurídico venezuelano de normas e acordos vigentes no Mercosul.

O prazo para que a Venezuela cumprisse com essa obrigação encerrou-se em 12 de agosto de 2016 e entre os importantes acordos e normas que não foram incorporados ao ordenamento jurídico venezuelano estão o Acordo de Complementação Econômica nº 18 (1991), o Protocolo de Assunção sobre Compromisso com a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos do Mercosul (2005) e o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercosul (2002).

A Declaração estabelece que a presidência do Mercosul no corrente semestre não passa à Venezuela, mas será exercida por meio da coordenação entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que poderão definir cursos de ação e adotar as decisões necessárias em matéria econômico-comercial e em outros temas essenciais para o funcionamento do Mercosul. O mesmo ocorrerá nas negociações comerciais com terceiros países ou blocos de países.

Em 1º de dezembro de 2016, a persistir o descumprimento de obrigações, a Venezuela será suspensa do MERCOSUL.

A Declaração foi adotada no espírito de preservação e fortalecimento do Mercosul, de modo a assegurar que não haja solução de continuidade no funcionamento dos órgãos e mecanismos de integração, cooperação e coordenação do bloco.

José Serra, Ministro das Relações Exteriores

sábado, 3 de setembro de 2016

Venezuela: grandes tramoias tentando salvar o governo chavista - Luis Jose Semprun (Primero Justicia)

Dominicana reloaded
Por: Luis José Semprum
Primero Justicia, 3/09/2016

Queridos lectores, como ustedes recordarán, a finales de mayo se llevó a cabo en República Dominicana una reunión secreta entre el Gobierno y sectores colaboracionistas de la oposición, auspiciada por los expresidentes Rodríguez Zapatero, Leonel Fernández y Martín Torrijos. El objetivo de dicha reunión fue fomentar un presunto “diálogo” y frenar las sanciones de la OEA contra Maduro. Sin embargo, el pacto fracasó porque, afortunadamente, la reunión se hizo pública.

Pues bien, los mismos factores que promovieron el fiasco de Santo Domingo han seguido en contacto desde entonces, e incluso sostuvieron una reunión la noche antes de la marcha del 1 de septiembre. El encuentro fue auspiciado por Rodríguez Zapatero, quien vino a Venezuela por pocas horas, con el objetivo de asegurar la asistencia de las partes.

En dicha velada participaron el Ministro del Interior, Néstor Reverol, junto a los hermanos Jorge y Delcy Rodríguez, por el Gobierno; y por la oposición, un alcalde capitalino de Primero Justicia, un diputado de Un Nuevo Tiempo, un dirigente de AD e, increíblemente, un conocido diputado de Voluntad Popular.

El objetivo fue asegurar que la “Toma de Caracas” no se saliera de control. Es decir, que nadie fuera a Miraflores, que el discurso se mantuviese apegado a exigir una fecha para el RR (y no la salida de Maduro), y que todo el mundo se fuese a sus casas a las 2:00 de la tarde, como efectivamente ocurrió.

Hay quienes piensan que los sectores colaboracionistas de la MUD están comprados por el oficialismo, y que por eso llegan a este tipo de acuerdos con el Gobierno. Pero yo más bien creo que los une el temor sincero a que se produzca una intervención militar. Ya Capriles lo dijo: “Lo peor que puede ocurrir es un golpe de Estado”. Mientras que Ramos Allup le dijo a Maduro en plena cadena nacional: “Debemos trabajar juntos para evitar un golpe militar, porque no hay golpes buenos, todos los golpes son malos”.

El miedo a una acción militar es lo que explica que la MUD trate de evitar a toda costa un conflicto entre poderes. También explica que no quieran hablar de la nacionalidad de Maduro. Ni siquiera les pasa por la cabeza hacerle un “impeachment”, como ocurrió en Brasil con Dilma Rousseff, no sea que se genere una crisis de gobernabilidad, en cuyo caso las Fuerzas Armadas estarían obligadas a garantizar el orden.

Los acuerdos secretos entre oficialismo y oposición excluyen a Voluntad Popular, y por eso la feroz persecución gubernamental contra sus líderes. Pero algunos dirigentes de VP se prestan para esta movida, porque quieren quedarse con el partido, aprovechando que los luchadores más aguerridos están presos o perseguidos.

