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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Educacao: o Brasil continua pessimo no PISA-OCDE - Gustavo Ioschpe (draft de 11/01/2014)

Por que não falar a verdade, ministro?

Gustavo Ioschpe

Revista Veja, 11/01/2014

(Nota PRA, em 24/02/2015: esta nota tem mais de ano, e ficou parada nos drafts do meu blog todo este tempo, por razões que desconheço; devo ter dormido em cima do teclado... Mas o tema continua revelante, e a situação educacional do Brasil só tem piorado, por isso ela vai postada, e vocês podem ser ainda mais pessimistas do que eu era um ano atrás...)

Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58a lugar em matemática, 59- em ciências e 55e em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).

A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21- lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma "tragédia para a educação alemã". A Der Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete na capa: "Os alunos alemães são burros?". O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.

No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante. convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma "grande vitória" da educação brasileira e um sinal de que "estamos no caminho certo" (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Haddad: "A foto é ruim, mas o filme é muito bom". Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era "o primeiro aluno da sala", o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.

Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em VEJA.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.

Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Pisa. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não precisa disso.

Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.

Vocês que me leem há algum tempo sabem que estou convencido de que o grande entrave para a melhoria da qualidade educacional brasileira é o fato de que nossa população está satisfeita com
nossa escola (em pesquisa do Inep com amostra representativa de pais de alunos da escola pública, a qualidade do ensino da escola do filho teve uma inacreditável nota média de 8,6. Realidade africana, percepção coreana...). Enquanto a população não demanda nem apoia mudanças, os governantes não têm capital político para encarar a força obstrucionista dos sindicatos de professores e funcionários (um contingente absurdamente inchado de 5 milhões de pessoas). Excetuando VEJA, este colunista e mais meia dúzia de quixotes, toda a discussão nacional sobre o tema é dominada por mantenedores do status quo. Canais de TV buscam sempre alguma história de superação individual, para dar um contorno feliz a uma história triste. Rádios estão preocupadas com debates inflamados, a despeito da veracidade do que é discutido, quer o assunto seja educação, política ou futebol. Jornais acham que aprofundar um assunto é dar os dois lados da moeda, como se educação fosse questão de opinião, não de pesquisa. Empresários não querem falar nada que gere conflito; a maioria dos intelectuais é também professor e tem interesses pecuniários; políticos em geral querem se tomar prefeitos ou governadores. Nesse cenário, quem é que vai falar para o brasileiro aquilo que ele não quer ouvir? O candidato natural é o ministro da Educação. Imaginem que fantástico seria se Mercadante tivesse vindo a público para dizer: "O Brasil foi muito mal no Pisa. Nossos alunos não estão aprendendo o que precisam. Está na hora de encararmos essa realidade. Temos uma enorme crise educacional — o que, na Era do Conhecimento, significa que enfrentamos um gravíssimo problema. Para vencê-lo, todos teremos de arregaçar as mangas e trabalhar mais. Este ministério não administra nossas escolas, mas estamos à disposição de todos os prefeitos, governadores e secretários de Educação que querem melhorar".

Essas palavras poderiam marcar o início de uma nova era. E isso não traria custo político ao ministro. Acho até que geraria benefícios. São palavras de um estadista, de alguém que se preocupa com o futuro dos milhões de alunos que hoje estão sendo massacrados por um sistema educacional inepto.

P.S.: Depois da comoção de 2000, a Alemanha deu um salto. Neste último Pisa, ficou bem acima da média obtida pelos países da OCDE, abocanhando o 12. lugar em ciências, o 16º em matemática e o 19º em leitura

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Educacao brasileira: como melhorar (Instituto FHC)

Aprender a ensinar

Alterar profundamente a formação dos professores e também o sistema de administração escolar, além de criar um currículo mais adequado aos tempos atuais, que leve ao aluno o conhecimento de que ele realmente necessitará no seu cotidiano. Esses são alguns dos pontos sugeridos por especialistas para melhoria de nosso sistema educacional.
O economista Fernando Veloso, da Fundação Getulio Vargas Rio, acha que é preciso estabelecer metas de aprendizagem em todas as séries e disciplinas, criar um currículo nacional e integrar as metas de aprendizagem com avaliação, currículo, material pedagógico e formação de professores.
Como a condição socioeconômica é um determinante importante do desempenho educacional, é preciso ter políticas específicas para escolas que atendem crianças e jovens de famílias mais pobres , lembra ele, ressaltando que essas mudanças envolvem uma combinação de medidas, como elevação da carga horária (possivelmente tempo integral), melhores professores e infraestrutura de qualidade.
O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), diz que, para sairmos de onde estamos patinando, é preciso mexer na formação dos professores, nos sistemas de administração escolar e nos conteúdos do que é ensinado. Hoje, segundo ele, os professores são formados em cursos universitários que não os formam naquilo que devem ensinar (Português, Matemática, Ciências) nem em como ensinar. Melhorar o salário é importante para tornar a profissão mais atraente para gente mais qualificada, mas, ressalta Schwartzman, não ajuda em nada se os professores forem os mesmos e não puderem ser estimulados pelo bom trabalho e, eventualmente, afastados por mau desempenho, ou seja, sem um sistema de mérito contra o qual os sindicatos se opõem sempre.
Hoje os professores são formados em cursos universitários que não os formam naquilo que devem ensinar nem em como ensinar
Nesse esquema, as escolas seriam geridas por diretores responsáveis pelo desempenho dos alunos, e não meros burocratas ou indicados políticos, o que ainda ocorre em boa parte de nossas escolas. Em relação ao currículo, é necessário que seja bem estruturado para garantir que os alunos aprenderão o essencial nos primeiros anos, e a possibilidade de fazer opções, inclusive pela formação técnica de nível médio, a partir do segundo grau.
Schwartzman considera que hoje o currículo da educação fundamental é genérico demais, e o ensino médio é estrangulado por uma legislação que exige um número absurdo de matérias obrigatórias, e pelo Enem, que transformou as escolas em cursinhos de preparação para a prova.
João Batista Araujo e Oliveira, ph.D. em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto, acha que os grandes avanços em educação no Brasil são de quantidade, mas, na qualidade, patinamos, ou seja, não temos paciência para crescer com qualidade.
Além de formação, certificação e plano de carreira para os professores e um currículo para o ensino fundamental, Araujo e Oliveira quer diversificar o ensino médio e reformar o ensino superior na direção do Protocolo de Bolonha, que uniu os governos da União Europeia em ações com o objetivo principal de elevar a competitividade internacional do sistema europeu do ensino superior. O presidente do Alfa e Beto pede um federalismo para valer – com delimitação clara de papéis e, no caso do governo federal, troca do intervencionismo por sistemas de incentivo para promover a diversidade, e não para empurrar os programas do MEC goela abaixo.
Mozart Ramos Neves, do Instituto Ayrton Senna, acha que é preciso rever a formação dada pelas nossas universidades, não somente os cursos de Pedagogia, mas as Licenciaturas de um modo geral em busca de uma formação que seja capaz de integrar as novas tecnologias e plataformas de aprendizagem para o desenvolvimento humano.
Ele acha fundamental incorporar ao cotidiano das escolas as habilidades não cognitivas ou socioemocionais no processo de aprendizagem. É preciso ir além do cognitivo, que ainda é um grande desafio, diz ele, potencializando fatores como cooperação, resiliência, disciplina, planejamento e organização para alavancar os resultados de aprendizagem. Isso já vem sendo observado em escolas que empregam games associados a esses fatores, saltos de aprendizagem significativos são verificados , observa Mozart.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Forum de Davos no pais das sauvas freireanas - Brasil fica na rabeira em educacao

