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quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Brasil padece de um mal grave: burrice, no mais alto grau

Corrijo imediatamente: não é burrice. É estupidez mesmo, e num grau elevadíssimo.
Corrijo outra vez: não é o Brasil. São os seu dirigentes. Esses mesmos que assinam a lei abaixo e todos os que concorreram para sua aprovação, dentro e fora dos poderes constituídos. 
Será que eu vou precisar pedir asilo em algum lugar onde a lógica ou o simples bom-senso não sejam vilmente atacados pela estupidez congenital de algumas elites?
Paulo Roberto de Almeida 
A presidente Dilma sancionou lei aprovada pelo Congresso que pune com até quatro anos de prisão quem discriminar portadores do vírus HIV. Leiam a íntegra do texto, de autoria da ex-senadora petista Serys Slhessarenko (PT-MT). Volto sem seguida.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Constitui crime punível com reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatórias contra o portador do HIV e o doente de aids, em razão da sua condição de portador ou de doente:
I – recusar, procrastinar, cancelar ou segregar a inscrição ou impedir que permaneça como aluno em creche ou estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado;
II – negar emprego ou trabalho;
III – exonerar ou demitir de seu cargo ou emprego;
IV – segregar no ambiente de trabalho ou escolar;
V – divulgar a condição do portador do HIV ou de doente de aids, com intuito de ofender-lhe a dignidade;
VI – recusar ou retardar atendimento de saúde.
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 2 de junho de 2014; 193o da Independência e 126o da República.
DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Arthur Chioro
Ideli Salvatti

Retomo
Querem uma opinião de manada? Então não é aqui. É claro que uma lei como essa nasce no proselitismo e prospera na demagogia. Por que uma legislação diferenciada para os portadores do vírus HIV? E os que carregam os agentes patogênicos de outros males não merecem a mesma atenção? Resposta: não! Por que essa deferência? Porque a aids é uma doença que se associou a traços de comportamento de comunidades influentes, que reivindicam uma cidadania especial, acima do indivíduo comum.

Há mais pessoas com tuberculose no Brasil — muito mais!!! — do que com aids. Aliás, no caso dos tuberculosos, a discriminação ainda é maior porque  é quase uma doença exclusiva da pobreza. E quem dá bola?
Leiam a lei acima. O Código Penal já pune a omissão de socorro, no Artigo 135, acrescido de lei aprovada em 2012, que impede que hospitais privados peçam até cheque-caução. O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, já protege a criança de qualquer ato de segregação.
O problema de um texto como o que vai acima é a sua largueza, a sua subjetividade. Digamos que o empregador deixe de contratar o “Indivíduo X”, que nem saiba ser portador do vírus. Poderá ser vítima de uma denúncia a qualquer momento. Digamos ainda, por hipótese, que o candidato à vaga, em razão de ser portador de um vírus — o da aids ou outro qualquer —, não se mostre apto para a função. Pergunta-se: a sua não contratação é um ato de discriminação?
Extremamente subjetivo também é o vocábulo “segregação”. Sem que se defina o que é isso, os indivíduos ficam sujeitos às acusações as mais disparatadas. A ideia parece, sim, boa e justa. Mas, na prática, acabará fazendo com que pessoas tenham de provar a sua inocência. É o mesmo mal de que padece a PLC 122, conhecida como lei anti-homofobia. Ora, como provar que um candidato gay a uma vaga, eventualmente recusado, não o foi em razão de sua condição sexual?
Um ajuntamento de leis destinadas a proteger grupos em particular está mais próximo da discriminação de estado do que da universalização de direitos.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

PEC dos jornalistas: a estupidez tornada constitucional no Brasil

A Constituição já tem um bocado de absurdos econômicos e outros tantos disparates sociais, para não falar de suas contradições políticas. Ela também abriga várias estupidezes, que deveriam estar na legislação infraconstitucional ou sequer existir como regulação estatal, como essa reserva de mercado para graduados em jornalismos, uma das coisas mais estúpidas que já ocorreram no Brasil e que vai voltar pendurada na CF.
A estupidez tem um brilhante futuro no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida


Uma PEC para desautorizar o STF

O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2013 | 2h 06
Opinião - Eugênio Bucci *
Tudo caminha "nos conformes" para a aprovação, agora no início de junho, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para quem queira trabalhar na imprensa. Depois de uma semana particularmente movimentada, em que políticos e magistrados falaram em "crise" entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário - o vice-presidente da República, Michel Temer, preferiu chamar o episódio de "pequeno incidente", dando-o por encerrado -, eis aqui uma iniciativa parlamentar nada amistosa. Por meio dela, deputados e senadores não apenas contestam, mas trabalham abertamente para sepultar uma decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF).

