O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador corrupção companheira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador corrupção companheira. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Corrupcao no Brasil: Mensalao, Petrolao, Embromacao, etc... - Ricardo Velez-Rodriguez, Paulo Roberto de Almeida

Oyez Citoyens, oyez: a despeito deste artigo bastante otimista de Ricardo Vélez-Rodríguez, minha percepção do atual processo de investigação e de criminalização (até o momento apenas de alguns personagens secundários e de empresários venais), é que está em curso uma gigantesca operação subterrânea, por definição clandestina e chantagista, para tentar salvar os "donos do poder", não obstante eventual denúncia junto ao STF (que como sempre levará anos para investigar e processar). Sinais de fumaça cada vez mais carregados indicam um cenário de composição entre as principais figuras políticas, inclusive da soi-disant "oposição", para escapar das garras da lei. E a despeito do que diz o mesmo articulista, de que as instituições estão funcionando a contento e de que ninguém está acima da lei, o fato é que alguns ainda se julgam mais iguais que os outros, os comuns, e agem nesse sentido. Ou seja, apesar de que, 800 anos depois da Magna Carta o Brasil se aproximou desse instrumento fundamental do Estado de Direito, o fato é que ainda não chegamos efetivamente na Magna Carta, apenas a tangenciamos. Aliás, nem na própria Ingaterra: tiveram de decapitar um rei, e expulsar um outro para tornar efetivas as disposições da Magna Carta. O Brasil ainda precisa decapitar algumas cabeças coroadas...
Paulo Roberto de Almeida

O Brasil vive - a Operação Lava Jato continua
Ricardo Vélez Rodríguez
O Estado de S.Paulo, 10 Agosto 2015

As investigações da Operação Lava Jato, em que pese o esforço do PT para atrapalhá-las, continuam a todo vapor. Ponto para o juiz Sérgio Moro, para a Procuradoria-Geral da República e para o Ministério Público, bem como para a Polícia Federal. As CPIs da Câmara dos Deputados que investigam os desmandos do governo nas estatais e no BNDES também deslancharam a contento, para desgosto do governo e do PT, que ficaram praticamente do lado de fora das diversas comissões. E vêm aí, de novo, as multitudinárias manifestações de cidadãos descontentes com a administração petralha, no próximo dia 16. Ponto para todos nós, brasileiros, que vemos o Poder Legislativo e a imprensa comprar a nossa insatisfação e a briga com a corrupção instalada no governo pelo PT e a sua base aliada.

Outro fato positivo: José Dirceu voltou ao xilindró, por causa de sua comprovada participação no crime do petrolão, tendo sido observados todos os ritos processuais pela Justiça e pela Polícia Federal. Tudo sem estardalhaço e tendo sido garantidos ao réu todos os seus direitos. As instituições brasileiras funcionam. Palmas para a nossa República! Mais uma vez fica claro que, hoje, no Brasil ninguém está acima da lei.

Os desmandos de corrupção praticados pelo lulopetismo ao longo dos últimos 13 anos tiveram o mérito de fazer acordar a sociedade brasileira, que passou a cobrar dos poderes públicos uma resposta firme em defesa das instituições republicanas. No mesmo sentido têm-se posicionado, por diversas vezes, tanto os Clubes Militares quanto oficiais graduados das Três Armas, cumprindo com a sua missão constitucional de “garantia da lei e da ordem”. E os cidadãos têm externado a sua posição contrária ao patrimonialismo rasteiro que tomou conta do governo. Jovens estudantes, donas de casa, funcionários públicos, políticos da oposição, profissionais liberais, produtores rurais, pastores evangélicos, operários, padres, etc., têm externado pela imprensa, em pregações e em manifestações espontâneas (nos panelaços, nas marchas de rua, nas cartas dos leitores, nas redes sociais, etc.), a sua rejeição à atitude de arrogância do governo e das lideranças petistas e dos seus aliados, em face da corrupção comprovada.

O Brasil não tolera mais a existência dos “donos do poder”. O único depositário deste é o povo brasileiro e, por delegação dele, os seus representantes eleitos para zelar pela Constituição e o cumprimento das leis. Quando os eleitos e os funcionários nomeados por eles se afastam da busca do bem comum, para garantir única e exclusivamente o bem deles próprios e do seu partido, abre-se o caminho para a perda de legitimidade. É a corrupção da política de que já falava Aristóteles. Se a prática desse crime for comprovada em relação à atual presidente, que se cumpra a lei no processo de impeachment. Não vejo como isso possa afetar as instituições republicanas. Muito pelo contrário: se, provada a culpa, não forem tomadas as providências legais, disso advirá sério atentado contra a ordem legal. Esperemos, portanto, com tranquilidade a decisão final do Tribunal de Contas da União (TCU) em face das contas da gestão de Dilma Rousseff, bem como as providências que, em caso de crime de responsabilidade comprovado, deverão ser tomadas pelo Poder Legislativo.

Se ninguém está acima da lei, não há razão para temer eventuais investigações das autoridades competentes em relação aos presidentes da Câmara e do Senado, caso fique comprovada a suspeita da prática de algum crime por eles. O que vale para José Dirceu vale para qualquer outro cidadão, seja ele o ex-presidente Lula, os presidentes da Câmara e do Senado ou qualquer um de nós: em caso de crime comprovado, a aplicação da lei é o único caminho possível. Escrevia Tocqueville em A democracia na América (1835) que a República era, nos Estados Unidos, “o reino pacífico da maioria”. Ora, esse “reino pacífico”, no Brasil de hoje, pressupõe a submissão de todos à lei, sem exceções nem favorecimentos ilícitos.

Quando o ex-presidente Lula, do alto do seu eterno palanque, brada que os petistas estão sendo hoje caçados como os judeus pelos nazistas, simplesmente está tergiversando as coisas. Ora, o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro não são administradores de campos de concentração. São honrados funcionários públicos que tentam enquadrar aqueles que, eleitos para governar o Brasil, aproveitaram o poder que lhes foi emprestado pela sociedade para favorecer ilegitimamente a si próprios e ao próprio partido, num esforço por torná-lo hegemônico e se perpetuar no poder. A opinião pública brasileira já matou a charada lulista: distorcer as palavras para, sempre, se colocar como vítima. Esse expediente não funciona mais e o ex-presidente Lula deveria saber disso.

As investigações da Operação Lava Jato vão continuar e os seus executores não se intimidarão pelas bravatas populistas do líder petista. Que ele e o seu partido prestem contas à sociedade pelo descalabro financeiro que fez quebrar a maior empresa pública brasileira, pôs em risco a saúde financeira de outras empresas públicas, como a Eletrobrás, descapitalizou perigosamente bancos oficiais e pôs o maior banco de investimentos do Brasil, o BNDES, a serviço de um projeto personalista de poder, agradando a regimes corruptos pelo mundo afora, a fim de ver acrescidos os seus lucros pessoais com palestras fictícias e outras artimanhas. A engenharia da corrupção lulopetista engendrou a corrupção da engenharia nacional, fazendo mergulhar em águas turvas várias das nossas maiores empreiteiras. Os atuais ciclos de baixa da economia, da autoestima dos brasileiros e das perspectivas de desenvolvimento provêm daí. Esses crimes ainda vão ser postos à luz na sua totalidade, a fim de que, punidos os seus responsáveis, recuperemos o orgulho de ser brasileiros.

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ É MEMBRO DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA UFJF, É PROFESSOR EMÉRITO DA ECEME E DOCENTE DA FACULDADE ARTHUR THOMAS, LONDRINA

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Republica Federativa do Escracho? - Marli Goncalves

ESCRACHO, TEU NOME AGORA É BRASIL
MARLI GONÇALVES, 18/07/2015

Digam-me: há palavra melhor para definir o que está acontecendo nesse país para tudo quanto é lado que se olha? Temo que não. Escracho, em todos os seus mais variados sentidos. Um escracho. Um escracha o outro. Nós escrachamos todos. O juiz escracha uns. Os políticos se escracham entre si. O ex escracha a atual. Eu escracho certas pessoas, de um lado, junto de vocês, que também escracham outros e outros; quando não os mesmos, que todos estão se esculachando felizes da vida. Virou Babel


Na boa, isso aqui virou uma esculhambação total. Que até teria um lado divertido se nós também não estivéssemos sendo grandes vítimas desse processo todo. Volto a pensar se não é alguma coisa que estão pondo na água, tão desmedida e pouco produtiva está essa já muito vergonhosa esculhambação geral que assola o Brasil, e que ultrapassa em muito o antigo Febeapá - o festival de besteiras.

Desde muito criança tinha na Dercy Gonçalves, a Rainha do Escracho com faixa e tudo, e a quem se associa imediatamente a palavra, uma ídola. Imaginava até na minha cacholinha que ela bem que podia ser minha parente. Adorava vê-la fazendo aquelas caras de esgares, a boca de caçapa, da qual vertiam impropérios e impropérios. Adorava, não. Adoro ainda, porque a cada dia que passa ela está mais atual, embora tenha morrido há exatos 7 anos, completados agora neste 19 de julho. Na época, assistia a ela onde aparecia, na tevê; enchi e bati pé para que me levassem ao teatro para vê-la e, já jornalista, sempre que podia tentava ouvi-la sobre algum acontecimento.

Imaginam o que ela diria se estivesse acompanhando o atual momento político nacional? Bippi, xxx, bi,bi,biiii, asteriscos - certamente tudo seria impublicável, tantos falsos moralistas estamos criando sobre este chão e que ela apontaria satisfeita. O engraçado é que sei que ela era até meio reacionária depois de tudo o que passou para se firmar na vida artística, mas imagino o que diria agora ouvindo os discursos da presidente, a falação (ah, aqui ela trocaria uma letra, certamente) das CPIs que a cada dia mais parecem espetáculos burlescos de um cabaré viciado, vendo os cabelos asas de graúna tentando se explicar se roubaram mas não sabiam. Depois de tanta luta pelo respeito à mulher artista, queria saber o que ela pensaria da glamorização absurda da prostituição. Dos pitacos religiosos de plantão. Da gargalhada que soltaria acompanhando os passos da oposição. Ou o topete do prefeito modernudo que se acha o coco da cocada (aqui, ela poria um acento, ah, poria sim).