Este editorial do Estadão já é um pouco antigo, do começo do mês, e eu estava aguardando abrir um espaço na agenda para poder tecer algumas considerações a respeito. Mas fui atropelado, literalmente, por tarefas muito mais urgentes, como diria um campeão da fala gestual e oral, e não pude fazer. Melhor, portanto, postar e deixar os comentários mais elaborados para outra ocasião. Ou então insistir no que tenho dito.
O Brasil não aparece tão mal nesta foto relativa ao nosso sistema educacional calamitoso apenas porque é um país que acumulou atrasos seculares, e vem muito de longo, muito de baixo.
Não, de forma alguma.
O Brasil já tinha conseguido construir uma escola pública de qualidade, entre os anos 1940 e 1960, que depois começou a cair de qualidade lentamente, com a expansão do recrutamento (a democratização do ensino, que antes só "recolhia" classe média urbana, e deixava miseráveis urbanos e todos os pobres rurais de fora) e com a concentração de recursos, pelos militares, nos ciclos superiores e na pós-graduação. Foi um erro, correto, mas não com más intenções.
Mas o fato é que, depois de se ter completado a expansão qualitativa -- enrollment tax -- sob FHC, a qualidade do ensino, que não não era grande coisa, pois as saúvas freireanas já dominavam as metodologias e conteúdos pedagógicos desde os anos 1960 pelo menos, sob o reinado do nunca antes, no proto-totalitarismo dos companheiros, a qualidade despencou de vez, pois ao lado das saúvas entraram novos bárbaros, com a deformação completa dos padrões de ensino: tome estudos afrobrasileiros para cá, portunhol para lá, oportunidades para os marxistas desempregados sob a forma de sociologia e filosofia no ciclo médio, enfim, um festival de horrores que só fez afundar ainda mais rapidamente a educação do Brasil.
Ele não está atrasada; ela está retrocedendo, piorando, ficando um rebotalho de metodologias ultrapassadas e de conteúdo idiota dia a dia, o que significa que ainda não chegamos no fundo do poço, ainda vamos recuar muito mais, até onde a vista alcança e não alcança, pois os companheiros mesmo derrotados politicamente no plano federal, estão deixando todas as suas saúvas para comprometer o futuro da educação por pelo menos uma geração inteira. Vamos ter de recuar muito, até as pessoas perceberem que estamos fazendo, continuamos a fazer, coisas erradas o tempo todo, e insistimos no erro.
Os debilóides que dirigem a educação brasileira vão deixar uma terra arrasada...
Paulo Roberto de Almeida

Nosso calcanhar de aquiles

Editorial O Estado de S.Paulo, 07 de outubro de 2013
Um novo estudo do Fórum Econômico Mundial mostra que o estado lastimável da educação talvez seja o mais grave entre todos os entraves ao pleno desenvolvimento profissional e pessoal dos brasileiros.
O Fórum mediu pela primeira vez o chamado "capital humano" de 122 países. A expressão resume a capacidade, os talentos e o conhecimento dos trabalhadores para gerar valor.
Para essa mensuração, os pesquisadores criaram o Índice de Capital Humano, baseado em quatro pilares: saúde e bem-estar, que indica a situação física e mental da população, desde a infância até a idade adulta; educação, que avalia a qualidade do ensino em todos os níveis e diz respeito não apenas aos trabalhadores de hoje, mas aos do futuro; força e mercado de trabalho, que quantifica o preparo intelectual e o nível de treinamento da população em idade de trabalhar; e, por último, a existência de infraestrutura e de parâmetros legais para que os três pilares anteriores não apenas se desenvolvam, mas também que sejam bem explorados.
No ranking criado a partir dessas informações, o Brasil aparece em 57.º lugar entre os 122 países - a Suíça lidera, e há 8 europeus entre os dez primeiros. Embora não seja motivo de festa, a colocação brasileira tampouco deve ser vista como desastrosa, para um país com a vasta quantidade de problemas que o Brasil tem. Há Brics em pior situação, como a Índia (78.º) e a África do Sul (86.º), mas, na América Latina, o Chile (36.º) e o Uruguai (48.º) estão à nossa frente.
No desdobramento do índice, observa-se que o Brasil está em posição razoável no quesito saúde e bem-estar da população - aparece em 49.º lugar, bem próximo dos Estados Unidos (43.º). No que diz respeito ao emprego, o Brasil está em 45.º.
Quando o tema é educação, no entanto, o Brasil despenca para a 88.ª colocação. Entre os latino-americanos, perde até mesmo da Venezuela (75.º) e da Bolívia (86.º), países que, no ranking geral, aparecem entre os últimos - os venezuelanos em 101.º e os bolivianos em 99.º.
Tal resultado desastroso não surpreende. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012 mostrou que o analfabetismo no Brasil voltou a crescer, após apresentar constante queda desde 1998. Segundo o IBGE, ainda há 27,8 milhões de brasileiros acima de 15 anos de idade, ou 18,3% do total, que têm menos de quatro anos de estudo. Além disso, 11,9% da população com mais de 25 anos tem menos de um ano de estudo ou nenhuma instrução.
Esse quadro atesta o fracasso da educação brasileira ante o desafio de preparar o País para os tempos ultracompetitivos que se avizinham. Essa vergonhosa situação não passou despercebida pelos pesquisadores do Fórum Econômico Mundial.
Ao abordar esse pilar, o estudo sobre capital humano mostra o Brasil em 105.º lugar quando se mede a qualidade de todo o sistema educacional. A colocação é igualmente constrangedora no que diz respeito à qualidade das escolas primárias (109.º) e do ensino de matemática e ciências (112.º).
Desse modo, mesmo que o Brasil esteja razoavelmente bem colocado quando a pesquisa do Fórum mede a força de trabalho e o emprego, constata-se grande dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados - nesse item, o País aparece apenas em 101.º lugar.
Trata-se de um problema que o Brasil deve resolver o quanto antes, pois "a chave para o futuro de qualquer país está no talento, na capacidade e nas habilidades de sua população", conforme escreveu Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum, na introdução da pesquisa.
Investir em capital humano, diz Schwab, não é um luxo. "Pode ser mais determinante para o sucesso econômico no longo prazo do que virtualmente qualquer outro recurso", afirma o estudo, que salienta o fato de que o mundo está entrando numa era de escassez de talentos.
Observando-se sob esse aspecto, fica ainda mais claro o tamanho do problema que o Brasil tem a resolver, principalmente na área da educação, antes de considerar-se realmente apto a encarar a cada vez mais acirrada competição internacional.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O Brasil no contexto das mudancas economicas globais: podcast com PRAnoInstituto Millenium