Perto dessa PEC, os fatores que geraram o mal-estar na semana que passou - como o projeto que, se aprovado, deveria levar a República a simplesmente fechar o Supremo, nas palavras do ministro Gilmar Mendes - são café pequeno. Aliás, não foi custoso deixá-los para trás, depois que as cúpulas dos dois Poderes confraternizaram para acertar seus ponteiros. Com a PEC restauradora do diploma obrigatório para o exercício do jornalismo a conversa é mais séria e ficará mais séria ainda. Contrariando o julgamento proferido legitimamente pela Corte Suprema, a PEC do diploma, como já se tornou conhecida nos corredores do Congresso Nacional, uma vez aprovada, vai produzir um novo e mais constrangedor impasse entre os dois Poderes.

Recapitulemos a história. No dia 17 de junho de 2009, por ampla margem (8 votos contra 1), os ministros do STF derrubaram a exigência do diploma de curso superior de Comunicação Social com habilitação em jornalismo para a prática da profissão. A decisão atendia, então, ao Recurso Extraordinário 511.961, movido pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF). Gilmar Mendes, designado relator do caso, entendeu que o Decreto-Lei 972/69, editado durante a ditadura militar, o tal que impôs o diploma obrigatório, afrontava a Constituição federal. Naquela sessão, o único voto contrário ao relator veio do ministro Marco Aurélio Mello.

Para que o leitor acompanhe melhor o raciocínio dos ministros do Supremo na ocasião, podemos resumir aqui o argumento que prevaleceu. Sua lógica é cristalina: nenhum obstáculo de ordem legal deve impedir o cidadão de criar publicações jornalísticas ou de se manifestar publicamente em qualquer veículo. Se um grupo de pescadores ou de moradores de rua pretende criar seu próprio jornal, na internet ou em papel, tanto faz, não deveria precisar contratar um "jornalista responsável" para isso. Qualquer pessoa deve ser livre para criar seu próprio órgão de imprensa. A liberdade, enfim, não deve ser limitada por um "filtro legal" - e a exigência do diploma, aos olhos do Supremo, é um filtro, um obstáculo, uma barreira incompatível com o sentido profundo da Constituição federal. A obrigatoriedade, instituída em 1969, tinha um objetivo tão claro quanto autoritário: controlar de perto, por meio dos registros no Ministério do Trabalho, todos os que estivessem empregados em jornais. Só servia à ditadura. Agora, na democracia, não tem sentido. Exatamente por isso, não há obrigatoriedade do diploma de jornalista em nenhuma outra democracia. Isso só ocorreu no Brasil. Além disso, a obrigatoriedade do diploma cria um desnível entre os portadores desse diploma e os demais cidadãos: os primeiros teriam mais "liberdade" de atuar na imprensa do que os outros cidadãos - o que resulta num privilégio francamente inconstitucional.

Após a decisão daquele 17 de junho de 2009, portanto, a Nação deveria compreender que a questão estava encerrada. Transitada em julgado. Foi então que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), movida pelo interesse - que, de resto, é legítimo - de proteger o emprego de seus associados (diplomados), vislumbrou um atalho para desfazer o julgado. A estratégia foi mais ou menos a seguinte: ora, se o Supremo diz que a exigência estabelecida pelo decreto de 1969 é inconstitucional, basta escrever a mesma exigência na Constituição - aí, a coisa fica devidamente constitucional. Isto posto, naquele mesmo ano de 2009 a PEC do diploma entrou em tramitação. E vai muito bem. Em agosto do ano passado foi aprovada no Senado com um placar esmagador: 60 votos contra apenas 4.

Há quem se empolgue. Há quem acredite, candidamente, que ela vem para derrotar as intenções escorchantes dos patrões malvados que apoiaram a ditadura. O engano é imenso: a pior imprensa que o Brasil já teve, a mais submissa, a mais covarde, a mais mentirosa, aquela que sorriu para a censura e se sujeitou a publicar que brasileiros assassinados em sessões de tortura tinham morrido em tiroteios sempre se deu muito bem com a exigência do diploma. Outro equívoco, igualmente imenso, é supor que os jornais de hoje, que estão aí lutando para merecer o tempo e o dinheiro de seus leitores, têm planos de contratar analfabetos para redigir editoriais.

Nenhum desses argumentos para em pé. A única razão real para a defesa da PEC do diploma é a proteção corporativista dos sindicatos de jornalistas - que, aliás, já não congregam os profissionais de imprensa. Um levantamento realizado Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (em convênio com a Fenaj), que acaba de ser publicado, mostra que, dos jornalistas brasileiros, apenas 25,2% (entre os quais este articulista) são filiados a sindicatos.

