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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Chines do Deutsche Bank tambem preve deterioracao sob os companheiros: vai ser demitido por isso?

O estrategista do banco usa luva de pelicas, mas não esconde dos clientes que a situação tende a se agravar caso Dilma seja reeleita. E agora, Lula, vai pedir cabeças no Deutsche também?

O banco Deutsche Bank está recomendando os seus clientes a reduzirem sua exposição aos títulos da dívida soberana brasileira denominados em dólar citando como uma das principais razões a perspectiva de reeleição de Dilma Rousseff e o “otimismo” demasiado dos mercados em relação a uma melhora nos fundamentos macroeconômicos do Brasil num eventual segundo mandato da presidente.
O banco alemão espera uma eleição apertada e apenas decidida no segundo turno.
Em nota enviada a clientes ontem, o estrategista para mercados emergentes do Deutsche Bank, Hongtao Jiang, rebaixou o peso dos títulos soberanos do Brasil em dólar de “neutro” para “underweight” (abaixo da média dos títulos que compõem a carteira sugerida para mercados emergentes), o que levaria os investidores a reduzir as suas aplicações nos papéis brasileiros em favor de outros países emergentes.
O Deutsche Bank havia elevado o Brasil para o peso “neutro” em janeiro deste ano, depois de ter deixado os títulos brasileiros por mais de um ano na posição “underweight”. Contudo, diante da recente valorização dos ativos brasileiros e da perspectiva dos fundamentos macroeconômicos, o banco voltou atrás e rebaixou novamente o País.
Jiang também recomenda os investidores favorecerem os títulos com vencimentos mais longos na curva de juros em dólar do País.
“Seguimos esperando que a presidente Rousseff seja reeleita, mas apenas após uma corrida presidencial apertada e com um apelo mais populista”, afirma Jiang em nota a clientes. “Além disso, acreditamos que o mercado está precificando muito otimismo sobre uma melhora potencial de políticas num segundo mandato de Dilma.”
Segundo Jiang, o sub-índice Brasil (na carteira de índices de mercados emergentes globais) registrou uma queda de 25 pontos-base desde o final de março. Uma queda refletiria teoricamente uma melhora na percepção do risco-País. Agora, segundo Jiang, o sub-índice Brasil está sendo negociado a 15 pontos-base abaixo da média dos títulos de países emergentes com rating soberano de grau de investimento, enquanto que no final de janeiro os papéis brasileiros eram negociados a 30 pontos-base acima da média dos países emergentes com nota de risco semelhante.
Esse nível atual de preços dos títulos brasileiros, ressaltou Jiang aos clientes do Deutsche Bank, “não compensa o risco de contínua deterioração dos fundamentos caracterizados por estagflação, piora no balanço de pagamentos, deterioração da qualidade fiscal, e um horizonte desafiador de política econômica antes e depois das eleições”.
O estrategista do Deutsche Bank disse acreditar que as eleições de outubro permanecem como um fator de restrição, limitando o escopo de mudanças significativas de políticas econômicas. O cenário base do banco alemão é que a presidente será reeleita após uma corrida apertada e apenas no segundo turno.
“A popularidade dela (Dilma) continuará provavelmente caindo nas pesquisas de opinião, devido ao ciclo desfavorável da economia, mas também em razão de uma crise de energia, uma investigação no Congresso e dificuldades ao sediar a Copa do Mundo”, disse Jiang. Mas essa queda da popularidade não será suficiente para prejudicar as chances de reeleição ou mesmo trazer de volta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir Dilma como candidato do PT, escreveu o estrategista aos clientes.
Essa dinâmica, ressaltou ele, representará um cenário desfavorável ao mercado, pois o PT provavelmente conduzirá a campanha eleitoral com forte apelo populista, o que provavelmente não melhorará a percepção sobre um segundo mandato de Dilma Rousseff. Tal apelo populista, disse Jiang, ficou explícito com o anúncio de reajuste de 10% nos valores do Bolsa Família e a correção da tabela do Imposto de Renda em 4,5% para 2015, além da continuidade da política de manter o salário mínimo crescendo a um ritmo maior do que a inflação para além de 2015.
Com base nas estimativas de José Carlos Faria, economista-chefe para Brasil do Deutsche Bank, Jiang disse que a perspectiva para os fundamentos econômicos do Brasil é bastante desafiadora. No lado fiscal, ele cita a projeção de um superávit primário consolidado do setor público de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, em comparação com a meta de 1,9% anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“A inflação permanece sob pressão, agravada por condições climáticas”, afirmou Jiang. “O provável racionamento de energia elétrica neste ano e em 2015 causará uma redução adicional da atividade econômica; a balança comercial tem se deteriorado continuamente e a estagflação parece ser o curso do futuro próximo (ao menos nos próximos dois anos)”, escreveu o estrategista do Deutsche Bank. (Blog do Fábio Alves, no Estadão).

