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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 12 (chega...): o silencio ensurdecedor dos companheiros.. .

Os companheiros -- todos eles: governo, partidos, milícias mercenárias -- meteram os pés pelas mãos, ou por todas as patas, nesse episódio da blogueira que não pode falar, depois de sua visita ter sido objeto de cuidadoso planejamento entre os representantes diplomáticos de uma das duas últimas ditaduras stalinistas do planeta e os representantes dos trapalhões ditos civis, mas que são governamentais, como todo mundo sabe...
Enfim, chega de bater em cachorro morto (no caso os mercenários, cuja presença não será mais requisitada das próximas vezes...).
Paulo Roberto de Almeida

Apropriação indébita

25 de fevereiro de 2013 | 2h 09
Opiniao, O Estado de S.Paulo
Denis Lerrer Rosenfield *
 
A esquerda, sobretudo a de orientação marxista, em suas várias vertentes, ficou completamente desorientada após a queda do Muro de Berlim e a derrocada da União Soviética. Suas bandeiras e seus princípios foram lançados por terra, mostrando uma discrepância aterradora entre a realidade totalitária e os princípios supostamente humanistas.

Um caso interessante dessa desorientação foi a apropriação operada pela esquerda da doutrina dos direitos humanos, como se fosse coisa sua. Isso é particularmente visível no Brasil. Ora, a doutrina dos direitos humanos, no século 20, foi um instrumento dos dissidentes soviéticos e dos países do Leste Europeu para reclamar do controle totalitário e autoritário seguido por seus respectivos governos.

Clamavam eles por liberdade de expressão, de imprensa, de publicação. Lutavam pelo direito de ir e vir, que lhes era proibido. Andrei Sakharov, na extinta URSS, e Vaclav Havel, depois presidente da República Checa, foram símbolos importantes dessa época. Ou seja, os direitos humanos foram elaborados e usados contra os governos de esquerda, de modo a que viessem a aceitar uma liberdade necessária, de valor universal.

Nessa perspectiva, Yoani Sánchez, dissidente cubana e colunista do Estadão, nada mais faz do que se colocar como herdeira dessa tradição dos direitos humanos. Cuba, governo de esquerda tão prezado por alguns setores do nosso país, é um esbirro caribenho dos governos comunistas. Por via de consequência, os defensores da ditadura dos irmãos Castro são liberticidas que desprezam profundamente os direitos humanos.

A vergonha, usando um termo brando, das manifestações esquerdistas, com seus apoios partidários, contra a dissidente cubana mostra o quanto certos setores da esquerda em nosso país continuam presos aos dogmas totalitários do século passado. Uma visitante impedida fisicamente de falar é um exemplo de como essa doutrina, que deveria ter um valor universal, é pervertida ideologicamente.

O governo brasileiro tem uma Secretaria de Direitos Humanos. O curioso é a seleção que opera dos valores ditos universais. Se um policial morre no cumprimento do dever, o mutismo é a regra, como se não fosse algo universal. Se um invasor do MST é preso, lá vão os companheiros conclamando o respeito aos direitos humanos. Eloquente também é a omissão do governo na questão dos direitos humanos em Cuba. A contradição é flagrante.

No caso de Yoani Sánchez, o silêncio da Secretaria de Direitos Humanos é de furar os tímpanos. Será que não há nada a ser dito? Nem indignação a ser externada acerca de grupos que usam da violência para impedir a liberdade de expressão do pensamento de uma digna representante dos direitos humanos?

O outro lado da apropriação manifesta-se no uso que se tornou corrente do politicamente correto, como se fosse a outra face dos direitos humanos. O mais interessante aqui consiste nas restrições que operam na liberdade de escolha, como se fosse um valor que deveria ser relativizado em função de "bens" supostamente maiores.

Há setores da esquerda brasileira, do PT aos tucanos, passando pelo novo partido de Marina Silva, que importam o purismo religioso comportamental dos EUA enquanto símbolo da nova esquerda. Os liberals americanos, cuja tradução correta deveria ser trabalhistas ou social-democratas, para distingui-los dos verdadeiros liberals, os liberais no sentido inglês do termo, estariam fornecendo os novos parâmetros da esquerda. Não deixa de ser interessante constatar que os discursos antiamericanos vêm acompanhados da importação da ideologia esquerdizante norte-americana.

O politicamente correto brasileiro está importando as cotas raciais americanas, apelando para posições morais, como se a solução da miséria no Brasil passasse pela introdução de uma nova forma de racialismo, discriminando, em sentido inverso, as pessoas pela cor. Pior ainda, pela autodeclaração da cor, o que aumenta ainda mais o componente ideológico dessa diferenciação/discriminação. O valor universal da igualdade entre as pessoas perde-se no ralo.

Outra importação é a das restrições à liberdade de fumar e mesmo, por extensão, as tentativas de interferência na própria produção de tabaco, produto, aliás, importante da pauta de exportação brasileira. Não se trata, evidentemente, de defender o direito de alguém dar uma baforada na cara de outro, mas tão simplesmente de guardar o respeito à liberdade de escolha de cada um em lugares adequados e separados. Marina Silva chegou a considerar a indústria do tabaco como "algo sujo", quando se trata de um setor que se caracteriza pelo desenvolvimento sustentável em sua área agrícola, cultivada por agricultores familiares.

Exemplo ainda é a campanha crescente, e que só tende a aumentar, contra o consumo de álcool, alcançando proibições draconianas na direção de veículos. Beber está se tornando um ato que vem a ser identificado com dano irremediável à saúde, podendo se traduzir até pela morte do próximo. Estamos voltando ideologicamente à doutrina da lei seca americana, revigorada de outra maneira pelo purismo comportamental religioso.

Mais uma questão que se encaixa nessa "cruzada" do politicamente correto é o controle quase total da liberdade de escolha dos cidadãos, no exercício legítimo - e universal - do direito à autodefesa. As campanhas em curso pelo desarmamento, deixando as pessoas de bem completamente à mercê de criminosos, num Estado incapaz de assegurar a segurança física de seus cidadãos, mostram o quanto a liberdade se está tornando um valor relativo em função de supostos bens maiores.

Os direitos humanos, tais como foram elaborados e defendidos no século 20, inclusive pelos críticos dos governos de esquerda, apresentam posições de defesa irrestrita da liberdade de escolha em todos os seus níveis, contra as ideologias coletivistas e totalitárias.

* Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 11 (agora, sim, o final): mercenarios a soldo da...CIA

A CIA é mesmo uma companhia maléfica, perversa, mal intencionada, mentirosa, enganadora, embusteira, falastrona, gozadora, e brincalhona: pois não é que ela enganou até os companheiros do PCdoB (os mais sizudos no seu stalinismo tupiniquim), os companheiros do PT (os mais trapalhões, nas suas receitas simplórias) e várias tribos de trogloditas que pensavam estar lutando bravamente contra a CIA, quando na verdade, eles estavam é trabalhando para ela?!?!?!
Esse Embaixador cubano só pode ser um agente da CIA, escondido há muito tempo no governo cubano e no seu serviço diplomático. Esses agentes da Secretaria Geral dos Trapalhões só podem ser da CIA, ao montar toda essa operação carnavalesca contra uma... agente da CIA.
Essa CIA é impagável: de vez em quando ela quer rir do trapalhões, tirar um sarro dos pcdobistas (assim que se escreve?)
A CIA, aproveitando que sua agente cubana número 008 estava de malas prontas para este país de piratas trapalhões e de stalinistas rocambolescos, montou uma operação só de brincadeira para ver se os companheiros caiam nela. E não é que cairam?
Nunca o regime cubano foi tão desconstruído quanto nesta semana memorável! Nem que a CIA fizesse propaganda contra durante todo um ano não alcançaria o sucesso estrondoso de contra-propaganda que os companheiros fizeram contra a sua ilha tão querida.
E mais risível, ainda, isso não custou nada, nadicas de peteberbas à CIA. Tudo saiu de graça.
Até a passagem da sua agente especial foi paga por ONGs europeias e voluntários brasileiros.
Nunca antes neste país a CIA riu tão tanto, sem pagar um centavo por isso.
Ela precisa mandar um cartão para os companheiros, com as suas congratulations...
Paulo Roberto de Almeida 

‘A CIA agradece’
Ricardo Noblat
O Globo, 25/02/2013

Digamos que proceda a desconfiança disseminada pelo governo cubano de que a blogueira Yoani Sánchez é, sim, agente da CIA, a agência de espionagem americana. Por sinal, estão em cartaz dois filmes, merecedores do Oscar, que destacam a eficiência da CIA: “A hora mais escura”, sobre a captura e morte de Bin Laden, e “Argo”, que trata do resgate de um grupo de americanos reféns do regime iraniano.

O que a CIA esperava da passagem de Yoani pelo Brasil? Que ela tivesse oportunidades para falar mal de Cuba, há mais de 50 anos sob o controle dos irmãos Castro (Fidel e Raul). E que a imprensa, ocupada com os assuntos internos do país, dedicasse à blogueira um mínimo de atenção. Ela viajou ao Brasil a convite do jornal O Estado de S. Paulo. Ali, certamente, teria espaço garantido.

Com o que a CIA não contava? Com a adesão entusiástica aos seus planos dos partidos brasileiros de esquerda. Por toda sua vida, a esquerda batalhou para chegar ao poder. E a CIA, e os serviços de espionagem que a antecederam, sempre atrapalharam. A esquerda tentou chegar pela primeira vez em 1935 ao deflagrar a Intentona Comunista. O movimento fracassou em menos de 72 horas. Um vexame.

A renúncia em 1961 de Jânio Quadros permitiu que o vice João Goulart ascendesse à presidência da República. A esquerda imaginou que se o manobrasse com apuro e arte, o poder acabaria ao alcance de suas mãos. Os militares derrubaram Goulart e empolgaram o poder durante 21 anos. Depois se passaram três eleições para que na quarta, cavalgando o ex-metalúrgico Lula, a esquerda finalmente chegasse lá.

Uma esquerda dócil, é bem verdade, que renunciara à maioria dos seus dogmas. A esquerda possível, haja vista que seu principal líder nunca foi de esquerda. Embora atraente devido às suas miçangas, o penoso exercício do poder desfigurou a esquerda por completo, a ponto de forçá-la a sentar no banco dos réus. Nem por isso se pensou que pudesse tê-la despojado de inteligência. Foi o que aconteceu.

Faltará ao governo cubano a energia do passado? Não me refiro ao “paredón” como instrumento de castigo para os que contrariam os interesses do regime. O “paredon” saiu de moda. Mas, entre ele e uma reles admoestação, deve haver um meio termo para se punir o desastrado embaixador que pediu a ajuda de ativistas políticos tão espertos quanto ele. Resultado: transformaram a vilegiatura de Yoani em um baita sucesso de audiência.

Não o debitem, porém, apenas à ignorância das seções juvenis de partidos e de organizações que ainda pregam a implantação do comunismo no país. Por que as direções de partidos como o PT e o PC B não desautorizaram os atos de hostilidade dos seus militantes contra a blogueira cubana? Ora, porque estavam de acordo com eles. Sabiam quem os encomendara. Calaram por conveniência.

Nem assim conseguiram esconder suas impressões digitais deixadas em cada um dos atos. Yoani foi à Câmara falar em uma comissão técnica. Deputados do PT, em desespero, convenceram Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara, a convocar uma sessão extraordinária. Evitariam assim que a TV Câmara transmitisse a exposição de Yoani. Realizou-se a sessão. Mas Yoani foi até lá confraternizar com seus algozes. Ou seus cúmplices.

A semana que passou não teve para ninguém ─ nem para Dilma, lançada candidata à reeleição, nem para Lula, que a lançou, nem para Aécio, que discursou no Senado. Só deu Yoani. Comovida, a CIA agradece aos seus agentes voluntários.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 10 (fim?): Cubanos e companheiros retiram suas milicias sujas das ruas...

A estratégia parecia genial: já que a agente da CIA vinha atacar a gloriosa revolução cubana no Brasil, os enviados diplomáticos da dita cuja combinaram com seus serviçais companheiros nacionais uma série de protestos "voluntários", com amplo uso de simpatizantes da causa moribunda.
Seria esperto se não fosse esperto demais.
As milícias organizadas de voluntários eram por demais trogloditas, formadas por mentecaptos, rústicos ou simplesmente bárbaros, como os de Átila e Gengis Khan, por exemplo, uma horda de mercenários mal pagos, recrutados no lumpenproletariado que vive de favores companheiros, e que se revelou agressiva demais; bem feito para os estrategistas idiotas.
Deu certo demais; deu tão certo, que deu errado, e entornou o caldo.
Alguém menos idiota percebeu que era contraproducente, já que a população estava vendo de que material são feitos esses fascistas a soldo.
Assim, deram ordens para retirar suas tropas da rua.
Será que alguém vai ser responsabilizado pela c......a?
Acho que não; vão fazer um cursinho de boas maneiras para as milícias fascistas atuarem da próxima vez... embora essas coisas nunca dêem certo quando se trata de mercenários do lumpen.
Fascistas são fascistas por definição, ou seja, trogloditas por natureza...
Os seus chefes são retardados mentais, mas ainda possuem dois neurônios que usam de vez em quando. Vão ficar quietos agora e tentar controlar a malta de rufiões que anda babando por aí.
Paulo Roberto de Almeida 

A blogueira e os mercenarios, 9: viva a embaixada cubana, viva a SG-PR...