Acabo de receber, do jornalista que me entrevistou, em nome do Instituto Millenium, um podcast que foi feito com parte de minha entrevista sobre temas globais e o Brasil:

http://www.imil.org.br/podcasts/o-brasil-ficou-para-tras-nos-intercambios-cientificos-tecnologicos/


Confesso que ainda não me ouvi...
Paulo Roberto de Almeida

“O Brasil ficou para trás 
nos intercâmbios científicos e tecnológicos”

24 de setembro de 2013 
Autor: Comunicação Millenium
pequeno normal grande
Paulo Roberto de Almeida
Intercâmbios no exterior como incentivo à capacitação de jovens brasileiros foi o tema abordado pelo Instituto Millenium em entrevista com o diplomata e cientista políticoPaulo Roberto Almeida. Neste podcast, o diplomata avalia o programa “Ciências sem fronteiras” e fala sobre a urgente necessidade por uma internacionalização das universidades brasileiras. Almeida aborda ainda a má gestão de recursos para educação e afirma: “precisamos atingir o padrão das grandes universidades do mundo”.

Comentário recebido de uma ouvinte:

As melhores universidades dos Estados Unidos e CE, atualmente estão coalhadas de asiáticos. Em Berkeley, onde meu filho esteve por ano e 1/2 como convidado, no laboratório Bio Poets, a maioria era asiática. 
Mas...é preciso reformular o ensino primário: inglês, português, matemática, ciência, informática, além de Geografia e História universais. Do contrário continuaremos com nossa mentalidade xenófoba. E sem base sólida para promover de fato o desenvolvimento do país nas áreas das Ciências e da Tecnologia. 
Nunca me esquecerei de meus estudos de línguas durante o ensino básico: Com os belíssimos livros da FTD. Além do estudo da linguagem, os livros continham textos sobre a cultura do país cuja língua aprendíamos,.
O Ciência sem Fronteiras foi sugestão do Nicolelis. 
Sua entrevista foi muito boa. Que seja muito ouvida...
Grande abraço,
Regina

domingo, 4 de agosto de 2013

O problema da educação não é falta de dinheiro - Mailson da Nobrega (Veja)

O problema da educação não é falta de dinheiro
Mailson da Nobrega
Revista Veja, 23/07/2013
A qualidade do capital humano é essencial para o desenvolvimento. A baixa qualidade da educação explica a perda da liderança econômica da Inglaterra para os Estados Unidos por volta de 1870 e para a Alemanha no fim do século XIX. Para Rondo Cameron e Larry Neal, no livro “A Concise Economic History of the World”, a Inglaterra foi o último país rico a universalizar a educação fundamental. A Revolução Industrial ocorreu, secundo eles, “na era do artesão inventor. Depois, a ciência formou a base do processo produtivo”. Em vez dos recursos da natureza – algodão, lã, linho, minério de ferro -, a indústria passou a depender cada vez mais de novos materiais, nascidos da pesquisa científica. Nessa área, americanos e alemães, com melhor educação, venceram os ingleses. A Suécia, que era atrasada no início do século XIX, se industrializou rapidamente graças à educação. Em 1850, apenas 10% dos suecos eram analfabetos, enquanto um terço dos ingleses não sabia ler nem escrever.
No Brasil, até os anos 1960, acreditava-se que a educação seria mero efeito do desenvolvimento. Em 1950 os respectivos gastos públicos eram de apenas 1,4% do PIB. A partir dos anos 1970, a visão se inverteu. Convencemo-nos de que a prosperidade depende da educação. Os gastos subiram e hoje atingem 5,8% do PIB. A educação fundamental foi universalizada na década de 90 (um século e meio depois dos Estados Unidos e quase meio século depois da Coreia do Sul). Agora, demandamos melhora da qualidade, mas a ideia está contaminada pelo hábito de esperar que a despesa pública resolva qualquer problema. Daí o equivocado projeto de lei que aumenta os gastos em educação para 10% do PIB. Na mesma linha, Dilma e o Congresso querem aplicar na educação grande parte das receitas do petróleo.
Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes


Proporcionalmente, nossos gastos em educação equivalem à média dos países ricos. Passamos os Estados Unidos (5,5% do PIB). Investimos mais do que o Japão, a China e a Coreia do Sul, três salientes casos de êxito na matéria (todos abaixo de 5% do PIB). Na verdade, a má qualidade da nossa educação tem mais a ver com gestão do que com falta de recursos. O professor José Arthur Giannotti assim se referiu aos jovens que foram às ruas pedir mais dinheiro para o setor: “Pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar” (“O Estado de S. Paulo”, 19/6/2013).
Outro educador, Naercio Menezes Filho, citou o interessante caso de Sobral (“Valor”, 21/6/2013). Entre 2005 e 2011 o município cearense avançou quatro vezes mais rápido no ensino fundamental do que São Paulo, sem aumento significativo de despesa. “O gasto por aluno que Sobral usa para alcançar esse padrão de ensino nas séries iniciais é de apenas R$ 3 130,00, enquanto a rede municipal de São Paulo gasta ao redor de R$ 6 000 por aluno, ou seja, duas vezes mais.” Destinar receitas do petróleo para a educação é um duplo equívoco: (1) o problema não é de insuficiência de recursos, mas de sua aplicação, como vimos; (2) não é correto financiar políticas públicas permanentes com recursos finitos e voláteis. No longo prazo, as reservas de petróleo se esgotarão, enquanto os preços (e as receitas) se sujeitam às oscilações do mercado mundial de commodities.
A proposta desconhece outra lição da experiência: a receita de recursos naturais não renováveis deve pertencer às gerações futuras. O exemplo a seguir é o da Noruega, onde as receitas do petróleo são carreadas para um fundo que em 2012 acumulava 131% do PIB. O fundo serve para lidar com os efeitos de quedas dos preços do petróleo e principalmente com os custos previdenciários que advirão do envelhecimento da população.
A educação brasileira precisa de uma revolução gerencial e de prioridades, inclusive para gastar melhor os recursos disponíveis. Ampliar os respectivos gastos e destinar-lhe as receitas do petróleo agrada a certas plateias, mas o resultado poderá ser apenas o aumento dos desperdícios. Será péssimo para as próximas gerações.
Fonte: Revista Veja