Sem nenhuma sustentação de interesse público, a aprovação da PEC do diploma é prejudicial para a qualidade da imprensa e para a normalidade institucional. Mais cedo ou mais tarde, o Supremo será chamado a julgar a constitucionalidade da nova emenda. Vem aí outra queda de braço entre magistrados e parlamentares.
* Eugênio Bucci é jornalista e professor da USP e da ESPM.

sábado, 24 de novembro de 2012

Sauvas freireanas querem manter o atraso educacional brasileiro

Dependendo do bando de ignaros que se manifesta abaixo, o MEC vai continuar um reduto do atraso e um covil dos incompetentes.
Exemplos como esse me convencem cada vez mais que a educacao brasileira nao tem nenhuma solucao positiva no futuro previsivel e que ela apenas continuara' a se deteriorar continuamente. Nao existe nenhuma chance de que esse cenario mude para melhor em funcao da mentalidade da maior parte dos professores.Mas, não deixa de ser divertido ler, e reler, o besteirol costumeiro dos pedagogos freireanos, uma síntese perfeita da indigência cultural que grassa no pleistoceno de Brasilia.
Paulo Roberto de Almeida



21 DE NOVEMBRO DE 2012 - 17H41 

Professores rejeitam nomeação da privatista Cláudia Costin no MEC


Apesar de muito criticada por sua visão neoliberal e privatizante, a atual secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, poderá ser nomeada por Aloizio Mercadante para a Secretaria de Educação Básica do MEC. 


Cláudia Costin
Claudia Costin, NÃO! - dizem pedagogos
Após dez meses como ministro da Educação, Aloizio Mercadante ainda tenta montar sua equipe. O atual secretário de Educação Básica, César Callegari, entregou o cargo. Sua missão, desde que assumiu o lugar ocupado pela professora Maria do Pilar Lacerda durante a gestão de Fernando Haddad, foi terminar o projeto do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado esta semana pela presidenta Dilma Rousseff.

Callegari alegou razões pessoais e familiares para deixar a função e voltar para São Paulo, onde morava antes de se mudar para Brasília. O sociólogo foi a primeira mudança feita por Aloizio Mercadante na equipe deixada pelo ex-ministro Fernando Haddad. Callegari foi secretário municipal de Educação de Taboão da Serra (SP) e duas vezes presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Para o seu lugar, Mercadante convidou a atual secretária de Educação do município do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, que prontamente aceitou o convite. Cláudia volta para a capital federal, onde foi ministra da Administração e Reforma do Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Paulistana, ela é uma conhecida privatizante e foi diretora Fundação Victor Civita, do ultraneoliberal Grupo Abril/Veja. 
Preocupação entre professoresImportantes setores da pedagogia no país manifestam profunda preocupação com a nomeação de Cláudia Costin, que foi ministra da Administração no governo Fernando Henrique Cardoso e esteve à frente de funções ligadas ao desmonte do Estado brasileiro.

Um grupo de pesquisadores em educação e ciências sociais divulgou a seguinte nota manifestando suas fortes preocupações em relação à nomeação de Cláudia Costin:

A privatização do ensino público, a fragmentação do trabalho docente, a perda da autonomia dos professores, a submissão estrita aos cânones neoliberais têm sido implementadas por Cláudia Costin à frente da Secretaria Municipal da Educação na cidade do Rio de Janeiro.

Seu autoritarismo didático e de conteúdos, prescritos em cadernos e apostilas, emanado das orientações dos organismos internacionais, ampliam o abandono da educação básica da grande maioria da população, historicamente relegada à carência de escolas e, mais recentemente, à desqualificação da educação nas escolas existentes. Além disso, no Rio de Janeiro, professores, gestores e funcionários têm sido alvo de aliciação pecuniária, os bônus financeiros, através de remuneração extraordinária pelo desempenho dos alunos, traduzido em um percentual de aprovação de alunos nas turmas e no conjunto da unidade escolar, como compensação aos baixos salários.

Não por caso, quando ministra da Administração Federal e Reforma do Estado no governo FHC, foi uma das responsáveis pela idealização e implementação do desmonte do Estado, incluindo-se aí as privatizações ou a venda do país e a quebra da estabilidade dos servidores públicos.

Se confirmada Cláudia Costin à frente da Secretaria de Educação Básica, é esperada a descaracterização da educação fundamental e média com o apagamento do professor e do aluno como sujeitos históricos. Costin faz parte de um grupo de intelectuais que segue a férrea doutrina do mercado, onde tudo vira capital, inclusive as pessoas. Não mais a educação básica, direito social e subjetivo, mas escola fábrica de capital humano. Uma versão bastarda do ideário republicano de escola, como a define Luiz Gonzaga Belluzzo, em brilhante texto na Carta Capital de 29.08.2012. Esta visão bastarda de educação objetiva apagar qualquer senso crítico dos alunos. Trata-se de transformar, para Belluzzo, recorrendo a Marshall Berman, a ação humana em repetições rançosas de papéis pré-fabricados, reduzindo os homens a indivíduos médios, reproduções de tipos ­ideais que incorporam todos os traços e qualidades de que se nutrem as comunidades ilusórias.