Estão de parabéns o embaixador cubano e o Secretário-Geral da Presidência da República.
Eles conseguiram!
Tiveram sucesso absoluto: conseguiram cumprir plenamente as ordens de seus chefes em Havana.
O embaixador deve ter mandado vários telegramas à sua chancelaria, relatando em primeiro lugar que "cumpri instruções", informando depois como atuaram os amigos de Cuba nos vários eventos programados para aparição da dissidente agente da CIA.
O SG-PR deve ter telefonado meio constrangido ao embaixador dizendo que também cumpriu instruções, mas que talvez o sucesso tenha sido bem sucedido demais, pois afinal de contas a tchurminha contratrada para atrapalhar acabou atrapalhando demais, e causou mais rebuliço que protestos em favor de Cuba.
Se ambos forem sinceros consigo mesmos, verificarão que foi um desastre total toda a operação, já que a população constatou que Cuba afinal é uma ditadura intolerante.
Como eles são incapazes de exibir tais sentimentos, devem estar apenas contabilizando o sucesso da operação.
Por isso mesmo, eu lhes estendo meus cumprimentos.
Conseguiram, bravo!
Conseguiram juntar um bando de fascistas do partido dos companheiros a uma das duas últimas ditaduras stalinistas moribundas do planeta.
Vão morrer com eles. Isso que é solidariedade e amizade.
Parabéns pela fidelidade canina. Aliás, de quatro patas...
Paulo Roberto de Almeida 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 8: uma ditadura ordinaria

Exclusivo: os bastidores da reportagem que mudou a vida de dissidente cubana

O correspondente no Brasil, John Lyons, representou o The Wall Street Journal (WSJ) na coletiva de imprensa com a blogueira Yoani Sánchez, promovida pelo Estadão, nesta quinta-feira, 21. Quando ele se levantou para fazer uma pergunta, a cubana o interrompeu e disse que o jornalista foi responsável por mudar sua vida, em conseqüência de reportagem escrita em 2007. A dissidente do regime cubano se referiu à notabilidade que ganhou devido à repercussão de seu blog, ‘Geração Y’. "A minha vida mudou, por causa de um artigo que ele escreveu", disse.
Yoani-sanchez_21
Yoani atribui a correspondente do WSJ notabilidade que ganhou desde 2007 (Imagem: Reprodução/Geração Y)
Lyons explica ao Comunique-se que há seis anos os cubanos que moravam em Miami (EUA) começaram a se questionar sobre a pessoa que mantinha o blog ‘Geração Y’ e sobre suas intenções em expor a realidade do país comunista na internet. “Fui a Cuba, cheguei como turista, com chinelo e roupa havaianos. É muito difícil para um americano conseguir o visto de Cuba”.

O americano permaneceu por uma semana na ilha caribenha. Antes de todos os encontros que teve com Yoani sempre ia a pontos turísticos de Havana para não levantar suspeitas do governo. “Ao sair do hotel, ia para pontos turísticos. Peguei um taxi irregular para ir até a casa de Yoani, mas acredito que a casa dela era vigiada constantemente”.

Correspondente do WSJ há nove anos, o jornalista conta que a reportagem sobre Yoani foi capa da edição impressa do veículo. Ele, entretanto, não assinou a matéria. Lyons e o editor concordaram que a melhor opção era não divulgar o nome do repórter para que ele pudesse entrar outras vezes na ilha comandada pelos irmãos Castro.

O jornalista fala que "medo" não é o termo mais apropriado para se referir a sensação que teve ao se passar por um turista em Cuba. “Senti um pouco da paranoia de morar em um regime totalitário. Eles colocam uma espécie de polícia na sua cabeça e você deixa de fazer coisas que faria normalmente”.

Yoani, a blogueira "turista"
Datado de 22 de dezembro de 2007, a matéria “Yoani Sánchez fights tropical totalitarianism, one blog post at a time” (“Yoani Sánchez luta contra o totalitarismo tropical, um post de cada vez”, em livre tradução) conta como a cubana contornava as proibições do governo e conseguia ter acesso à web para postar seus textos. “Para se livrar das restrições cubanas de acesso à internet, a aparente pária de 32 anos se passava por turista para entrar em um café com internet, em um luxuoso hotel da cidade, normalmente o bar Cubans. Vestida de shorts de surf cinza, camiseta e alpercatas verde-limão, ela passou por um guarda do hotel e deu um largo sorriso. O guarda, alto e de cabelo raspado, deu um passo para trás”, narra a cena. Lyons revela que a rotina se tornou comum na vida de Yoani desde abril daquele ano.

Na reportagem, o jornalista ressalta que geralmente blogs mantidos sobre Cuba são feitos ou por pessoas que visitam a ilha ocasionalmente ou por moradores antigos. “Ela não só escreve de Cuba, como também assina o seu nome e publica uma foto sua. Muitos blogueiros de Havana são anônimos”.

A blogueira e os mercenarios, 7 - Sandro Vaia

Democracia: agite antes de usar, por Sandro Vaia

22.2.2013
http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_229-sandro.jpgAlguma outra vez neste país a democracia foi usada para defender uma ditadura?
Não me lembro. Mas foi exatamente o que aconteceu com a manifestação contra Yoani Sanches, a blogueira cubana que se opõe à ditadura de seu país, que a impediu de falar e inviabilizou a exibição do documentário “Conexão Cuba-Honduras” de Dado Galvão em Feira de Santana, no interior da Bahia.
A grosseria, a incivilidade e a estupidez são algumas das características mais desagradáveis do ser humano e foram usadas em larga escala nao só na Bahia, mas também no plenário da Câmara Federal por algumas pessoas que ainda vegetam no estado primário do processo civilizatório.
Até aí, nada a fazer. Não podemos exigir uma nação de fidalgos nem exigir algum tipo de racionalidade de quem confunde a militância política com a barbárie.
Ninguém é obrigado a gostar de Yoani Sanches como ninguém pode ser proibido de admirar e cultuar ditaduras. Infelizmente, a história da humanidade é recheada de massas ululantes que seguem ditadores e homens providenciais de camisas verdes, negras, pardas, boinas vermelhas ou uniformes verde-oliva.
O fascínio pela servidão voluntária é uma das características mais degradantes do ser humano. O fato de que isso, ao longo da História, tenha produzido pilhas e pilhas de cadáveres pelo mundo todo, não inibe a prática da falta de fé democrática.
Ditadores pendurados de cabeça para baixo nas vigas de um posto de gasolina e outros miseravelmente fuzilados ao lado da mulher depois de tentar fugir das massas que os idolatravam até algumas horas atrás, não ensinam lição alguma a quem está disposto e decidido a nao aprender.

http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_2234-alt-www.jpg

A presença de Yoani Sanches no Brasil poderia ter sido aproveitada para estimular um debate sobre os caminhos que Cuba pode seguir num eventual processo de transição para a democracia.
É evidente que o regime está desgastado, caquético e moribundo, e aí não vai nenhuma figura de linguagem com relação a quem o dirige. Foi Fidel Castro e não qualquer “gusano” contra-revolucionário de Miami que disse, com todas as letras, que “esse modelo nao serve mais nem para nós”.
O que será de Cuba ? Uma nova China? Mas quem seria o Deng Xiaoping cubano que teria coragem de ir à Plaza de la Revolución para dizer que “enriquecer é glorioso”? O que será feito dos 500 mil servidores públicos que perderão seus empregos ?
Um debate interessante para quem está interessado em democracia e em evolução de modelos políticos. Um debate chato e desnecessário para quem prefere substituir o uso da inteligência pelo escorrer da baba elástica e bovina.

Sandro Vaia é jornalista

A blogueira e os mercenarios, 6 - Vergonha do meu pais...