Imagino-a falando a palavra impeachment de todas as formas, menos a normal, e terminando com um sonoro palavrão e gargalhada sempre. Achei um relato, achei sim, de um centro espírita, onde ela teria "baixado" e os médiuns a repreenderam por todos esses palavrões ditos durante toda a sua vida, e até sobre os oito abortos que sempre admitiu ter feito. Não acreditei que esse espírito era ela mesmo, não xingou ninguém nesta sessão! Acho que a gente quando morre leva pro espírito o que temos de melhor.

Pena que Dercy não tenha vivido esses 108 anos completos; só 101. Embora antes de morrer já tenha visto o país começar a virar uma curva esquisita, não imaginaria como tanta coisa se degringolaria e tornaria difícil até diferenciar o ético, o saudável, o progresso quase forçado dos costumes. Veria sendo mantidos os destratos, o racismo, a homofobia, a violência contra a mulher, esse gênero que sempre tem alguém controlando o que faz com a vagina, seus buracos, diria Dercy. "A perereca da vizinha tá presa na gaiola! Xô, perereca! Xô, perereca!"

"Represento exatamente o escracho do Brasil", disse certa vez, completando: "Eu posso ser escrachada, mas não sou bandalha". Não era mesmo, Dercy. Bandalha é essa gente que está comandando cadeiras importantes de vários poderes.

E escracho é o que estão fazendo primeiro para perguntar depois - polícia escracha; imprensa escracha. A gente escracha, mostra o quão desmoralizados são, não usamos mais nem meias palavras para nos referir até às pessoas às quais deveríamos guardar certo pudor, certo respeito. Mas elas próprias também se escracham, e acabam desmascaradas em seus atos. Provocam nosso escrachamento.

Escracho aqui é tão escracho e tem tanto que perde até um de seus sentidos, o político, aquele de ser o protesto que se faz diante da casa de quem desrespeita os direitos humanos.

Afinal, é ou não é um escracho esse mundo estar dividido em partes? PT e os outros. O PT também estar em polvorosa, o PT puro e o sujo? As debandadas sem ideologia para viver. A oposição apoiar o Eduardo Cunha que é uma síntese do atraso? Cada um correndo para um lado? O país à deriva? O ordenamento jurídico sendo estilhaçado numa primeira instância; juiz endeusado e promovido a herói?

Em cima desse palco tem muita gente, e o assoalho não está firme. Tem ator querendo matar outro para pegar o papel. Nem tudo se pode falar. Nas coxias tem gente sabotando até a comida do camarim. E isso não é uma comédia. Está mais para ópera bufa.

Falta uma Dercy para falar umas poucas e boas - definitivas - ela sim, escracharia de verdade tudo isso, com seu palavrório picante.

São Paulo, 2015.


Marli Gonçalves é jornalista -- - - As pessoas que falavam as verdades na lata, com linguagem pro povo entender, sem rodeios, nos deixam e não estão sendo substituídas. Dá saudades. Da Dercy, de Adoniran, de Cazuza. Esses tantos que merecem ser lembrados, porque nos ajudariam agora pelo menos a escrachar mais bonito.
***************************************************
E-mails:
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br

domingo, 28 de junho de 2015

Mais corrupcao companheira e o desespero dos pilantras do lulo-petismo - Revista Epoca

A ruína da Era Lula
Acossado pelas investigações da Lava Jato e cada vez mais impopular, o ex-presidente parte para o ataque - e expõe o ocaso do modo petista de fazer política
Flávia Tavares, Leandro Loyola e Diego Escosteguy
Revista Época, 27/06/2015

Num encontro recente com os principais chefes do PMDB, o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, novo líder da oposição ao governo petista de Dilma Rousseff, comparou a presidente a uma adolescente mimada. Na analogia, Lula se apresenta no papel de pai preocupado. O petista, como é de seu hábito, sempre aparece nesse tipo de metáfora como figura sensata, arguta, sábia. Desempenha a função do pai - do bom pai. "Ela (Dilma) faz bobagem, você senta para conversar e dizer por que aquilo foi errado. Ela concorda, claro" disse Lula. Mas não demora, logo no dia seguinte, ela vem e faz tudo de novo. Te chamam na delegacia para buscar a filha pelo mesmo motivo." Todos eram homens, e riram. A culpa pelas desgraças do país não é da Geni. É de Dilma.

A historinha de Lula, compartilhada num momento de intimidade política, revela quanto Lula tem, de fato, de argúcia - e quanto Dilma tem de impopularidade. Conforme a aprovação da presidente aproxima-se do chão (10%), como mostrou o Datafolha na semana passada, mais à vontade ficam os políticos para fazer troça da petista. Até ministros próximos de Dilma, que conseguem trabalhar há anos com ela, apesar das broncas mal-educadas que recebem cotidianamente, não escondem mais o desapreço pela presidente. "A Dilma conseguiu implodir as relações com os movimentos sociais, com o Congresso e com o PIB", diz um desses ministros, que é do PT. "O segundo governo acabou antes de começar. Estamos administrando o fracasso e os problemas do primeiro mandato. Resta apenas o ajuste fiscal para o país não quebrar" Ninguém discorda que Dilma é uma presidente estranha. Num momento de crise profunda no país que ela governa, só aparece em público para pedalar pelas ruas de Brasília. Os políticos mais antigos lembram-se das corridas matinais de Collor nas proximidades da Casa da Dinda, quando o governo dele desmoronava. Transmite o mesmo tipo de alienação. Na semana passada, num discurso que entrará para os arquivos da Presidência da República, Dilma "saudou a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil". Estava no lançamento dos Jogos Indígenas. Falou de improviso. Inventou expressões como "mulheres sapiens" e pôs-se a elogiar a bola usada pelos índios. "É uma bola que eu acho um exemplo, é extremamente leve. Já testei e ela quica", disse Dilma. Um ministro que presenciou o discurso não acreditou no que via/"Dava vontade de sair correndo e tirar o microfone dela", diz ele, ainda rindo da cena.

O esporte do momento em Brasília, como fez Lula, é ridicularizar Dilma. Mas será ela a verdadeira responsável pela crise que acomete o Brasil em 2015? Ninguém discorda de que a presidente tem responsabilidade - e muita - pela crise econômica (leia a reportagem na página 46). Mas os fatos políticos dos últimos meses, e em especial das últimas semanas, demonstram que a crise prolongada — política, social, criminal e econômica -é sintoma da ruína de uma era, uma era definida não por Dilma, mas por quem a concebeu politicamente: Lula, o pai. Trata-se de uma era em que o PT exerceu o poder por meio do fisiologismo do mensalão e do petrolão, abandonando, a partir do governo Dilma, a razoabilidade econômica e a conciliação política.

O fim da era Lula se determina pelo avanço das investigações da Lava Jato, que chegam cada vez mais perto do ex-presidente, e pela defesa amalucada, pelo PT, de empreiteiros do petrolão, com aplausos até para um tesoureiro preso. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, seja no petrolão, seja no esquema do governador de Minas, o petista Fernando Pimentel, revelam que não há mais espaço fácil para a corrupção sem freios da era Lula. O desastre nas contas públicas revela que o programa econômico do PT deu errado. A crescente influência de Eduardo Cunha revela, por sua vez, que não há mais espaço para que Dilma negligencie os demais atores políticos. E, por fim, a impopularidade do PT, que quebra recordes após recordes, revela que os brasileiros, cada vez mais, e apesar da reeleição de Dilma, não querem esse jeito de fazer, e pensar, política.

Lula decidiu - pois, não tenha dúvida, é ele quem decide as coisas no PT - no começo de 2009 que Dilma seria a candidata do partido a sua sucessão. Àquela altura, Dilma não era bolada, fã de mandioca ou ciclista de contas públicas. Pilotava, como ministra-chefe da Casa Civil, uma locomotiva política que tirava milhões da pobreza enquanto puxava a economia velozmente para a frente - para um futuro de prosperidade que finalmente chegara. Lula resolvia a política e unia um país dividido pelo mensalão; Dilma resolvia o governo e unia uma burocracia hostil ao trabalho duro. A locomotiva petista parecia irrefreável.

Nesse ambiente de euforia e triunfalismo, poucos aliados se opuseram ao nome de Dilma. José Dirceu e Antonio Palocci, os dois homens fortes do PT, que poderiam suceder a Lula, haviam tombado, vítimas da própria empáfia e do cálculo equivocado de que poderiam participar impunemente de esquemas de corrupção. Dilma era desconhecida do público. Tinha apenas a fama, trabalhada no marketing de João Santana, de gerentona. Alguns políticos e assessores mais atentos, contudo, temiam pelo temperamento de Dilma, pela aparente falta de vocação dela para a articulação política e, finalmente, duvidavam da capacidade da então ministra de tocar o governo. Um deles era o ministro das Relações Institucionais, o experiente José Múcio, hoje ministro do Tribunal de Contas da União. Lula perguntou a ele o que achava da candidatura de Dilma. "Todos em Brasília conhecem a Dilma, menos você", disse Múcio. Lula, que já havia escolhido Dilma, fez cara feia.

Os anos mostrariam o que Múcio queria dizer. A locomotiva de Lula e Dilma rodava com uma mistura de diesel importado e diesel batizado. O importado vinha de uma economia mundial que precisava muito, naquele momento, de matérias-primas como minérios e soja, produtos abundantes no Brasil. Com um combustível dessa qualidade, a locomotiva nem precisava de piloto. As barbeiragens econômicas não diminuíam a velocidade dela. Cedo ou tarde, porém, as necessidades da economia mundial mudariam, Foi o que aconteceu: o dinheiro de fora secou. As barbeiragens de Dilma prosseguiram. Ainda no primeiro mandato da petista, o trem começava a descarrilhar.

O diesel batizado, que garantia a estabilidade política, vinha da distribuição de cargos endinheirados no governo para partidos aliados. Numa palavra, do fisiologismo. Após comprar os aliados diretamente com dinheiro do mensalão no primeiro mandato, Lula, no segundo, descentralizou a corrupção que financia os políticos, seja na pessoa física (grana no bolso ou na Suíça), seja na jurídica (grana nas campanhas dos partidos). É o modelo tradicional de corrupção política 110 Brasil. Existe há décadas. Existia também no primeiro mandato de Lula, mas em menor escala, precisamente pela prevalência do mensalão.