domingo, 11 de setembro de 2011

Comparing Brazilian states with countries - Economist


Comparing Brazilian states with countries

Brazilian equivalents

Which countries match the GDP and population of Brazil's states?

THE notion that Brazil is in the vanguard of a group of emerging countries on their way to economic superpower-dom is so widely accepted as to have become trite. But how far along this road is Brazil? One way to get a quick answer is to compare Brazilian states with countries. The map below presents country equivalents for every state in terms of GDP, GDP per person and population. It throws up some curiosities: who knew that Alagoas, a state in the north-east that is currently more famous for its murder rate than for its magnificent beaches, has the same GDP per person as China? It also suggests that even the comparatively rich states in the south and south-east have some way to go before they can be compared with wealthy places in the northern hemisphere. The gauchos of Rio Grande do Sul will not necessarily be delighted to learn that GDP per person in their state is close to that of Gabon.
See our other "country equivalents" interactive maps:

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Economics 010: la economia al reves del Profesor Chavez

Eu sempre achei que o melhor curso de economia do mundo não se encontrava no MIT, em Harvard, em Yale, Princeton ou na LSE de Londres. No máximo quem poderia concorrer com el Profesor Hugo Chávez seria a Escola de Chicago, desde, claro, que você invertesse completamente os sinais, as prescrições, as análises, os diagnósticos, as curvas de oferta e procura, as leis elementares da microeconomia, o ótimo paretiano, enfim, tudo o que se poder conceber como manual de primeiro ano de economia, aquilo que os americanos chamam de "Economics 101", ou seja, os princípios elementares da análise econômica, tudo isso você vira, pone al revés, et voilà: surge um novo Manual, perfeito para afundar um país.
Graças a El Profesor, o homem que consegue subverter todas as leis econômicas, segundo o princípio de Galileu: Eppur si muove...
Claro, a economia venezuelana ainda não afundou de vez porque a alavanca galileana se chama petróleo, e tudo se sustenta com a vaca patrolífera que vem sendo ordenhada até o fim. Um dia as tetas vão secar, ou a ordenha vai ser tamanha, que esse gigolô de vaca não vai ter de onde tirar mais.
Aí tudo virá abaixo.
Mas, confesso a vocês que eu ficarei com saudades desse professor de economia al revés: nunca mais teremos alguém capaz de desmentir as leis da física como ele.
Prêmio Ignóbil de Economia na próxima seleção.
Enfim, permito-me recordar aqui um artigo que escrevi a respeito:

Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21
Brasília, 24 maio 2009, 17 p. Nono artigo da série especial, desta vez sobre as loucuras econômicas de certos conselheiros do príncipe.
Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 97, junho 2009, p. 12-24).
Em meu artigo sobra também para esse guru econômico do Chávez, Heinz Dieterich. Bando de malucos econômicos. (A série completa está neste link.)

Mas volto a insistir: acho que todo estudante de economia tem lições gratuitas, práticas, fáceis de aprender, bastante olhar o que Chávez faz; depois, é só inverter o sentido das medidas, e pronto, já tem um manual de economia al revés...
Paulo Roberto de Almeida

Venezuela’s economy
Medieval policies
Another step forward from Hugo Chávez
The Economist, August 20th 2011
Aquinas, Chávez’s latest guru

CARACAS - EIGHT years after Hugo Chávez’s socialist government imposed strict price controls on basic goods, Venezuela has the world’s highest inflation rate to show for the effort. By mid-2011, food prices in Caracas, the capital, were almost nine times higher than when the controls were introduced, according to the Central Bank; wages had risen by 40% less. Last year consumer prices increased by 27%—compared with an average in Latin America of 6%—and they are still rising. With a presidential election due next year, something had to be done. So President Chávez has used legislative powers granted him by the last parliament to decree a Fair Prices and Costs Law, which in effect makes inflation illegal.