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Corrupcao e corrupcao, os males do Brasil sao... E justo na educacao...

Brasil - Veja.com, 31/07/2013

CGU descobre irregularidades no Fundeb

73% das prefeituras fraudaram processos de licitação para a compra de serviços e materiais de uso na rede pública de ensino

Educação puxa desempenho do país no IDHM para baixo (Eduardo Martino/Documentography)

Crianças no ponto de leitura da favela Caracol, complexo da Penha, no Rio de Janeiro
Principal entrave para a melhoria do índice de desenvolvimento humano dos municípios (IDHM) no Brasil, a qualidade da educação tem sido afetada por desvios e malversação de recursos destinados pelo governo às escolas. Levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU) mostra que 73% das prefeituras fiscalizadas em 2011 e 2012 fraudaram processos de licitação para a compra de serviços e materiais de uso na rede pública de ensino.
Os dados constam de relatório sobre a execução de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que transfere, anualmente, mais de R$ 100 bilhões para bancar salários de professores, compra de equipamentos e manutenção de atividades como a merenda e o transporte escolar.
Nos dois últimos anos, a CGU fez auditoria em 64 municípios que usaram dinheiro do fundo, selecionados por meio de sorteio. Em 46 deles, os auditores detectaram problemas nas licitações, como direcionamento, montagem e até simulação dos processos de competição.
O relatório indica que o porcentual de municípios flagrados em situação de irregularidade aumentou. Numa amostra de 120 prefeituras, fiscalizadas entre 2007 e 2009, 41% cometeram fraudes nas concorrências.
O órgão de controle do governo aponta vários outros problemas. Nos dois últimos anos, 70% dos municípios fizeram despesas incompatíveis com a finalidade do Fundeb. Em 25% dos casos, houve falhas na execução de contratos. É comum o uso do dinheiro sem qualquer controle ou prestação de contas: 32% sacaram dinheiro do fundo na boca do caixa.
Há situações em que a retirada dos recursos foi feita pelo gestor pouco antes da posse de um novo prefeito. O relatório também cita a contratação de empresas fantasmas para o transporte escolar.
O relatório foi apresentado nesta quarta-feira, um dia após a divulgação do IDHM. A CGU não informou a lista de prefeituras que cometeram irregularidades. Questionada, não respondeu a pedido de detalhamento.
Em 20 anos, o índice de desenvolvimento humano melhorou 47,8% nos municípios brasileiros. Mas o avanço poderia ser maior, caso o País tivesse resolvido gargalos na educação. Dos três componentes do indicador, que também considera saúde e renda, esse é o que puxa o desempenho dos municípios para baixo.
Segundo a CGU, a falta de fiscalização sobre recursos do Fundeb favorece as fraudes. Embora o órgão faça auditorias pontuais na educação, a lei que regulamenta o fundo não nomeia nenhum ente "supervisor" da execução das despesas em estados e municípios.
A lei prevê a criação de conselhos para exercer controle social sobre o uso dos recursos. Mas, segundo a CGU, três em cada dez não cumprem esse papel. "Faz-se necessário o aperfeiçoamento da legislação com vistas à definição de um órgão ou entidade federal que desempenhe essas funções", diz o relatório.
O Fundeb foi criado em 2006, em substituição ao extinto Fundef. O objetivo foi proporcionar a melhoria na qualidade do ensino, redistribuindo os recursos previstos na Constituição para a educação. Obrigatoriamente, 60% da verba tem de ser destinada à remuneração de professores. Nas fiscalizações de 2007 a 2009, a CGU constatou, por exemplo, que três em cada dez municípios descumpriam essa regra.
Leiam também: 



sábado, 11 de maio de 2013

Ensino no Brasil: ruim, certamente, mas ainda vai piorar muito mais - Editorial Estadao

Querem apostar?
Aliás, começo do começo.
Vocês acham que o ensino no Brasil é ruim?
Vocês são mesmo otimistas...
O ensino público (e boa parte do privado, também) é muito pior, muito mais ruim, muito mais de pior (como diriam os próprios responsáveis por ele) do que vocês jamais ousariam pensar, imaginar, conceber, constatar... Muito mais de pior, além de qualquer critério, isso posso assegurar...
Agora, cabe reconhecer que ainda está bom, comparado ao que vem por aí: vai ficar ainda pior, péssimo, abaixo da crítica, ou de qualquer critério, pode, ter certeza, sem qualquer dúvida, seguro seguríssimo, não acreditam?
Esperem para ver...
Paulo Roberto de Almeida


Quem quer ser professor?