Já senti vergonha de meu país muitas vezes, desde muito cedo, na época da ditadura, quando escolhi me ausentar do Brasil.
Um país dominado por uma ditadura militar, sob repressão constante, censura à imprensa, trogloditas comandando o que se poderia falar, publicar, ver e ouvir nos meios de comunicação, tudo isso me dava um profundo desgosto. Tentei lutar contra isso, mas eles eram mais fortes, conclui que era melhor para a minha saúde saír do país.
Fiquei sete anos ausente, na fase mais dura da ditadura, e só voltei no começo da abertura, que aliás experimentou uma recaída no autoritarismo logo depois, em 1977. Durante esse tempo todo, na Europa, eu senti vergonha de meu país várias vezes. Não necessariamente por causa da repressão contra "nós", os da oposição. Afinal de contas tínhamos escolhido lutar contra a ditadura, escolhemos (mal), as "armas do ofício" (literalmente), fomos derrotados, alguns pagaram com vida, outros se exilaram, muitos se esconderam, se conformaram, aguentaram, enfim, tudo isso afetava um número mínimo de brasileiros, enquanto a maioria aproveitava as benesses do crescimento econômico na era militar, comprava automóveis, televisões a cores, etc. A vida melhorou para todos, a despeito da desigualdade e da repressão política.
Mas eu me envergonhava cada vez que lia, na imprensa internacional, uma notícia sobre crianças mortas, desastres naturais atingindo pobres, criminalidade disseminada, corrupção, atentados aos direitos humanos dos cidadãos comuns (não da minoria de esquerda que eram os da minha tribo, pois isso era um pingo d'água no oceano de barbaridades humanas), devastação das florestas, índios sacrificados, enfim, tudo aquilo que chamava a atenção da imprensa mundial, pelo seu lado de catástrofes, de sofrimentos humanos, de corrupção e de ditadura, mesmo.
Depois passou: os militares saíram do poder e entramos, ao que parece, em democracia. A corrupção aumentou, os políticos se tornaram ainda mais medíocres e focados em seu enriquecimento pessoal, e o Brasil foi sendo mediocrizado continuamente pelo que se pode chamar de ascensão dos idiotas ao poder.
Voltei a sentir vergonha de meu país quando o vi alinhado a ditaduras e ditadores, quando o vi ficar do lado errado nos direitos humanos, quando o vi privilegiar a ideologia em lugar da eficiência, quando eu vi novamente agigantarem-se os medíocres, quando não os larápios e os mentirosos.
Agora, contemplando o espetáculo abaixo, volto a sentir profunda vergonha do meu país. Como é possível que pessoas normalmente constituídas -- ou seja, alfabetizadas, de classe média, alguns até com títulos universitários -- se mobilizem para, de maneira truculenta e troglodita, impedir alguém de falar?
Para mim isso é fascismo, e por isso me envergonho profundamente de meu país, pelo espetaculo de baixeza moral, de indigência mental, de degradação cultural, numa palavra, de descalabro humano.
Sinto vergonha pelo espetáculo que nos é oferecido atualmente.
Vergonha, apenas isto...
Paulo Roberto de Almeida 

Manifestação cancela sessão de autógrafos de Yoani Sánchez na livraria Cultura
Taísa Sganzerla
No Estadão online, 21/02/2013

SÃO PAULO – Manifestações contra e a favor da blogueira Yoani Sánchez provocaram o cancelamento de uma reunião na qual ela conversaria com blogueiros brasileiros no fim da tarde desta quinta – antes de uma sessão de autógrafos da nova edição de seu livro De Cuba, com Carinho.

O evento na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, foi encerrado prematuramente pela organização por falta de condições de segurança. Na segunda-feira, uma exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras, de Dado Galvão, também foi cancelada em razão dos protestos na Bahia. Como nos atos organizados anteriormente pela União da Juventude Socialista (UJS), em Recife (PE), Salvador (BA), Feira de Santana (BA) e Brasília, os manifestantes de esquerda entoaram slogans a favor do regime cubano, além de qualificar a blogueira de “mercenária” e “agente da CIA”.

Em razão dos protestos após a sua chegada no Brasil, a blogueira recebeu proteção das Polícias Militar e Civil e da Guarda Municipal de Feira de Santana e os organizadores de sua visita ao Nordeste reforçaram a segurança particular, fazendo com que agentes a acompanhassem 24 horas por dia.

Os contrários a Yoani eram muito mais numerosos do que seus simpatizantes nas mobilizações de ontem – havia cerca de 200 manifestantes no local. Um deles levantava um cartaz que dizia: “Cuba, o único país com vacina contra o câncer”. Com a ajuda de megafones e batendo tambores, os manifestantes de esquerda saudavam Fidel Castro e Ernesto Che Guevara.

Os simpatizantes da blogueira levavam cartazes de apoio: “Fale, Yoani, fale”, afirmava um deles.”Comunistas de iPhone”, gritavam contra os adversários.

A blogueira e os mercenarios, 5 - Que tal responder algumas perguntas?

Este é o depoimento de uma pessoa que vive em Cuba, e que reflete o cotidiano da população.
Na verdade, temos milhares de outros depoimentos isentos sobre a triste realidade vivida pelo cubano normal. Ops, desculpe: o cubano normal não consegue sobreviver. Só sobrevivem os que vivem de pequenos tráficos ou dispõem de familiares nos EUA, que lhes podem mandar alguns dólares por mês.
Esclareço, por necessário, que o governo cubano se apropria de uma parte considerável dessa remessa, uma IOF comunista que pode chegar a dois dígitos da remessa.
Gostaria que os mercenários que protestaram contra a cubana comentassem o que ela diz:

Economia
Cuba vive hoje uma esquizofrenia monetária. Existe o peso cubano e o peso conversível. O cubano acorda todos os dias com um objetivo: o que fazer para conseguir pesos conversíveis e alimentar sua família. Existem algumas alternativas. Caso ele seja um cozinheiro de um grande hotel, por exemplo, pode roubar um azeite ou um pedaço de queijo para vender no mercado negro. Também pode se prostituir, trabalhar clandestinamente ou pedir que parentes que emigraram enviem dinheiro. Quem não tem nenhum desses caminhos passa mal. O salário não é mais a principal fonte de renda.

YS

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Casa de tolerancia? - editorial O Globo

A intolerância recepciona Yoani Sánchez (Editorial)

Editorial O Globo, 21.2.2013
A denúncia publicada pela revista “Veja” de que o embaixador cubano no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, patrocinara reunião em Brasília para abastecer grupos radicais de “informações” contra a blogueira Yoani Sánchez foi o sinal de que a viagem da cubana dissidente ao Brasil poderia não ser tranquila.
Para tornar o fato mais grave, participou do encontro Ricardo Poppi Martins, militante petista coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, da Secretaria Geral da Presidência, de Gilberto Carvalho. Entre os presentes à reunião, articulada pelo coordenador político da embaixada, Rafael Hidalgo, havia mais representantes do PT, além do PCdoB, da CUT, etc.

http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2013/02/129_2059-alt-yoani.jpg