According to the decree’s preamble, it is the “flagrant abuses of monopoly power in many sectors of the economy” that have led to “constant price rises for no other reason than the…exploitation of the people”. So the state will now set “fair prices” across the whole economy (only banks are exempted) by determining the cost structure of every type of business. The government says the bureaucracy required to do this will be ready by November. Businesses deemed to be charging “unfair” prices will be fined or temporarily shut down.

The private sector, already hemmed in by many controls, is predictably angry. But there are critics on the left too. Heinz Dieterich, a Mexican-German academic who until recently was a prominent supporter of Mr Chávez, called the law the product of “hallucinations”. The medieval notion of the “just price” (associated with St Thomas Aquinas) was a “phantasmagoric projection like God or the Holy Spirit”, Mr Dieterich wrote.

Venezuelans have been here before. A similar scheme was applied during the 1984-89 government of Jaime Lusinchi, a social democrat. During its first three years of operation, annual inflation rose from 16% to 40%, eventually topping 100% after the controls were lifted.

Just as in the 1980s, the other main effect of Mr Chávez’s price controls has been to reduce the availability of staple goods. In recent months the scarcity indices prepared by the Central Bank and private polling organisations have once again revealed widening gaps on the supermarket shelf.

Hardest to find is cooking oil, but chicken, powdered milk and cheap varieties of cheese, along with sugar and meat, are also scarce. Although things are not nearly as bad as in early 2008, the trend is negative, and the new law seems bound to exacerbate it. The retailers worst hit by supply problems are government chains specifically established to provide a reliable source of cheap food.

In 2008 the government overcame the shortages by spending over $7.5 billion on food imports. But thanks to incompetence and corruption, vast shipments of food rotted before reaching the shops. With prices for Venezuela’s oil exports high, the government will doubtless ramp up imports again rather than see shortages turn into an electoral liability. It is as well for Mr Chavez that nobody has managed to apply a “just price” to oil.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Como NAO se deve fazer analise economica (nem politica, alias)...

Nunca antes na França, nem em qualquer outro lugar -- bem talvez em algumas faculdades econômicas brasileiras -- se fez quiromancia econômica tão bem, e de forma tão bizarra, como no caso desse francês maluco.
Receita: pegue todos os fatos, eventos, processos, acontecimentos fortuitos, surpresas de festa, especuladores perversos, um pouco de sanduíches McDonald ("Eu amo tudo isso"), jogue tudo no liquidificador (ou no moedor de carne, tanto faz), chacoalhe depois, acrescente o molho que você quiser (marxiano, à la Noam Chomsky, maoista apimentado, whatever), e depois sirva a uma plateia de estudantes passivos, que se encantam com esses conceitos estrambólicos - crise do capitalismo, esgotamento do sistema, mudanças sociais -- e aceitam qualquer bobagem que lhes seja servida.
Incrível como a decadência mental atinge até os marxistas (ou talvez sobretudo eles), que deveriam ser mais confiantes no futuro do capitalismo, já que eles convivem com o sistema desde meio século e meio aproximadamente.
Incrível como esse cara, que se pretende economista, consegue juntar tudo na sua salada mista que na verdade é misturada ao mais alto grau, até perder qualquer validade analítica.
Ou seja, malucos existem não apenas em certas universidades brasileiras; nas francesas também.
Paulo Roberto de Almeida

Crise financeira mostra regime em beco sem saída, diz Chesnais
ELEONORA DE LUCENA
Folha de S.Paulo, 15/08/2011

A crise financeira não tem final à vista. O modelo de crescimento baseado em endividamento, seguido nos países ricos, está num beco sem saída. E o calcado em exportações de insumos --como o do Brasil-- pode não funcionar por muito tempo.

A análise é do economista marxista francês François Chesnais, 77, professor emérito da Universidade de Paris 13 e autor de "A Mundialização do Capital" (1996) e organizador de "A Finança Mundializada" (2005).

Para ele, os protestos em Londres, no Chile e no Oriente Médio são expressão "de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças". Numa época de valorização do consumismo, são "reações ao extraordinário abismo social", afirma.

Juca Varella-25.mai.04/Folhapress

O economista e professor da Universidade Paris 13 François Chesnais é especialista em globalização de mercados
Folha - Qual a natureza da crise atual?