Espero que pronto se filtre más información sobre estos nuevos acuerdos y que, por eso mismo fracasen, al igual que ocurrió con los convenios de Dominicana.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Crise politica na Venezuela recrudesce na vespera de manifestacao oposicionista

Crise política na Venezuela recrudesce à véspera de manifestação oposicionista
Governo suspende prisão domiciliar do ex-prefeito Daniel Ceballos e proíbe voo de jatos particulares no país por uma semana
ALFREDO MEZA
Caracas 29 AGO 2016 - 18:34    BRT

A Venezuela viverá nesta quinta-feira um novo capítulo de sua infindável polarização. A oposição planeja ocupar as ruas de Caracas, a capital, com uma passeata que partirá de vários locais, confluindo para se concentrar em seu feudo, a região leste da cidade, para exigir que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) acelere a realização do plebiscito revogatório do presidente Nicolás Maduro. O Governo, por sua vez, também decidiu sair às ruas, em um esforço de mobilização para tentar se contrapor ao repúdio à sua gestão anunciado pelas pesquisas e agitando a bandeira da existência de um possível golpe de Estado em curso contra si, recurso clássico do chavismo quando a temperatura do conflito aumenta no país.
O Governo organizou um dispositivo para a venda de alimentos controlados, que se tornaram escassos devido às condições impostas pelo seu próprio modelo econômico, e anunciou “a ocupação da Venezuela”. A expectativa é de que, nesse dia, seus simpatizantes se concentrem nas praças públicas e avenidas em todas as cidades do país. Os funcionários mais leais a Maduro reiteraram as ameaças de demitir altos cargos de sua administração que respaldaram uma saída antecipada de Maduro.

No sábado, o Governo deu sinais de que parece estar levando muito a sério as manifestações de quinta-feira. Durante a madrugada, membros do Serviço Bolivariano de Inteligência invadiram a casa de Daniel Ceballos, ex-prefeito de San Cristóbal e considerado o número três do Partido Vontade Popular, organização dirigida pelo famoso oposicionista Leopoldo López, para executar a ordem de um tribunal de suspender a sua prisão domiciliar. Horas depois, o Ministério da Justiça emitiu uma nota em que afirmava ter descoberto que Ceballos, um dos líderes das violentas manifestações ocorridas no primeiro semestre de 2014, planejava fugir para coordenar “ações violentas” na clandestinidade a partir de 1 de setembro. Ceballos foi, então, recolhido a uma penitenciária na região central da Venezuela.

Uma parte da mais alta direção do partido de López –o prefeito David Smolansky e os deputados Luis Florido e Freddy Guevara—também está sendo ameaçada de prisão, segundo denúncia veiculada no Twitter pelo presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup. O regime está convencido de que a Vontade Popular tem conseguido convencer o restante da oposição a transformar uma manifestação como a de quinta-feira em um pretexto para derrotar Maduro. Florido, que é também presidente da Comissão de Política Externa do Parlamento, afirmou que o governo planeja criminalizar a chamada “ocupação de Caracas”.

Durante todo o dia de sábado, esperava-se que o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, preso em sua residência desde 2014 após os violentos incidentes do primeiro semestre daquele ano, também fosse transferido, como Ceballos, para uma penitenciária. Apesar das medidas especiais adotadas pelos responsáveis por sua segurança, o rumor não se concretizou.

O Governo dos Estados Unidos se disse “profundamente preocupado” com a decisão de se colocar Ceballos novamente na prisão. Em nota divulgada neste domingo, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, condenou a manobra, vista por Washington como “uma tentativa de intimidar e impedir o direito dos venezuelanos de expressar a sua opinião livremente em 1 de setembro”; o documento exige a “imediata libertação” de Ceballos. “Em uma sociedade democrática, não há espaço para usar os instrumentos do Estado com o objetivo de intimidar e silenciar a oposição política”, diz a nota.

Suspensão de voos particulares

O Instituto Nacional da Aeronáutica Civil acrescentou mais lenha na fogueira daqueles que avaliam que o governo quer evitar que se façam registros visuais para mostrar a dimensão da manifestação marcada para esta quinta-feira. Desde sábado, estão proibidos os voos de jatos particulares e de drones em todo o território venezuelano. A medida é válida até o dia 5 de setembro.

Na ausência de explicações oficiais, o argumento referente ao temor do governo começa a ganhar corpo nas redes sociais e entre os analistas políticos. Foi uma medida surpreendente que visaria também, segundo essas interpretações, a evitar o deslocamento de dirigentes políticos estrangeiros para participar do protesto. A mulher de López, Lilian Tintori, havia anunciado na semana passada a presença, em Caracas, de representantes de várias organizações estrangeiras.