08 de maio de 2013 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
O governo federal alardeia que ser professor é exercer "a profissão que pode mudar o País", mas o que se comprova é que se trata de uma carreira que vem perdendo prestígio e pela qual há cada vez menos interessados.
O problema é especialmente grave no ensino de ciências exatas, essencial para o crescimento de qualquer país. Embora não se trate de algo novo, o fenômeno tem se acentuado nos últimos tempos, e há novos levantamentos mensurando o grande desinteresse dos jovens pelo desafio de ensinar e, dessa forma, "construir um Brasil mais desenvolvido", como diz a propaganda oficial destinada a atrair mão de obra para as salas de aula.
Uma pesquisa recente feita com ingressantes nos cursos de licenciatura em matemática e física na Universidade de São Paulo (USP) mostra que cerca de 50% deles não estão muito dispostos a dar aula nas respectivas áreas. O resultado é particularmente importante quando se leva em conta o fato óbvio de que os cursos de licenciatura são justamente aqueles que formam professores para o ensino fundamental e o médio.
A pesquisa constatou que a maioria dos ingressantes nesses cursos de licenciatura optou por eles porque a exigência do vestibular era bem menor, porque o curso é gratuito, porque têm afinidade com matemática ou física e porque abrem caminho para a pós-graduação. O levantamento mostra ainda que os ingressantes em licenciatura se enquadram num perfil socioeconômico mais baixo do que o dos demais cursos na USP, situação que, de acordo com o estudo, se repete em cursos semelhantes em outras partes do Brasil. É, portanto, uma porta de acesso ao ensino superior para as faixas mais pobres da população.
Os estudantes que se disseram em dúvida sobre abraçar a carreira de professor destacaram que podem se sentir estimulados se a escola for "reconhecida por ter um bom trabalho educacional" ou se tiver "autonomia para elaborar projetos educativos, ensinando com certa liberdade". As respostas denotam idealismo dos entrevistados, mas, na prática, impõem condições que hoje não são atendidas na rede pública de ensino, mas apenas nas escolas particulares.
O sistema educacional público no Brasil padece de um erro de enfoque: privilegiam-se os controles de desempenho dos professores - inclusive com a distribuição de prêmios em dinheiro - sem, no entanto, valorizar a carreira em si. Os salários são considerados baixos em vista da importância da profissão. Pretende-se exigir dos professores que sejam conscientes de sua importância social, mas o magro contracheque diz outra coisa.
Além disso, a precariedade das instalações da maioria das escolas públicas evidencia o descaso do Estado com os profissionais de educação, obrigados a lidar com a crônica falta de material e de equipamentos para enfrentar o desafio diário de estimular seus alunos a aprender.
Outro aspecto que foi levantado pelos entrevistados na pesquisa diz respeito ao desprestígio da profissão de professor na educação básica. Estudantes de medicina ouvidos pelos pesquisadores disseram que não se tornariam professores porque, entre outros motivos, a remuneração é baixa, a possibilidade de ascensão profissional é mínima e as condições das escolas são ruins. No entanto, esse mesmo grupo de entrevistados, assim como os demais, enfatizou que considera o professor muito relevante para o País, por ser o responsável pela transmissão de valores e conhecimentos.
Há, portanto, um abismo entre o ideal de uma carreira e sua realidade, demonstrado cabalmente pelo desinteresse dos estudantes de licenciatura. Assim, o déficit de professores de matemática, física e química, que já é de 170 mil, tende a crescer.
O resultado disso é que o desempenho dos alunos da rede pública em ciências exatas, que já é um dos mais fracos do mundo, tem tudo para piorar - a não ser que o governo aja radicalmente e, sem mais delongas, restitua ao magistério o orgulho profissional.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O MEC e a confissao de um fracasso total, que vai subindo de grau...

A notícia é aparentemente positiva: o MEC vai facilitar (seja lá o que isso queira dizer) a pós-graduação de professores de matérias científicas e matemáticas, que dão aula no secundário.
Ou seja, estão elevando a incompetência para mais um degrau. Qualquer que seja o resultado desse experimento tosco, ele é uma confissão do fracasso completo do ciclo médio e das universidades em oferecer formação e graduação adequadas para capacitar um professor nessas áreas.
Como não conseguiram, acham que a pós vai resolver o problema. Logo, logo teremos os professores incapazes sendo admitidos no doutorado. Daí para as férias remuneradas do pós-doutorado é um pulo.
O MEC continua sendo um dinossauro que pasta sua própria erva da estupidez.
Paulo Roberto de Almeida


Professores terão de melhorar alunos para ganhar diploma


Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo, 2/05/2013
O Ministério da Educação lançará nas próximas semanas programa para tentar melhorar o desempenho de alunos e professores em matemática, física, química e biologia, tanto no ensino médio quanto no superior.
As quatro matérias são as que mais possuem problemas de qualidade, de acordo com o próprio governo federal.
Uma das ações será a oferta de pós-graduação em universidades federais e privadas a professores que lecionam as disciplinas nas escolas públicas de ensino médio.
O certificado garantirá aumento salarial ao docente (progressão na carreira), mas só será concedido se houver a comprovação de que seus estudantes melhoraram –exigência inédita em programas federais de educação.
“Hoje, gasta-se muito com formação dos professores, mas a melhoria não chega aos alunos”, disse Mozart Neves, que coordenará o programa do Ministério da Educação.
A forma de avaliar a evolução dos estudantes não está definida. O docente reprovado poderá refazer o curso.
O número de professores participantes do programa dependerá da adesão dos Estados, que são os responsáveis pelos docentes.
O país tem cerca de 250 mil docentes de ensino médio em matemática, física, química e biologia, segundo os últimos dados do governo. Mas boa parte não tem formação na área –em física, são 90%.
OUTRAS FRENTES
“Temos um número insuficiente de professores nessas áreas. E a procura pelas licenciaturas é insuficiente”, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para tentar reverter o quadro, o programa terá outras duas frentes.
Em uma delas, o governo tentará incentivar alunos do ensino médio a escolherem o magistério nessas áreas.
Para isso, estudantes com interesse nessas matérias passarão a ter aulas de reforço e ganharão ajuda mensal de R$ 150 (paga pela União).
Eles participarão também de atividades nas universidades em grupos que reunirão docentes universitários, alunos de licenciaturas e professores das escolas básicas. A meta é recrutar 100 mil estudantes do ensino médio.
Em outra frente, os estudantes que já estão nas licenciaturas poderão fazer aulas de reforço nos conteúdos básicos, numa tentativa de diminuir a evasão nos cursos.
Ex-diretor da Unesco no Brasil (braço da ONU para educação), Jorge Werthein diz que o programa é interessante. Ele faz, porém, ressalva sobre a vinculação do certificado de pós-graduação ao professor à melhoria dos alunos.
“Ainda não se encontrou uma boa forma de avaliar o trabalho do professor. Pode haver injustiças.”
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Comentário de um leitor: 
"Não existe, afora poucas experiências localizadas, uma real integração entre Universidades Federais e Rede de ensino básico. Como trazer os garotos da escola se eles nem sabem direito como é o curso? Outra coisa, a evasão se deve muito em parte, também, às práticas dos docentes dentro desses cursos. O sujeito vai fazer uma disciplina de física e o professor simplesmente é um cara que também é um bacharel e nunca deu aula, a não ser ali. Como que um professor desses entende uma realidade escolar?"


terça-feira, 30 de abril de 2013

Livro bom deve ser grosso, para sentar em cima... - A. P. Quartim de Moraes


No rumo das trevas

O Estado de S. Paulo, 29 de abril de 2013 | 2h 05
A. P. Quartim de Moraes *
O pai empenhado na educação do filho pequeno chega trazendo três grossos livros. Coloca-os sobre a cadeira e o garoto senta-se em cima deles, ficando na altura adequada para acessar o computador que está sobre a mesa. É o criativo gimmick que um gênio publicitário imaginou para dar brilho a um comercial de TV de 30 segundos amplamente veiculado em horário nobre. Pausa. Quem não ficou chocado com essa história tristemente verídica e conferível nos intervalos do telejornal preferido pode parar de ler este artigo aqui mesmo, para não perder tempo. Pois vamos falar sobre coisas que estão fora de moda, como o livro, a julgar pela indigência intelectual que inspira essa peça que a empresa de telecomunicações anunciante teve a irresponsabilidade de aprovar.

