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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Eu falei em "fronda empresarial"? Esqueca: os empresarios sao todos muito ruins...

Desde o início, quando este empresário, sino-brasileiro, declarou apoiar o PT, mesmo sendo de uma grande companhia multinacional, acheio que ele não estava refletindo bem. Depois, quando comecei a ler entrevistas dele, e alguns artigos na FSP, sempre defendendo os companheiros, conclui que ele era idiota mesmo, um desses idiotas úteis que são usados pelos companheiros para mostrar que também podem ter simpáticos burgueses que concordam com eles.
Lendo hoje a entrevista que vai transcrita abaixo concluo que ele é mesmo idiota, apenas vendo algumas de suas referências ao modelo "keynesiano-socialista" (sic), à China, e outras questões.
Com empresários como esse, agora decepcionados, mas incapazes de propor alguma coisa inteligente, e com os outros, promíscuos, comprados ou coniventes com os mafiosos do poder, não se pode planejar nenhuma conspiração em prol de uma fronda empresarial, não é mesmo?
Vamos mesmo ter de completar todos os sete círculos do inferno dantesco-lulopetista, e sofrer pelo futuro previsível...
Paulo Roberto de Almeida

Modelo defendido por Lula e Dilma está errado
Entrevista / Lawrence Pih
Joana Cunha de São Paulo
Folha de S. Paulo, 5/10/2015

Empresário, que apoiou o PT na década de 80, diz que não acreditava que partido tivesse viés socialista tão forte
 
Um dos primeiros empresários a apoiar o PT, nos anos 1980, Lawrence Pih, 72, diz que, na época, não imaginou que o "modus operandi" de se fazer política fosse universal.
Hoje, ele avalia que, embora Lula tenha maior talento político e seja mais pragmático do que Dilma, ambos representam um mesmo modelo, que está errado.
Pih, que acaba de vender o Moinho Pacífico (um dos maiores importadores de trigo e processadores do cereal do país), diz que, no momento, não vislumbra solução definitiva para a crise econômica do Brasil e que é preciso cortar gastos e melhorar a eficiência da máquina estatal.

Folha - O caminho que está sendo adotado para solucionar a crise é o correto?

Lawrence Pih - Atualmente, não há um caminho. O que está havendo é uma tentativa de equacionar um problema enorme com medidas paliativas. Não se vislumbra solução definitiva –nem a possibilidade de uma.

O sr. concorda com o ajuste como está colocado? Mudaria?

O que o Joaquim Levy [ministro da Fazenda] está fazendo não é suficiente. Reconheço que politicamente já é difícil, mas eu faria algo mais drástico. O ônus que o setor público impõe à Previdência é muito alto. Há tantos lugares em que é possível cortar gastos. Como é possível a nossa carga tributária bruta ser quase igual à de países desenvolvidos da Europa?

O que mais o governo Dilma deveria fazer?

Cortar gasto. Apertar o cinto, tornar a máquina eficiente. Já que gastamos mais do que poderíamos, agora é a hora de consertar nosso balanço como país.
O investimento no Brasil é baixo. Se você não investir e tiver um universo de consumidores aumentando, vai preencher a distância entre produção e demanda pela importação, ou seja, gerando empregos fora do país.
O governo pode impor qualquer custo sobre as empresas. Aí, o empresário vai fazer o cálculo de custo, margem, risco do país e preço de venda. Ele pensa: tem demanda? Não. Segurança jurídica, previsibilidade, estabilidade cambial? Não. Tem juros estratosféricos? Tem. Custo trabalhista? Enorme. Conclusão: não vou investir.

Como se chegou a tal crise?

Dois fatores possibilitaram o crescimento do Brasil desde que o PT assumiu o governo. Houve a explosão dos preços de commodities e o país conseguiu equacionar a dívida externa. Depois disso, o mundo estava crescendo em média 5% ou 6% ao ano. Tudo isso possibilitou investimento externo no Brasil.
Também teve muito mérito do governo FHC, que estabilizou a moeda. O Brasil entrou no vácuo do crescimento mundial e possibilitou o aumento do crédito. Com desemprego caindo e economia crescendo, a população se sentiu confortável em assumir mais dívida.
O Estado começou a gastar mais do que podia e sua participação no PIB cresceu muito, com gastos maiores do que o crescimento do PIB.
E o que é essa participação? Imposto. A carga tributária, que nos últimos anos do governo FHC estava em torno de 28% ou 29% do PIB, hoje está em 36% ou 37%. No cenário atual, é insustentável. Não estou analisando qualidade de gastos e importância da questão social. É importante ajudar os mais carentes. Entretanto, tem que lembrar se o auxílio é sustentável.

É tudo culpa da gestão Dilma ou tem raízes no passado?

Não é questão de culpa. A população escolheu Lula em 2002 porque o governo de FHC não era popular naquele momento. Houve uma mudança de modelo, do Fernando Henrique, um pouco mais ortodoxo, para o modelo mais heterodoxo do PT. Esse modelo novo seguiu um pouco a linha do antigo para depois começar a implantar aquilo que lhe é caro ideologicamente e ter um tipo de socialismo keynesiano.
Os petistas têm admiração pela China. De fato, a China tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, é a segunda maior economia do mundo. Só que o modelo de lá é totalmente diferente. Na China não tem greve, não é democracia. É um partido só. O povo chinês está disposto a trabalhar 14 horas por dia. Aqui, achamos que oito horas é muito. O Brasil quer adotar algumas coisas do modelo chinês e outras do americano. Não funciona.

O que mudou de 2002 para cá?

Surfamos uma onda de crescimento mundial, tiramos milhões da pobreza, gastamos mais do que podíamos para perpetuar o modelo socialista keynesiano.
Dilma chegou à Presidência simplesmente pela escolha de Lula. Imagino que Palocci e Dirceu eram candidatos antes do mensalão. Lula achou que o gestor eficiente, como era a imagem que se projetava da Dilma, seria adequado. Mas a história dela é um pouco diferente da do Lula. Ele é um sindicalista, negocia com o setor patronal e entende um pouco do outro lado do balcão. Lula tem um talento político raro.

E se ele voltasse depois dela?

Voltar ou não voltar não é o caso. Eu acho que o modelo está errado. O Lula é esse modelo. É um pouco mais pragmático, mas é esse modelo.

Ele andou falando em baixar a taxa de juros.

Você não baixa juro por decreto. A Dilma fez isso. E deu no que deu. Economia tem lógica própria. Não se sujeita à vontade de um político ou outro. O mercado é soberano. Ele determina o sucesso ou o fracasso de uma economia.

Foram essas intervenções na economia que nos levaram à situação em que estamos?

Exatamente. Você não pode rasgar, decretar a inexistência das leis da economia. Você até pode baixar os juros. O Tombini baixou para 7,25% a pedido da Dilma. Agora está em 14,25% e vai subir mais.

A saída de Dilma é o caminho?