François Chesnais - O momento atual é um novo episódio na crise mundial. Ela começou há cinco anos, teve seu ponto mais crítico em setembro de 2008, com a quebra do Lehmann Brothers, e não tem um final à vista. Foi prenunciada pela crise asiática (1997-1998) e, no campo das finanças, pela quase quebra do Long Term Capital Management, no início da crise financeira russa. Eventos-chave nos anos 2000 e 2001 lançaram as bases para a eclosão da crise: o crash da Nasdaq, a resposta norte-americana ao 11 de Setembro, as guerras no Iraque e no Afeganistão, muito custosas política e financeiramente, e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio.

Quais são as causas?

O funcionamento da economia mundial desde o início dos anos 2000 se baseou em dois pilares: o regime de crescimento guiado pela dívida, adotado pelos EUA e pela Europa, e o regime de crescimento orientado por exportações globais, no qual a China é a principal base industrial, e o Brasil, a Argentina e a Indonésia são os provedores-chave de recursos naturais. A crise representa o beco sem saída, o impasse absoluto do regime guiado pela dívida. O segundo pilar está levemente melhor, mas o crescimento baseado em exportações globais não poderá funcionar por muito tempo sem uma forte demanda externa, especialmente dos EUA e da União Europeia.

Por que há tensão nos mercados?

Os investidores financeiros estão extremamente preocupados. Há a perspectiva de um segundo mergulho da economia dos EUA, uma crise em forma de "W" nas economias avançadas. Outro risco é a vulnerabilidade do sistema bancário europeu, na zona do euro e também no Reino Unido. Há também o perigo de que o lento crescimento faça com que empréstimos públicos e privados sejam cada vez mais difíceis de serem recuperados.

Qual a situação na Europa?

Na União Europeia, desde abril de 2010, tem havido um contínuo fluxo de dinheiro público para alguns governos e para os bancos. Isso tem sido acoplado a políticas de austeridade muito drásticas em alguns países, que os arrastou à recessão (-4% na Grécia). Com isso, fica impossível o repagamento da dívida soberana. Provoca a quebra de empresas, além de levar os sistemas bancários na Grécia, na Itália e na Espanha para uma cada vez maior proximidade do colapso. Isso ameaça bancos nos países do coração da zona do euro, especialmente na França.

A situação dos bancos é preocupante?

Os eventos nas Bolsas estão sendo subordinados a situações bancárias críticas. Em 2008, a ameaça às finanças globais veio dos bancos de investimento dos EUA e das grandes seguradoras. O próximo episódio financeiro maior acontecerá quando um segmento do sistema bancário da Europa entrar em colapso na Grécia, Espanha ou Itália. A atual turbulência nas Bolsas é a expressão do pânico do investidor, que tenta antecipar esse tipo de evento. Seu principal efeito é contribuir para a efetiva ocorrência de um desastre em algum lugar. Isso afeta o comportamento do consumidor de renda mais alta e desencoraja investimentos da classe média.

Nos seus livros, o sr. descreve os detalhes do avanço das finanças. Como avalia o atual momento na história do capitalismo?

É possível traçar paralelos com o passado. Mas em nenhum período anterior foram tão elevados a quantidade de ações e títulos, os ganhos dos rentistas e nem foi tão grande a quantidade em circulação do que eu chamo de "capital monetário elevado à enézima potência". Nunca os lucros financeiros foram tão altos em comparação com a atividade produtiva. Há as consequências da globalização neoliberal contemporânea. Nunca as finanças foram tão desreguladas. Nunca a capacidade dos governos de recuperar o controle sobre as finanças foi tão fraca. A extrema fraqueza da liderança política é uma consequência direta disso. Mas há uma nova dimensão da história do capitalismo.

Qual é?

Essa nova dimensão é a crise ambiental, começando com as mudanças climáticas, que se desenvolve em paralelo à ascensão das finanças e de sua crise. Por isso, entramos nas piores condições possíveis numa era em que a civilização --como a concebemos, no Ocidente e no Oriente-- está patinando. Nossa era é uma em que as enormes e concentradas forças econômicas estão sendo chamadas a agir em tempos de crise, o que Naomi Klein chama de "a doutrina do choque": setores poderosos da sociedade não apenas protegem eles mesmos, mas usam catástrofes para ampliar sua dominação. A forma como o furacão Katrina foi tratado em Nova Orleans mostra que isso vale para grandes eventos ambientais. Alguma coisa muito perturbadora ocorreu silenciosamente na França e, imagino, em outros lugares: a "luta contra a mudança climática" foi substituída pela "adaptação à mudança climática".