Impossível não estabelecer relação entre a reunião de “agitação e propaganda” patrocinada pelo senhor embaixador cubano em Brasília, na qual foi distribuído pelo menos um CD da ditadura cubana para ajudar a difamar Yoani, e ruidosas e agressivas manifestações feitas por grupelhos na passagem da blogueira principalmente por Recife (PE) e Feira de Santana (BA).
Um dos símbolos da luta pela liberdade de expressão em Cuba, Yoani teve a melhor das reações diante da claque que avançou com violência contra ela no Recife: “Esta é uma expressão da democracia que espero ver em Cuba.” Mas, assim como em Cuba, ela teve limitada a liberdade, pois, na Bahia, não pôde ser exibido o filme “Conexão Cuba-Honduras”, um dos motivos de sua viagem, depois de cinco anos de tentativas de obter visto para ir ao exterior.
Recebida ontem no Congresso, por iniciativa correta da oposição e apoio de pessoas sensatas da base do governo, como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Yoani, com a sua viagem, ajuda a sociedade brasileira a ter uma ideia de como se articulam, dentro e fora do governo, grupos radicais, antidemocratas, intolerantes.
A tíbia reação do Itamaraty a uma reunião numa embaixada estrangeira para deflagrar uma ação política de sabotagem em território nacional já demonstra o poder dessa gente em Brasília.
Ficou evidente, ainda, que se usa a mesma rede de militância existente na internet — a partir de perfis falsos, e-mails de “laranjas” — para disseminar acusações de toda ordem contra Yoani, deixando a impressão digital de uma operação orquestrada. Mais uma vez. Até os cartazes, como registrou a cubana em seu blog Generación Y, brandidos contra ela no desembarque, eram padronizados.
Nada a estranhar quanto a manifestações. É parte da democracia — que não existe mesmo em Cuba. Lá, ativismo político só a favor. O preocupante é quando esquemas autoritários de militância têm raízes dentro do aparelho de Estado.
A pressão sobre a blogueira no Brasil expõe algo bem mais grave do que a ação de minorias fanáticas.

A blogueira e os mercenarios, 4: pequena reflexao lateral...

A visita ao Brasil e os eventuais pronunciamentos públicos (quando pode) da blogueira cubana não possuem nenhuma importância intrínseca, nenhuma relevância, pelo que possam representar como argumentos em si, e para si: são banais, anódinos, sem qualquer profundidade analítica ou sem qualquer objetivo programático ou político, no sentido mais preciso dessa palavra. Ou seja, o que ela diz, ou como diz, não importa muito.
Mais interessante são as reações que esse périplo despertou e que suas aparições vêm despertando entre gregos e goianos, ou entre brasileiros e estrangeiros. Na verdade, essas reações são tristes, patéticas, lamentáveis, denunciadoras de um mal maior: o profundo atraso mental em que vive o Brasil.
Já nem me refiro aos representantes da ditadura e seus mercenários tupiniquins, pobres diabos que não sabem o que fazem, apenas receberam ordens de protestar contra a "agente da CIA"  e "inimiga do poder popular" na única ilha "socialista" do hemisfério, ou então o fazem até com entusiasmo, o que lhes permite a idiotice reinante em certos setores do que seria a esquerda, mas que é apenas um ajuntamento de fascistas ignorantes.
Mesmo os supostos "apoiadores" da turista acidental estão dramatizando de tal forma esse episódio, que ele aparece como muito mais importante do que ele realmente é, ou seja, quase nada, seja na história do Brasil, seja no itinerário de Cuba.
Cuba é hoje um anacronismo absoluto, não apenas da Guerra Fria -- que desapareceu no sentido clássico, embora sobreviva em certas reações da Rússia e nos espíritos de russos e americanos saudosistas -- mas especialmente do stalinismo, da mais terrível ditadura já conhecida na história, junto com sua irmã maoista, que não inventou nada, mas que matou infinitamente muito mais gente.
Cuba não tem nenhuma importância, para o Brasil, para os EUA, para a América Latina, e só tem importância para esse bando de idiotas -- dos dois ou três lados -- que ficam se movimentando em torno do nada, justamente, apenas revelador, repito, do estado mental atrasado em que infelizmente nos encontramos.
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 3: seria triste, se não fosse ridiculo

Leio na imprensa online:

Por Gabriel Castro e Marcela Mattos, n VEJA.com:
A blogueira cubana Yoani Sánchez foi recebida aos berros na Câmara dos Deputados por parlamentares pró-ditadura dos irmãos Castro.


O que pode levar homens graúdos, alguns barbados, certamente alfabetizados (portanto capazes de ler até jornal) a empreender esse tipo de reação com alguém que visita o Brasil, vindo de uma ditadura que ninguém que tem dois neurônios teria coragem de defender abertamente?
O que os leva a protestar contra quem tem uma mensagem de liberdade, de tolerância de democracia?
Deveria ser triste, ou patético, mas encontro sumamente ridículo toda essa movimentação em torno de uma simples visita, um clamor geral, seja a favor, seja contra. Constrangedor assistir espetáculos desse tipo, o que demonstra quão ridículas são certas pessoas... e quão ridículo está o país...
Paulo Roberto de Almeida

Liberdade à cubana

20 de fevereiro de 2013 | 2h 09
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Os militantes que na segunda-feira hostilizaram a dissidente cubana Yoani Sánchez nos aeroportos do Recife e de Salvador e na mesma noite impediram a exibição, em Feira de Santana, de um documentário produzido no Brasil de que ela é protagonista decerto nunca leram uma linha da líder revolucionária alemã Rosa Luxemburgo (1871-1919). Eles são exímios, de toda forma, em pôr de ponta-cabeça a máxima que a apartou dos maiores líderes revolucionários de seu tempo, como Lenin e Trotsky. Enquanto estes, fiéis a Marx, consideravam a ditadura do proletariado imprescindível à construção do que seria o edênico sistema comunista, já então, com admirável senso premonitório, ela cunhou a máxima graças à qual se poupou de entrar para a história pela via da ignomínia e da apologia da violência em escala até então sem precedentes. "A liberdade", escreveu, "é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós."
Os grupelhos autoritários que tentaram intimidar a filóloga e jornalista Yoani, de 37 anos - a única voz contra a ditadura castrista que se exprime pela internet, no seu blog Generación Y, criado em 2007 -, desfrutariam em Cuba da "liberdade" de concordar com a senil ordem política local. Só há pouco, numa tentativa de adiar o seu desmanche, o castrismo passou a permitir viagens ao exterior sem que os interessados tenham de obter o infame visto de saída da ilha. Graças a isso, Yoani pôde tirar o passaporte que lhe vinha sendo negado sistematicamente. Ela só esteve fora de Cuba de 2002 a 2004, quando morou na Europa. Sendo o que são os seus fanatizados detratores - filiados a organizações patéticas como a União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B e admiradora do regime norte-coreano; do Partido Comunista Revolucionário, que almeja "dirigir a classe operária"; e do Partido Consulta Popular, pró-MST, que ministra um curso de "realidade brasileira" -, seria nulo o seu risco de punição no feudo dos irmãos Castro.
Isso porque não há hipótese de que o contato com a realidade cubana viesse a abalar a sua petrificada mentalidade. Antes, seriam capazes de competir com os serviços de segurança do regime no zelo persecutório aos que ousam exercer "a liberdade de quem discorda". Esse lumpesinato político nem precisa ser mobilizado pela Embaixada de Cuba em Brasília para querer sabotar a passagem de Yoani pelo País. A blogueira e colunista do Estado, que só não foi agredida fisicamente na chegada porque estava sob proteção, não se surpreendeu. "Com insultos, estou acostumada", comentou. "Tenho a pele curtida contra xingamentos. Isso é o cotidiano na minha vida." (Depois de amanhã, ela participará de um evento aberto ao público, "Conversa com Yoani", na sede deste jornal. No mesmo dia será exibido o documentário barrado em Feira de Santana, Conexão Cuba-Honduras, do cineasta baiano Dado Galvão.) Pior são os petistas que não só comungam com o castrismo e a chamada Revolução Bolivariana de Hugo Chávez, mas comparam dissidentes a delinquentes, ou "bandidos".
Foi o inesquecível termo empregado pelo então presidente Lula, numa visita a Havana em março de 2010, quando o jornalista cubano Guillermo Fariñas completava 15 dos seus 135 dias em greve de fome pela libertação dos presos políticos da ilha. No Brasil, os manifestantes que chamam Yoani de "traidora" e de "agente da CIA" fazem barulho. O PT faz mais: o bastante para se assegurar de que o governo brasileiro se abstenha de criticar, que dirá condenar, Cuba nos fóruns internacionais sobre violações de direitos humanos. Dirigentes do partido, como o mensaleiro José Dirceu, pagam de bom grado a sua infindável dívida com Fidel por tê-los acolhido - e treinado para o desvario da guerrilha - no tempo da ditadura militar. Já Yoani, no que dependeu dela, começou bem a sua visita. O seu comedimento e manifesto fair-play chamaram desde logo a atenção. Por exemplo, recusando-se a comparar Cuba ao Brasil, mencionou os estrangeiros que, tendo passado duas semanas em um hotel de Havana, "explicam para mim como é o meu país". Mas não deixou de lembrar a frase de um amigo: "Os brasileiros são como os cubanos, mas são livres".

