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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Lula será seu próprio chanceler - Thiago Amparo (FSP)

 Lula será seu próprio chanceler


O vento internacional, por ora, é favorável, vide a lua de mel na COP

Thiago Amparo
Folha de S. Paulo, 14.dez.2022 às 20h56

Antevê-se muito trabalho à frente para que o governo Lula 3 possa tirar a competente diplomacia brasileira do lamaçal. Os últimos quatro anos consolidaram a antipolítica externa bolsonarista: personalista nas alianças, isolacionista nos atritos e negacionista no clima. Prevê-se que Lula imponha uma política externa presidencialista, o que de um lado eleva a importância da área ao contrário do que fez Dilma e, de outro, não deixa margem para erros.

Como prioridade nos primeiros cem dias, Brasil deveria retirar-se de coalizões conservadoras anti-gênero, como o Consenso de Genebra, e abrir as portas do país a mecanismos internacionais da ONU, inclusive sobre racismo. Está na ordem do dia ingressar novamente no Pacto Global da ONU para Migrações, além de fazer andar ratificações paradas no Congresso, por exemplo sobre discriminação e intolerância na OEA e sobre trabalho forçado na OIT.

A política externa não é mais um clube de homens poderosos de sobrenome europeu tomando uísque; é política pública que demanda pluralidade e participação porque os desafios globais são plurais e complexos. É um erro imperdoável para um governo progressista não ter nomeado pela primeira vez uma chanceler, apesar de acertar no nome da embaixadora Maria Laura da Rocha para o segundo posto do Itamaraty. Lula precisará ao seu lado pessoas que saibam que gênero, clima, e racismo são temas transversais e poderosos nas mesas de debate internacional hoje.

Os pratos que Lula deverá equilibrar não são poucos, mas o vento internacional, por ora, é favorável, vide a lua de mel na COP. Entre EUA e China, cabe equidistância e pragmatismo; visitar ambos os países é decisão acertada. Entre Norte e Sul, cabe ao Brasil encontrar, na América Latina, posição de mediador com visão crítica sobre autoritarismos mesmo à esquerda (vide Peru) e, no continente africano, de intercâmbio econômico e cultural. Lula será o chanceler de seu próprio governo.


terça-feira, 10 de maio de 2016

Google Alert: Politica Externa Comparada FHC e Lula (2004) - Paulo Roberto de Almeida

O Scholar Alert me avisa:
New articles in my profile

Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula
PR Almeida

Ensaio comparativo, contrastando as políticas externas das administrações Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, com base em suas características gerais e
nas tomadas de posição em relação a um conjunto de temas da agenda internacional, ...

Comentário PRA, 10/05/2016:
Trata-se de um artigo muito preliminar, quando a diplomacia partidária ainda não tinha feito todas as bobagens que foram sendo perpetradas nos anos seguintes, que agora ressurge porque incluído numa base de dados da Fiocruz:

http://repo.bioeticaediplomacia.icict.fiocruz.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/425/Lula.pdf?sequence=1

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Diplomacia lulista: desenterrando velhos escritos... (PRA)

Parece incrível, mas acontece.
Escrevo tanto (deve ser uma mania, talvez uma compulsão, mais provavelmente um vício e uma loucura terminal, mas que ainda não me matou...), e publico tanto (e nem sempre me avisam quando alguma coisa minha saiu em algum lugar), que por vezes me escapa um artigo ou outro publicado em algum veículo menos relevante.
Mas, neste caso, não se trata de um veículo "irrelevante" e sim da revista da qual sou editor adjunto, para a qual faço pareceres (rigorosos, como devem ser) e com a qual colaboro desde seu segundo nascimento em Brasília, em 1993 (um renascimento ou uma reencarnação que tem muito a ver com meu ativismo acadêmico).
Pois bem, acabei não registrando a publicação do artigo abaixo, o que só vim a constatar porque um amigo me mandou um trabalho sobre temas relativamente similares, quais sejam: as interpretações sobre a diplomacia do "nunca antes" (e espera-se que "nunca mais", ou em todo caso, "não mais agora, ou daqui por diante"). Acabei me lembrando deste, fui buscar e, êpa!, ai aparece este arquivo de um texto publicado, mas não devidamente registrado.
Agora corrigi minha lista de publicados, incluindo a posteriori o registro abaixo, e deixo o artigo à disposição dos eventuais interessados. Esclareço que ele foi foi concebido no final de 2005 e preparado e elaborado no começo de 2006, com os registros de publicações até os primeiros meses desse último ano. Minha bibliografia -- sobretudo de artigos de imprensa -- era muito maior, mas tive de deixar de lado por imposições de espaço editorial.
Creio que caberia uma atualização, ou um novo artigo, enfatizando talvez novas tendências entre apoiadores e críticos da diplomacia lulista e fazendo um balanço de seus resultados (if any). Aliás, já fiz isso em outros escritos. Vou preparar uma lista atualizada desses trabalhos sobre diplomacia brasileira e política externa do governo Lula (não são a mesma coisa, para os entendidos).
Por enquanto fiquem com este registro:

Uma nova ‘arquitetura’ diplomática?: Interpretações divergentes sobre a política externa do Governo Lula (2003-2006)
Brasília, 19 maio 2006, 24 p. Artigo de revisão bibliográfica sobre a diplomacia do governo Lula. Relação de Originais n. 1603; Publicados n. 739bis.
Revista Brasileira de Política Internacional (ano 49, n. 1, 2006, ISSN 003U-7329; p. 95-116; link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v49n1/a05v49n1.pdf).

E por falar em balanço dos resultados, deixo este registro de um artigo ainda não suficientemente divulgado, mas que está em Francês:

La diplomatie de Lula (2003-2010): une analyse des résultats
In: Denis Rolland, Antonio Carlos Lessa (coords.), Relations Internationales du Brésil: Les Chemins de La Puissance; Brazil’s International Relations: Paths to Power (Paris: L’Harmattan, 2010, 2 vols; vol. I: Représentations Globales – Global Representations, p. 249-259; ISBN: 978-2-296-13543-7).
Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/relations-internationales-du-bresil.html).
Relação de Originais n. 2184; Publicados n. 998.

Preciso colocar em ordem meus escritos, meus arquivos inacabados, meus livros, minhas bibliotecas, minha vida...
Ufa!

sábado, 9 de abril de 2011

Diplomacia lulista: retocando (ou restaurando) a imagem - Carta Maior

Esse site, identificado com os antiglobalizadores do FSM, só poderia rasgar elogios ao antigo titular da diplomacia lulista, que teve assim alguns band-aids colocados sobre algumas feridas recentes, em vista dos debates que aconteceram na imprensa em torno das diferenças entre a diplomacia lulista - personalista ao extremo - e a diplomacia dilmista - aparentemente mais profissional e mais afeta ao próprio Itamaraty.
Não cabia a um jornal digital como esse criticar a atual diplomacia, inclusive porque seria contraproducente. Fica o registro da tentativa de reparação...


Celso Amorim: Brasil superou o complexo de vira-lata
Marco Aurélio Weissheimer
Carta Maior, 7/04/2011

Link: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17664&boletim_id=887&componente_id=14429

Em palestra a estudantes de Relações Internacionais, em Porto Alegre, o ex-chanceler disse que não vê "diferenças profundas nem superficiais" entre a política externa do governo Dilma e a do governo Lula. Celso Amorim apontou o conceito de desassombro como uma das razões do sucesso da política externa brasileira nos últimos anos. Segundo ele, o Brasil parou de ter medo da própria sombra e superou o complexo de vira lata cultivado por alguns setores da sociedade. O Brasil pode e deve influenciar os assuntos globais, acrescentou, destacando as mudanças dramáticas que estão ocorrendo no Oriente Médio e na África.