Os governos deveriam jogar mais dinheiro nos mercados financeiros?

As políticas fiscais anunciadas ou já decretadas são fortemente pró-cíclicas. Elas acentuam o beco sem saída do regime de crescimento e a incapacidade que a elite dirigente tem de imaginar qualquer outra maneira de reger a economia. Não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os investidores financeiros estiverem no comando, fazendo políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e dando respostas à crise dominadas por tentativas de dar sobrevida ao regime guiado pela dívida.

O que precisaria ser feito para a retomada da crescimento?

Nos EUA e na Europa a recuperação requer o reestabelecimento do poder de compra das classes baixas e médias, a recriação e expansão da capacidade dos Estados de fazer os investimentos sociais e ambientais necessários e o estabelecimento de um sistema monetário internacional estável, não subordinado ao capital financeiro. As condições para isso vão incluir o cancelamento de boa parte da dívida soberana, assim como de boa parte da dívida doméstica; o reestabelecimento de uma taxação correta para a renda das finanças e do capital (um retorno aos níveis de 1970 seria um começo); o reestabelecimento de um verdadeiro controle público do sistema de crédito; um controle restrito dos fluxos de capital e uma luta efetiva contra os paraísos fiscais.

Qual sua visão sobre o poder das agências de classificação de risco?

O poder das agências de classificação de risco apenas espelha o quanto os governos foram colocados nas mãos das finanças. Mostra a extensão da abdicação do poder dos governos, que mudaram as finanças públicas de uma forma baseada em impostos para uma baseada em dívida. Meu livro mais recente, "Les Dettes Illégitimes, Comment les banques ont fait main basse sur les politiques publiques" (2011) [As dívidas ilegítimas, como os bancos fizeram para manipular as políticas públicas, em tradução livre], enfatiza que, em 1980, a dívida pública da França era de 5% do PIB. Mostro que o crescimento é consequência da diminuição dos impostos para os de renda alta, os ricos em patrimônio e lucros, e dos gastos em programas públicos de financiamento custosos, que se tornaram elefantes brancos, como o Rafale que nenhum país comprou.

E o que ocorre agora?

As agências de risco estão pressionando a elite política francesa para aprofundar as políticas de austeridade. Isso no contexto de uma situação de quase recessão --0% de crescimento e desemprego acima de 9%. A recessão mundial de 2008-2009 mostrou a fraqueza da indústria francesa e os efeitos desastrosos do jogo no mercado da União Europeia. O que é necessário é uma política industrial e tecnológica comum, um sistema de intervenção comum. É possível que, nos próximos meses, ocorra na França uma reação popular contra os próximos cortes de orçamento.

As revoltas no Norte da África e no Oriente Médio, o movimento dos "indignados" na Espanha e agora os protestos em Londres têm alguma ligação?

Eu adicionaria à lista as enormes marchas em Tel Aviv, com 200 mil pessoas, e em outras cidades contra a alta nos preços dos alimentos e o desemprego. E também esse extraordinário movimento dos estudantes no Chile. Cada um desses movimentos precisa ser analisado com cuidado. São obviamente expressão de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças.

O que os movimentos têm em comum?

Eles têm em comum o fato de terem sido estimulados pela juventude. Em muitos casos são liderados por jovens líderes que estão emergindo do movimento. São todos reações ao extraordinário abismo social num tempo em que o consumismo é projetado mundialmente pela tecnologia contemporânea e pelas estratégias de mídia. Cada um tem suas idiossincrasias nacionais e suas trajetórias políticas. Em cada caso há uma diferente mistura de um componente fundamental democrático, com conteúdo anticapitalista. Reagem ao fato de a eles ter sido negada a posse de bens que outros da sua mesma geração possuem no seu cotidiano. A crescente percepção da corrupção politico-financeira atiça a indignação e, no caso dos jovens mais pobres, os faz usar os únicos métodos que têm à disposição.

Como os partidos conservadores, social-democratas e a esquerda estão reagindo a essa situação?