As expectativas criadas em torno da manifestação não repercutiram na disposição das autoridades eleitorais, que sempre aguardam pelo vencimento de todos os prazos estabelecidos pelo cronograma do plebiscito a fim de anunciar os passos seguintes. “A passeata da oposição não altera os nossos planos em nada”, afirmou a Socorro Hernández, integrante do CNE, alertando para o fato de que qualquer ocorrência violenta na manifestação poderá levar à suspensão do processo que pretende colocar um fim ao mandato de Maduro.

Segundo esse plano, o segundo passo do longo caminho da oposição será dado no fim de outubro. Durante três dias, em datas ainda não definidas, a oposição tentará recolher apoio de 20% do eleitorado para finalmente obrigar à convocação do plebiscito. Falta definir alguns detalhes para que essas datas sejam marcadas e anunciadas.

Duas integrantes governistas do CNE –a própria Hernández e Tania D’Amelio— defendem, porém, que cada uma das 23 províncias do país precisaria registrar pelo menos 20% de eleitores favoráveis à consulta para que esta seja convocada. Se essa condição prevalecer, será um novo marco na história da Venezuela para esse tipo de consulta popular. No processo anterior, convocado em 2004 contra o então presidente Hugo Chávez, o que se considerou foi o total de assinaturas recolhidas em todo o país, independentemente dos percentuais obtidos em cada região.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Venezuela: ate quando os paises vizinhos vao assistir inermes 'a deterioracao dramatica do pais?

Notícias do dia 23/08/2016:

O Globo online – Chefe da OEA manda carta a López: 'Venezuela não tem Estado de Direito'


WASHINGTON/CARACAS - O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, disse nesta segunda-feira que a ratificação da condenação contra o opositor venezuelano Leopoldo López foi o "marco" do final da democracia e do Estado de Direito nesse país.
"Nenhum foro regional, ou sub-regional, pode desconhecer a realidade de que, hoje, na Venezuela, não há democracia nem Estado de Direito", escreveu Almagro em uma carta aberta a López, a quem chamou de "amigo". "A princípio, não sabia que você era um preso político. Quando vi a sentença, assimilei palavra após palavra a dimensão do horror político que vive seu país."
Um recurso do líder opositor contra uma sentença de 14 anos de prisão por seu papel nos protestos antigoverno dois anos atrás foi rejeitado na semana passada por um tribunal venezuelano. López estava na vanguarda das manifestações exigindo a renúncia do presidente Nicolás Maduro. Quarenta e três pessoas morreram durante os protestos.
Almagro fala ainda na carta que a ratificação da condenação é "um marco do final da democracia".
Os críticos dizem que seu julgamento foi uma farsa e que López, a quem Maduro chama de criminoso perigoso, foi preso para sufocar a dissidência. Um promotor fugiu do país dizendo que foi pressionado a incrimá-lo. A acusação afirmou que López enviou mensagens subliminares para incitar a violência.
A condenação em 2015 estragou uma breve reaproximação entre Caracas e Washington, meses após os dois lados terem começado discussões para acabar com mais de uma década de discórdia. López se tornou célebre entre os opositores do governo do presidente Nicolás Maduro, que o acusam de violar direitos humanos. O governo dos EUA, as Nações Unidas e grupos de direitos internacionais pediram a libertação do opositor. A Anistia Internacional criticou a decisão da corte, dizendo que López é vítima de "uma caça às bruxas".
Para Almagro, os venezuelanos "são vítima da intimidação", "símbolo de uma gestão ineficaz". Ele ainda apelou pela liberação imediata a um referendo revocatório sobre o mandato de Maduro.
Almagro e Maduro já tiveram algumas discussões acaloradas através de discursos e cartas. Enquanto o chefe da OEA (que foi chanceler do Uruguai sob o governo de José Mujica, presidente aliado de Maduro) chamou o venezuelano de "projeto de ditador", o mandatário o classificou como "lixo" e "escravo do imperialismo" em diferentes ocasiões.