Na locomotiva petista, nenhum vagão rodava com tanto combustível batizado quanto a Petrobras. Foi Lula quem nomeou Paulo Roberto Costa (cota do PP), o companheiro Paulinho, nas palavras do presidente, para a Diretoria de Abastecimento. Foi Lula quem nomeou Renato Duque (cota do PT) para a Diretoria de Serviços, Foi Lula quem nomeou Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional (cota do PT e do PMDB). Foi Lula quem nomeou, após a ida de Cerveró para a R Distribuidora, Jorge Zelada (cota do PMDB da Câmara) para a mesma Diretoria Internacional. Foi, enfim, Lula quem nomeou o ex-senador Sérgio Machado (cota do senador Renan Calheiros, do PMDB) para a Presidência da Transpetro. Algumas dessas nomeações aconteceram quando Dilma presidia o Conselho de Administração da Petrobrás – copilotava a locomotiva. Hoje, Paulinho, Duque e Cerveró estão presos; suas contas na Suíça, bloqueadas. Zelada, Renan e Sérgio Machado são acusados de receber propina no petrolão.

Ano passado, pouco antes da campanha que reelegeria Dilma, o mesmo José Múcio esteve no Instituto Lula. O ex-presidente perguntou-lhe o que achava do governo de Dilma, que já apresentava fissuras. "Agora todo o país conhece a Dilma, inclusive você", disse Múcio. Lula já estava acostumado a ouvir reclamações sobre Dilma. O que nenhum político ousava dizer a ele, mas Múcio deixara no ar, era a dura verdade: a responsabilidade pela escolha de Dilma recaía sobre Lula, Os erros dela eram, em certa medida, erros dele. Como os erros de um filho, muitas vezes, podem ser atribuídos a um pai -inclusive os erros de uma adolescente que, como na metáfora de Lula, são repetidos, apesar das censuras da figura paterna.

O Partido dos Trabalhadores vive, há pouco mais de dez dias, um destempero emocional Tentou pacificar os próprios militantes, que vinham se digladiando por causa do ajuste fiscal promovido pelo governo Dilma, num encontro em Salvador, entre os dias 11 e 13 de junho. O resultado da confraternização parecia promissor. Foi produzida a Carta de Salvador, que tem um tom ameno e conciliador. Típica e anacronicamente, no documento o partido culpa "a crise global do capitalismo" por seus problemas. Mas ainda sinaliza um apoio à cambaleante gestão de Dilma Rousseff. "Diante do cenário atual, em que o mundo sofre as consequências do terremoto da crise global do capitalismo, o PT vem a público apresentar propostas de superação das dificuldades do momento, ao tempo em que nos fiamos na determinação e competência do governo da presidenta Dilma para nos liderar nessa travessia", diz a carta. A palavra corrupção não foi citada uma vez sequer.

O desequilíbrio foi ficando latente conforme o cerco policial foi se fechando em tomo das empreiteiras que são alvo de investigação na Operação Lava Jato- Com a prisão de alguns dos maiores executivos do país, no dia 19 de junho, o discurso de "superação" do PT cedeu espaço a uma autocrítica agressiva. Quem a verbalizou foi justamente o petista-mor, o ex-presidente Lula. A Lava jato fora longe demais: prendera Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do Brasil — e um dos empresários mais próximos de Lula. Ele disse em um encontro com líderes religiosos na sede de seu instituto, em São Paulo; "Dilma está 110 volume morto, o PT está abaixo do volume morto e eu estou no volume morto. Todos estão em uma situação muito ruim5"Ainda que usasse uma metáfora jocosa, referindo-se ao passivo tucano da crise hídrica em São Paulo, chocou seus correligionários.

Num surto de sinceridade Lula prosseguiu com a depreciação três dias depois. Desta vez, em público. Ao lado do ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, o ex-presidente desancou o partido que fundou. Disse que o PT está envelhecido e viciado em poder* Como no caso de Dilma, falava e se comportava como um observador distante, não como o político que criou e moldou o jeito petista de governar e se relacionar com o poder. "Não sei se o defeito é nosso, se o defeito é do governo. Mas eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça." Nunca antes na história deste país Lula falara algo tão duro contra seu partido e, assim, contra si mesmo.

A fala de Lula causou rebuliço. Na semana passada, petistas do governo e do Congresso se esforçavam para responder à questão: "O que Lula quer?" O ministro Edirtho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, foi o escolhido para abdicar de seus afazeres em Brasília e dar um pulo até São Paulo para ouvir do próprio Lula a resposta. Na conversa, Lula disse ao ministro que quer ser mais ouvido pelo governo, quer que suas opiniões sejam levadas em conta e que precisa se aproximar mais para poder defender a gestão de Dilma. Ainda naquela noite de quarta-feira, Lula também se encontrou com o presidente do PT, Rui Falcão. Selaram a paz. O resultado foi uma nova "resolução política", publicada pela Executiva Nacional do partido depois de um encontro que tomou toda a quinta-feira, 11a sede nacional do PT, numa rua estreita do centro de São Paulo.

O descontrole emocional completa, nesse documento, seu ciclo. O PT decide fazer uma defesa escancarada das empreiteiras da Lava Jato. Associa as investigações do petrolão à redução da maioridade penal, num contorcionismo ideológico movido a ácido. "Tão grave quanto as tentativas de reduzir a maioridade penal, de realizar a contrarreforma do sistema político-eleitoral e de comprometer o sentido progressista do Plano Nacional de Educação é a ação ilegal, antidemocrática e seletiva dos setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato" diz o documento. Mais adiante, a cúpula petista se diz preocupada com "as consequências para a economia nacional do prejulgamento11 das empreiteiras e pede pressa nos acordos de leniência,"que não paralisem obras ou se suspendam investimentos previstos, a fim de impedir a quebra de empresas e a continuidade de demissões daí resultantes".

A locomotiva petista descarrilhou de vez.

-----

Lula e seu companheiro de viagens

A Polícia Federal rastreia viagens de Lula ao exterior - entre elas as realizadas ao lado do lobista da Odebrecht Alexandrino Alencar, preso na Lava Jato

Thiago Bronzatto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acomodava-se no Gulfstream G2QO, avião executivo com altura de cabine de quase 2 metros, naquele 21 de maio de 2011. O jatinho é um dos maiores de sua classe, a executiva. Tem mesa de reunião, acabamento em madeira de lei e pontos USB para laptops. A viagem de cerca de 5.000 quilômetros do Panamá a São Paulo aconteceu na aeronave prefixo PR-WTR. Lula não estava sozinho. Voava ao lado do lobista da Odebrecht Alexandrino Alencar, preso recentemente na Operação Lava Jato, acusado de ajudar a empreiteira a operar as propinas do petrolão no exterior. Alexandrino pediu demissão na semana passada de seu cargo na Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Sergio Moro. Em seu despacho, Moro escreveu: "Além das provas em geral do envolvimento da Odebrecht no esquema criminoso de cartel, ajuste de licitações e de propina, há prova material de proximidade entre Alberto Youssef e Alexandrino Alencar" Naquele dia de maio de 2011, Lula passou pelo sistema de migração da Polícia Federal às 7h07; o lobista quatro minutos depois. Estavam juntos, como juntos estavam em mais aventuras do que admitem até hoje.

ÉPOCA obteve um relatório da PF com as entradas e as saídas do Brasil de Lula e do lobista Alexandrino entre 2011 e o início deste ano. Há a comprovação de duas viagens da dupla, que já haviam sido noticiadas (para Cuba e para Guiné Equatorial), e a revelação de que ambos estiveram juntos em mais quatro ocasiões (nessa viagem para o Panamá; numa outra para Colômbia, Peru e Equador; numa terceira para Portugal; e numa quarta para a África, passando por Angola e Gana). Além de atestar que a relação de Lula e Alexandrino era muito próxima, as planilhas da PF permitem, pela primeira vez, conhecer o sistema Uber particular de Lula - quem banca e como viaja o ex-presidente pelo mundo afora. São 78 trechos internacionais. As planilhas não identificam destino e origem das viagens. Mas apontam quem são os donos das aeronaves: em alguns casos, empreiteiras, bancos, importadores e companhias têxteis. Em outros, empresas alugando jatinhos de companhias de táxi-aéreo.

As viagens de Lula e Alexandrino não foram ocasionais. Os dois são amigos. Depois das viagens que faziam juntos, costumavam se cumprimentar com afetuosos beijos no rosto. Na sala de Alexandrino na sede da Odebrecht em São Paulo, uma foto com Lula dividia espaço com retratos de familiares do executivo. Quando se referia a Lula, Alexandrino o chamava de "presidente" ou de "chefe" - deferência não dispensada nem sequer ao próprio Marcelo Odebrecht.

Tamanha era a intimidade entre os dois que Alexandrino acompanhava Lula em reuniões e eventos restritos a autoridades de Estado, mesmo quando o tour não era bancado exclusivamente pela Odebrecht. Numa excursão pela América do Sul, Lula viajou com uma comitiva de executivos da OAS, da Camargo Corrêa, da Andrade Gutierrez e da onipresente Odebrecht - todas acusadas de participar do cartel do petrolão. A viagem começou pela Colômbia: Lula embarcou em 3 de junho de 2013, às 9h41, de São Paulo para Bogotá. Lula foi a bordo do mesmo jatinho que o levara ao Panamá, dois anos antes. O lobista da Odebrecht (Alexandrino, não Lula) havia embarcado horas antes, às 7h39, para a capital colombiana. Lá, eles se encontraram com o presidente do país, Juan Manuel Santos, e participaram de encontros com empresários. Lula e Alexandrino seguiram então para o Peru, onde foram recebidos pelo então chefe de Estado, Ollanta Humala. Em fotos oficiais, o lobista da Odebrecht aparece a um passo de Lula. Os dois não param de rir. O périplo político da dupla terminou no dia 8 de junho de 2013, data em que ambos regressaram ao Brasil, em voos diferentes.

Em encontros com autoridades estrangeiras, Lula sempre defendia o interesse das empresas brasileiras em fazer negócios com o país de destino. "Por isso, a gente fazia questão de bancar as viagens dele", disse um executivo de uma grande empreiteira antes de ser preso na última fase da Lava Jato. O investimento se mostrava certeiro. Em 13 de março de 2013, por volta das 8 horas, Lula e Alexandrino embarcaram no aeroporto de Guarulhos com destino a Nigéria, Benin, Gana e Guiné Equatorial. Quatro meses depois dessa passagem de Lula pela África, a Odebrecht ganhou um contrato de uma obra de transporte com o governo ganês, contando com US$ 200 milhões do BNDES. Em 17 de abril do mesmo ano, o presidente de Gana, John Mahama, visitou o Brasil para lançar o seu livro Meu primeiro golpe de Estado. Aproveitou para ter reuniões reservadas com Lula e representantes da Odebrecht, segundo telegramas do Itamaraty.