Delegar à administradora esse setor vital da educação brasileira é declinar de todos os embates e propostas da educação para ter uma política própria de educação básica como formação humana, em favor do tecnicismo e da intervenção de grupos privados no interior das escolas públicas.

Professores, pesquisadores estudantes e suas entidades representativas vêm, publicamente, protestar contra o arbítrio economicista, degradante e mutilador para a educação das gerações de jovens da educação básica que sua presença na SEB traria à educação básica, não apenas na cidade do Rio de Janeiro, mas em todo Brasil.

Cláudia Costin, NÃO!

Dermeval Saviani –Unicamp
Mirian Jorge Warde – PUC-SP
Roberto Leher - UFRJ
Gaudêncio Frigotto – UERJ
Virginia Fontes- UFF/Fiocruz
Maria Ciavatta - UFF
Dante Henrique Moura - IFRN
Vânia Cardoso Motta - UFRJ
Eveline Algebaile – UERJ
Domingos Leite Filho. UTPr
Sônia Maria Rummert - UFF
Marise Ramos –UERJ e FIOCRUZ
Olinda Evangelista – UFSC
Domingos Leite Filho - UTPr
Laura Fonseca – UFRGS
Carmen Sylvia Morais - USP
Sônia Kruppa - USP 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O mundo se tornando mais estupido? Certamente, os idiotas aparecem...

Não tenho nenhuma dúvida, agora, de que o mundo está se tornando mais estúpido, graças ao aumento do número de idiotas que conseguem se comunicar pelos modernos meios, e se tornam mais eloquentes, mais ofensivos na expressão de sua estupidez. Assim está plenamente respondida a pergunta que eu fazia alguns anos atrás:

  • Está aumentando o número de idiotas no mundo?

  • E isso se deve, fundamentalmente, ao fundamentalismo religioso, com perdão pela redundância. São os criacionistas, moderna encarnação da intolerância religiosa e da mais abstrusa crença nos livros religiosos, que estão levando o mundo ao retrocesso, talvez parcial, talvez temporário, mas ainda assim uma tragédia para os progressos da ciência no mundo.
    Observem, porém, que o criacionismo não está em contradição com a teoria da seleção natural -- este no nome correto para a evolução darwiniana -- e cabe perfeitamente no seu esquema explicativo.
    Com efeito, o darwinismo não postula uma evolução linear, progressiva e progressista, sempre numa única direção, para o melhor e o mais aperfeiçoado do ponto de vista qualitativo, ou supostamente mais racional.
    Longe disso. O que o darwinismo e a teoria da evolução postulam é que as espécies vão se adaptando aos desafios do meio, e às oportunidades criadas pelo meio -- e pelos acidentes naturais -- para sobreviver, se expandir, dar origem a novas espécies.
    O velho fundamentalismo bíblico, que postulava uma explicação ingênua, baseada inteiramente e literalmente na Gênese para explicar a origem do mundo e a criação das espécies, tinha sido eliminado, por inadequado, dos livros escolares. Agora surgiu uma nova variante, mais preparada tecnicamente, mais sofisticada, e que oferece aos ingênuos, e aos idiotas, uma "explicação" mais "convincente" sobre o mundo, o que os tranquiliza. Isso é darwinismo, e seleção natural.
    Algumas espécies "estúpidas" de dinossauros sobreviveram a outras, supostamente mais fortes ou preparadas, por simples acaso da natureza, antes que outros acidentes eliminassem gregos e goianos saurópodes do mapa da terra. Isso é darwinismo.
    Hoje temos espécies de estúpidos literais sobrevivendo e se expandindo, graças aos recursos da internet, o que permite aos idiotas alcançarem outros idiotas, e os convencerem de que estão "certos" numa escala antes inimaginável.
    O que é preocupante é que os idiotas influenciem os manuais escolares, o que vai inviabilizar os progressos científicos de outros idiotas que se deixarem convencer por eles.
    Isso não é irrecuperável ou fatal, pois a ciência e a racionalidade sempre vão prevalecer, mas que no curto prazo isso atrasa um país, isso atrasa.
    O Brasil é a prova viva disso, quando temos a idiotice do criacionismo também fazendo progressos por aqui. Mas, antes, muito antes, tivemos uma idiotice maior ainda, que continua fazendo progressos: a tal de pedagogia do oprimido, que Paulo Freire, um fundamentalista pouco pedagógico, criou e disseminou por milhares e milhares de pedagogas freireanas pelo Brasil e pelo mundo afora.
    Estamos totalmente na teoria darwiniana e na seleção natural. Para desgosto nosso, dos racionais e científicos, os idiotas estão dominando parcialmente o mundo.
    Um dia passa, mas o mal já está feito, como na Coréia do Sul, como evidenciado na matéria abaixo do Le Monde.
    Paulo Roberto de Almeida 