Folha de S. Paulo – Maduro dá 48 horas para defensores de referendo deixarem o governo


O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, determinou a saída, no prazo de 48 horas, de funcionários que ocupam cargos de liderança em cinco ministérios e que tenham assinado em favor do referendo revogatório contra o presidente, alavancado pela oposição.
O dirigente chavista Jorge Rodríguez afirmou nesta segunda (22) que há listas com "os nomes das pessoas (...) que, de forma pública, expressam sua proximidade com a direita venezuelana e que participaram do processo de autorização para a ativação do falido referendo revogatório".
"Há um prazo de 48 horas para que essas pessoas que estão nos chamados cargos de confiança, cargos de liderança, tenham outro destino profissional", disse em coletiva de imprensa.
Apoiadores da oposição ao presidente Nicolás Maduro participam de marcha em maio, em Caracas
A lista dos nomes foi entregue aos ministérios da Alimentação, Indústrias Básicas, Finanças, Trabalho e o gabinete da Presidência, "para estabelecer de forma categórica que não podem ter cargos de liderança (...) pessoas que estão contra a revolução e o presidente Nicolás Maduro", disse Rodríguez.
Agora a oposição se prepara para uma marcha a Caracas, em 1º de setembro, para exigir que o Conselho Nacional Eleitoral estabeleça uma data adequada para o recolhimento de quatro milhões de assinaturas necessárias para a próxima etapa de chamamento do referendo.
A oposição cobra um processo acelerado para o referendo, com conclusão antes de 10 de janeiro, o que permitiria a convocação de novas eleições no caso da perda de Maduro. Após esse prazo, assumiria o atual vice-presidente.
Na semana passada, Maduro prometeu que, em caso de golpe contra seu governo, o país reagiria de maneira mais dura que a Turquia, que sofreu uma tentativa frustrada de golpe em 15 de julho.
"Vocês viram o que aconteceu na Turquia? Erdogan vai parecer um bebê de colo comparado com o que a Revolução Bolivariana fará caso a direita ultrapasse a linha com um golpe", disse Maduro na sexta-feira (19), em pronunciamento na TV.

O Estado de S. Paulo – Mulher denuncia ameaça a opositor venezuelano


Lilian Tintori, casada com Leopoldo López, líder antichavista preso em Caracas, diz que marido sofre maus-tratos e tortura psicológica
A opositora venezuelana Lilian Tintori, mulher do líder do partido Voluntad Popular, Leopoldo López, disse ontem que ele foi ameaçado de morte por um dos guardas que o mantêm sob custódia no presídio militar de Ramo Verde, nos arredores de Caracas. Frequentemente Lilian denuncia maus-tratos contra o marido que, segundo ela, também sofre tortura psicológica e é submetido a humilhações pelos carcereiros. “Levaram Leopoldo ao limite. Eles o ameaçaram de morte. Um sargento disse ‘temos de matá- lo’”, declarou Lilian em entrevista à rádio RCR, crítica do chavismo. Segundo ela, o militar que ameaçou Leopoldo, identificado como “Corredor”, pertence à Diretoria de Contrainteligência Militar do Exército. Ainda conforme o relato da opositora, López questionou o militar sobre a ameaça e o sargento teria respondido que ele só cumpria ordens.
Lilian cobrou explicações da cúpula militar, leal ao chavismo, sobre as ameaças. “Por isso temos denunciado que a vida dele está em risco. Quem o ameaça é o carcereiro que o maltrata e o humilha e aponta uma arma em seu peito”, disse Lilian. “Nós, como família, temos de denunciar isso. É urgente que a cúpula militar responda por isso.” Ainda de acordo com a opositora, desde que López se reuniu com o ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, as condições dele na prisão pioraram bastante. “Todos os dias tiram algo dele e o tratam de maneira ainda pior”, disse. Ela disse que López está isolado e não pode falar com os filhos. As únicas pessoas com acesso a ele são quatro guardas que o monitoram por vídeo o tempo todo.
“A falta de autonomia nos poderes públicos chegou a tal ponto que não se pode interromper esse tipo de ordem (vinda do governo)”, acrescentou Lilian. Ainda ontem, a coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD)voltou a pressionar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para acelerar o processo do referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro. Segundo a MUD, o prazo para a formalização da data da nova etapa do coleta de assinaturas acabou no dia 19. O CNE informou que isso ocorreria no fim de outubro, mas sem estipular os dias específicos.
No entendimento do CNE, no entanto, essa definição pode demorar mais duas semanas. “O CNE mais uma vez deixou de cumprir a regulamentação, o que representa um obstáculo para o exercício de participação popular na convocação do referendo”, afirmou a MUD em comunicado. Para que o referendo seja seguido de novas eleições, ele precisa ocorrer ainda este ano, algo que, pelo cronograma do CNE, é improvável. /