Não tenho muitas dúvidas a respeito de que todo o conteúdo do tal comercial, inclusive a "brincadeirinha" com os livros, é perfeitamente compatível com, digamos assim, a "ética empresarial" que vale para todo o mundo dos negócios em que, acima de qualquer valor humano, predomina a implacável "razão de mercado". Este é o mundo em que vivemos. Existem até algumas corporações que conseguem disfarçar a obsessão cega por metas de faturamento sob o manto da preocupação com sua "responsabilidade social", à qual reservam alguns trocados das verbas de marketing e vendas.

É por todos os motivos imperdoável, porém, a tentativa irresponsável de desqualificar o maior símbolo universal do saber e do conhecimento, o livro, intenção óbvia por trás de um truque publicitário que pode parecer apenas bem-humorado. Queimar livros publicamente por motivos políticos sempre foi considerado crime hediondo pelo senso comum das sociedades democráticas. Desqualificar a imagem do livro por questões mercadológicas não é menos grave. Na verdade, convenhamos, é até pior, considerando o alcance e a eficácia da mídia usada.

Sou crítico contumaz da mentalidade argentária que domina hoje o mercado editorial no Brasil e no mundo, até porque entendo que livro é, acima de tudo, conteúdo. É claro, portanto, que as conquistas tecnológicas das últimas décadas oferecem novas formas, novas plataformas para desenvolver e publicar os conteúdos de toda natureza indispensáveis à formação e ao desenvolvimento humanos.

Mas as novas tecnologias digitais são tão recentes, de uma perspectiva histórica, que ainda é muito cedo para preconizar o advento "definitivo" de um sucedâneo para o livro impresso. Alguém se lembra do finado CD-ROM? Na segunda metade dos anos 1990 não faltaram novidadeiros que o apresentassem como "a nova e moderna forma do livro". Atualmente os e-books podem ser considerados fortes candidatos a conquistar os consumidores de livros impressos. E o bom senso recomenda supor que, de fato, exista uma forte tendência a que isso ocorra num prazo que parece cada vez mais curto. Mas quem pode garantir que não surja amanhã um novo e revolucionário gadget que rapidamente transformará o e-book em peça de museu?

É Umberto Eco quem assegura: "Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa similar ao que o livro nunca deixou de ser, mesmo antes da invenção da tipografia. As variações em torno do objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher" (Não Contem com o Fim do Livro, Record - 2010, página 16, tradução de André Telles).

Em artigo para esta página em que fiz a citação acima do escritor, linguista e bibliófilo italiano (É o fim do livro? Rir para não chorar, 16/7/2010), manifestei a opinião agora reiterada de que, apesar de sua imagem idealizada - às vezes, sacralizada - de fonte de lazer, informação, conhecimento, fruição intelectual, o livro, enquanto objeto, é apenas "o suporte da leitura", o meio pelo qual o escritor chega ao leitor. E assim permanecerá até que "alguma coisa similar" o substitua. Por tudo isso, o livro, na forma como o mundo o conhece pelo menos desde o século 15, é e continuará sendo, até onde a vista alcança, o maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Merece, portanto, no mínimo, respeito.

Cabe ao livro de hoje, como caberá ao do futuro, a transmissão desde a informação utilitária indispensável à boa formação profissional até as indagações e reflexões sobre o sentido da vida que passam, por exemplo, pelas experiências emocionais de quem compartilha conosco a condição de ser humano. Tudo isso faz parte daquilo que precisamos saber, conhecer, para entender quem somos e o mundo em que vivemos e, assim, nos realizarmos como seres humanos. É, digamos, um pouco mais do que o ideal de possuir uma casa "com um carro na garagem", que os fundamentalistas do mercado imaginam como o suprassumo da ambição dos viventes.

Essa visão humanística do mundo pode parecer um tanto fora de moda, mas só estará realmente sepultada - sob sete palmos de ignorância - no momento em que a estultice dos homens lograr o intento de destruir a imagem do livro como maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Muita gente dentro do próprio mercado livreiro, mais propriamente dentro do big business editorial, aqui como lá fora, já está fazendo um bom trabalho nessa direção ao mediocrizar impiedosamente os conteúdos que publica em nome do mandamento supremo de que livro bom é livro que vende bem.

A continuar assim, em breve o publicitário e seu cliente para quem os livros só são úteis quando empilhados poderão proclamar, orgulhosos, a confirmação de seus poderes proféticos. E estaremos então penetrando as trevas, depois de percorrer vários tons de cinza.
* A. P. Quartim de Moraes é jornalista. E-mail: apqdm@uol.com.br.

sábado, 13 de abril de 2013

Educacao:utopia e realidade - Gustavo Ioschpe

Artigo
A utopia sufoca a educação de qualidade

"Se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho"

Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 13/04/2013

A missão da boa escola é ensinar as disciplinas fundamentais aos alunos, e não tentar corrigir as desigualdades do Brasil.

Um dos males que assolam nossa educação é a esperança vã de pensadores e legisladores de que uma escola que mal consegue ensinar o básico resolva todos os problemas sociais e éticos do país. Eles criaram um sistema com um currículo imenso, sistemas de livros didáticos em que o objetivo até das disciplinas científicas é formar um cidadão consciente e tolerante. Responsabilizaram a escola pela formação de condutas que vão desde a preservação do meio ambiente até os cuidados com a saúde; instituíram cotas raciais e forçaram as escolas a receber alunos com necessidades especiais. A agenda maximalista seria uma maneira de sanar desigualdades e corrigir injustiças. O Brasil deveria questionar essa agenda.

Primeira pergunta: nossas escolas conseguem dar conta desse recado? A resposta é, definitivamente, não. Estão aí todas as avaliações nacionais e internacionais mostrando que a única igualdade que nosso sistema educacional conseguiu atingir é ser igualmente péssimo. Copiamos o ponto final de programas adotados nos países europeus sem termos passado pelo desenvolvimento histórico que lhes dá sustentação.