Em alguns casos, era o próprio Lula quem decidia quando e para onde queria viajar. Em mensagens de celular enviadas em 12 de novembro de 2013, Léo Pinheiro, presidente da construtora OAS, outro amigo de Lula preso na Lava Jato, e o diretor da área internacional da companhia, Augusto César Uzeda, acertavam detalhes dos preparativos para uma viagem do petista, a quem chamam de "Brahma". "O Brahma quer fazer a palestra dia 24/25 ou 26/11 em Santiago", diz Léo Pinheiro. "Amanhã começamos a organizar, o avião é por nossa conta", escreve Uzeda. No dia 26 de novembro, às 10h53, conforme o combinado, o ex-presidente passou pela imigração e, em seguida, embarcou no mesmo Gulfstream G200, alugado da Global Aviation. No Chile, ele participou do seminário Desenvolvimento e integração da América Latina. No dia 10 de dezembro de 2013, um consórcio integrado pela OAS, a sul-coreana Hyundai, a francesa Systra e a norueguesa Aasjakobsen venceu a licitação para a construção de uma ponte de 2.750 metros sobre o Canal de Chacao, considerado o mais longo da América Latina, depois de apresentar a única oferta. O valor estimado do investimento da obra é de US$ 680 milhões.

Numa viagem de Lula e Alexandrino para Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013, a Odebrecht pagou, por meio de sua parceira comercial D.A.G. Construtora, R$ 435 mil para fretar uma aeronave da Líder Táxi-Aéreo, segundo revelou o jornal O Globo em abril deste ano. Em 2011, Lula incluiu Alexandrino numa viagem à Guiné Equatorial em que ia como chefe da delegação brasileira participar da Assembleia da União Africana, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo.

Documentos obtidos por ÉPOCA revelam que empresas de diversos setores bancaram as viagens de Lula pelo mundo afora. Ainda no ramo das empreiteiras, no dia 5 de setembro de 2011, por volta das 11h30, o ex-presidente embarcou numa aeronave modelo Falcon 900EX Easy no aeroporto internacional do Recife. A operadora do jato é a Morro Vermelho Táxi-Aéreo, do grupo Camargo Corrêa - que, além de cobrir as despesas com o avião, doou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e repassou R$ 1,5 milhão para a empresa do líder petista LILS Palestras Eventos e Publicidade entre 2011 e 2013. Meses antes, em fevereiro, Lula viajara a bordo de um Cessna C750, da companhia têxtil Coteminas, do empresário Josué Gomes da Silva, e embarcara num Bombardier BD-700 Global Express, pertencente à mineradora Vale, com destino a Guiné, onde participou de um evento de início das obras de reconstrução de uma ferrovia.

Outros aviões de grandes empresários brasileiros também já estiveram à disposição das viagens do ex-presidente petista entre 2011 e 2014: o de Sérgio Habib, da montadora JAC Motors; o de José Seripieri Junior, dono da operadora de saúde Qualicorp; de Jonas Barcellos, da empresa de máquinas Brasif e conhecido como o "rei dos free-shop"; Marcelo Henrique Limirio Gonçalves, fundador da Neo Química e sócio da Hypermarcas, Além deles, de Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto, ex-ministro do Turismo no governo Lula e conselheiro de Administração da empresa de educação Kroton.

Procurada, a Odebrecht informou que pagou as despesas das viagens do ex-presidente para Angola, Gana, Panamá, Peru, Portugal e República Dominicana. A empresa ainda disse que o ex-diretor de relações institucionais, Alexandrino Alencar, acompanhou Lula a todos esses destinos — e que o executivo "não participava de reuniões do ex-presidente, além daquelas estritamente relacionadas às palestras que o ex-presidente faria" Além disso, a empresa confirma que fez doações ao Instituto Lula, mas não revela valores. A Camargo Corrêa, dona da Morro Vermelho Táxi-Aéreo, diz que patrocinou as palestras do ex-presidente Lula em Portugal, em setembro de 2011; em Moçambique e na África do Sul, em novembro de 2012; na Colômbia, em julho de 2013.

A Vale informou que Lula fez apenas uma viagem em aeronave da empresa. A Queiroz Galvao informa que contratou Lula para três palestras na América Latina e na África em 2011 e em 2013 como uma forma de patrocinar eventos promovidos por entidades de fomento ao desenvolvimento econômico e social. "Tais contratações se deram de forma legal e declarada aos órgãos competentes. Em nenhuma dessas situações houve utilização de aeronave de propriedade da empresa para transporte do palestrante", diz a companhia. A Brasif afirmou que cedeu ocasionalmente a aeronave para Lula, sendo algumas vezes a convite da própria empresa. O empresário Josué Gomes afirmou que, em 2011, o assunto já "foi o objeto de reportagens".

Sérgio Habib e Marcelo Henrique Limirio Gonçalves não responderam até o fechamento desta edição. Walfrido Silvino dos Mares Guia Neto, por meio de sua assessoria, disse que Lula realizou 14 viagens entre 2013 e 2015 em sua aeronave Cessna Citation CJ3. Já a OAS disse que não vai responder ás perguntas feitas por ÉPOCA. Procurado, o Instituto Lula informou por meio de sua assessoria de imprensa que tem como política divulgar as viagens do ex-presidente ao exterior. "As viagens do ex-presidente Lula ao exterior não foram de turismo ou passeio. Foram dando palestras, falando bem do Brasil no exterior para investidores e autoridades estrangeiras, estimulando a participação de jovens na política e divulgando políticas sociais de combate à fome em eventos na África, América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia", diz o Instituto Lula. "No caso de atividades profissionais, palestras promovidas por empresas nacionais ou estrangeiras, o ex-presidente é remunerado, como outros ex-presidentes que fazem palestras. O ex-presidente já fez palestras para empresas nacionais e estrangeiras dos mais diversos setores - tecnologia, financeiro, autopeças, consumo, comunicações - e de diversos países como Estados Unidos, México, Suécia, Coreia do Sul, Argentina, Espanha e Itália, entre outros. Como é de praxe, as entidades promotoras se responsabilizam pelos custos de deslocamento e hospedagem", complementa. "A maioria das viagens do ex-presidente ao exterior não foram pagas pela Odebrecht, que contratou palestras para empresários e convidados em países onde a empresa já atua", reitera. Além disso, o Instituto diz que todas as doações recebidas são contabilizadas e foram pagos todos os impostos correspondentes.

Conforme ÉPOCA revelou em maio, o Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria da República no Distrito Federal iniciou uma investigação para apurar se o ex-presidente praticou tráfico de influência internacional junto a chefes de Estado e autoridades em favor da Odebrecht, maior beneficiária dos financiamentos do BNDES no exterior. O MPF está analisando as relações entre O ex-presidente e a construtora baiana, sobretudo com o lobista Alexandrino Alencar. Lula está passando por uma turbulência sem fim.

-----

Direto nos mais pobres

Durante o governo Lula, os indicadores sociais melhoraram. Agora, essas conquistas estão ameaçadas

Marcos Coronato

Não foi por falta de aviso. O governo de Dilma Rousseff insistiu, até o fim de 2014, em um curso de ação que levava ao desastre inevitável. Os primeiros indícios apareceram há três anos. Havia sinais preocupantes nas contas públicas, na instalação, no investimento real e na disposição para investimentos futuros. Sempre que cobrada a respeito desses sinais evidentes de piora de cenário, até meses atrás, Dilma deu a mesma resposta, de novo e de novo, enquanto foi possível: o nível de desemprego, fator mais influente na satisfação popular, estava baixo. Neste ano, o desemprego, derradeiro argumento a embasar o discurso da presidente, voltou a crescer* Em maio, chegou a 6,7%, muito acima dos 4,9% no mesmo mês no ano passado. A renda média caiu também, 5% no mesmo período.

Junto com o desemprego, despertaram outros indicadores vergonhosos que o país vinha, nos últimos anos, subjugando, Entre eles estão o da população em pobreza extrema (que cresceu em 2013), o das famílias que não conseguem pagar suas dívidas (maior no início deste ano que nos anteriores), o dos trabalhadores na informalidade (que se estabilizou num nível ainda alto e começará a subir nos próximos meses) e o das mulheres que trabalham como empregadas domésticas (que voltou a crescer neste ano), Todas essas mudanças mostram que a vida piorou - principalmente a dos brasileiros mais pobres.

A melhoria desses indicadores ao longo da última década faz parte do legado com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gostaria de entrar para a história e ao qual seu partido, o PT, gostaria de ser associado. As melhorias, na verdade, começaram a ser gesta das com a estabilização econômica do governo Fernando Henrique, e se beneficiaram de um cenário externo favorável - como decorrência da má gestão econômica a partir de 2009, problemas que estavam encolhendo, e que ainda exigiriam uma boa década de progresso para chegar a níveis civilizados, pararam de recuar ou voltaram a crescer. É natural que eles piorem numa crise. Mas é trágico que parem de melhorar, após um período tão curto de evolução. Como não se sabe quão prolongada e severa será a crise econômica, os avanços estão sob ameaça.

Os efeitos aguardados para os próximos meses entram no planejamento de gente como a administradora Maure Pessanha, diretora da ONG Artemísia. Maure trabalha há 11 anos no apoio a negócios sociais - organizações que combinam fins lucrativos e sociais ao mesmo tempo, em frentes como educação e saneamento. Maure calcula já ter trabalhado com mais de 100 iniciativas do tipo. No Brasil, o segmento floresceu no ambiente estimulante dos anos 2000 e é tão novo que nunca passou por uma crise."Nos próximos meses, acreditamos que haverá mais gente demitida e precisando de apoio para criar um negócio próprio. Deve voltar a aumentar o número dos que empreendem por questão de sobrevivência", afirma.

Economia não é a ciência exata que desejariam muitos de seus professores, mas alguns fenômenos se seguem em ordem bem conhecida. Pode-se observar primeiro o que dizem a confiança dos empresários no futuro e os indicadores que antecedem a produção (como a contratação de energia, transporte e embalagens). Eles informarão muito sobre a atividade econômica nos meses seguintes. Daí, a influência se espalha para a confiança do consumidor no futuro e seu consumo de fato. Como o mercado de trabalho no Brasil tem regras rígidas, o nível de emprego tende a ser o último indicador afetado. Desde 2011, as más notícias percorreram esse caminho, até despertar o desemprego. Agora, será preciso fazer com que boas notícias o percorram, até haver uma reação do emprego.