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A blogueira e os mercenarios, 2: o ovo da serpente...

Esses rapazes aliciados, talvez pagos (mas não creio, certamente crentes na sua verdade), estão mostrando um face cubana, venezuelana, talvez argentina, que ainda não conhecíamos no Brasil: o ódio político, a intolerância com quem não pensa como eles, a sabujice a uma causa totalitária, o que é, como escrito, acima, o ovo da serpente totalitária.
Ampliando um pouco, se trata do totalitarismo soviético, que os companheiros cubanos conhecem bem, infelizmente. Eu vi isso, quando visitava os socialismos reais (e surreais), nos anos 1970 e início dos 1980, antes de Gorbachev. Depois acabou, pelos menos na maior parte deles. Sobraram algumas ex-satrapias soviéticas onde o mesmo esquema de intimidação permanece, e certamente dois lugares miséraveis nas antípodas, Cuba e Coreia do Norte, onde o totalitarismo bolchevista viceja plenamente.
O que leva rapazes de classe média no Brasil a se tornarem serviçais de uma causa totalitária?
O que os leva a servir de bucha de canhão de ditaduras miseráveis?
Apenas eles podem responder.
Reproduzo apenas duas frases do post dessa blogueira hostilizada pelos novos bárbaros:
Ellos querían lincharme, yo conversar. Ellos respondían a órdenes, yo soy un alma libre.
É isso, os novos bárbaros ofendem a sua própria inteligência, se é que possuem alguma. Se converteram em autômatos de uma causa deplorável.
Mas, pelo menos, no Brasil, são livres para fazê-lo, assim como adotar uma atitude absolutamente contrária: homenagear o conservadorismo, a religião, o liberalismo, enfim, coisas de direita, tudo o que eles quiserem fazer, podem fazer, por enquanto.
Se e quando os companheiros totalitários assumissem o poder, só poderíamos atuar numa única direção.
Esses rapazes, apesar de idiotas, são livres. Pelo menos isso. Em Cuba não seriam...
Paulo Roberto de Almeida

El viejo acto de repudio

 
Quizás ustedes no lo saben –porque no todo se cuenta en un blog- pero el primer acto de repudio que vi en mi vida fue cuando sólo tenía cinco años. El revuelo en el solar llamó la atención de las dos niñas que éramos mi hermana y yo. Nos asomamos a la reja del estrecho pasillo para mirar hacia el piso de abajo. La gente gritaba y levantaba el puño alrededor de la puerta de una vecina. Con tan poca edad no tenía la menor idea de qué pasaba. Es más, ahora cuando rememoro lo ocurrido apenas tengo el recuerdo del frío de la baranda entre mis dedos y un destello muy breve de los que vociferaban. Años después pude armar aquel calidoscopio de evocaciones infantiles y supe que había sido testigo de la violencia desatada contra quienes querían emigrar por el puerto del Mariel.
Pues bien, desde aquel entonces he vivido de cerca varios actos de repudio. Ya sea como víctima, observadora o periodista… nunca –vale la pena aclararlo- como victimaria. Recuerdo uno especialmente violento que experimenté junto a las Damas de Blanco, donde las hordas de la intolerancia nos escupieron, empujaron y hasta halaron los pelos. Pero lo de anoche, fue inédito para mi. El piquete de extremistas que impidió la proyección del filme de Dado Galvao en Feria de Santana, era algo más que una suma de adeptos incondicionales al gobierno cubano. Todos tenían, por ejemplo, el mismo documento -impreso en colores- con una sarta de mentiras sobre mi persona, tan maniqueas como fáciles de rebatir en una simple conversación. Repetían un guión idéntico y manido, sin tener la menor intención de escuchar la réplica que yo pudiera darles. Gritaban, interrumpían, en un momento se pusieron violentos y de vez en cuando lanzaban un coro de consignas de esas que ya no se dicen ni en Cuba.
Sin embargo, con la ayuda del Senador Eduardo Suplicy y la calma ante las adversidades que me caracteriza, logramos comenzar a hablar. Resumen: sólo sabían chillar y repetir las mismas frases, como autómatas programados. ¡Así que la reunión fue de lo más interesante! Ellos tenían las venas del cuello hinchadas, yo esbozaba una sonrisa. Ellos me hacían ataques personales, yo llevaba la discusión al plano de Cuba que siempre será más importante que esta humilde servidora. Ellos querían lincharme, yo conversar. Ellos respondían a órdenes, yo soy un alma libre. Al final de la noche me sentía como después de una batalla contra los demonios del mismo extremismo que atizó los actos de repudio de aquel año ochenta en Cuba. La diferencia es que esta vez yo conocía el mecanismo que fomenta estas actitudes, yo podía ver el largo brazo que los mueve desde la Plaza de la Revolución en La Habana.

A blogueira e os mercenarios

Leio a seguinte materia num dos jornais brasileiros: 


A blogueira e ativista política cubana Yoani Sánchez foi recebida com protesto por um grupo de cerca de 20 pessoas no aeroporto internacional de Recife, na madrugada desta segunda-feira.


Não, não vou falar sobre a blogueira, pois não tenho competência para tanto, não tenho vontade, e meu blog não se destina a este tipo de comentário.
Apenas observo o seguinte: 
Cuba já não desperta as paixões de antigamente.
Vinte mercenários? Isso foi tudo o que os simpatizantes de Cuba conseguiram arregimentar para protestar contra essa blogueira?
A ditadura cubana já teve maiores apoios no Brasil...