Para os partidos conservadores, é sempre sobre "lei e ordem". Os social-democratas estão em profunda confusão. As forças da esquerda têm sido fortemente puxadas para o jogo institucional. Tomara que a duração, a severidade e os altos riscos da combinação entre as crises econômica e ambiental permitam o renascimento de uma forma de atividade política que comece a realmente desafiar o sistema. Na Europa, foi na Grécia que a mobilização de massa da juventude mostrou o conteúdo político mais profundo. Espero que seja o modelo para outros países.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Coloquio sobre economia politica dos sistemas-mundo, UniCamp, 8-9 agosto 2011

V Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo
A ECONOMIA-MUNDO CONTEMPORÂNEA: CRISE ESTRUTURAL OU TRANSIÇÃO HEGEMÔNICA?
UniCamp, SP
Programação
8 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 9h30: Abertura
9h30 – 12h00: Conferência: Continuities and transformations in the evolution of the modern world-system: Terminal crisis or a new systemic cycle of accumulation? - Christopher Chase-Dunn, University of California-Riverside

Tarde
14h00 - 16h15 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 1
Limite econômico ou metamorfose do capitalismo? - Eduardo da Motta e Albuquerque, Cedeplar-FACE-UFMG
Crise Estrutural do Capitalismo nas Análises Sistêmico-Prigogineanas de Immanuel Wallerstein e de István Mészáros: crise inexoravelmente terminal? - Guilherme Vieira Dias, Instituto Federal Fluminense (IFF); José Glauco Ribeiro Tostes, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e Colaborador do PGCA/UFF; Marcelo Silva Sthel, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)
Notas Comparativas Sobre as Ondas Longas em Kondratiev, Braudel e Arrighi - Luiz Eduardo Simões de Souza, Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Uma análise econômica crítica da tese da decadência hegemônica dos Estados Unidos de Giovanni Arrighi - Numa Mazat, Doutorando PEPI/UFRJ e membro do grupo de Economia Política do IE/UFRJ.
Debatedor: Fábio Pádua dos Santos

16h15 - 16h30 - Intervalo
16h30 - 18h45 - Apresentação de Trabalhos - Mesa 2
Confronto, desconfiança e cooperação: percepções teóricas das Relações Internacionais sobre a ascensão da China e sua relação com os Estados Unidos e o sistema-mundo moderno - Bruno Hendler, Mestrando UnB
As conseqüências da Ascensão da China para a Economia-mundo Capitalista: apontamentos de investigação - Helton Ricardo Ouriques, UFSC

O princípio, o meio e o fim do mundo moderno: uma análise comparada de Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi e José Luis Fiori - Pedro Nogueira Gama, Doutorando PEPI/UFRJ
Debatedor: Jales Dantas Costas

18h45 -19h00 -Intervalo

Noite
19h00-20h30 – Palestra
O Brasil e a Economia-Mundo Capitalista: séculos XVI ao XIX - Pedro A. Vieira, UFSC

9 de agosto de 2011
Manhã
9h00 – 10h30 – Palestra
Capitalismo e Ilicitude - Antônio Brussi, UnB

10h30 – 12h45 – Apresentação de Trabalhos - Mesa 3
Território e Crises Econômicas sob a visão de Sistemas-Mundo - Tallyta Rosane Bezerra de Gusmão;
Daniela Monteiro Albuquerque, Graduandas em Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
A Economia Política dos Sistemas-Mundo e as Cadeias Mercantis - Rosângela de Lima Vieira, UNESP/ Marília
Do combate à funcionalidade: o protecionismo em diferentes ciclos sistêmicos de acumulação - Guilherme A. Astolphi de Aguiar, Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista, UNESP/Marília.
O mito da industrialização como desenvolvimento econômico: O comando do excedente na cadeia mercantil da indústria automobilística brasileira - Ricardo Lobato Torres, Universidade Federal do Rio de Janeiro; Silvio Antônio Ferraz Cário, Universidade Federal de Santa Catarina
Debatedor: Luiz Mateus da Silva Ferreira

Tarde
14h30 – 16h15 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 4
O Brasil no sistema-mundo neste início de século - Angelita Matos Souza, Unesp/Marília
O Brasil na economia-mundo do último século (1910 a 2010) - Paulo Roberto de Almeida, Ministério das Relações Exteriores, Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub)
Pobreza no Brasil na transição da hegemonia mundial dos Estados Unidos - Jales Dantas da Costa, Doutorando em Ciências Sociais no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC) na Universidade de Brasília (UnB) e servidor no Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Debatedor: Helton Ricardo Ouriques