Impeachment é traumático. Pensam que se remove presidente do dia para a noite, mas não é tão simples. Não sou especialista, mas dizem que pode haver afastamento devido a pedaladas ou financiamento irregular de campanha. Essas coisas ocorreram no passado, mas nunca foi apurado. Os dois pontos são suficientemente graves? Essa primeira pergunta é técnica.
A segunda é política: ela tem condições de continuar governando sem levar o país ao caos? Quando o câmbio quase dobra em um ano, está instalado um grau de confusão grande. Com ela na Presidência até 2018, como ficará o país? Se as coisas começam a se deteriorar no ritmo em que isso acontece desde janeiro, estamos em maus lençóis. Não é só uma questão técnica. É também política, sob o aspecto da governabilidade.

O sr. foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980. O que pensa hoje?

Naquele momento, eu era visceralmente contra a ditadura. Via na elite brasileira um atraso, sentia que ela precisava de uma chacoalhada. E acreditei que o PT seria um caminho. Eu acreditava que eles tinham uma ideologia, consistência. Eram o único partido que tinha plataforma.
Eu achei que um novo modelo tinha de ser instituído. Não percebi que esse novo modelo tinha um viés tão fortemente socialista. Acreditei quando o Lula disse que tem 300 picaretas no Congresso. Não imaginei que o "modus operandi" fosse universal.

Com Aécio Neves estaríamos em melhor situação?

É provável, porque o mercado o aceitaria melhor. E o Aécio perdeu por muito pouco. Se o PT não tivesse feito o marketing que a gente chama de "propaganda enganosa", o Aécio teria vencido.

Quem deve ser o próximo candidato do PT?

Fora o Lula, não há neste momento outro candidato, a meu ver. O andamento das questões que poderiam ou não envolver o ex-presidente Lula vai determinar se eles têm ainda fôlego para ressuscitar.
Mas fico lembrando do Fernando Collor, que foi afastado e voltou como senador. E o Paulo Maluf? Está aí. O eleitor tem memória curta.

O sr. acaba de se desfazer de um investimento histórico no país. Quer investir de novo?

Meu destino é no Brasil. Já enfrentei muitas crises aqui.
O país é muito maior que essa crise e que o governo. Governo é transitório. Quando as coisas vão de mal a pior, mudam o governo e a orientação política. Neste momento, precisamos fazer reformas estruturais: trabalhista, tributária, previdenciária, encolher o Estado, tornar o setor público mais eficiente.
Ou fazemos conscientemente ou o mercado determinará que o façamos. A Grécia é um bom exemplo. Não adianta essa ideologia socialista populista porque o modelo socialista populista, mais tempo menos tempo, começa a degringolar para um autoritarismo.
O modelo perfeito disso é a Venezuela, que, como o Brasil, tem recursos naturais enormes.

Pretende mesmo investir aqui? É teimosia ou resiliência?

Sempre há oportunidade. Tenho três setores em foco: educação, saúde e infraestrutura. A população está envelhecendo e não vai parar de crescer. Vai demandar saúde, educação, moradia. Precisa de infraestrutura. O Brasil não vai desaparecer.

O sr. pensa em atrair investidores estrangeiros?

É possível. Teremos caixa robusto. Eu te garanto: os investidores estrangeiros vão olhar risco e retorno. Os ativos no Brasil estão depreciados e vão se depreciar mais ainda.
É atrativo para o investidor entrar no Brasil com o dólar a R$ 4,22. O risco já é bem menor agora. Não que o risco de a situação piorar não exista. Existe. Mas boa parte já está precificada no câmbio.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Brasil: o futuro do país está no passado (de outros países...) - Paulo Roberto de Almeida

Um texto de 2012, feito para subsidiar palestras minhas a jovens empresários e estudantes no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, e que ainda se revela válido para os tempos atuais.


Brasil: o futuro do país está no passado (de outros países...):
proposta para uma Fronda Empresarial

Paulo Roberto de Almeida

As revoluções e os progressos institucionais: dilemas históricos
O título deste ensaio pode parecer contraditório, mas nele pretendo argumentar que a sociedade brasileira, por não ter passado por transformações institucionais, ou culturais, que outras nações lograram alcançar no passado, enfrenta hoje sérias dificuldades para realizar todo o potencial de desenvolvimento e de prosperidade, a que seu povo está legitimamente no direito de aspirar.
Qualquer observador sensato do cenário econômico e político do Brasil contemporâneo concordaria em que o país necessita de sérias reformas, nas mais diferentes vertentes da vida nacional, e até em suas relações externas. Dirigentes sensatos costumam empreender reformas, periodicamente, como meio de evitar crises políticas ou turbulência econômicas, ou até distúrbios mais graves, eventualmente, inclusive, conflitos sociais, podendo chegar até a rupturas revolucionárias. Países que empreendem reformas, como parte de seu processo natural de adaptação a novos desafios domésticos ou à dinâmica da economia internacional, poupam a si mesmos de sofrimentos inúteis nos planos econômico ou político. Existem também aqueles que acreditam que o Brasil necessita de uma verdadeira revolução, em várias áreas.
Revoluções não são planejadas; elas acontecem; não existem líderes políticos, por mais poderosos ou convincentes que sejam, por mais messiânicos que apareçam aos olhos da massa, que consigam “produzir” revoluções verdadeiras, no seu sentido contemporâneo, ou seja: processos violentos de transformação da ordem política e social comportando a derrocada, mais ou menos completa, e o afastamento do poder de antigas elites dominantes e sua substituição por novos estratos dirigentes, geralmente aqueles que ascendem como líderes no curso do processo revolucionário.
As grandes revoluções sociais conhecidas nos últimos séculos, desde a revolução inglesa do século 17 – a de Oliver Cromwell, cuja condução da guerra civil entre o Parlamento e o rei levou à decapitação deste último – até a revolução camponesa conhecida na China do século 20 – que terminou numa guerra de posições entre os exércitos do Partido Comunista e o do Kuomintang – não ocorreram como decisão de nenhum líder político ou militar: elas ocorreram como resultado de forças sociais muito poderosas, cujas iniciativas e ações muitas vezes escaparam ao controle de seus principais protagonistas. Entre esses exemplos, muitas outras revoluções sociais ocorreram, sempre pela conjunção de variáveis imprevisíveis e de fatores contingentes, com algum elemento fortuito atuando como gatilho: fomes, profundas crises econômicas, guerras, cisão das elites dirigentes no comando do Estado, enfim, grandes comoções sociais que alteram o jogo normal do processo político e seu encaminhamento normal.
Grandes líderes políticos ou dirigentes sociais podem, no máximo, conduzir revoltas, conflitos, enfrentamentos, guerras de guerrilha, ou até putschs e golpes de Estado, como fizeram Lênin, Mussolini, Getúlio Vargas, além de muitos outros, sempre no quadro de crises políticas mais ou menos graves em suas respectivas sociedades. Também existem aqueles que ascendem pela via eleitoral, mas que depois provocam alterações profundas no sistema político, até no sentido de ditaduras perfeitas, como pode ter sido o caso de Hitler, nos anos 1930, e, atualmente, num país bem perto do Brasil.
Nem todas as revoluções atuam num sentido positivo, ou seja, remodelar a estrutura social e o sistema político em certas sociedades, de modo a renovar as elites dirigentes num sentido progressista, ou libertário, modernizando o aparelho do Estado e permitindo a incorporação de novos estratos sociais ao jogo político, se necessário com a redução do poder político e econômico de velhas elites dirigentes. Várias delas terminam em tragédia, resultando, na prática – senão em intenção – em ditaduras criminosas, como pode ter sido o caso da revolução bolchevique (na verdade, um simples putsch leninista, em sua origem), o da conquista do poder pelo Partido Comunista da China, sob a liderança de Mao Tsé-tung, bem como a própria revolução cubana, atualmente um dos últimos e tristes exemplos de um stalinismo anacrônico, junto com seu outro regime irmão, ainda mais surrealista, o da Coréia do Norte.
A revolução francesa, que é considerada o protótipo ideal de uma grande revolução social – pelo menos para os historiadores marxistas –, ainda que resultando, teoricamente, na derrocada do Ancien Régime e na ascensão da burguesia e de um Estado moderno, não representou, necessariamente, um progresso social e econômico decisivo para a França do século 19. Aliás, até mesmo um historiador marxista, como Eric Hobsbawm, reconhece que a revolução francesa pode ter atrasado a remodelação do país num sentido capitalista, ao ter fragmentado exageradamente a propriedade da terra, obstaculizando a modernização capitalista da agricultura, e ao criar um Estado extremamente centralizado, com burocracia poderosa, que manteve muitos negócios sob o estrito controle de elites dirigentes que tendem, ainda hoje, a reproduzir os privilégios do Antigo Regime. Não é novidade para ninguém que a França tem enormes dificuldades para empreender reformas modernizantes, que vive dominada por corporações que controlam o Estado e que é, possivelmente, o país europeu mais estatizado do continente, com aproximadamente 25% da população economicamente ativa na condição de funcionários públicos. Talvez o Brasil aprecie esse modelo.
Outras revoluções produzem resultados bem mais favoráveis, tanto do ponto de vista político, como social, abrindo espaço para o desenvolvimento dos negócios, a riqueza e a prosperidade; tal é indiscutivelmente o caso da chamada “Revolução Gloriosa”, ocorrida na Inglaterra em 1688, que completou a obra da desastrosa guerra civil que a precedeu, no sentido de reafirmar a preeminência do Parlamento sobre o poder autocrático do soberano, mas sem necessitar decapitá-lo, desta vez, apenas remetendo-o ao exílio e importando uma outra casa reinante; trata-se da mesma que sobrevive até hoje no Reino Unido, mas que absolutamente não governa, sendo o país o sistema mais antigo, no mundo, de regime parlamentar plenamente democrático e estável. Outro exemplo, cem anos após, mas contra o rei e o parlamento britânicos, é o da revolução da independência americana, feita sob a inspiração de iluministas escoceses e ingleses, mas influenciada também por constitucionalistas franceses, e que foi conduzida sob a forma de uma revolta cidadã contra a extorsão tributária que o rei inglês pretendia impor aos seus súditos das treze colônias americanas.
 (...)