Agora imaginemos o seguinte:
Suponhamos que um jornalista de direita, como um desses que escreve para o Partido da Imprensa Golpista, tenha desembarcado em Cuba, a convite de grupos de direitos humanos, que o foram acolher no aeroporto, com saudações efusivas, e gritos de apoio, enfim, um pouco como fizeram os mercenários do Recife, apenas que num sentido contrário, entenderam?
Os mercenários puderam agir livremente, neste país que ainda dispõe de liberdade para tanto, o que não é o caso de Cuba,
Imaginemos, pois, que o governo cubano, para preservar a paz social e a boa ordem em Cuba, resolvesse reprimir a manifestação, e deter o jornalista em questão, acusando-o de fomentar protestos ilegais, o que não é muito distante da realidade que acontece em Cuba.
As autoridades cubanas, sob pretexto de preservar a paz social, detém o jornalista em questão e depois o reenvia de volta ao Brasil no primeiro voo disponível.
O que faria o governo brasileiro?
Elevaria um protesto diplomático contra o governo cubano?
Convocaria o seu embaixador em Brasília para dar explicações quanto ao gesto prepotente, inamistoso e arbitrário?
Ou não faria nada, diferente do que fez no caso da blogueira, quando participou de reunião na embaixada de Cuba para preparar uma "boa" recepção para a referida blogueira?
Perguntas, perguntas, perguntas...
Paulo Roberto de Almeida 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Como e' que os companheiros reagiriam se...

...se por acaso eles fossem impedidos de sair do Brasil, para gozar de uma bolsa do Ciência sem Fronteiras, por exemplo, ou para fazer compras em Miami, como muitos vão agora, ou até para visitar sua Cuba querida?
Então, por que é que eles continuam a defender uma ditadura ordinária como é a cubana?
Realmente, não entendo os companheiros, tão amantes da liberdade e da democracia, e tão amigos de uma ditadura opressiva...
Paulo Roberto de Almeida

'Não fui nomeada, mas me sinto uma diplomata do povo'

Blogueira cubana e colunista do 'Estado', Yoani Sánchez diz ter tentado autorizações para deixar seu país desde 2008