    Offensive anti-Darwin en Corée du Sud


    J'ai brièvement signalé, il y a quelques jours sur Twitter, un sondage sur l'implantation des idées créationnistes dans les cerveaux américains, en me disant que ce énième rappel d'un phénomène fort connu ne méritait pas plus que d'être signalé en passant. J'ai sans doute eu tort. J'aurais dû consacrer un billet entier à ce sondage car si les médias finissent par se lasser de parler des créationnistes (un peu comme il finissent par ne plus traiter les attentats meurtriers en Irak que dans des brèves routinières), cela constitue une victoire supplémentaire pour ces négationnistes de la science. Ce sondage Gallupdisait donc que 46 % des Américains pensaient que l'homme avait été créé, tel qu'il est aujourd'hui, par Dieu il y a moins de dix millénaires. Un résultat extrêmement stable car, depuis trente ans, ce chiffre évolue dans une fourchette comprise entre 40 et 47 % de la population. A ces 46 %, il faut ajouter sans barguigner la grosse frange (32 %) imprégnée de néo-créationnisme, qui croit dans la version de l'histoire plus subtile selon laquelle l'homme est bien le fruit d'une évolution mais que celle-ci a été guidée par Dieu, lequel a mené des formes de vie moins "avancées" à l'aboutissement magnifique qu'est Homo sapiens.
    Au final, il ne sont que 15 % à penser que la présence actuelle de l'homme sur Terre ne doit rien à Dieu. Il est vrai que le contexte religieux américain n'aide pas, quand on voit qu'un influent télévangéliste texan, John Hagee, se permet d'ordonner aux athées de quitter le pays. Autre exemple : en avril, le Tennessee est devenu, sous la pression du lobby créationniste, le deuxième Etat (après la Louisiane) autorisant les enseignants à proposer en classe des substituts à l'évolution darwinienne, sous le prétexte d'aider les élèves à juger "de manière objective des forces et des faiblesses des théories scientifiques existantes". En faisant mine d'oublier que l'évolution en biologie est un phénomène avéré et non une simple hypothèse...
    La croisade des créationnistes américains ne s'arrête pas aux frontières de leur propre pays. Je ne l'apprends que maintenant grâce à un article publié par Naturemais, en Corée du Sud, une offensive anti-Darwin a porté ses fruits au mois de mai. Une pétition lancée par la Society for Textbook Revise (STR, que l'on pourrait traduire par Société pour la révision des manuels) a demandé le retrait des références à l'évolution darwinienne dans les livres scolaires. Le mois dernier, le ministère sud-coréen de l'éducation, de la science et de la technologie a révélé que de nombreux éditeurs allaient suivre cette pétition qu'il leur avait transmise et publier des versions révisées de leurs manuels. Ne figurerait notamment plus le schéma ci-contre montrant l'évolution du cheval au cours des temps, alors qu'il s'agit d'un excellent exemple du processus évolutif. Comme l'explique le correspondant de Nature à Séoul, le STR a comme objectif affiché sur son site Internet de supprimer des manuels scolaires"l'erreur" que constitue à ses yeux l'évolution, ce afin de "corriger" la vision que les élèves ont du monde qui les entoure. Il fait aussi campagne pour que ne soient plus mentionnées l'idée de l'évolution de l'espèce humaine et les magnifiques observations des becs de pinsons des Galapagos par Darwin, qui l'aidèrent à formuler ses idées sur la spéciation et la sélection naturelle.
    Quel rapport avec les créationnistes américains ? Le STR est en fait une émanation de la Korea Association of Creation Research (KACR), une organisation chrétienne (le christianisme est une des deux principales religions en Corée du Sud) qui constitue elle-même la branche sud-coréenne de l'Institute for Creation Research(ICR). L'ICR a été créé en 1970 au Texas par une des figures les plus importantes du créationnisme américain de la deuxième moitié du XXe siècle, Henry Morris. Cet ingénieur spécialiste de l'hydraulique se fit remarquer en co-écrivant, avec John Whitcomb, ce qui devint un best-seller chez les chrétiens fondamentalistes américains : The Genesis Flood. Paru en 1961, ce livre voulait démontrer qu'il n'y avait pas de désaccord véritable entre la science et une lecture littérale de l'épisode biblique du Déluge : celui-ci pouvait parfaitement s'expliquer, à condition évidemment de remettre en cause les méthodes de datation des roches ainsi que les connaissances sur la géologie et les fossiles. Vendu à 300 000 exemplaires et traduit en plusieurs langues (dont le coréen), The Genesis Flood a été le point de départ du renouveau créationniste, en montrant que la science pouvait "s'adapter" à la religion.
    Le but officiel de l'ICR (et aussi de la KACR) est de s'appuyer sur des personnes au profil scientifique (chercheurs ou ingénieurs) afin de monter des soi-disant programmes de recherche, comme par exemple sur l'âge de la Terre : les 4,5 milliards d'années de notre planète sont en effet difficilement compatibles avec ce que dit la Bible... De la même manière, il est assez succulent de voir les contorsions réalisées pour prouver que l'Univers lui-même n'a que quelques milliers d'années. En réalité, l'objectif principal de ces "recherches" consiste à instiller le doute sur la validité des méthodes scientifiques et leur  meilleure cible, c'est bien entendu la jeunesse. D'où l'offensive menée en direction des établissements et des programmes scolaires par les créationnistes de tout poil, aux Etats-Unis mais aussi en Corée du Sud où ils n'ont, semble-t-il, rencontré aucune véritable résistance... Pour terminer, je vais reprendre, tellement elle est d'actualité, la citation de la journaliste américaine Katherine Stewart, que j'avais donnée dans un précédent billet : "Les nouveaux négationnistes de la science semblent dire que si vous ne pouvez pas faire taire la science, vous devriez faire taire les écoles."
    Pierre Barthélémy (@PasseurSciences sur Twitter)