16h15 – 16h30 – Intervalo

16h30 – 18h45 – Apresentação de Trabalhos – Mesa 5
Divergências e Convergências entre Giovanni Arrighi e José Luís Fiori - Tiago Maymussi Sales, Mestrando PEPI /UFRJ
"Escola de Campinas": uma contextualização história para seu estudo - Fábio Pádua dos Santos, Mestrando Unicamp; Leonardo Dias Nunes, Mestrando Unicamp
Revisitando a tese do capitalismo tardio: crítica a razão endogenista a partir do conceito de ciclos sistêmicos de acumulação - Marcelo Arend, UFSM
Acontribuição da Teoria do Sistema-Mundo para a controvérsia sobre a Revolução Burguesa no Brasil - Tiago Camarinha Lopes, Programa de Pós-Graduação em Economia/UFU, MG; Niemeyer Almeida Filho, UFU, MG.
Debatedor: a confirmar.

Noite
19h00 – 21h00 – Palestra e Encerramento
Fundamentos da Hegemonia dos EUA: tendências gerais - Eduardo Barros Mariutti, Unicamp, PPGE

realização: Instituto de Economia UniCamp, Núcleo de História Econômica; Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo, UFSC
apoio: UniCamp FAEPEX; PPGE-UFSC; IPEA

sábado, 15 de janeiro de 2011

O samba do economista doido - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Caro Leitor,
Veja se você compreende algo do que está escrito aqui:

"Tomo emprestado da Irlanda o comportamento de seus bancos para provar o que estou dizendo. A dívida pública irlandesa representava pouco mais de 10% do PIB antes de 2008. Uma mostra clara de que o país, contrariamente ao caso da Grécia, vivia sob o domínio de um regime de responsabilidade fiscal.
A crise que se instalou, criada em razão de empréstimos totalmente irresponsáveis dos bancos privados irlandeses ao setor imobiliário, fez com que o endividamento público superasse 80% do PIB.
"

Entendeu? Eu também não!
Como é que empréstimos comerciais de bancos privados para investidores privados do setor imobiliário da Irlanda conseguiram aumentar a dívida pública de 10% para 80% do PIB??!!
Esse economista, ou não sabe escrever, ou não sabe economia, ou desconhece completamente o perfil exato da crise irlandesa, confundindo-a, talvez, com a crise imobiliária espanhola. Ou, provavelmente, uma combinação de todas essas alternativas.
Ou seja, ele ouviu falar algo da crise, não sabe exatamente o que, e ainda assim escreve bobagens como que passa geléia no pão do café da manhã, sem maiores compromissos com a verdade ou sequer com a coerência.
Falta de coerência, aliás, é o que se revela nesta frase inicial, que reproduzo igualmente:

"Talvez o mais importante ensinamento que esse período vai deixar seja o de que as economias de mercado criam, por erros humanos, suas próprias crises, mas, em razão de decisões virtuosas de seus governantes, podem encontrar os caminhos para sua recuperação."

Economias de mercado criam crises por erros humanos, e ainda assim elas são culpadas?!
Os mesmos humanos que erraram nos mercados, agora acertam no governo??!!
Ele não tem nada a dizer sobre os juros artificialmente baixos mantidos pelos "governantes" por tempo suficiente para criar a bolha financeira e imobiliária que precipitou a crise?

Tomo ainda esta frase, típica de quem não tem nada de inteligente a escrever em matéria econômica e descamba para o psicologismo mais vulgar:

"Nos dois ou três anos que antecederam a quebra do banco Lehman Brothers vivemos uma euforia do pensamento liberal que liberou da garrafa o gênio do mal da cobiça ilimitada. Os registros desses anos loucos nos revelam até onde pode chegar a irresponsabilidade do homem financeiro quando isento de controles externos."

Você percebeu essa euforia ideológica, caro leitor? Percebeu que ela era causada apenas pela cobiça de banqueiros de Wall Street, e que os governos tentaram, inutilmente, corrigir esses desvarios, amenizando a cobiça com invectivas à prudência, ao rigor fiscal, à modéstia de ganhos, à economia solidária?