Leiam o resto nos links indicados:  http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2433FuturoBrasilFrondaEmpres.pdf e
https://www.academia.edu/5962599/2433_Brasil_o_futuro_do_pa%C3%ADs_est%C3%A1_no_passado_de_outros_pa%C3%ADses..._proposta_para_uma_Fronda_Empresarial_2102_

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Fronda Empresarial no Instituto Millenium - Paulo Roberto de Almeida

Meu artigo do último domingo no Estadão, reproduzido no blog do Ibstituto Millenium:

Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma

Fernand Braudel, o historiador conhecido por seus estudos sobre a evolução das economias de mercado e sobre a expansão do capitalismo – não confundir as duas coisas: este último é apenas uma, ainda que a mais importante, das formas assumidas pelas primeiras – alertava para uma situação bastante frequente nas interações entre os capitalistas e os donos do poder, representados pelos soberanos, em suas diversas modalidades: reis, príncipes, duques, arrivistas armados, condottieri. Se tratava da colusão entre o dinheiro e o poder, para o mútuo benefício de ambos, em detrimento dos cidadãos, dos súditos, de todos os pagadores de impostos. Na época por ele estudada, os capitalistas eram geralmente mercadores e banqueiros, não aqueles industriais de cartola e charuto que só surgiriam depois de bem implantada a revolução industrial; mas a realidade permanece a mesma, em todas as épocas e lugares.
Os criadores primários de renda e riqueza compram a simpatia dos fazedores de leis e de regras, para que estes “fechem” os mercados de maneira a elevar a taxa de retorno das atividades nas quais os primeiros se encontram engajados, seja no setor produtivo de manufaturas, seja nas intermediações comerciais e financeiras. Ocorre também do príncipe querer consolidar o seu poder, para afastar eventuais concorrentes, passando a adiantar esses favores aos agentes econômicos, em troca do financiamento adequado para justamente reforçar o seu monopólio sobre o poder político. Alguma semelhança ou coincidência com o que ocorre hoje no Brasil? Provavelmente, mas o cenário não é exclusivo do nosso país ou da nossa época. Ele é sustentável, aceitável, moralmente justificado, defensável do ponto de vista dos interesses da comunidade?
Malgrado tentativas de “pikettyzação” do debate o fato é que as sociedades ficaram mais ricas lá onde a liberdade econômica foi a mais ampla
No limite, esse tipo de relação espúria entre detentores do poder político e criadores da riqueza primária pode levar a uma exacerbação da exação fiscal e a uma deterioração geral das instituições de comando na sociedade, alimentando corrupção, irracionalidades econômicas, inércia gerencial, falta de inovação e descrédito geral dos cidadãos (de preferência a súditos) quanto ao funcionamento da administração pública. Não parece difícil prever a perda de dinamismo na economia e uma descrença geral na legitimidade da representação cidadã, podendo redundar em acirramento dos conflitos políticos. Estaria ocorrendo isso no Brasil atual? Alguma surpresa quanto ao cenário?
Imagino que todos aqueles capitalistas – já sem cartola ou charutos – e todos os banqueiros, e seus lobistas profissionais, que circulam na capital da república de modo contínuo, já estejam cansados de todas essas petições que são obrigados a fazer, regularmente, para tentar melhorar, um pouco que seja, o seu ambiente de negócios, e para tentar preservar, uma parte que seja, dos resultados de suas respectivas atividades produtivas da sanha dos fiscais da Receita e da selva de novos regulamentos que legiões de burocratas setoriais despejam todos os dias sobre eles. Todos os mandarins da nossa república estão empenhadíssimos em construir um Brasil melhor para todos, e por isso precisam retirar os recursos de alguma parte, onde eles estão: nos caixas das empresas e nos bolsos dos cidadãos de classe média, simples trabalhadores indefesos.
Por que será que os nossos capitalistas – industriais, agrícolas e de serviços –, aparentemente tão robustos e tão conscientes da riqueza que geram em benefício da sociedade, resolvem se dobrar a partidos políticos, entregar a eles uma parte dessa riqueza criada com o suor do seu rosto (enfim, a maioria, uma parte se encosta nos empréstimos do BNDES), decidem se submeter a políticos notoriamente incompetentes e aceitam, além disso, fazer a via crucis a Brasília para pedir favores aos governantes? Para mim é um mistério, mas provavelmente tem a ver com a constituição do próprio capitalismo no Brasil, sempre embalado nos braços do Estado, alimentado no leite generoso dos subsídios e da proteção oficial, enquadrado por burocratas eficientes na regulação setorial e na captura de benefícios associados e continuamente mantido sob rédeas curtas por esse mesmo Estado, onipotente, nem sempre onipresente, mas certamente perseguindo como uma sombra o itinerário das riquezas criadas pelos capitalistas em seus afazeres cotidianos.
Se esses capitalistas lessem os livros de história saberiam que os países que alcançaram patamares significativos de prosperidade material e de bem estar coletivo foram aqueles que mais souberam defender as riquezas privadas da cobiça de aventureiros improvisados e de soberanos instalados. Para isso, os barões e os burgueses de outros séculos tiveram de decapitar, guilhotinar, ou exilar alguns dos que tentavam se assenhorear de uma parte desproporcional da sua riqueza. A condição essencial dos progressos materiais está justamente na defesa da propriedade, e é essa defesa que garantiu a pujança das economias de mercado que puderam dispor, paralelamente, de Estados contidos pela sociedade em face de soberanos tendencialmente autocráticos. A despeito de outras evidências históricas, e do que possa ter dito Fernand Braudel, esses fatos também fazem parte da história.
Foram essas frondas que permitiram a acumulação de riqueza e o bem estar de capitalistas e trabalhadores. Malgrado tentativas de “pikettyzação” do debate – uma transpiração estatística para provar que a acumulação se dá em detrimento da maioria e em favor de uma minoria – o fato é que as sociedades ficaram mais ricas lá onde a liberdade econômica foi a mais ampla; a emergência de um punhado de superbilionários jamais impediu a formação de novas fontes de riqueza; ao contrário, até estimulou outros que também buscavam essa condição. Que tal uma fronda no Brasil?
Fonte: O Estado de S.Paulo, 10/09/2014.