Segunda pergunta: esse desejo expansionista faz bem ou mal ao nosso sistema educacional? Será um caso em que mirar no inatingível ajuda a ampliar o alcançável ou, pelo contrário, a sobrecarga faz com que a carroça se mova ainda mais devagar? Acredito que seja o último. Por várias razões. A primeira é simplesmente que essas demandas todas tornam impossível que o sistema tenha um foco. Perseguir todas as ideias que aparecem -- mesmo que sejam todas nobres e excelentes -- é um erro. Infelizmente, a maioria dos nossos intelectuais e legisladores não tem experiência administrativa, e acredita ser possível resolver qualquer problema criando uma lei. No confronto entre intenções e realidade, a última sempre vence. A segunda razão para preocupação é que, com uma agenda tão extensa e bicéfala -- formar o cidadão virtuoso e o aluno de raciocínio afiado e com conhecimentos sólidos --, sempre é possível dizer que uma parte não está sendo cumprida porque a prioridade é a outra: o aluno é analfabeto, mas solidário, entende? (Com a vantagem de que não há nenhum índice para medir solidariedade.) E, finalmente, porque quando as intenções ultrapassam a capacidade de execução do sistema o que ocorre é que o agente -- cada professor ou diretor -- vira um legislador, cabendo a ele o papel de decidir quais partes das inatingíveis demandas vai cumprir. Uma medida que deveria estimular a cidadania tem o efeito oposto: incentiva o desrespeito à lei, que é a base fundamental da vida em sociedade.

As aulas de ciências e as de português e matemática são as que vão fazer diferença positiva na vida dos jovens quando eles chegarem ao mercado
Terceira pergunta: mesmo que todas essas nobres intenções fossem exequíveis, sua execução cumpriria as aspirações de seus mentores, construindo um país menos desigual? Eu diria que não apenas não cumpriria esses objetivos como iria na direção oposta. Deixe-me dar um exemplo com essas novas matérias inseridas no currículo do ensino médio -- música, sociologia e filosofia. A lógica que norteou a decisão é que não seria justo que os alunos pobres fossem privados dos privilégios intelec-tuais de seus colegas ricos. O que não é justo, a meu ver, é que a adição dessas disciplinas torna ainda mais difícil para os pobres se equiparar aos alunos mais ricos nas matérias que realmente vão ser decisivas em sua vida. A desigualdade entre os dois grupos tende a aumentar. A triste realidade é que, por viverem em ambientes mais letrados e com pais mais instruídos, alunos de famílias ricas precisam de menos horas de instrução para se alfabetizar. É pouco provável que um aluno rico saia da 1ª série sem estar alfabetizado, enquanto é muito provável que o aluno pobre chegue ao 3º ano nessa condição. O aluno rico pode, portanto, se dar ao luxo de ter aula de música. Para nivelar o jogo, o aluno pobre deveria estar usando essas horas para se recuperar do atraso, especialmente nas habilidades basilares: português, matemática e ciências. É o domínio dessas habilidades que lhe será cobrado quando ingressar na vida profissional. Se esses pensadores querem a escola como niveladora de diferenças, se a diferença que mais impacta a qualidade de vida das pessoas é a de renda, e se a fonte principal de renda é o trabalho, então precisamos de um sistema educacional que coloque ricos e pobres em igualdade de condições para concorrer no mercado de trabalho. O que, por sua vez, presume uma educação desigual entre pobres e ricos, fazendo com que a escola dê aos primeiros as competências intelectuais que os últimos já trazem de casa. Estou argumentando baseado em uma lógica supostamente de esquerda (digo supostamente porque, nesse caso, é transparente que as boas intenções dos revolucionários de poltrona só aprofundam as desigualdades que eles pretendem diminuir).

O mercado de trabalho valoriza mais as habilidades cognitivas e emocionais não porque os nossos empregadores sejam mesquinhos, mas porque, em um mercado competitivo, precisam remunerar seus trabalhadores de acordo com sua produtividade. Essa é a lógica inquebrantável do sistema de livre-iniciativa. Não adianta pedir ao gerente de recursos humanos que seja “solidário” na hora da contratação e leve em conta que os candidatos à vaga vêm de origens sociais diferentes, porque, se o recrutador selecionar o funcionário menos competente, o mais certo é que em breve ambos estejam solidariamente no olho da rua. Não conheço nenhum estudo que demonstre o impacto de uma educação filosoficamente inclusiva sobre o bem-estar das pessoas. Mas há vários estudos empíricos sobre a desigualdade no Brasil. O que eles informam é assustador: o fator número 1 na explicação das desigualdades de renda é, de longe, a desigualdade educacional (disponíveis em twitter.com/gioschpe). Ao criarmos uma escola sobrecarregada com a missão de não apenas formar o brasileiro do futuro mas corrigir as desigualdades de 500 anos de história, nós nos asseguramos de que ela se tornará um fracasso. A escola não pode fracassar, pois é a alavanca de salvação do Brasil.

O tipo de escola pública que queremos é uma discussão em última instância política, e não técnica. É legítimo, embora estúpido, que a maioria dos brasileiros prefira uma educação que fracasse em ensinar a tabuada mas ensine bem a fazer um pagode. Acrescento apenas uma indispensável condição: que a população seja informada, de modo claro e honesto, sobre as consequências de suas escolhas. Quais as perdas e os ganhos de cada caminho. O que é, aí sim, antidemocrático e desonesto é criar a ilusão de que não precisamos fazer escolhas, de que podemos tudo e de que conseguiremos obter tudo ao mesmo tempo, agora. Infelizmente, é exatamente isso que vem sendo tentado. Nossas lideranças se valem do abissal desconhecimento da maioria da população sobre o que é uma educação de excelência para vender-lhe a possibilidade do paraíso terreno em que professores despreparados podem formar o novo homem e o profissional de sucesso. Essa utopia, como todas as outras, acaba em decepção e atraso. Essa pretensa revolução, como todas as outras, termina beneficiando apenas os burocratas que a implementam.


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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Xiii (ou Chiiii?; alo MEC): agora sim que a educacao esta' comprometida (ou compromissada?; whatever...)

Essa eu também queria entender, mas achei mais fácil, totalmente inteligível, e não poderia ser mais claro. Todos estamos comprometidos com essa.
E pelo andar da carruagem, uma única conclusão é possível: a situação da educação é muito pior, mas muuuuuiiiiiito piiiooor do que vocês podem imaginar.
E isso vem de longe, e vai até onde a vista não mais alcança, a perder de vista.
Estamos fritos, minha gente...