Realmente, eu não deveria transcrever esse artigo neste blog, que como diz sua descrição, "se ocupa de ideias inteligentes para pessoas inteligentes". De vez em quando não resisto em publicar as bobagens que "ricos e famosos" perpetram nas páginas de jornais, um amontoado de argumentos errados e irracionais, e que depois são utilizados nas salas de aula por mestres ainda mais ignorantes do que o articulista, com aquele ar de "não disse?, não disse?, até um tucano condena a euforia liberal e proclama as virtudes do Estado interventor keynesiano."

My God!, ou God Grief!, como diria o Calvin. Quanta bobagem acaba sendo publicada nos jornais.
Tenho pena de alunos e cidadãos normais que não sabem distinguir uma ideia inteligente de uma empulhação econômica como essa.
Paulo Roberto de Almeida

Meu cenário para 2011
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Folha de S.Paulo, 15.01.2011

Os últimos cinco anos foram importantes para o amadurecimento do analista das coisas da economia. Em curto período de tempo, passamos da euforia à depressão e, neste início de 2011, à certeza de uma recuperação já em consolidação. Apesar de veterano nesse ofício, aprendi muito acompanhando -com os instrumentos analíticos que o pensamento de Keynes nos deixou- o vaivém das principais economias. Principalmente a dos Estados Unidos, que ainda é a economia de mercado com uma dinâmica capitalista mais alinhada aos tempos desse grande economista.

Talvez o mais importante ensinamento que esse período vai deixar seja o de que as economias de mercado criam, por erros humanos, suas próprias crises, mas, em razão de decisões virtuosas de seus governantes, podem encontrar os caminhos para sua recuperação.

Ficará registrado ainda nos livros de história econômica que os ensinamentos de 90 anos antes, devidamente adaptados para o mundo de hoje, serviram de base para a política de enfrentamento de uma crise gravíssima.

Nos dois ou três anos que antecederam a quebra do banco Lehman Brothers vivemos uma euforia do pensamento liberal que liberou da garrafa o gênio do mal da cobiça ilimitada. Os registros desses anos loucos nos revelam até onde pode chegar a irresponsabilidade do homem financeiro quando isento de controles externos.

Tomo emprestado da Irlanda o comportamento de seus bancos para provar o que estou dizendo. A dívida pública irlandesa representava pouco mais de 10% do PIB antes de 2008. Uma mostra clara de que o país, contrariamente ao caso da Grécia, vivia sob o domínio de um regime de responsabilidade fiscal.

A crise que se instalou, criada em razão de empréstimos totalmente irresponsáveis dos bancos privados irlandeses ao setor imobiliário, fez com que o endividamento público superasse 80% do PIB.

Apenas a ação corajosa dos governos, expandindo o gasto público em vários países, evitou que a retração sincronizada do setor privado, que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers, arrastasse o mundo para uma nova depressão econômica.

O mundo emergente que não sofreu com os excessos de crédito ocorridos no G7 foi o primeiro grupo a se recuperar do choque externo e a retomar o caminho do crescimento.

Esse grupo de países, que já representa parte importante do PIB mundial, entra em 2011 com taxas de expansão de suas economias muito próximas das que ocorriam antes da crise americana.

No G7, a grande mudança que o ano novo nos reserva é a consolidação da recuperação da maior economia do mundo. Talvez a política econômica nos Estados Unidos, entre 2009 e 2010, seja citada nos livros de economia como o exemplo mais abrangente e exitoso do pensamento Keynesiano em momentos de crise como o que se abateu sobre esse país.

Quis o acaso que, no momento em que essa tempestade tomou conta da sociedade americana, um político democrata e um especialista em depressão econômica estivessem no comando da Casa Branca e do Federal Reserve.

Depois de dois anos de ações totalmente não convencionais, recebidas com pedras e paus pela direita americana, os sinais de sucesso estão cada vez mais presentes. Evidente que a taxa de desemprego de quase 10% da força de trabalho e um mercado de construção de casas ainda paralisado servem como pontos negativos para os que ainda se colocam como adversários de Obama e Ben Bernanke.

Mas, para os analistas isentos, agora é apenas uma questão de meses para que o emprego volte a aumentar e o mercado imobiliário comece a ganhar um mínimo de funcionalidade.

O PIB americano deve crescer 4% em 2011 e pode manter esse mesmo dinamismo no ano seguinte. Se isso acontecer e o mundo emergente tiver responsabilidade no controle da inflação, o ano de 2011 pode marcar o momento em que o mundo passou a crescer de forma mais equilibrada, sem os desajustes macroeconômicos da década passada.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).