As melhorias foram resultado natural do bom cenário internacional dos anos 2000, mas não apenas disso. Foi um período de crescimento global e de valorização dos produtos que o Brasil exporta, como soja e minério de ferro. O cenário global benigno facilitou o crescimento brasileiro. Mas não se deve negar mérito a Lula e sua equipe. Mesmo com o mundo ajudando, o país poderia não ter crescido tanto, não ter conseguido inspirar boas expectativas, como inspirou, não ter controlado as contas públicas ou a inflação, como controlou, ou não ter reduzido a extrema desigualdade de renda. Lula aproveitou a herança bendita do governo Fernando Henrique, que domou a hiperinflação, deu novo status ao controle das contas públicas e da inflação e interrompeu o indecente processo de concentração de renda vigente no país desde os anos 1970. Fernando Henrique e seu partido, o PSDB, porém, embora tenham saído do governo em meio a uma crise nacional e internacional, em 2002, não trouxeram de volta monstros que haviam liquidado. A inflação alta daquele momento não se comparava à hiperinflação que Fernando Henrique encontrou quando chegou ao governo. Lula e o PT ainda não estão nessa zona de tranquilidade e precisam preservar o legado. Atualmente, duas correntes disputam como fazer isso. A solução não virá de forma simples de nenhum dos lados do debate, ao contrário do que os simplistas dos dois lados tentam fazer crer.

Baixar juros na marra e manter gastos públicos em alta, como quer parte do PT, de outros partidos e organizações de esquerda, poderia melhorar alguns indicadores sociais no curto prazo. Mas faria o país mergulhar rapidamente num fosso de incerteza, alta inflação, baixo crescimento e nenhuma expectativa.

A solução oposta, elevar juros e conter o gasto público, foi a adotada pelo governo. Há sentido em adotá-la, mas isso não basta para trazer o país de volta ao rumo do crescimento. O ajuste ideal deveria ser feito com o máximo de corte no gasto público e o mínimo de elevação de juros. Mas temos um governo perdulário e mau gestor e um orçamento engessado. Assim, o ajuste é feito com um mínimo de corte de gastos e o máximo de elevação de juros. O efeito sobre a atividade econômica e o emprego é devastador. O economista Paulo Feldman, professor na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, faz um alerta a respeito - o ajuste atual também pode empurrar o Brasil para uma espiral maligna, em que o governo corre atrás de um ajuste impossível nas contas públicas, atrapalhado por seus próprios juros altos (que elevam a dívida pública) e pela queda de arrecadação de tributos (por causa da baixa atividade econômica). "A tentativa da Dilma de baixar juros no primeiro mandato deu errado porque ela não cortou gastos públicos e conteve de forma artificial os preços de energia e gasolina", diz. "Como resultado, a inflação antes represada veio com tudo nos últimos meses."

Ajuste das contas públicas e estabilidade econômica são condições necessárias, mas não suficientes, para gerar o tipo de crescimento forte que o Brasil requer para superar suas chagas sociais, isso exigirá empenho em outras frentes. Dilma mostrou serviço em algumas delas - o programa de privatizações em infraestrutura, o apoio às exportações e o agendamento de uma viagem aos Estados Unidos (leia em Nossa Opinião, na página 30). É de lamentar que tenhamos esperado tanto por elas.

Não há motivo para catastrofismo. A Indonésia, uma grande economia subdesenvolvida como o Brasil, sofreu um baque com a crise financeira da Ásia no fim dos anos 1990, um episódio muito mais severo que o vivido atualmente por aqui. Depois de anos de melhora, a parcela de indonésios abaixo da linha da pobreza subiu de 17,7% em 1996 para 24,2% em 1998. Passada a fase aguda da crise, em 1999, a pobreza logo voltou a cair. Dilma persistiu por tempo demais em políticas ruins. Como todo governo populista, centralizador e procrastinador nas reformas necessárias, pagará um preço. Só teve o azar de a conta chegar para ela mesma. O segundo mandato de Dilma será marcado pela derrota para a crise, o que seria péssimo para ela* ou pela vitória sobre a crise, o que seria apenas razoável para a presidente, já que ela mesma fabricou o monstro. Lula, porém, tem a perder algo muito maior - a forma como entrará para os livros de história.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Noticias de um outro mundo: documentando a mafia em acao - Guilherme Fiuza, Pedro Moura (Epoca)

O Brasil é realmente um país alucinante: assiste uma máfia completa comandando o país dos mais altos escalões, e não reage. Contempla, todos os dias, denúncias nos jornais desses mesmos assaltantes roubando centenas de milhões, e não reage.
O que mais falta para o país implodir, ou explodir?
Nada!
Mas nada acontecerá, para mais uma confirmação de que se trata de um país invertebrado...
Paulo Roberto de Almeida 


Lava Jato toca a campainha do Palácio
Guilherme Fiuza
Revista Época, 18/05/2015

O doleiro do petrolão afirmou, em delação premiada, que o Palácio do Planalto sabia do esquema. Citou pelo menos três ex-ministros de Dilma cujos nomes ouviu várias vezes nos momentos decisivos das operações criminosas. Alberto Youssef disse também aceitar acareações com qualquer um. O esquema bilionário que funcionou mais de década exatamente sob os governos do PT, operado por diretores da Petrobras nomeados ou protegidos pelo grupo político governante, chegou à sua hora da verdade. Ou o Brasil acredita que o doleiro Youssef botou a República debaixo do braço e fez o governo inteiro refém, ou o comando da quadrilha terá de aparecer.
Youssef afirmou, em seu depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba, que se sentia ""mais seguro" em suas operações criminosas por saber que tinha a proteção do Palácio do Planalto. Marcos Valério não chegou a dizer literalmente a mesma coisa, mas o julgamento do mensalão mostrou que ele também era assegurado pelo Palácio - tanto que o então ministro-chefe da Casa Civil acabou condenado e preso. Nos dois megaescândalos, dois tesoureiros do PT presos, acusados de participar de desvios de dinheiro de estatais para o partido. E o Brasil, chupando o dedo, não liga lé com cré e se recusa a entender que esse é um padrão de governo.
Aliás, "a única forma de governar o Brasil" — como Lula teria afirmado a José Mujica, ex-presidente do Uruguai. Os dois ex-presidentes naturalmente negaram que se tratasse do reconhecimento do escândalo, mas o livro que traz essa passagem é absolutamente claro ao contextualizá-la como referência ao mensalão. Um dos autores do livro, Andrés Danza, declarou não ter dúvidas de que assim a fala de Lula fora entendida por Mujica — com quem, aliás, Danza tem excelente relação. Possivelmente o ex-presidente uruguaio, chapa de Lula, achou que expondo a confissão de ""culpa" do colega brasileiro em relação ao escândalo iria humanizá-lo. É um tipo de humanismo que passarinho não bebe.
A tolerância do Brasil com os métodos escancarados do PT beira o masoquismo. A pessoa em quem Dilma Rousseff mais investiu para ser seu braço direito no governo chama-se Erenice Guerra, investigada em dois escândalos de tráfico de influência dentro do Palácio — este que Youssef diz que o fazia sentir-se seguro, o mesmo de onde foi engendrado o mensalão. É uma vertiginosa sucessão de coincidências. Ou então o Brasil gosta de apanhar.
Gosta porque não se mexe. Está esperando a Justiça capturar a quadrilha. E vai esperar sentado. A domesticação da corte máxima dessa Justiça apresenta neste exato momento mais um capítulo circense - talvez o de maior audiência, pelo que tem de bizarro. O país assiste à indicação de mais um soldadinho petista para o Supremo Tribunal Federal - um simpatizante do MST, para ter uma ideia do nível de aparelhamento a que está chegando a Justiça brasileira, esta que a platéia está esperando pegar os chefes do bando. O novo indicado por Dilma para o STF tem até site feito pela mesma pessoa que faz o do PT, provando que a independência não livra ninguém dos sortilégios da sincronicidade.
O Congresso Nacional teria a chance de devolver essa carta marcada ao Planalto, reprovando a indicação de Luiz Edson Fachin ao Supremo. Mas o Congresso é... o Congresso. E assim o país vai assistindo candidamente ao adestramento das suas instituições pelos companheiros progressistas, que conseguiram subjugar até as contas públicas — travestindo o balanço governamental através da contabilidade criativa e das já famosas pedaladas fiscais (tão famosas quanto impunes). Claro que a lavagem cerebral companheira já chegou forte a escolas de todo o país — sendo que até colégios militares andam sendo coagidos a ensinar o conto de fadas petista, coalhado de ideologias exaltando as pobres vítimas do capitalismo que mandam no Brasil (pelo visto, para sempre).
O Congresso Nacional está em cima do muro, o governo está atrás do muro e o Supremo está atrás do governo. Só o povo, com ou sem panelas, pode afrontar essa barricada no coração do Estado brasileiro e libertá-lo — exigindo que a Lava Jato siga o dinheiro até o fim. E levando a investigação até dentro desse Palácio que protege doleiros.