Eu queria dizer para vocês, nesta noite, aqui.... e nessa escola, o compromisso forte, o compromisso que é um compromisso que eu diria o maior compromisso do meu governo. Porque é que o compromisso com a educação tem que ser o maior compromisso de um governo.”

Comentário de Carlos Brickmann:
Tudo tem de ser feito degrau a degrau, etapa por etapa. Por exemplo, antes de aprender a escrever, os estudantes têm de aprender a falar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Miseria educacional brasileira: uma luz no fim do tunel?

Acho que ainda não; os autores deste artigo esperam que as coisas possam mudar, mas eu tenho a impressão de que as corporações sindicais que dominam as associações de professores se opõem a muitas mudanças necessárias, sem falar da ideologia freireana do MEC, oposta a qualquer cobrança de resultados dos professores.
Paulo Roberto de Almeida

À espera de um currículo de padrão internacional
Ilona Becskeházy, consultora em Educação
João Batista Araújo de Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto
O Estado de São Paulo, 6/02/2013

 A população brasileira, em geral - e, em particular, a que depende da escola pública -, está à espera de políticas que efetivamente façam a educação avançar no País. Nada mais eloquente do que o depoimento da mãe de um aluno matriculado no primeiro ano de uma escola do interior fluminense, porque ele representa a aflição de muitas outras mães que dependem das escolas públicas: "A Secretaria Municipal de Educação de Cachoeiras de Macacu (RJ) está interpretando que a alfabetização começa ou pode ser estendida aos oito anos. Isso é um retrocesso, pois, nos anos 80/90, os alunos ao final do primeiro ano já sabiam ler e, no terceiro ano, já tinham acesso a um currículo muito diversificado. É necessário que a sociedade exija que a alfabetização ocorra aos 6 anos de idade, como é na rede particular. Se não for assim, como fica o princípio republicano da isonomia? O Estado acaba ajudando a diferenciar seus pequenos cidadãos?".

É natural que uma nação que viu o Brasil melhorar em tantas áreas espere que seu governo faça o mesmo pela educação. Tanto quanto é natural que a população tenha a expectativa de que as autoridades educacionais já estejam caminhando nessa direção. Infelizmente, não é o caso do nosso país, cujas lideranças educacionais insistem em perseguir um caminho próprio e equivocado, que não leva em conta as evidências científicas sobre o que funciona no processo pedagógico e as principais experiências internacionais de políticas educacionais públicas e eficazes.

Nos últimos anos, especialmente a partir das informações de dois grandes programas de avaliação estudantil em nível internacional - o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e o Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência (Timms) - os países desenvolvidos vêm reformulando seus currículos nas áreas de matemática e de ciências e as orientações sobre o ensino da língua e sobre a alfabetização. Há um ambiente de colaboração internacional entre as autoridades educacionais, do qual os nossos representantes têm escolhido não fazer parte.

A demonstração mais recente do isolamento educacional brasileiro está em duas iniciativas do governo federal a respeito da alfabetização escolar das crianças: a Medida Provisória n.º 586/12 e uma proposta de normativa para garantir "direitos de aprendizagem". São duas peças que, uma vez aprovadas respectivamente pelo Poder Legislativo e pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), servirão de base legal para garantir aos brasileiros o "direto de aprender a ler aos oito anos". O problema, muito bem apresentado pela mãe de Cachoeiras de Macacu, é que continuamos sem ter a definição clara do que é "saber ler" e colocamos um padrão difuso que está servindo para facilitar a vida de quem não sabe "ensinar a ler".

A medida provisória trata essencialmente de recursos para compra de materiais paradidáticos, formação de alfabetizadores e premiação para quem der conta do recado. Para se ter uma ideia de como o assunto é tratado por quem estabelece as políticas educacionais, foram enviadas mais de 60 emendas - e duas delas propunham estabelecer a alfabetização como direito a ser assegurado aos 6 anos, ao final do primeiro ano do ensino fundamental, como se faz nas escolas privadas e no mundo desenvolvido. Essas duas emendas foram rejeitadas. Outra, que dispensa os tomadores de crédito estudantil de ter ficha de crédito limpa, foi aprovada, apesar de nem estar relacionada com a matéria em pauta.

Para ilustrar a dimensão do fosso que nos separa do resto do mundo, fazemos uma comparação de fácil digestão para os brasileiros - com Portugal.

Recentemente, o currículo de Língua Portuguesa e o de Matemática para o ensino fundamental foram reformulados com o objetivo explícito de melhorar a qualidade e se aproximarem dos demais países da Europa. Esses currículos, disponíveis na internet, são detalhados e simples o suficiente para que as famílias possam acompanhar a sua implementação nas escolas de seus filhos. Lá até as escolas particulares tiveram de fazer adequações para atenderem aos novos padrões, que, além de detalhados, são desafiadores para os alunos e seus professores.

Alguns exemplos do que o documento da terra de Camões apresenta: no primeiro ano o aluno deve ler, num texto simples, 55 palavras por minuto; no segundo ano, 90 palavras por minuto e no terceiro ano, 110 palavras por minuto. Também no terceiro ano os portugueses devem "escrever pequenas narrativas, incluindo os seus elementos constituintes: quem, quando, onde, o quê, como". E vão "introduzir diálogos em textos narrativos". Fica fácil imaginar que, daqui a dez anos, seremos nós os protagonistas das piadas de português...

Sempre há esperança. No caso da Medida Provisória n.º 586/12, os legisladores poderiam abrir espaço para ouvir outras vozes, analisar a experiência internacional e avaliar políticas públicas que efetivamente possam promover avanços na alfabetização das crianças. Poderiam, por exemplo, começar ouvindo o que a Academia Brasileira de Ciências tem a dizer - inclusive saberiam que, se existe um ciclo de alfabetização, ele deveria começar na educação infantil e terminar no primeiro ano do ensino fundamental. No caso do documento enviado ao CNE, sempre é tempo para retirar da pauta, rever e incorporar, de maneira consistente, o que o conhecimento científico acumulado e a experiência de outros países teriam a nos ensinar.

Quem sabe o nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante, se disponha a ter um curto diálogo com seu colega Nuno Crato, de Portugal? Ou a presidente Dilma Rousseff se sensibilize com padrões educacionais que, apesar de nada populares em alguns setores da educação local, são ambiciosos o suficiente para tornar o Brasil um país realmente cosmopolita?