    sexta-feira, 6 de abril de 2012

    Fascismo, racismo e simples estupidez: de volta ao dramatico problema das bonecas multirraciais...

    Eu já fiz três posts, neste espaço, sobre o caso dramático da artesã e feirante que, vejam que horror, está vendendo bonecas pretas mais baratas do que bonecas brancas em sua banca.
    Numa primeira abordagem, seria racismo ao inverso dos militantes da causa negra, que exigem absoluta equiparação de preços, por uma questão de "igualdade" e "não-discriminação".
    Numa segunda abordagem, seria fascismo, ao procuradores do MP empreenderem uma investigação para, eventualmente, OBRIGAR a vendedora em questão a equiparar os preços de duas bonecas ligeiramente diferentes, apenas porque militantes e procuradores acham que tem de ser assim, e todos devem se conformar à sua vontade.
    Numa terceira abordagem, seria simples estupidez, pois essas determinações esquecem que existe uma lei da gravidade, uma lei da oferta e da procura, uma simples lei do bom senso, ou da liberdade...
    Enfim, o caso é tão escabroso das mentalidades que se formam no Brasil dos companheiros, que eu coloco aqui mais uma contribuição para o debate.
    Ops! NÃO, NÃO, não quero debate em torno dessa coisa ridícula.
    O assunto é tão estúpido que não merece debate. Apenas se deve expor o racismo de uns, o fascismo de outros, e o ridículo ou idiotice de ambos.
    Paulo Roberto de Almeida 



    Reinaldo Azevedo, 6/04/2012

    Chegará o dia em que o mais prudente será ficar trancado em casa. Meter o nariz fora da porta será um risco imenso. Você pode esbarrar em algum amigo da humanidade pronto a mandá-lo para a cadeia. Um leitor me enviou um reportagem que eu não havia lido, publicada no Globo Online. Li. E me pergunto se não é uma pegadinha de 1º de abril, só que publicada no dia 3. Leiam. Volto em seguida.

    Conselho vai investigar caso de bonecas em feira
    O Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) enviará três representantes à Feira Hippie de Ipanema, no domingo, para checar a diferença de preço entre bonecas de pano negras e brancas. Como noticiou na terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, uma barraca cobra R$ 85 pelas brancas e R$ 65 pelas negras, embora as duas sejam praticamente iguais.
    Presidente da entidade, Paulo Roberto dos Santos disse que os conselheiros tentarão conseguir com a dona da barraca uma explicação para a diferença de preços. Se os argumentos não forem convincentes, e se a proprietária se recusar a rever os valores, o conselho poderá encaminhar ao Ministério Público uma denúncia de discriminação: “Nós resolvemos que, antes de qualquer atitude, vamos lá no domingo ver de perto essa situação, se tem a ver com algum preconceito. E vamos, primeiramente, convencer a pessoa a tratar com isonomia, com igualdade (brancas e negras). Se ela se recusar, vamos fazer uma denúncia formal ao Ministério Público e procurar a Defensoria Pública”, disse Paulo.
    A decisão de ir à feira foi tomada em reunião do Cedine, à qual estiveram presentes representantes do Conselho de Entidades Negras do Interior do Estado do Rio e da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio.

    Voltei
    Sim, eu sei qual é a suposição: se a boneca negra é mais barata, isso poderia traduzir um preconceito da vendedora. Mas esperem. Nem a suposta discriminação racial conseguiria anular uma evidência da lei de mercado, não é? Um produto similar ao outro, só que mais barato, pode ser mais atraente ao bolso, ora essa! E isso, afinal, concorre, por óbvio, para facilitar a venda. Logo, não sendo abolida a lei de mercado pelas suposições racialistas, a vendedora em questão poderia estar concorrendo para diminuir a discriminação racial — tanto quanto se possa aplicar esse conceito às… bonecas! Mas eu pretendo contribuir com o rigor absoluto com essa importante causa do Ministério Público. Segundo os dados de 2010 do IBGE, é esta a distribuição dos brasileiros segundo a cor da pele.