==========

A mãe de todas as delações
Pedro Marcondes de Moura
Época
Ricardo Pessôa é o primeiro dono de empreiteira a confessar crimes na Lava Jato. A colaboração dele jogará gasolina política no petrolão

Cercado por delegados federais e procuradores, zeladores do patrimônio público, o empreiteiro Ricardo Pessôa chorou. Não conteve a emoção ao ouvir elogios à capacidade e à qualidade de suas empresas, UTC e Constran. O empresário estava numa reunião na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, na quarta-feira da semana passada. A observação veio de um procurador, em tom de reprimenda, como quem diz "precisava mesmo ter participado disso?"
Nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Pessôa aparece com papel de destaque no organograma do petrolão, o esquema de cobrança de propina de construtoras e desvio da Petrobras. É apontado como coordenador do "clube das empreiteiras". Coordenava, pelo lado das construtoras, a definição de qual companhia ou consórcio do cartel venceria cada uma das licitações da Petrobras. Pagava propina também a diretores da estatal, operadores do esquema e políticos. Por isso, estava naquela sala acompanhado de cinco advogados, ao menos dois delegados federais e oito procuradores. Entre eles, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Assinava um acordo de delação premiada. No mesmo dia, começou a contar o que sabe, em troca de redução de pena e um provável direito de permanecer em liberdade. Foram cerca de cinco horas na primeira sessão de revelações. Comprometeu-se também a pagar uma multa de cerca de R$ 50 milhões. O acordo ainda precisa ser homologado pelo ministro Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo Tribunal Federal.
A delação de Pessôa jogará gasolina política no petrolão. Desde que a Operação Lava Jato chegou às principais empreiteiras do país, ele é visto como um delator com potencial explosivo. Suas revelações preocupam o Palácio do Planalto e as cúpulas do Congresso Nacional, do PT e do PMDB. Pessôa não é apenas alguém que corrompeu autoridades. Conviveu com elas. Tinha trânsito fácil nos principais gabinetes de Brasília. Recebia e era recebido, com afagos, por políticos de diferentes escalões interessados em recursos para campanhas e até em suas análises sobre o setor de obras públicas. A posição de líder no cartel também faz com que conheça com detalhes práticas irregulares de suas concorrentes. Antes de Lula, a UTC de Pessôa não era nada. Com Lula, virou um colosso.
Ficou claro, na quarta-feira e durante as negociações com os procuradores, o potencial da delação de Pessôa. O empreiteiro ofereceu informações que, caso comprovadas, mostrarão que o petrolão chegou também a outras estatais federais e ainda mais perto do Palácio do Planalto. Mas o empreiteiro promete mais do que confirmar parte das denúncias já investigadas.
De acordo com fontes que participam da organização da delação de Pessôa, o empresário afirmou que a UTC e outras empresas investigadas na Lava Jato atuaram em cartel nas obras da usina nuclear de Angra 3, da estatal Eletronuclear. Em contrapartida, desembolsaram propina a integrantes da bancada do PMDB do Senado. Disse também que contribuiu para o caixa dois da campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Uma declaração que, se comprovada, estabelecerá relação direta do esquema com Lula e mostrará que o PT insistiu no uso de dinheiro ilegal em campanhas, mesmo depois de descoberto o mensalão. Pessôa afirmou ter doado recursos para a última campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2014, de modo oficial, por temer eventuais retaliações em contratos. No período, a Operação Lava Jato já estava deflagrada. Disse também ter pagado cerca de R$ 2,4 milhões em dívidas de campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em 2012. Os pagamentos ocorreram, na versão de Pessôa, a pedido do ex-tesoureiro do partido João Vaccari. O PT e Vaccari negam qualquer irregularidade.
Desde o ano passado, Pessôa negociava a delação premiada. Esteve por vezes próximo de um acordo com os procuradores do Paraná. Mas as conversas empacavam. Ele temia as consequências pessoais e empresariais de confessar a culpa. Segundo integrantes das negociações, parecia acreditar que não ficaria preso. Negava-se a compreender que a situação se desenhava para passar vários anos encarcerado, como ocorreu com a ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello, no mensalão. Acabou ultrapassado, na fila da delação, pelo diretor presidente da empreiteira Camargo Corrêa, Dalton Avancini, e pelo vice-presidente, Eduardo Leite. Foi quando mudou de estratégia. As tratativas com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, começaram há dois meses, antes mesmo de ele ser solto, por decisão do Supremo. Pessôa se comprometeu a fazer a delação, mesmo que fosse solto. Cumpriu a palavra. Sentindo-se abandonado por Lula, de quem se diz amigo, e pela Odebrecht, a quem diz ter ajudado no cartel, Pessôa, movido por vingança e cálculo, se convenceu de que a colaboração era sua melhor alternativa. Foram menos de dez reuniões até a assinatura do acordo na quarta-feira.
A delação de Ricardo Pessôa pode levar outros empreiteiros e integrantes do petrolão para a fila de delação. Eles sabem que, com os novos depoimentos, as acusações devem se tornar mais contundentes. Além disso, no mercado da delação, os benefícios são proporcionais à quantidade de informações novas. A cada acordo celebrado, o capital dos demais acusados se reduz. Até mesmo a doleira Nelma Kodama, já sentenciada a 18 anos de prisão, disse na semana passada que gostaria de colaborar com a Justiça. Nelma deixou isso claro durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, na terça-feira, em Curitiba. Em diversos momentos, ela divertiu os deputados. Em um dos momentos teatrais de seu depoimento, demonstrou onde guardava € 200 mil quando foi presa deixando o Brasil. De pé, explicou que o bolinho de dinheiro nem era tão volumoso e estava no bolso de trás da calça jeans, e não na calcinha, como dito na ocasião da apreensão. Arrancou risos dos parlamentares novamente ao cantar "Amada amante", de Roberto Carlos, para dizer que não teve só um caso com o doleiro Alberto Youssef. Viveu, segundo ela, ""maritalmente com ele do ano de 2000 a 2009". Só parou a canção ao ser repreendida pelo presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB): "Senhora Nelma, nós não estamos em um teatro". Já Luiz Argôlo, ex-deputado federal preso na Operação Lava Jato, prestou depoimento segurando um terço. Em atitude de pregador, declarou aos ex-colegas: Os humilhados, um dia, serão exaltados. Isso é bíblico". Na quinta-feira, Argolo e os também ex-parlamentares presos André Vargas e Pedro Corrêa foram denunciados pelo Ministério Público Federal, junto com outras dez pessoas. Começa a 11ª fase da Operação Lava Jato. Não será a última.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Petralhas: larapios ultra-rapidos, dilapidaram a Petralhabras em muitos bilhoes


O balanço auditado divulgado pela Petrobras informa que foram engolidos pela corrupção 6,2 bilhões de reais entre 2004 e 2012, período em que o Brasil foi governado por Lula e Dilma Rousseff.
Nove anos correspondem a 3285 dias. A cada 24 horas, portanto, foram desviados 1,9 milhão de reais. São 78.504 reais por hora. Ou 1309 reais por minuto. A cada cinco segundos, os quadrilheiros desviaram 110 reais. Nunca antes na história deste país se roubou tanto, com tanta velocidade. (Impávido Colosso).


Mensalao: Lula confessou ao presidente Mujica, do Uruguai - Polibio Braga

"Para Mujica, ficou claro que Lula falava do mensalão", diz autor de livro

Segundo Andrés Danza, um dos autores da biografia 'Uma Ovelha Negra no Poder', não restou dúvida para o ex-presidente uruguaio que Lula se referia ao escândalo ao dizer que teve de "lidar com muitas coisas imorais".
A entrevista é de Leonardo Coutinho, do site www.veja.com.br deste final de tarde. Ele ouviu Danza pelo telefone internacional.
Leia tudo:
Andrés Danza, um dos autores do livro Una Oveja Negra al Poder (Uma Ovelha Negra no Poder), confirmou a VEJA declaração do ex-presidente uruguaio, José Mujica, de que Lula se referia ao mensalão quando justificou a corrupção em seu governo. Uma frase de Danza publicada no site G1 nesta sexta-feira deu a falsa impressão de que ele estava negando o conteúdo do livro. Na frase em questão ("Não, Lula estava falando sobre as 'coisas imorais' e não sobre o mensalão. O que Lula transmitiu ao Mujica foi que é dificil governar o Brasil sem conviver com chantagens e 'coisas imorais"), Danza apenas esclareceu que Lula não tinha usado especificamente a palavra "mensalão", embora tenha ficado claro para Mujica que era exatamente a esse escândalo que o brasileiro se referia. Ao relatar a conversa aos jornalistas que escreveram o livro, Mujica associou imediatamente a confissão ao escândalo que levou à prisão algumas das principais lideranças do PT e do governo Lula, como José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha. A seguir, a entrevista de Danza a VEJA:
O jornal O Globo publicou uma reportagem sobre seu livro, que causou muita repercussão porque revelou o conteúdo de uma conversa entre o ex-presidente José Mujica e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nele está a revelação de que Lula sabia o que se passou...
No mensalão.
Sim. Quais são os detalhes dessa conversa?
Foi uma conversa que Mujica teve com Lula antes de assumir a presidência do Uruguai, em 2010. Mujica viajou ao Brasil com o vice-presidente Danilo Astori. A conversa foi em Brasília. Mujica conta que Lula lhe disse que como presidente teve de lidar com questões imorais e chantagens, e que essa é a forma de governar o Brasil. Lula não usou especificamente a expressão "mensalão". Ele disse que a corrupção é alta no Brasil e que um presidente tem de lidar com questões imorais e chantagens. Embora a confissão que Lula fez sobre corrupção tenha sido genérica, para Mujica ficou claro que ele estava se referindo especificamente ao mensalão. Mujica disse a Lula que isso é algo típico de muitos países.

Como Mujica avaliou a afirmação de Lula de que não há como governar sem corrupção?
Mujica se preocupa com a corrupção. Vive de forma humilde e a combate. Ele não a defende. Mas ele defende Lula, com quem tem uma relação muito próxima. Ele considera que Lula não é corrupto e o vê como padrinho. Ele entende que Lula teve de conviver com a corrupção.
Mujica ficou incomodado com a repercussão dessa revelação?

Não falei com ele ainda. Mas é um trabalho jornalístico. Nós temos tudo mais que confirmado e por isso publicamos. Mujica participou do lançamento do livro em Buenos Aires, na semana passada. Faz muito tempo que nos conhecemos e há entre nós respeito profissional. Ele nunca exigiu que algo que disse fosse ou não publicado.

sábado, 18 de abril de 2015

A corrupcao engole, literalmente, o Brasil - Mary Anastasia O'Grady (WSJ)

A corrupção que sacode o Brasil - a visão dos estrangeiros
alx_joao-vacari-estrela_original.jpeg 
O candidato derrotado à presidência do Brasil, Aécio Neves, parece falar em nome de muitos dos seus compatriotas quando diz que o PT e a presidente Dilma Rousseff utilizaram dinheiro roubado para derrotá-lo nas eleições presidenciais ocorridas no país em outubro de 2014.