SOBRE PAULO ROBERTO DE ALMEIDA


Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, mestre em planejamento econômico pelo Colégio dos Países em Desenvolvimento da Universidade de Estado de Antuérpia, doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas. Trabalhou como assessor especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. É autor dos livros: “O Mercosul no contexto regional e internacional” (Aduaneiras, 1993), “ O Brasil e o multilateralismo econômico” (Livraria do Advogado, 1999), “ Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (UFRGS, 1998)” e “O moderno príncipe – Maquiavel revisitado” (2007)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Critica ao manifesto empresarial "Carta do Povo Brasileiro" - Paulo Roberto de Almeida


Carta do Povo Empresarial:
Uma leitura crítica

Paulo Roberto de Almeida

No decorrer do mês de agosto de 2014, um número indefinido de empresários, em evento promovido pelo Movimento Brasil Eficiente (MBE) em parceria com a LIDE (Liderança Empresarial brasileira), em data exata e local tampouco revelado, redigiu e apresentou um documento dirigido a um não menos indefinido “Governante” (Sr. ou Sra.), elaborado com base em uma pesquisa nacional encomendada pelo MBE ao Instituto Datafolha, em fevereiro. Segundo uma nota preliminar liberada na ocasião, o evento “debateu o tema ‘Simplificação Tributária e Gestão Pública Eficiente’ e contou com a presença de representantes dos candidatos a presidência Aécio Neves e Eduardo Campos. Dilma Roussef (sic) não mandou representante.”
Postei a íntegra desse documento, tão pronto o recebi, em meu blog (neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/empresarios-mandam-ao-governo-em-nome.html), fazendo-o preceder de algumas críticas ásperas de minha parte, que, hoje reconheço, podem ter sido injustas com os empresários e os economistas presentes, cujo objetivo, manifestamente, era o de iniciar um diálogo aberto e sincero (ainda que em tom não menos áspero do que o meu), com o “Governante” em questão – não se sabe se o atual ou o futuro, a ser eleito em outubro, e que pode ser o mesmo, ou a mesma), para tentar resolver um dos mais complicados problemas que afligem os empresários e todos os brasileiros, qual seja, o peso desproporcional do Estado sobre a vida e a renda de todos e cada um.
Consoante um hábito que cultivo desde muitos anos, farei uma avaliação geral desse documento, mas começando por analisar topicamente cada uma de suas afirmações que me parecem merecer reparos. Serei seletivo, retendo apenas os argumentos que me parecem pouco apropriados à presente conjuntura política, ou aquém das necessidades do Brasil, que requer – e nisso concordo inteiramente com os empresários – ajustes muito sérios em suas políticas econômicas e no próprio sistema político. Assim procedendo, creio estar cooperando com o espírito do encontro empresarial e com os objetivos a que eles aspiram, embora mantendo minha proverbial independência de pensamento quanto a métodos e finalidades. Vamos ao exercício.
  
1) “Carta do Povo Brasileiro
PRA: Não creio que os empresários tenham o direito, ainda que possam ter a pretensão, de fazer uma carta a um “governante” qualquer em nome do “povo brasileiro”. Eles não possuem mandato para isso, não extraíram nenhuma representação geral da população, nem a consultaram sobre os seus propósitos. Melhor seria se tivessem se atido à verdade: “carta de empresários aos políticos brasileiros”, assim, tão simples. O argumentado aqui vale para os primeiros parágrafos substantivos do documento, como transcrito abaixo.

2) “Quem aqui se manifesta é o coletivo que chamamos de Brasil. (...) Esse é o Brasil que fala agora ao Governante.”
PRA: Não, não é. No máximo é uma pequena parte do Brasil, talvez até uma parte substantiva, se medida pela renda ou pela contribuição à formação do PIB, mas ainda assim uma fração do povo e de sua comunidade produtiva, empresários e trabalhadores. Se e quando tais empresários obterem uma representação representativa, se ouso a redundância, talvez esse “povo” possa ser mais amplo. Até aqui se trata apenas e tão somente de uma “carta de líderes empresariais".
Não se especifica, tampouco, quem seria esse “Governante”. Existe, até o dia 31 de janeiro do corrente ano, um, ou uma, depois muda, ou começa um novo mandato para a mesma. Por que não dizer “à presidente e ao seu sucessor em 2015”?

3) “Dessa vez é o povo que manda o recado. Um recado mais do que necessário, porque o velho monólogo dos marqueteiros do governo, soprando crenças no ouvido do povo, não funciona mais. O povo que lê e escreve nas redes sociais não precisa de intérpretes de pensamento.
PRA: Não, não é o povo que manda o recado, e acho que os empresários diminuem sua mensagem ao pretender tal amplitude. Mas, na verdade, o povo precisa, sim, de intérpretes, uma vez que vivemos em democracia representativa (pelo menos enquanto o partido potencialmente totalitário que ocupa atualmente o poder não reduzir a amplitude e a funcionalidade desta, mediante um decreto bolivariano que pretende instalar êmulos de sovietes, por exemplo), e que o povo em questão possui uma mais do que rudimentar educação política, para não dizer uma precária educação tout court. O povo brasileiro tem o direito de mandar recados a seus dirigentes, e ele o faz a cada dois anos, nas eleições gerais e nas parciais, subnacionais ou locais. Esses recados são dados geralmente através de partidos e da sua representação no parlamento. A carta não pode, portanto, pretender ser mais do que ela é: uma simples manifestação do pensamento de um grupo de empresários. Seria melhor que isso ficasse claro, para que eles não sejam acusados de serem ridiculamente pretensiosos.