07 de fevereiro de 2013
Guilherme Russo, O Estado de S. Paulo
 
A blogueira cubana e colunista do Estado Yoani Sánchez afirma ter tentado autorizações para deixar seu país desde 2008. Por 20 vezes, teve a permissão negada. Ela acredita que, com a flexibilização na lei migratória de Cuba conseguirá vir ao Brasil, onde planeja chegar no dia 18, para participar do lançamento da nova edição de seu livro De Cuba, com Carinho (Editora Contexto), em São Paulo, e da exibição do documentário Conexão Cuba Honduras, do cineasta Dado Galvão, na Bahia. A seguir, a íntegra entrevista concedida ao Estado.
Yoani Sánchez consegue visto para vir ao Brasil - Alejandro Ernesto/Efe
Alejandro Ernesto/Efe
Yoani Sánchez consegue visto para vir ao Brasil
Como a sra. recebeu o anúncio da alteração da Lei de Migração cubana?
A primeira sensação, em outubro, quando se anunciou a reforma migratória, foi uma mistura de esperança e ceticismo. Esperança porque, durante muitos anos, nós, cubanos, havíamos esperado flexibilizações para poder entrar e sair de nosso próprio país. O absurdo migratório cubano havia condenado muitas famílias à separação: muitos pais que não tinham voltado mais para ver os seus filhos, muitos avós que nunca conheceram os seus netos. Ou seja, havia um drama familiar humano acumulado por décadas. Então, havia muita esperança de que esse drama terminasse, que chegasse ao fim algum dia. Ceticismo porque, em geral, sempre temos muita desconfiança e muito receio de tudo o que vem do governo. A maioria dos cubanos sempre está se perguntando: "Onde está a armadilha?" Essas foram as primeiras sensações quando do anúncio da lei.
Quais as suas impressões ao ter acesso à íntegra do texto?
Quando comecei a ler o decreto, vi muitos pontos positivos. Por exemplo, que diminuíram os trâmites necessários para viajar, reduziram os custos, passaram a permitir que saíssemos por até 24 meses sem perder o direito a regressar, permitiram a saída a menores...
Mas?
Mas, ao mesmo tempo, também li alguns pontos, que podem ser chamados de "letras pequenas" da reforma migratória, que são algumas restrições que se mantêm sobre, por exemplo, os profissionais de certo nível e os esportistas de alto rendimento. E também há casos que podem ser interpretados como uma certa pena ideológica, ou seja, um cerco político contra opositores, dissidentes ou jornalistas independentes.
Dois artigos da lei determinam isso, não?
Exato: o artigo 23 e o artigo 25, nos incisos H, dizem que uma pessoa pode não obter o passaporte ou não poder sair pelas fronteiras nacionais se as autoridades pensam que não é de interesse público sua viagem. Isso, claro, tem uma interpretação muito ampla e pode ser usado como penalização política, contra críticos, opositores e jornalistas independentes.
Desde o anúncio da reforma, o que mudou?
Durante os três meses entre o anúncio da lei e sua aplicação, houve muitos rumores sobre como seria interpretada essa série de restrições, essas "letras pequenas".
Seu passaporte não tinha folhas suficientes para novos vistos e, por este motivo, a senhora teve que obter um documento novo para poder viajar. Como foi esse processo?
Vinte e quatro horas antes do dia 14 de janeiro (quando passou a vigorar a nova legislação migratória), meu marido (o dissidente Reinaldo Escobar) e eu começamos a fazer fila diante do escritório de migração (de El Vedado, no centro de Havana). Esperamos toda a madrugada e fomos as primeiras pessoas que solicitaram, sob a nova lei, o passaporte no escritório de nossa região.
Como foi?
Foi um momento muito duro para os funcionários desse escritório, porque eles eram os mesmos funcionários que semanas e meses antes haviam estado negando-me a possibilidade de viajar e dizendo-me que eu não estava autorizada a sair do país. Então, quando abriram as portas do escritório pela primeira vez com a nova lei em vigor, encontraram justamente Yoani Sánchez e seu marido, Reinaldo Escobar. Deve ter sido uma sensação muito difícil, não?
Os documentos ficaram prontos no prazo?
Solicitei o passaporte e disseram que eu deveria esperar duas semanas. Duas semanas depois, fui lá - e começaram as evasivas. Evasivas como: "há uma atraso", "os passaportes não chegaram", "ainda não estão prontos", "venham em alguns dias", "venham na próxima semana". Mas denunciei o atraso por meio da rede social Twitter e, para a minha surpresa, uma tarde me chamaram em minha casa para dizer que meu passaporte estava pronto. Isso é muito raro, porque, normalmente, o Ministério do Interior cubano nunca chama um cidadão para dar-lhe boas notícias. Assim que foi uma surpresa para mim me chamarem para dizer "seu passaporte está pronto".
E agora?
Agora já tenho o passaporte na mão, já tenho o visto do Brasil, já tenho o visto da Europa e estou esperando o visto dos EUA e de alguns outros países da América Latina.
Como a sra. se sentia cada vez que o governo lhe negava autorizações de saída para o exterior?
Era muito frustrante. Não somente pela impossibilidade de viajar. Por um lado, porque cada negativa significava que eu perdia uma experiência pessoal e profissional importante para a minha vida. Por exemplo, não me deixavam viajar para uma feira de livro para ir apresentar meu livro Cuba Livre ou De Cuba, com Carinho; ou não me deixavam ir a alguma cerimônia de algum prêmio que eu tivesse ganhado. Eram partes da minha vida, de minhas histórias pessoais e profissionais que o governo me arrancava, me escamoteava. Era uma sensação de muita frustração.
Mas e a esperança?
Havia. Eu tinha a convicção interior de que algum dia ia conseguir viajar. Isso me dava paciência para continuar tentando. E ainda, mais, eu sentia que tinha razão. Ou seja, era uma situação em que eu sabia que estava demandando algo que tinha que ser um direito, um direito pelo simples fato de ter nascido nesse país. Então, as funcionárias que me davam as negativas sempre faziam um papel de difícil, o papel repressor, o papel da pessoa que tem de limitar o movimento de um cidadão. Acho que isso me abriu as portas para insistir: a consciência de que tanto absurdo tinha que terminar.
A sra. já viveu no exterior. Desde quando vinha pedindo autorizações para sair novamente?
Em 2004, voltei da Suíça, estive vivendo dois anos no exterior. Criei meu blog (Generación Y) em 2007. Comecei a pedir permissão para viajar em maio de 2008, quando ganhei o Prêmio Ortega e Gasset de Jornalismo (concedido pelo jornal espanhol El País, que atualmente mantém Yoani como correspondente e articulista em Havana). Basicamente, foram cinco anos de batalha legal para poder sair do país. Uma batalha legal que me levou até a fazer uma queixa à promotoria geral. Ou seja, esgotei todos os caminhos legais dentro de meu país. Não fiquei com os braços cruzados. Não somente continuei com meus pedidos mas, ainda mais, fiz tudo o que legalmente estava ao meu alcance.
Qual é o principal motivo para que os dissidentes deixem Cuba?
Essa é uma magnífica oportunidade para a dissidência cubana. E espero, tenho a esperança, de que vamos aproveitá-la. Temos de nos dar conta que há uma nova etapa, uma nova época que começa. Uma fase em que poderemos aceder aos microfones do mundo para explicar nossos projetos. Explicar também todos esses programas, ideias e propostas para o futuro que temos para o nosso país.
Como Havana utilizou a restrição anterior para que seus cidadãos não pudessem deixar o país?
O governo cubano aproveitou que nós não podíamos sair da ilha para aumentar as campanhas de desprestígio, difamação e mentiras ao redor de muitas figuras da oposição, do jornalismo independente. Como eu, não? Então, acho que agora temos a grande possibilidade de falar com nossa própria voz, narrando nós mesmos, e eliminar muitas dessas campanhas de difamação com nossas verdades, com nossa própria projeção. Isso é muito importante porque o mundo tem de saber que Cuba é plural e diversa, que tem muita gente que ama seu país, mas não está de acordo com o governo. Essa é a grande responsabilidade que eu sinto que tenho nos ombros agora no Brasil. Sinto que tenho o dever de falar por muitos outros (opositores cubanos) que não vão poder sair por uma razão ou por outra: uma negativa no passaporte ou porque não tenham os recursos ou porque agora mesmo não possam viajar por questões familiares e pessoais. Sinto a responsabilidade de ter também que falar em nome deles.
Como lhe surgiu a ideia de vir ao Brasil?
A ideia do Brasil é um sonho muito desejado. Começou com a publicação de meu livro De Cuba, com Carinho, por meio de Jaime Pinsky, da Editora Contexto. Naquele momento, me surpreendeu muito que, em um país tão próximo culturalmente mas tão distante em outras circunstâncias, houvesse gente que lesse meus textos e estivesse entusiasmada com meu blog. Também houve uma entrevista que depois de converteu em um livro. Isso foi me revelando um mundo que me apaixonou. Um mundo de muitas pessoas nesse país que estavam interessadas no tema Cuba. Tanta gente interessada nessa pequena ilha. Desde esse momento, soube que tinha que ir ao Brasil. Depois, apareceu o documentário de Dado Galvão (Conexão Cuba Honduras) e toda a tentativa que ele e o senador (Eduardo) Suplicy, muitos amigos e gente que me lê por meio da rede social Twitter, me pedindo que lhes visitasse... E eu senti que, se tinha que chegar primeiro a algum país, se em algum primeiro lugar teria que dar esses abraços vindos de Cuba, teria que ser irremediavelmente o Brasil.
O que a senhora pretende fazer enquanto esteja no País?
Pretendo aprender. Mais do que narrar ou falar, quero beber de vocês, quero aprender de vocês. Em primeiro lugar, como se constrói uma democracia, como se sai de um autoritarismo e se começa a dar os primeiros passos à aceitação, à pluralidade, à diversidade. Quero aprender também como fazer um jornalismo mais livre, um jornalismo sem autocensura e sem censura, sobre a responsabilidade da informação. Quero caminhar muito pelas ruas das cidades e dos vilarejos do Brasil, perguntar às pessoas quais são os seus problemas, quais são as grandes vantagens que veem em viver aí. Quero fazer contatos profissionais também, porque não quero que essa seja minha última viagem ao Brasil de jeito nenhum. Tenho a esperança de estabelecer relações de amizade, relações de trabalho, relações de simpatia de povo a povo que serão muito duradouras. Vou também em um caráter de "diplomata do povo". Nenhuma chancelaria me nomeou, nenhum palácio de governo me reconhece como representante de nada, mas sinto que devo ajudar a estreitar os vínculos entre uma nação e outra. Sou uma representante da diplomacia popular. Uma diplomacia que não ocorre em nível de governo nem de chancelaria, nem que faz cartas de intenção ou memorandos, mas uma diplomacia que se faz de você a você.
Que tipo de apoio a senhora espera obter no Brasil?
O apoio principal é que tenham a capacidade de me escutar. Esse é o ponto. Se tiverem a capacidade de me escutar, sobre todas as histórias dessa Cuba diversa, plural, em mudança, uma Cuba com anseios de liberdade, uma Cuba com anseios democráticos. Se os brasileiros forem capazes de me escutar - e creio que sim, há muitos ouvidos atentos - então, já valeu a pena sair. Esse é o principal apoio, a principal ajuda que quero. E também, todas as recomendações e todas as críticas são bem-vindas, porque isso nos ajuda, me ajuda, a fazer um trabalho melhor e ser uma pessoa melhor. Mas também quero criar pontes para outras possíveis viagens de outros ativistas, outros blogueiros, outros jornalistas independentes (cubanos), a quem o Brasil poderia criar uma maneira de descobrir, descobrindo a própria Cuba. Quero criar vínculos também do ponto de vista acadêmico, conhecer muitos estudantes e interagir com pessoas que estejam fazendo jornalismo. Isso é basicamente o que quero.