    A boneca tem a cor preta. Logo, em princípio, seria de interesse precípuo da parcela negra da população brasileira, que compõe 7,61% dos brasileiros. Os 43,13% dos mestiços, parece, mereceriam uma boneca também — que, segundo entendi, nem está à venda, né? Seria o caso de apontar “preconceito”?
    Qualquer um desses especialistas em combate ao racismo diriam que as crianças negras devem ter o direito de comprar bonecas negras, nas quais possam se reconhecer. Francamente, acho isso uma besteira porque significa analisar o mundo da fantasia segundo critérios do mundo real. O procedimento destrói o universo das fábulas, dos desenhos animados e da HQ, não é? Nessa esfera, patos falam, cordeiros filosofam, lobos são tristemente cínicos, e Bob Esponja faz fogueira no fundo do mar… Mas os tais especialistas dizem que meninas negras devem ter bonecas negras. Então tá.
    Suponho que as brancas, então, fiquem com as brancas. Dada a cor da pele do brasileiro, é forçoso inferir que a demanda por bonecas negras seja menor do que a demanda por bonecas brancas. Isso pode ter um efeito perverso ou benéfico para o comprador. O perverso: como a saída do produto é pequena, manter a opção em estoque custa dinheiro, o que eleva o preço final. O benéfico: para incentivar a venda, baixa-se o preço.
    Venham cá, senhores procuradores: se a dona da banca vender as duas versões da boneca por R$ 85, os potenciais compradores da boneca negra sairão ganhando? Apelando de novo ao IBGE, constata-se que a renda dos negros, na média, é inferior à dos brancos. Assim, em nome do combate à discriminação racial, torna-se a boneca negra um produto mais caro!!!
    “Ah, Reinaldo, tem é de baixar o preço das bonecas brancas!” Entendi! Em nome do combate à discriminação racial, o Brasil tem agora de tabelar… as bonecas! Vamos criar o CIPB: Conselho Interministerial de Preços… das bonecas!!!
    E agora o ridículo final
    Vejam que coisa: se a tal vendedora da feira hippie não tivesse a boneca negra como opção, a questão simplesmente não existiria. Ou será preciso criar agora o CPGDVB (Comissariado do Povo para a Garantia da Diversidade da Venda de Bonecas)?
    A verdade nua e crua é esta: o Ministério Público Federal gasta o dinheiro de brancos, mestiços e negros com uma questão ridícula.
    Havendo alguma falha lógica na minha argumentação, terei todo o prazer em me retratar.

    quinta-feira, 5 de abril de 2012

    As leis fundamentais da estupidez humana: um caso concreto

    Vocês vão me perdoar, mas eu estou tão impressionado, mas TÃO IMPRESSIONADO, com o caso dos militantes racistas que pretendem obrigar uma simples artesã, e feirista, a vender pelo mesmo preço bonecas brancas e bonecas negras que ela mesma faz, e vende, que me lembrei de um antigo texto que fiz sobre uma obra paralela do grande medievista italiano (já falecido) Carlo Maria Cipolla sobre as leis fundamentais da estupidez humana, que li nesta edição francesa:
    Allegro ma non troppo: Les lois fondamentales de la stupidité humaine (Paris: Balland 1992).


    Quem quiser saber mais sobre o livro e ler no original, pode ir neste link: 
    http://www.italianisticabl.eu/cipolla.pdf
    O meu texto está neste link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=117


    Mas o que isso representa senão a estupidez humana (ou de alguns humanos, pelo menos)? Com efeito, segundo Cipolla, a pessoa estúpida é aquela "que causa um dano a outra pessoa ou a um grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer um prejuízo".


    Creio que estamos em face deste caso, e me permito, uma terceira vez, postar aqui esta notícia absolutamente estúpida sobre um dos casos mais estúpidos que já me foram dados contemplar neste meu longo itinerário ao lado de outros humanos (alguns eu não escolheria, mas enfim).


    Vejam vocês a matéria, que já postei aqui a título de racismo, depois a título de mentalidade fascista, e que agora posto uma terceira vez a título da simples estupidez cipolliana.


    Apresento aqui o link da minha segunda postagem. Talvez faça uma quarta ou quinta, pois o assunto é tão surreal que eu me pergunto se o Brasil não está involuindo como sociedade, deixando de ser alegre e tolerante, para virar ridiculamente, tristemente fascista: 


    http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/04/o-fascismo-em-construcao-no-brasil.html

    quarta-feira, 4 de abril de 2012

    Estupidezes linguisticas: quando procuradores se convertem em policiais da lingua...