4) “O governante que queremos é aquele que vai governar com o povo. O governante moderno aprende porque escuta, em seguida planeja suas ações e as executa como combinado. Governo sem plano é desgoverno.”
PRA: Todo governante eleito pode arguir que, legitimamente, ele governa com o povo, uma vez que detém a maioria, direta, ou proporcional (no parlamento). Aliás, no sistema presidencial brasileiro persiste uma tensão – que está na base dos conflitos entre executivo e legislativo, e na chantagem recíproca que um exerce sobre o outro – que é a diferença (inexistente nos regimes puramente parlamentaristas) entre a maioria direta do “governante”, que se expressa na eleição do presidente, e a representação proporcional no parlamento, que podem não coincidir; no Brasil, elas dificilmente coincidem, tendo em vista a extrema fragmentação partidária, mas o mesmo pode ocorrer em outros sistemas presidencialistas, como o dos EUA, por exemplo. O ideal  seria que o regime político brasileiro fosse parlamentarista, que tem justamente o poder de evitar qualquer contradição desse tipo, uma vez que o governante é aquele que detém a maioria no congresso, isoladamente ou em coalizão, mas essa é uma questão que ultrapassa o escopo destes comentários e o próprio objetivo da carta dos empresários.
Quanto à referência ao planejamento, me parece um tanto elementar, pois todo governo, até por força das circunstâncias ou dos imperativos constitucionais, tende a governar guiado por algumas ideias, no mínimo, ou até por grandiosos planos de desenvolvimento multianuais e multissetoriais (é uma das nossas obsessões favoritas), mas não se pode concluir muita coisa a partir dessa frase genérica.

5) “Chegamos ao ponto-limite. Brasília virou uma fantasia bilionária, de fato trilionária, cercada de desperdícios e ineficiências. O poder que manipula trilhões de reais nos orçamentos públicos ainda tem a petulância de afirmar ao povo que “faltam recursos”. Não! Recursos abundam. Fizemos, nas ruas, essa denúncia, em junho de 2013. O recado deveria ter sido suficiente, mas caiu no vazio.”
PRA: Sem maiores comentários, pois tendo a concordar com a expressão de exasperação, mas trata-se apenas de uma manifestação de contrariedade. Quanto ao “Fizemos nas ruas...”, acredito que nenhum empresário participou, talvez os menores, os chamados PMEs, que já tem ministério próprio, ao que parece. Mas é certo que a classe média saiu por poucos nas dias nas ruas para expressar isso aí mesmo que os empresários escrevem. Mas logo depois os vândalos ocuparam os espaços e a classe média se retirou.
Minha única consideração aqui, baseada no que ouvi das ruas, seria esta: é verdade que a classe média protestou contra os altos impostos e os “baixos” serviços públicos – em saúde, transportes, educação, segurança, etc. – mas o que ela pedia, direta ou indiretamente, era “queremos mais Estado”. Não vi ninguém dizendo: “chega de Estado, queremos serviços públicos oferecidos por companhias privadas em regime de concorrência”. Claro, seria mais complicado ter essa clarividência quanto às relações entre impostos recolhidos e serviços estatais prestados, mas os empresários deveriam saber que a grande maioria da população quer duas coisas contraditórias: pagar menos impostos, e ter melhores serviços públicos. Seria preciso uma pequena revolução para ter um sem afetar o outro, mas os empresários precisariam explicar claramente ao povo como se poderia ter maior produtividade a partir dos recursos arrecadados. Afinal de contas eles trabalham no mercado, em regime de concorrência, não é mesmo?

6) “Nesta Carta, retomamos a luta de Tiradentes, nosso maior manifestante civil: não aceitamos mais carregar no lombo um governo que aplica uma tributação impiedosa sobre o bolso do contribuinte indefeso.
PRA: Existe muitos mitos em torno de Tiradentes, e os empresários podem estar aderindo a um deles: o herói anti-tributação, numa espécie de líder avant la lettre do cidadão consciente do desequilíbrio entre extração estatal e renda disponível. Mas eles têm o direito de fazer isso. Mitos servem exatamente a esses propósitos políticos.
Empresários mais precisos poderiam dizer: consumidores, produtores e trabalhadores vem sendo tributados numa escala que prejudica o esforço de criação de riqueza, e torna o Brasil um país caro e pouco competitivo no âmbito mundial, tendo em vista os níveis de produtividade e de renda per capita vigentes no país. Teria sido mais correto, ao apontar o desequilíbrio entre renda, poupança e investimento, em função da punção fiscal do governo, que debilita todos esses agregados econômicos.

7) “O empresário, que poderia estar gerando empregos, virou um proletário do governo. Este está sempre cobrando sua fatia na frente; não espera nem o lucro acontecer. E o povo continua carregando uma das cargas tributárias mais onerosas do planeta: trabalha até a metade do ano só para sustentar o governo e os governantes.”
PRA: Correto mais uma vez, mas ainda desta vez expressa mais um protesto do que um diagnóstico da situação. Afinal de contas, o pacto constitucional, com todas as benesses encomendadas para todos – sem qualquer cálculo de provisão de recursos – e o funcionamento do sistema político, perdulário e irresponsável, funcionaram da mesma forma no último quarto de século. Ou seja, a bola já vem rolando desde muito tempo: só agora os empresários resolveram protestar. De todo modo, não é fácil desarmar a bomba fiscal, pois ela foi encomendada por todos, o povo, e os políticos. Talvez os empresários devessem começar por explicar ao povo que o caminho adotado é inviável, e mandar um recado aos políticos: ou se inverte o caminho, ou não tem mais financiamento. Creio, sem estar seguro disso, que muitos dos empresários que subscreveram essa carta-manifesto, vão contribuir para as campanhas eleitorais. Por que o fazem, se pretendem protestar contra o sistema?

8) “O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com os aportes que faz ao longo da vida. O povo brasileiro não precisa de salvadores; precisa mesmo é de gestão séria e confiável, rotativa e verificável, em todos os níveis de governo.
PRA: Mais uma vez, os empresários perderam uma oportunidade de expressar claramente o seu pensamento. O que vai acima é uma demonstração de exasperação, não um programa para um governo responsável. Os empresários deveriam voltar a se encontrar para fazer um dever de casa mais conforme às necessidades, suas e do povo.