PORTO ALEGRE - O sucesso da política externa brasileira nos últimos anos deve-se à presença forte do presidente Lula, à constelação política que se formou no país e também a uma atitude de desassombro, no sentido etimológico da palavra, ou seja, uma atitude de não ter medo da própria sombra. O Brasil deixou de ter medo da própria sombra. Foi assim que o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, definiu a política externa implementada pelo país nos últimos oito anos. O chanceler que percorreu o mundo ao lado do presidente Lula falou para um auditório lotado de estudantes de Relações Internacionais – em sua maioria -, na tarde desta quinta-feira (7), na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Celso Amorim esteve em Porto Alegre a convite do governo gaúcho, com apoio da Fundação de Economia e Estatística (FEE), do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (Cegov) e do Núcleo de Estratégias e Relações Internacionais (Nerint), da UFRGS. Na abertura do encontro na Faculdade de Direito, o governador Tarso Genro apresentou Amorim como responsável por uma linha de política externa que colocou o Brasil em outro patamar no mundo. E lembrou o reconhecimento internacional que o chanceler brasileiro obteve.


Em 2009, a revista Foreign Policy, uma das mais respeitadas publicações de política externa do mundo, apontou Celso Amorim como o melhor chanceler do mundo. No ano a seguinte, a mesma revista escolheu-o como um dos cem pensadores globais mais importantes do planeta.
Só quem parece não ter descoberto isso, assinalou o governador, foi a imprensa brasileira que, durante a gestão de Amorim no Itamaraty, apresentou-o como se fosse “um nacionalista fundamentalista que não gostava dos Estados Unidos”, criticando-o a partir de “uma visão pelega e subserviente de política externa”.


Em sua fala, Celso Amorim, falou do desassombro da atual política externa brasileira e do sentimento que o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues definiu como “complexo de vira lata”, ainda muito presente em alguns setores da sociedade brasileira. 

“Recentemente li um artigo comentando a Apologia de Sócrates, de Platão, onde ele diz que ser corajoso não é não ter medo, mas sim não ter medo daquilo que não é preciso ter medo. Muito da opinião veiculada pela mídia fica constantemente excitando nosso medo. O medo existe, é algo que está dentro de cada um de nós. Mas precisamos trabalhar para evitar que ele predomine sobre nossos sentimentos, perspectivas e visões”.


Nem os nossos mais ferozes críticos, acrescentou Amorim, podem negar que o Brasil adquiriu uma nova posição no cenário internacional. “Quem fizer uma pesquisa na imprensa internacional a respeito do que foi veiculado sobre o Brasil na época da última eleição presidencial verá como a nossa política externa foi tema de debate fora do país”. Vários adjetivos foram utilizados para definir a nossa política. O jornal Le Monde classificou-a como “imaginativa”.
A própria Foreign Policy usou um termo que não é muito comum em língua portuguesa, chamando nossa política de “transformativa”, logo após nosso reconhecimento do Estado palestino. 


“Uma amiga minha brincou”, contou Amorim, “que, no final de 2010, quando todo mundo pensava que o governo já tinha acabado, veio o reconhecimento do Estado palestino, e depois, nos últimos dias mesmo, veio a adoção de quotas para negros na primeira fase do exame para o Instituto Rio Branco (Itamaraty). Essas coisas mexem muito com a cabeça das pessoas. Até por isso é alvo de críticas e polêmicas. É uma área da política que mexe muito com conceitos”.


E foi esse, justamente, um dos principais pontos da fala de Amorim.
Ele enfatizou a importância do conceito de desassombro na política e na vida (das pessoas e dos Estados), defendendo que o Rio Grande do Sul volte a ter essa postura no cenário nacional. “O Rio Grande do Sul sempre foi um Estado muito politizado que influenciou o Brasil diversas vezes com ideias, energia e vontade política”. Mais do que uma disposição voluntarista, acrescentou, essa é uma exigência do mundo de hoje que está mudando de modo dramático.



A política externa dos governos Lula e Dilma
Questionado sobre uma suposta solução de continuidade entre a política externa do governo Lula e a do governo Dilma, tema que vem sendo martelado com insistência na imprensa brasileira, Amorim negou que isso esteja acontecendo. As linhas gerais da política são as mesmas: defesa do interesse nacional, uma visão de solidariedade em relação aos outros povos e países e princípio da não indiferença em relação aos problemas do mundo. 


“Não vejo diferença nem profunda, nem superficial, na condução da nossa política externa. Isso não quer dizer que não possam existir diferenças pontuais na hora de decidir sobre questões particulares”.