    Esta crônica abaixo é bem humorada, e provavelmente mais eficiente no desmantelamento do policiamento linguístico  do politicamente correto insuportável que invade hoje todas as esferas públicas, do que meus impropérios habituais, chamando de idiotas consumados todos esses candidatos a censores do idioma que só conseguem ser inquisidores estúpidos de assuntos absolutamente banais...
    Em todo caso, como já alertei várias vezes, assusta-me viver num país em que nos descobrimos cercados de idiotas por todos os lados, e que, pior, gastam o nosso dinheiro com causas perfeitamente estúpidas...
    Paulo Roberto de Almeida 

    Carta aberta a um procurador da República

    Uma pequena contribuição ao procurador na sua árdua tarefa de retirar da língua portuguesa todas as expressões que possam ser consideradas ofensivas
    José Augusto Carvalho*
    CONGRESSO EM FOCO | 03/04/2012
    Senhor procurador,
    Escrevo-lhe esta carta porque soube que o Sr. entrou com ação na Justiça requerendo a imediata retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição do dicionário Houaiss, porque no verbete “cigano” há acepções ao seu ver carregadas de preconceito ou xenofobia, apesar da informação explícita no dicionário de que tais acepções são pejorativas. Para o Sr., o texto do verbete afronta a Constituição Federal e pode ser considerado racismo. É para ajudá-lo nessa importante tarefa de cortar as afrontas linguísticas à Constituição da República que lhe escrevo esta carta aberta, na esperança de que ela lhe chegue às mãos.
    Há, na língua portuguesa e consequentemente nos dicionários, outros verbetes racistas e preconceituosos que afrontam nossa Carta Magna, como “judiar”, “judiaria”, “judiação”, uma verdadeira apologia ao antissemitismo. Portanto deve-se igualmente requerer que a Justiça mande suprimir do Houaiss e de tantos outros dicionários também o verbo “denegrir” que é um acinte aos afrodescendentes por sua significação pejorativa. Por que o luto tem de ser preto? Envie-se então uma mensagem ao Congresso Nacional para que faça uma lei que proíba a cor negra para o luto. Mande-se retirar também dos dicionários o verbete “mulato”, que se origina do nome “mula” e é uma ofensa também aos que têm a cor da Gabriela de Jorge Amado. Aliás, também deve ser eliminada dos dicionários a expressão “eminência parda”, por sua conotação negativa que agride os que são pardos.
    Seria bom também retirar do dicionário o verbete “esquimó”. Na língua do povo mongólico que habita as regiões geladas da Groenlândia, Canadá e Alasca, a palavra “esquimó” significa “comedor de carne crua”, o que é altamente ofensivo para esse povo que prefere ser chamado de “inuit”, que quer dizer “povo”. Os esquimós, digo, os inuits, também merecem o nosso respeito, embora morem longe do Brasil.
    Por que não mandar suprimir todos os palavrões dos dicionários? Imagine-se um adolescente ou uma criança que, ao abrir o Houaiss ou o Aurélio, encontre um palavrão desses cabeludos que fariam enrubescer uma freira de pedra. Trata-se de pornografia explícita que deve ser extirpada.
    Aliás, por que as notas musicais pretas são de menor valor que as brancas? Trata-se de racismo velado, já que uma semifusa, por exemplo, toda pretinha, vale bem menos que uma semibreve, toda branquinha. Mande-se, portanto, tirar o negrume das notas musicais e apreender todas as partituras, de Bach a Villa-Lobos, por exemplo, porque todas contêm notas pretas de menor valor que as notas brancas.
    Mande-se suprimir nos livros de Física a expressão “buraco negro”, e de todos os dicionários expressões como “magia negra”, “humor negro”, “ver as coisas pretas”, todas com conotações altamente ofensivas à raça que tanto fez pelo progresso de nossa Terra.
    Aliás, por que não mandar recolher todas as gramáticas da língua que ensinam que a concordância nominal se faz no masculino, mesmo que haja um único homem entre milhões de mulheres? Trata-se de uma agressão às mulheres não prevista na Lei Maria da Penha.
    Como vê, Sr. Procurador, sua tarefa é extremamente árdua. Haveria outras coisas a dizer, como o preconceito contra a raça branca, encontradiço também nos dicionários, pois passar a noite em claro, dar um branco (quando se perde momentaneamente a memória), arma branca, casamento branco, elefante branco, greve branca, intervenção branca, versos brancos, escravatura branca, viúva branca, ditadura branca, e outras mais, são expressões que devem ser abolidas por sua conotação pejorativa, nitidamente racista.
    Se de todo for impossível acabar de vez com os dicionários e livros científicos, cuja função é exatamente a de informar e ensinar sem preconceitos, só lhe resta uma solução, dada a dificuldade de cumprir a missão de salvar a língua portuguesa e a cultura brasileira dos preconceitos e afrontas à Lei Maior: desista dessa ação.
    Um abraço fraterno do José Augusto Carvalho
    *Mestre em Linguística pela Unicamp e Doutor em Letras pela USP