9) “Chega de burocracia e de roubar descaradamente o tempo e a saúde do povo nas filas do atendimento médico e nas paradas de ônibus; ou queimar o futuro dos jovens com classes sem bons professores, com a falta de um computador por aluno. Esta Carta marca um ponto de virada. O povo brasileiro só precisa de condições e ambiente adequado para trabalhar, para empreender seus negócios, para desenvolver sua pesquisa, se educar e cuidar do ambiente.”
PRA: Só a última frase se aproxima, muito pouco, do que seria útil e adequado na presente circunstância. Sim, o ambiente de negócios e de trabalho no Brasil é o pior possível, mas dito apenas assim, fica igual ao protesto vazio feito nas frases que a precedem. Nem diagnóstico, nem prescrição, só protesto vazio. E o que o computador por aluno tem a ver com a qualidade da educação? Deve ser lobby de algum fabricante de computadores, que acha que vai fazer um bom negócio se o governo comprar vários milhões de computadores (no Brasil, claro), um para cada aluno. Que lamentável! A referência final ao “ambiente” é para ser politicamente ou ambientalmente correto?
Os empresários se reuniram apenas para reclamar do governo e do ambiente de negócios? Mas ele já é ruim há décadas. E o governo atual só fez piorar o que já era ruim. E os empresários ainda não fizeram um diagnóstico correto do que seria preciso fazer para melhorar, governo e ambiente de negócios? Que tal se eles se reunirem novamente para fazer, desta vez direitinho, o dever de casa?

10) “Perdas são pedagógicas. Perdemos, um dia, a democracia, para aprendermos a não perdê-la nunca mais; com a inflação, perdemos o sentido e o valor do dinheiro para, hoje, darmos todo o valor à moeda estável.”
PRA: Concordo. Aprendemos mais com fracassos e derrotas do que com eventuais sucessos. Estes podem ter muitas mães, mas aqueles parecem ter pais desconhecidos. Mas existe aqui muita simplificação. A “perda da democracia” parece referir-se a 1964, mas o fato é que ela já estava ameaçada de todos os lados; o golpe preventivo dos militares, aliás a pedido de políticos (alguns preocupados, outros apenas querendo afastar adversários para tentar governar eles mesmos), foi uma tentativa de preservar a ordem numa república anárquica, como era o regime de Goulart. A deriva ditatorial ocorreu depois, e muito em função da esquerda armada ter passado ao ataque, com atentados e assassinatos. A mesma esquerda que hoje está no poder e tenta oficializar a sua versão deformada da história passada do país. Os empresários vão aderir, igualmente, a essa visão deformada da história política do país?
E se eles estão tão preocupados assim com a inflação, por que não protestam contra as metas muito altas que são mantidas desde 2005 pelo Conselho Monetário Nacional?; por que permitem que o governo roube todo ano, do povo, todos esses pontos de inflação permitida, que estão muito acima dos níveis mundiais? O fato é que os empresários, como todos aqueles que conseguem fixar os seus preços – o que não é o caso dos trabalhadores assalariados, salvo aqueles fortemente sindicalizados, podendo repassar a sua chantagem para o resto da sociedade –, sempre procuram estar à frente da inflação, quando podem, remarcando seus preços, ou diminuindo as quantidades...

11) “Temos perdido tempo e energia demais com governos que governam mal e nos custam cada vez mais caro. Nossa paciência não tem o tamanho da vida inteira. O povo brasileiro exige ser senhor do seu tempo.”
PRA: Apenas choradeira e demagogia popularesca. Os empresários não teriam nada de mais inteligente para dizer. Os governos foram colocados lá por quem? Pelo povo! Com o dinheiro de quem? Dos empresários! Do que é que eles estão reclamando agora? Não gostaram do que apoiaram? Por que é que legiões de empresários – OK, estou exagerando, eu sei – já foram, continuam indo e ainda vão visitar o guia genial dos povos, o homem que deformou ainda mais o que já era deformado, e que pretende continuar exercendo o monopólio do poder com o seu partido neobolchevique? Os empresários são cegos, ingênuos, néscios, irresponsáveis? Tudo isso junto? Não só empresários, ficaram muito contentes, em 2002, em eleger alguém que eles sabiam que dialogava com eles, desde os tempos de sindicato dos metalúrgicos, que tomava uísque com vários deles nos encontros da federação ou da FIESP, mas se apressaram em apoiá-lo novamente, mesmo quando as patifarias do Mensalão, antes das eleições de 2006. E voltaram a reincidir no crime, ao eleger, ou pelo menos a sustentar, o poste designado, que concorria contra o mesmo candidato que em 2002 foi julgado autoritário e talvez muito arrogante no diálogo com os empresários, e também “estatizante”, o que talvez seja verdade. Mas, antes, durante, depois, e talvez ainda agora, os empresários parecem ser cegos, néscios, ingênuos, desinformados, ou até mesmo estúpidos, pois continuam a dar dinheiro para o partido que quer mantê-los no cabresto. Parabéns...

12) “Para o Brasil se projetar como líder em sua região e como um exemplo de nação próspera, moderna e justa, perante o mundo. Queremos de volta a ordem no governo, para termos de volta o progresso, que perdemos.”
PRA: Essas duas frases finais do manifesto dos empresários não fazem nenhum sentido. Como redação, eles não passam da nota 4. Reprovados, portanto. Como lógica, zero, total e confirmado. Incrível como pessoas adultas, responsáveis, bem educadas, conseguem ser ruins na hora de redigir alguma coisa com um mínimo de sentido.

Termino, infelizmente, este meu exame tópico do manifesto dos empresários, com a mesma avaliação cáustica que eu tinha feito na introdução da transcrição desse texto, na postagem do meu blog. Transcrevo aqui novamente o meu julgamento severo, feito a partir de uma primeira, e rápida leitura: “A carta é parcial, mal escrita, enganosa, deformada, carente de sentido e apenas reclamatória. Lamento constatar que nossos empresários também são medíocres e pouco preparados para liderar uma mudança real nos destinos do país. Falta substância analítica, falta consistência prescritiva, falta coerência nas propostas, falta unidade de conjunto, falta sequência lógica, ou seja, esse manifesto, chamado de Carta, não tem nenhuma solidez intelectual.”
Mas eu acrescentava, logo em seguida: “Mas já é um começo. Seria melhor se esses mesmos líderes empresariais não alimentassem a fantasia trilionária de Brasília, deixando de dar dinheiro a partidos e políticos que manifestamente estão atuando contra a nação, em seu próprio benefício.” Acho que a recomendação permanece válida.
Ao prometer voltar ao assunto, o que acabo de fazer agora, eu terminava assim minha introdução ao manifestos dos empresários: “Sou muito crítico, e provavelmente muito cáustico, como visto acima. Tenho razões para isso.”
Acho que as minhas razões ficaram claramente expressas nos parágrafos acima.
E volto à minha proposta de uma “fronda empresarial”, já objeto de alguns artigos meus no Estadão (ver aqui: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,fronda-empresarial-o-brasil-precisa-de-uma-imp-,1541582; aqui: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-800-anos-da-magna-carta-imp-,1528314; aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,verdades-que-nao-podem-ser-definitivas,1131507,0.htm; e aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,verdades--nao-convencionais-,1116065,0.htm). Enquanto os empresários não se convencerem disto, eles vão continuar pagando, e continuarão sendo esmagados por um governo maluco, um Estado opressor, e continuarão a ser explorados por uma classe política autista, prebendalista, rentista e irresponsável. Mas não sou eu que precisa dizer isso a eles...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11/08/2014

domingo, 10 de agosto de 2014

Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)