No mês passado, em uma entrevista concedida a mim, em Lima, perguntei ao senhor Neves — que é presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) — se ele atribuía sua derrota nas eleições ao fato de o socialismo proposto pela senhora Rousseff, que é da esquerda linha-dura, possuir maior apelo entre os brasileiros do que o programa do PSDB, que era um pouco mais amigável ao mercado.
Ele negou essa possibilidade.  Segundo ele próprio, ele perdeu por causa de um "crime organizado".
O senhor Neves, ex-governador do estado de Minas Gerais, não estava se referindo à máfia.  Ele estava falando sobre um esquema de corrupção implantado no núcleo da Petrobras, a empresa estatal de petróleo do país.  Promotores afirmam que empreiteiras contratadas pela Petrobras participaram de um esquema de superfaturamento envolvendo a diretoria da empresa e partidos políticos da base aliada do governo (no Brasil, os partidos da base aliada indicam políticos para a diretoria de operações da empresa). 

Nesse esquema, as empreiteiras superfaturavam os preços de suas obras, a Petrobras pagava o valor superfaturado para as empreiteiras, e estas, em troca, remetiam uma fatia desse dinheiro superfaturado — cujo valor total, estima-se, chega a 30 bilhões de dólares — para políticos de partidos da base aliada do governo, entre eles o PT, como forma de agradecimento pelo superfaturamento.  Isso destruiu o capital da Petrobras.

O PT gastou uma assombrosa quantia de dinheiro na campanha eleitoral para vencer as eleições, e parece estar cada vez mais claro que ele só conseguiu fazer essa gastança por causa dos milhões que recebeu ilegalmente desse esquema de corrupção na Petrobras.  Se isso se comprovar verdade, isso foi de fato um crime, e muito bem organizado.

E os escândalos continuam surgindo a uma velocidade arrepiante.  É como se a cada fiapo que você puxasse em um cobertor, ele se levantasse e revelasse não somente um, mas vários esquemas ilícitos que estavam escondidos. 

E o grande risco é que, mesmo com novos esquemas de corrupção sendo revelados quase que semanalmente, a população brasileira não aprenda a mais importante das lições: sim, a justiça deve punir os corruptos, mas o que realmente gerou toda essa bagunça foi o tamanho do estado brasileiro, cujo poder e gigantismo abrangem todos os setores da economia brasileira.
Com um estado que intervém em todos os setores da economia, e que controla diretamente várias empresas, de nada adianta você apenas trocar indivíduos corruptos por indivíduos "mais honestos".  Isso não irá eliminar as causas da corrupção.

No Brasil, empresas estatais são controladas por políticos.  Consequentemente, a tentação de utilizar a dinheirama que passa por essas estatais — principalmente nos momentos em que os preços das commodities estão em ascensão e o dinheiro se torna farto — sempre será irrefreável.  Esperar que políticos não se aproveitem desses recursos é como imaginar que a raposa gerenciará sensatamente um galinheiro repleto de galinhas gordas.

Mas esse esquema entre estatais e empreiteiras, envolvendo superfaturamento, fraudes em licitações e desvio de recursos das estatais para o pagamento de propina a políticos é tão antigo e tão básico, que é impressionante que apenas agora as pessoas demonstrem surpresa com ele.
Toda a esquisitice já começa em um ponto: por que os políticos disputam acirradamente o comando das estatais?  Por que políticos reivindicam a diretoria de operações de uma estatal?  Que políticos comandem ministérios, vá lá.  Mas a diretoria de operações de estatais é um corpo teoricamente técnico.  Por que políticos?  Qual a justificativa?

Quem acompanha o jornalismo político já deve ter percebido que os partidos políticos que compõem o governo federal não se engalfinham tanto na disputa de ministérios quanto se engalfinham na disputa para a diretoria de estatais.  É óbvio.  É nas estatais que está o butim.  As obras contratadas por estatais são mais vultosas do que obras contratadas por ministérios.  O dinheiro de uma estatal é muito mais farto.  E, quanto mais farto, maior a facilidade para se fazer "pequenos" desvios.
Isso, e apenas isso, já é o suficiente para entender por que políticos e sindicalistas são contra a privatização de estatais.  Estatais fornecem uma mamata nababesca. 

Quando políticos e sindicalistas gritam "o petróleo é nosso", "o minério de ferro é nosso", "a telefonia é nossa", "a Caixa é nossa", eles estão sendo particularmente honestos: aquele pronome possessivo "nosso" se refere exclusivamente a "eles", os únicos que ganham com todo esse arranjo.
Mas a necessidade de privatização das estatais não está apenas no campo ético.  Há também argumentos técnicos e econômicos.

Em primeiro lugar, em qualquer empresa que tenha como seu maior acionista o Tesouro nacional, a rede de incentivos funciona de maneiras um tanto distintas.  Eventuais maus negócios e seus subsequentes prejuízos ou descapitalizações serão prontamente cobertos pela viúva — ou seja, por nós, pagadores de impostos, ainda que de modos rocambolescos e indiretos.

Os problemas de haver empresas nas mãos do estado são óbvios demais: além de o arranjo gerar muito dinheiro para políticos, burocratas, empreiteiras ligadas a políticos, sindicatos e demais apaniguados, uma empresa ser gerida pelo governo significa apenas que ela opera sem precisar se sujeitar ao mecanismo de lucros e prejuízos.

Todos os déficits operacionais serão cobertos pelo Tesouro, que vai utilizar o dinheiro confiscado via impostos dos desafortunados cidadãos. Uma estatal não precisa de incentivos, pois não sofre concorrência financeira — seus fundos, oriundos do Tesouro, em tese são infinitos.
Por que se esforçar para ser eficiente se você sabe que, se algo der errado, o Tesouro irá fazer aportes?

O interesse do consumidor — e até mesmo de seus acionistas, caso a estatal tenha capital aberto — é a última variável a ser considerada.]
Se a senhora Rousseff está sendo honesta ou não quando diz que não sabia de nada sobre esse esquema de corrupção na Petrobras, é o de menos.  Seu maior problema, como o senhor Neves deixou implícito, é que as acusações colocaram em cheque a legitimidade de sua apertada vitória nas eleições (por uma margem de aproximadamente 3%).  Enquanto seu partido luta para rebater as acusações, e alguns de seus mais importantes membros estão sendo presos, a senhora Rousseff já está sem moral para governar.

No dia 15 de março, um número estimado em 1,5 milhão de brasileiros foi à ruas, em todo o país, para protestar contra o governo.  Uma recente pesquisa do Datafolha mostra que 60% da população consideram o governo da senhora Rousseff "ruim" ou "péssimo".
Se a economia estivesse pujante, a reação pública a essas revelações de corrupção poderia ser diferente.  Só que essa crise política não poderia ter vindo em pior momento para o bolso dos brasileiros.  A inflação de preços acumulada em 12 meses está em 8,13%, a moeda se desvalorizou acentuadamente no mercado mundial, a economia ficou parada em 2014, e estima-se que, em 2015, ela encolherá mais de 1%.

A senhora Rousseff nomeou para o Ministério da Fazenda o economista Joaquim Levy, formado em Chicago e com boa reputação no mercado financeiro.  Até o momento, seu plano de governo se resume a um retorno à disciplina fiscal.  Só que ele precisará da ajuda dos aliados do PT — dentre eles o poderoso Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) — no Congresso.  Por ora, eles têm se mostrado relutantes; e, quando aceitam ajudar, a senhora Rousseff tem de arcar com o custo político do ajuste.  Logo, mesmo que o senhor Levy seja bem-sucedido em ajustar as contas do governo, a popularidade da senhora Rousseff pode não se recuperar.

Os escândalos de corrupção tendem a se arrastar por causa de seu tamanho e complexidade.  No mês passado, o tesoureiro do PT, João Vaccari, foi acusado de solicitar as "doações" das empreiteiras — com o dinheiro da Petrobras — para o partido.  Em um depoimento perante um comitê há duas semanas, o senhor Vaccari negou qualquer transgressão. [Nota do IMB: e hoje ele foi preso].
Um dos principais problemas para a Petrobras foi o fato de o governo ter proibido a participação de empresas estrangeiras nos processos de licitação.  Isso incentivou um cartel das empreiteiras nacionais, todas elas protegidas pelo governo.  O Ministério Público já acusou três ex-presidentes da Petrobras [José Eduardo Dutra, Sergio Gabrielli e Maria das Graças Foster] e mais vários outros presidentes de grandes empreiteiras brasileiras [Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e IESA Óleo & Gás] pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro.  Há também quase 50 políticos pertencentes a vários partidos sob investigação.

Os protestos contra a corrupção são um indicador da vitalidade da sociedade civil brasileira.  A independência do judiciário também é uma boa notícia.  O pequeno time de promotores é bem treinado.  Um trabalho investigativo de alta qualidade vem sendo feito não obstante os poderosos indivíduos envolvidos.  Em um país que vem sofrendo para acabar com a impunidade, isso é um grande feito.

Mas não é o bastante.  A questão premente ainda segue intocada: quando a classe política se envolve na gerência de empresas, a corrupção se torna institucionalizada.  Punir os escroques é necessário, mas ainda insuficiente.  O grande problema a ser atacado, e que é a causa de tudo, é o fato de o governo ser o dono de empresas.

Mary Anastasia O’Grady é editora do The Wall Street Journal e faz a cobertura de eventos da América Latina.
Fonte: Instituto ludwig von Mises Brasil

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Alem dos Brics, e muito alem da corrupcao normal: Brasil no Financial Times, diminuido

Sobrou até para os diplomatas lotados em Nova York, não pela corrupção, apenas pelo gosto imoderado de estacionar sem pagar parking, ou em locais proibidos.
Paulo Roberto de Almeida 

Petrobras shows corruption is now a high-stakes game in Brazil
Samantha Pearson
FT, 16/4/2015

In the 1980s, corruption in Brazil was a simple, albeit sweaty, affair. The first challenge for any executive entrusted with paying a bribe was to traipse up and down the streets to find enough black market money dealers willing to sell dollars, explains one former government contractor. In a decade when Brazil changed its currency more often than its president, kickbacks in greenbacks were considered the only ones worth having.

The second challenge was to take the cash to the meeting place, which often involved donning a long winter coat stuffed with banknotes under the tropical sun. “The biggest danger back then was passing out from heat exhaustion,” says the former contractor.

The multibillion-dollar corruption scandal engulfing Brazil’s state-controlled oil company Petrobras could not be more different. With cash allegedly siphoned through more than 300 Swiss bank accounts and laundered via everything from petrol stations to art works, the country’s largest graft scheme is so complex that after a year of investigating, the authorities are only just beginning to understand it.