Uma dessas diferenças pontuais, que vem sendo objeto de grande interesse midiático, estaria na questão dos direitos humanos. Como costuma acontecer na insólita “diversidade” de opiniões na mídia brasileira, vários colunistas políticos repetem, com algumas variações, o mesmo comentário: enquanto o governo Lula foi pragmático nesta área, fechando os olhos para alguns casos de violação dos direitos humanos, o governo Dilma estaria rumando para uma posição mais principista na área, o que teria sido confirmado pelo recente voto do Brasil na ONU a favor do envio de um relator especial ao Irã para investigar a situação dos direitos humanos naquele país.
Sobre esse tema, Celso Amorim comentou:

“Creio que a palavra chave quando se fala em Direitos Humanos é dignidade. Este foi um dos principais conceitos que orientou o governo Lula, tanto em sua luta contra a fome e a pobreza, quanto em seus votos na Organização Mundial do Comércio. Esse debate sobre direitos humanos no plano internacional é muito complexo. Os Estados Unidos já mudaram de posição mais uma vez nesta área em relação a China, por exemplo, dependendo de suas motivações políticas e comerciais. Quem se atreve, por exemplo, a pedir na ONU o envio de um relator especial aos Estados Unidos para investigar a situação dos presos em Guantánamo? É fundamental que a política tenha um substrato moral, mas não podemos esquecer que ela é “política” e, nesta dimensão, na maioria das vezes, o diálogo tem um efeito mais positivo do que condenações”.



Revolta Árabe: o papel central do Egito

Celso Amorim também falou sobre as revoltas que estão ocorrendo em diversos países do Oriente Médio e da África. Para ele, o mundo está atravessando um período de mudanças dramáticas, de consequências ainda imprevisíveis. No caso das chamadas revoltas árabes, o ex-chanceler brasileiro considera que o caso mais importante a acompanhar não é propriamente o da Líbia, país com cerca de 4 milhões de habitantes, mas sim o do Egito, com 80 milhões de habitantes e um posição chave na definição do problema palestino. 


Amorim elogiou o voto brasileiro no Conselho de Segurança da ONU, abstendo-se na votação que aprovou a criação de uma zona de exclusão aérea. E questionou os resultados alcançados até aqui pelas forças da OTAN. Segundo ele, a zona de exclusão aérea instalada no Iraque anos atrás é brincadeira de criança perto do que está sendo feito agora na Líbia e que não se limita a um controle do espaço aéreo. Além disso, a alegada proteção à população civil também está cercada por dúvidas. Há população civil em torno de Kadafi e entre os rebeldes. Estão sendo protegidos ou bombardeados? – questionou.


O ex-titular do Itamaraty defendeu que o Brasil deve continuar a exercer uma diplomacia ativa no mundo. “O Brasil pode e deve influir nos assuntos globais. Isso é de interesse do mundo e do Brasil”, resumiu, lembrando que o nosso país não tem nenhum conflito com seus vizinhos e é respeitado internacionalmente por sua capacidade de diálogo. “Que outro país recebeu em um único mês os presidentes do Irã, de Israel e da Autoridade Palestina?” – resumiu.


"Obama perdeu grande oportunidade"

Sobre uma suposta decepção com a recente visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pelo fato dele não ter feito um pronunciamento mais incisivo em defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Amorim foi taxativo: “Não há nenhuma decepção. O presidente Obama é que perdeu uma grande oportunidade de firmar uma parceria estratégica com um país que está se tornando uma potência mundial. Acho que ele e seus assessores não perceberam isso. As declarações dele em favor da presença da Índia no Conselho de Segurança enviaram um péssimo sinal ao mundo. Parece que ter a bomba atômica é uma condição para ingressar no Conselho como membro permanente”.


O elogio do desassombro na política e na vida feito por Celso Amorim foi muito aplaudido pelos estudantes de Relações Internacionais que, ao final do debate, fizeram fila e disputaram centímetros para chegar perto e tirar uma foto com um dos brasileiros mais influentes do planeta nos últimos anos.