O jornal O Estado de S.Paulo, em sua página de artigos de Opinião, traz hoje (10/08/2014), meu artigo mais recente, em que trato, mais uma vez, da necessidade de uma fronda empresarial no Brasil. Nem todos compreendem o significado do conceito de fronda, em sua expressão própria ou em sua analogia histórica, como um dos leitores de quem transcrevo o comentário mais abaixo, juntamente com minha resposta a ele.
Quem desejar ler no site do jornal, eis aqui o link:
http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,fronda-empresarial-o-brasil-precisa-de-uma-imp-,1541582
Transcrevo meu artigo original:


Fronda empresarial: o Brasil precisa de uma

Paulo Roberto de Almeida

Fernand Braudel, o historiador conhecido por seus estudos sobre a evolução das economias de mercado e sobre a expansão do capitalismo – não confundir as duas coisas: este último é apenas uma, ainda que a mais importante, das formas assumidas pelas primeiras – alertava para uma situação bastante frequente nas interações entre os capitalistas e os donos do poder, representados pelos soberanos, em suas diversas modalidades: reis, príncipes, duques, arrivistas armados, condottieri. Se tratava da colusão entre o dinheiro e o poder, para o mútuo benefício de ambos, em detrimento dos cidadãos, dos súditos, de todos os pagadores de impostos. Na época por ele estudada, os capitalistas eram geralmente mercadores e banqueiros, não aqueles industriais de cartola e charuto que só surgiriam depois de bem implantada a revolução industrial; mas a realidade permanece a mesma, em todas as épocas e lugares.
Os criadores primários de renda e riqueza compram a simpatia dos fazedores de leis e de regras, para que estes “fechem” os mercados de maneira a elevar a taxa de retorno das atividades nas quais os primeiros se encontram engajados, seja no setor produtivo de manufaturas, seja nas intermediações comerciais e financeiras. Ocorre também do príncipe querer consolidar o seu poder, para afastar eventuais concorrentes, passando a adiantar esses favores aos agentes econômicos, em troca do financiamento adequado para justamente reforçar o seu monopólio sobre o poder político. Alguma semelhança ou coincidência com o que ocorre hoje no Brasil? Provavelmente, mas o cenário não é exclusivo do nosso país ou da nossa época. Ele é sustentável, aceitável, moralmente justificado, defensável do ponto de vista dos interesses da comunidade?
No limite, esse tipo de relação espúria entre detentores do poder político e criadores da riqueza primária pode levar a uma exacerbação da exação fiscal e a uma deterioração geral das instituições de comando na sociedade, alimentando corrupção, irracionalidades econômicas, inércia gerencial, falta de inovação e descrédito geral dos cidadãos (de preferência a súditos) quanto ao funcionamento da administração pública. Não parece difícil prever a perda de dinamismo na economia e uma descrença geral na legitimidade da representação cidadã, podendo redundar em acirramento dos conflitos políticos. Estaria ocorrendo isso no Brasil atual? Alguma surpresa quanto ao cenário?
Imagino que todos aqueles capitalistas – já sem cartola ou charutos – e todos os banqueiros, e seus lobistas profissionais, que circulam na capital da república de modo contínuo, já estejam cansados de todas essas petições que são obrigados a fazer, regularmente, para tentar melhorar, um pouco que seja, o seu ambiente de negócios, e para tentar preservar, uma parte que seja, dos resultados de suas respectivas atividades produtivas da sanha dos fiscais da Receita e da selva de novos regulamentos que legiões de burocratas setoriais despejam todos os dias sobre eles. Todos os mandarins da nossa república estão empenhadíssimos em construir um Brasil melhor para todos, e por isso precisam retirar os recursos de alguma parte, onde eles estão: nos caixas das empresas e nos bolsos dos cidadãos de classe média, simples trabalhadores indefesos.
Por que será que os nossos capitalistas – industriais, agrícolas e de serviços –, aparentemente tão robustos e tão conscientes da riqueza que geram em benefício da sociedade, resolvem se dobrar a partidos políticos, entregar a eles uma parte dessa riqueza criada com o suor do seu rosto (enfim, a maioria, uma parte se encosta nos empréstimos do BNDES), decidem se submeter a políticos notoriamente incompetentes e aceitam, além disso, fazer a via crucis a Brasília para pedir favores aos governantes? Para mim é um mistério, mas provavelmente tem a ver com a constituição do próprio capitalismo no Brasil, sempre embalado nos braços do Estado, alimentado no leite generoso dos subsídios e da proteção oficial, enquadrado por burocratas eficientes na regulação setorial e na captura de benefícios associados e continuamente mantido sob rédeas curtas por esse mesmo Estado, onipotente, nem sempre onipresente, mas certamente perseguindo como uma sombra o itinerário das riquezas criadas pelos capitalistas em seus afazeres cotidianos.
Se esses capitalistas lessem os livros de história saberiam que os países que alcançaram patamares significativos de prosperidade material e de bem estar coletivo foram aqueles que mais souberam defender as riquezas privadas da cobiça de aventureiros improvisados e de soberanos instalados. Para isso, os barões e os burgueses de outros séculos tiveram de decapitar, guilhotinar, ou exilar alguns dos que tentavam se assenhorear de uma parte desproporcional da sua riqueza. A condição essencial dos progressos materiais está justamente na defesa da propriedade, e é essa defesa que garantiu a pujança das economias de mercado que puderam dispor, paralelamente, de Estados contidos pela sociedade em face de soberanos tendencialmente autocráticos. A despeito de outras evidências históricas, e do que possa ter dito Fernand Braudel, esses fatos também fazem parte da história.
Foram essas frondas que permitiram a acumulação de riqueza e o bem estar de capitalistas e trabalhadores. Malgrado tentativas de “pikettyzação” do debate – uma transpiração estatística para provar que a acumulação se dá em detrimento da maioria e em favor de uma minoria – o fato é que as sociedades ficaram mais ricas lá onde a liberdade econômica foi a mais ampla; a emergência de um punhado de superbilionários jamais impediu a formação de novas fontes de riqueza; ao contrário, até estimulou outros que também buscavam essa condição. Que tal uma fronda no Brasil?

[Hartford, 28 de julho de 2014

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Um leitor não entendeu muito bem o que eu queria dizer, e escreveu o seguinte comentário a este meu artigo:

On Aug 10, 2014, at 9:21, ARIOVALDO BATISTA <ariobaxx@xxxxx.com> wrote:

Para começar foi difícil entender o linguajar do professor provavelmente de história e diplomata sr. Paulo R. de Almeida. Fronda que não encontrei em dicionários que tenho, parece que se refere ao termo ' La Fronde' de uma revolução social na "França das luzes" de Luiz XIV, na realidade um "ensaio" para a Revolução Francesa ocorrida no final do séc. XVIII, junto com a independência americana. Discordando um pouco do professor sobre a Revolução Francesa, não se tratou de uma revolução social propriamente dita, MAS DA PRIMEIRA INTENTONA COMUNISTA MAL SUCEDIDA, a segunda foi a Soviética depois da I Guerra. Ambas, incluindo a independência americana, a "história dos bastidores" até mais confiável, diz que foram financiadas pelos grandes banqueiros Rotschild, Rockfeller e Morgan, PORTANTO, NADA DE SOCIAL, mas negociatas de banqueiros mesmo.
Pelo que se depreende do texto, o autor parece dizer que a administração pública em particular no Brasil, ESTÁ TÃO EM DESCRÉDITO pela imoralidade, burrices, incompetências etc etc., que respinga para os assuntos econômicos. E daí estaria propondo uma "revolução empresarial" nos moldes da revolução social iniciada na tal "La Fronde", e ainda inacabada pela cambada comunista que ainda deita e rola nas ideologias políticas e até econômicas?
Parece que é isso que se pode concluir do texto complicado do sr. Almeida, que o Estadão apresenta no sua parte editorial.