Valor Econômico / Financial Times - Crise leva quase 300 mil venezuelanos à Colômbia


Por Andres Schipani |, de Bogotá

Mesmo sem dinheiro e um emprego estável desde que chegou à Colômbia, no começo de julho, Eduardo já recuperou a maior parte do peso que havia perdido em casa, na Venezuela.O engenheiro de sistemas de 44 anos ganhava US$ 18 por mês em sua cidade natal de Barquisimeto, mas isso não era suficiente para ele e o filho se alimentarem, dada a inflação galopante e da falta crônica de alimentos e medicamentos.
Eduardo, que não revela seu verdadeiro nome por ser um imigrante ilegal, diz que trabalha "aqui e ali e um amigo me ajuda" em Bogotá. "Pelo menos consigo encontrar comida aqui. Na Venezuela falta tudo para comer."
 Não há muito tempo, a Colômbia experimentou o próprio êxodo. Mas isso foi revertido com a aproximação de um possível acordo de paz com as guerrilhas da Farc, e com a Venezuela mergulhando cada vez mais fundo na desesperança, sob seu impopular presidente Nicolás Maduro.
 "Hoje em dia, a maioria das famílias [na Venezuela] espera que um membro vá embora para algum lugar, para depois lhes mandar dinheiro", diz Eduardo.
 Sua experiência é parecida com a do contador venezuelano que chegou à Colômbia no último fim de semana e está determinado a ficar, "mesmo que eu tenha de ficar parado em uma esquina o dia inteiro vendendo arepas [iguaria venezuelana à base de milho]".
Um funcionário de alto escalão da imigração colombiana confirma essa tendência: "O número de venezuelanos que estão atravessando a fronteira, legal ou ilegalmente, vem crescendo muito".
Nos últimos dois meses, em cenas que lembram a queda do Muro de Berlim, quase 300 mil venezuelanos atravessaram reaberta fronteira para comprar comida e remédio. Muitos ficaram. Espanha e Panamá também vêm registrando a entrada de venezuelanos, principalmente ricos e de classe média.Quando Hugo Chávez assumiu o governo em 1999, os venezuelanos começaram a partir - primeiro, os trabalhadores do setor de petróleo que perderam o emprego, depois empresários fugindo dos controles cambiais; em seguida, estudantes em busca de melhores oportunidades. Pessoas de todas as camadas da sociedade estão cada vez mais desesperadas para deixar o país, no que observadores vêm descrevendo como uma crise humanitária em formação.
Os que saem, deixam para trás a escassez crônica, a criminalidade em alta acelerada, a inflação desenfreada e a redução das liberdades democráticas. Um venezuelano teria morrido ao tentar chegar à ilha caribenha de Aruba em uma jangada improvisada.
"No pior cenário, uma guerra civil vai explodir e pessoas tentarão deixar o país em botes em grandes números", diz Glenn Sulvaran, membro do parlamento da ilha próxima de Curaçao. "Elas tentarão chegar ao porto seguro econômico mais próximo."
A Venezuela está quase no topo da lista dos pedidos de asilo feitos aos Estados Unidos, ficando atrás apenas da China e do México, segundo o Pew Research Center, sendo que o número de pedidos cresceu 168% desde o ano passado.
A Guiana, um dos países mais pobres da América Latina, está deportando venezuelanos que buscam comida. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados disse que o número de venezuelanos em busca do status de refugiado aumentou de 127 em 2000 para 10.300 no ano passado.
Com a atenção voltada para os migrantes da África, Oriente Médio e América Central, Daniel Pagés, da Associação dos Venezuelanos na Colômbia, diz que o problema de seus compatriotas deveria ser visto como "parte dessa onda".
Tomás Páez Bravo, um professor de sociologia da Universidade Central da Venezuela, diz que cerca de 1,8 milhão de pessoas abandonaram o país nos últimos 17 anos. "A segurança jurídica e pessoal, juntamente com a situação econômica, historicamente sempre foram motivadores para os que saem do país", afirma. "Como esses dois fatores pioraram dramaticamente, uma onda enorme de pessoas está deixando o país."
A queda dos preços do petróleo alimenta a pior crise política, social e econômica de que se tem notícia. "Estou muito preocupado com a situação atual, em que não se encontra artigos básicos e serviços como alimentos, água, itens de cuidados com a saúde e roupas", disse recentemente o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. "Isso desencadeou uma crise humanitária na Venezuela, que foi criada pela instabilidade política."