While the latest scandal has shocked Brazilians and foreign investors alike, this evolution of corruption in Brazil over the past few decades is, in fact, proof of progress, analysts say. As the federal police and prosecution service have gained ever more autonomy and influence since the end of military rule in 1985, corruption rings have been forced to come up with increasingly sophisticated methods to survive.

“Even just 10 years ago, [corruption] was so commonplace that people weren’t even scared of getting caught,” says André Camargo, professor of law at Brazil’s Insper business school.

But while the Petrobras investigation, dubbed “Carwash” by police, may be considered a victory in Brazil’s battle against impunity, it also serves as the clearest compliance warning yet for multinationals operating in the country and other emerging markets.

In Brazil, foreign companies have long faced pressure to pay “grease” payments to speed up regulatory processes or fund bribe paying via third-party consultation services simply to compete with local players. However, as the Petrobras case has shown, the risks of being caught have never been higher, says Edward Jenkins, a British lawyer who advises companies expanding to Brazil as well as the Caribbean.

The Petrobras scandal has already sucked in more foreign companies than any other in Brazilian history, with Rolls-Royce and the Netherlands’ SBM Offshore accused of paying bribes to win contracts at the oil major. Singapore’s Keppel and Sembcorp Marine have also been accused of participating in the bribes-for-contracts scheme at Petrobras’s drilling provider Sete Brasil. Following allegations made by a former Petrobras and Sete Brasil executive, Rolls-Royce has said it will take the necessary action to ensure compliance, SBM Offshore said it is co-operating with the investigation and both Keppel and Semb­corp denied participating in such a scheme.

As emerging markets such as Brazil, India and China make greater efforts to tackle corporate wrongdoing, the US and the UK are also closing in from home, strengthening the US Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) and the UK Bribery Act. Crucially, there is more co-operation between developed and developing markets.

“The advice I give to foreign companies is to play by your home rules or you’re going to get your fingers very badly burnt,” says Mr Jenkins.

However, following such advice is easier said than done in Brazil. While the country’s performance in global corruption indices is not dire — Transparency International ranked Brazil ahead of China and India in 2014, and on a par with Italy — general rule-breaking is endemic at all levels of society.

Studies such as the Americas Barometer survey show Brazilians perceive corruption and rule-bending to be worse than international rankings suggest.

More anecdotal evidence also reveals a widespread disrespect for law and order. A study of parking tickets by US academics Raymond Fisman and Edward Miguel, for example, showed that Brazilian diplomats outperformed all other nationalities in Latin America in their abuse of parking privileges in New York City.

“Corruption is embedded in the culture here and that’s something that’s very hard to change — it’s the Brazilian jeitinho,” says one executive of a Europe-based company in Brazil, referring to the national habit of circumventing rules.

Literally “little way”, the jeitinho in its most innocuous form is considered a positive trait of Brazilian culture because it is an expression of resourcefulness and informality that is often traced back to the country’s mixed heritage and Iberian ancestry.

However, the concept also extends to unethical behaviour such as queue-jumping and illegal practices such as parents bribing driving instructors so their children can pass their tests.

For businesses, the jeitinho is particularly dangerous when it comes to navigating the country’s labyrinthine bureaucracy and tax systems (to comply with the latter, an average company must set aside 2,600 hours a year, according to the World Bank). Inter­mediaries have emerged to help companies cut down on the paperwork for a fee, part of which often falls into the hands of local officials.

It is a vicious circle, whereby so many individuals in positions of power profit from the country’s bureaucracy that legitimate efforts to cut red tape are met with huge resistance. “There are markets where it is humanly impossible to play by the book because the bureaucracy that has been created is so insuperable,” says Insper’s Professor Camargo.

This type of “everyday corruption” is the most problematic for companies operating in emerging markets, writes Ravi Venkatesan, the former chairman of Microsoft India in an article on combating corruption for McKinsey.

The only solution for multinationals is to invest more in compliance in countries such as Brazil. Many make the mistake of allocating budgets for audits and compliance reviews simply in proportion to the revenues of their foreign subsidiaries, says Mr Venkatesan.

With Brazil facing what could be its worst recession in a quarter of a century, country managers may struggle to convince their head offices to invest more there. However, as more foreign companies are sucked into the Petrobras scandal it is becoming clear that multinationals can no longer afford to break the rules either.

“This is an inflection point for Brazil,” says Mark Weinberger, global chairman and chief executive of professional services provider EY. “Companies are figuring out that it’s never worth taking the short cut to be able to compete on a particular project or market opportunity by risking the brand.”

sábado, 21 de março de 2015

Petrolao: o verdadeiro tesoureiro dos petralhas (nao o oficial) e porque andou solto por ai e fica em silencio

Transcrevendo, para registro da história, uma estória a todos os títiulos deplorável, e não por causa dos dois personagens que ousam desmentir os dois jornalistas, e que até agora se recusam a dar entrevista sobre o caso, mas por um terceiro personagem que, como evidenciado na matéria, não merece a roupa que veste, roupa essa que lhe foi servida para fazer isso mesmo que faz...
Paulo Roberto de Almeida

Primeiro a notícia original de O Antagonista (falta verificar a data, que tenho nomeu computador)

 Matando a cobra e mostrando o pau
O Antagonista

No contexto da Operação Lava Jato, uma das perguntas que permaneciam sem resposta era por que Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, foi solto por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal – e, depois, teve novo pedido de prisão preventiva negado por obra do mesmo Teori, que convenceu Gilmar Mendes e Carmen Lúcia a segui-lo na decisão.

Afinal de contas, está mais do que provado que Renato Duque, homem de José Dirceu e do PT, era um dos principais engenheiros do propinoduto que sangrou a estatal.

O Antagonista apurou com três fontes de alto escalão, para chegar à resposta. Renato Duque não está livre por falha de argumentação do juiz Sergio Moro e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como pensam alguns. Esse foi apenas o pretexto. Renato Duque está livre por causa de Lula.

A prisão de Renato Duque, em novembro do ano passado, fez com que a sua mulher entrasse em desespero. Sem poder contar com José Dirceu, pato manco depois do mensalão, ela recorreu a Paulo Okamotto, o faz-tudo de Lula. Para acalmá-la, Okamotto afirmou que a situação se arrumaria num curto espaço de tempo, mas ela lhe disse que não cairia nessa conversa. Que, se fosse necessário, teria como reunir provas suficientes para provar que Lula sabia e participara do esquema do petrolão.

Diante da ameaça, Okamotto disse a Lula que ele deveria encarregar-se da questão pessoalmente. Lula encontrou-se com a mulher de Renato Duque e tentou persuadi-la de que o seu marido ficaria na prisão menos do que se imaginava. Em vão. Ela voltou a afirmar que implicaria o ex-presidente no escândalo, se Renato Duque não fosse libertado rapidamente.

Acuado, Lula pediu ajuda a um ex-ministro do STF de quem é muito amigo. Ele se prontificou a socorrer o petista. O melhor caminho, disse o ex-ministro do STF a Lula, era procurar Teori Zavascki.

Foi o que o amigo de Lula fez: marcou um encontro com Teori Zavascki, para lhe explicar como era urgente que Renato Duque fosse solto, porque, caso contrário, Lula seria envolvido “injustamente” num escândalo de proporções imprevisíveis para a estabilidade institucional. Teori Zavascki aquiesceu. Avisado pelo amigo ex-ministro do STF, Lula comunicou à mulher de Renato Duque que tudo estava resolvido

Foi assim que Renato Duque, passados pouco mais de quinze dias após a sua prisão, viu-se do lado de fora da carceragem da Polícia Federal em Curitiba

# # # # #

Carta Aberta de Paulo Okamotto em resposta ao blog O Antagonista

Senhores Diogo Mainardi e Mario Sabino,

Vivemos em um país democrático e, nele, as pessoas podem falar o que quiserem e até ganhar dinheiro com isso. É condenável, porém, que publiquem notícias falsas e deliberadamente caluniosas, como os senhores fizeram no blog O Antagonista em matéria intitulada “Renato Duque está solto a pedido de Lula”.

As informações contidas na matéria são completamente inverídicas, tanto no que me diz respeito quanto ao ex-presidente Lula. O que, aliás, os senhores comprovariam se tivessem tido a dignidade de me perguntarem antes, frente a frente, diretamente, o que queriam saber.

Mas não o fizeram, preferindo publicar injúrias não só contra nós, mas também contra o Supremo Tribunal Federal.

Paulo Okamotto – Presidente do Instituto Lula

# # # # #

Resposta do blog O Antagonista

Senhor Paulo Okamotto,

Vivemos em um país democrático, apesar das tentativas autoritárias dos governos do PT de cercear a liberdade de opinião e expressão, e, nele, certas pessoas podem falar o que quiserem contra a imprensa independente e até ganhar dinheiro público com isso, proveniente de estatais administradas pelo Partido dos Trabalhadores.

É condenável, porém, que essas pessoas publiquem notícias falsas e deliberadamente caluniosas, como ocorre nos blogs sujos patrocinados tanto pela administração Lula como pela administração Dilma.

As informações contidas na matéria “Renato Duque está solto a pedido de Lula” são completamente verídicas, confirmadas por fontes insuspeitas de quaisquer crimes.

No entanto, propomos ao senhor e ao ex-presidente Lula que tenham a dignidade de nos conceder uma entrevista, frente a frente, olho no olho, para que, além de darem a sua versão sobre o fato reportado por nós, esclareçam nossas poucas dúvidas a respeito dos seguintes assuntos: mensalão, a acusação de que o senhor ameaçou Marcos Valério de morte, petrolão, uso abusivo de cartões corporativos da Presidência da República, atuação de Rosemary Noronha como lobista, sucesso empresarial de Lulinha, financiamentos do BNDES a empreiteiras com contratos em países africanos, as ligações com o grupo JBS/Friboi e a ameaça de usar a turma do Stedile para promover um banho de sangue no país.

Agradecemos antecipadamente a atenção,

Diogo Mainardi e Mario Sabino
===========

Agora a notinha suplementar:

Bomba-relógio prestes a explodir

O Antagonista, 21/03/2015

Renato Duque só rompeu o mutismo na CPI da Petrobras para negar um episódio relatado, duas semanas atrás, em O Antagonista: o de que sua mulher procurou Lula e Paulo Okamotto para exigir a soltura do marido.
Lauro Jardim, na Veja desta semana, publica a seguite nota:
“A mulher de Renato Duque, Maria Auxiliadora, é uma bomba-relógio prestes a explodir, na avaliação de quem conhece o casal”.