Ariovaldo Batista
s.b.do campo sp

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Ao que eu respondi isto:



    Sr Ariovaldo,
    Sinto muito não ter sabido me fazer entender por todos os que leram o meu artigo, mas creio que ele cumpriu pelo menos uma missão: a de fazer alguns leitores, no caso o Sr mesmo, buscar nos dicionarios ou na internet, o significado da palavra fronda, que poderia ser entendida, genericamente, como uma revolta das elites contra um soberano arbitrário e extrator de recursos.
    Basicamente é isso, e fora disso o que temos são revoluções. Estas não são planejadas, encomendadas ou organizadas, simplesmente acontecem em situações extremas de crises sociais profundas, e acabam sendo precipitadas pela ação de forças incontroláveis. Então, partindo da premissa de que o Brasil está em crise, não profunda, mas numa situação de baixo crescimento, inflação em alta, contas públicas em déficit e contas externas também, podemos concluir que seria preciso fazer alguma coisa.
    Imagino que o Sr. concorde também que a indústria perde cada vez mais competitividade, o que vai gerar desemprego e novo aprofundamento da crise econômica.
    Em face disso, o que recomendei foi uma revolta empresarial, pois imagino que o Sr. também concorde comigo que o Estado extrai recursos em montantes exagerados do nosso empresariado.
    Foi isso basicamente. Grato pela mensagem.
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Paulo Roberto de Almeida

sábado, 9 de agosto de 2014

Empresarios mandam "recado" ao governo, em nome do "povo" - Comentario PRA

Não, ainda não é a Fronda Empresarial que eu venho propondo. Se trata de um simples "recado" ao governo, supostamente em nome do povo, o que é duvidoso.
As reivindicações são puramente empresariais, o que faz supor que se o governo atender às reivindicações desse "povo", eles ficarão contentes e deixarão de falar em nome do "povo".
A carta é parcial, mal escrita, enganosa, deformada, carente de sentido e apenas reclamatória.
Lamento constatar que nossos empresários também são medíocres e pouco preparados para liderar uma mudança real nos destinos do país.
Falta substância analítica, falta consistência prescritiva, falta coerência nas propostas, falta unidade de conjunto, falta sequência lógica, ou seja, esse manifesto, chamado de Carta, não tem nenhuma solidez intelectual.
Mas já é um começo.
Seria melhor se esses mesmos líderes empresariais não alimentassem a fantasia trilionária de Brasília, deixando de dar dinheiro a partidos e políticos que manifestamente estão atuando contra a nação, em seu próprio benefício.
Sou muito crítico, e provavelmente muito cáustico, como visto acima. Tenho razões para isso. Voltarei ao assunto.
Paulo Roberto de Almeida 

Carta do Povo Brasileiro
Durante um evento promovido pelo Movimento Brasil Eficiente (MBE) em parceria com o LIDE, na última terça feira, empresários apresentaram uma carta dirigida ao governo brasileiro pedindo mudanças na gestão do país. O documento, elaborado com base em uma pesquisa nacional encomendada pelo MBE ao Instituto Datafolha, em fevereiro, foi lido pelo economista Paulo Rabello de Castro em seu discurso de encerramento. A ocasião debateu o tema "Simplificação Tributária e Gestão Pública Eficiente" e contou com a presença de representantes dos candidatos a presidência Aécio Neves e Eduardo Campos. Dilma Roussef não mandou representante .

O MBE divulgou a seguinte nota:
Carta do Povo Brasileiro
Brasil, agosto de 2014
Sr.(a) Governante:
Quem aqui se manifesta é o coletivo que chamamos de Brasil. Nossa voz aprendeu a reconhecer, a respeitar e a defender a terra onde escrevemos nossa história e a transmitimos à geração seguinte. Esse é o Brasil que fala agora ao Governante. 
Dessa vez é o povo que manda o recado. Um recado mais do que necessário, porque o velho monólogo dos marqueteiros do governo, soprando crenças no ouvido do povo, não funciona mais. O povo que lê e escreve nas redes sociais não precisa de intérpretes de pensamento. O governante que queremos é aquele que vai governar com o povo. O governante moderno aprende porque escuta, em seguida planeja suas ações e as executa como combinado. Governo sem plano é desgoverno.
Chegamos ao ponto-limite. Brasília virou uma fantasia bilionária, de fato trilionária, cercada de desperdícios e ineficiências. O poder que manipula trilhões de reais nos orçamentos públicos ainda tem a petulância de afirmar ao povo que “faltam recursos”. Não! Recursos abundam. Fizemos, nas ruas, essa denúncia, em junho de 2013. O recado deveria ter sido suficiente, mas caiu no vazio. 
Nesta Carta, retomamos a luta de Tiradentes, nosso maior manifestante civil: não aceitamos mais carregar no lombo um governo que aplica uma tributação impiedosa sobre o bolso do contribuinte indefeso. O empresário, que poderia estar gerando empregos, virou um proletário do governo. Este está sempre cobrando sua fatia na frente; não espera nem o lucro acontecer. E o povo continua carregando uma das cargas tributárias mais onerosas do planeta: trabalha até a metade do ano só para sustentar o governo e os governantes.
O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com os aportes que faz ao longo da vida. O povo brasileiro não precisa de salvadores; precisa mesmo é de gestão séria e confiável, rotativa e verificável, em todos os níveis de governo. 
Chega de burocracia e de roubar descaradamente o tempo e a saúde do povo nas filas do atendimento médico e nas paradas de ônibus; ou queimar o futuro dos jovens com classes sem bons professores, com a falta de um computador por aluno. Esta Carta marca um ponto de virada. O povo brasileiro só precisa de condições e ambiente adequado para trabalhar, para empreender seus negócios, para desenvolver sua pesquisa, se educar e cuidar do ambiente.
Perdas são pedagógicas. Perdemos, um dia, a democracia, para aprendermos a não perdê-la nunca mais; com a inflação, perdemos o sentido e o valor do dinheiro para, hoje, darmos todo o valor à moeda estável. Temos perdido tempo e energia demais com governos que governam mal e nos custam cada vez mais caro. Nossa paciência não tem o tamanho da vida inteira. O povo brasileiro exige ser senhor do seu tempo. 
Para o Brasil se projetar como líder em sua região e como um exemplo de nação próspera, moderna e justa, perante o mundo.
Queremos de volta a ordem no governo, para termos de volta o progresso, que perdemos.